segunda-feira, março 18, 2024

A Anodisseia do Erro




 O erro, como diz o adágio, é, por essência, humano. Poderíamos até definir o homem como, mais até que racional (o que, cada vez mais, ou é duvidoso ou não é universal), o animal que erra. E erra, sobretudo, porque duvida, nega e inventa.  Poderíamos ponderar, a limite, que o homem é um erro da natureza, ou, mais abissal ainda, um erro de Deus. Como isso arriscaria entrar no domínio do absurdo, o homem terá que ser arrumado, no pior dos casos, algures na gaveta da aberração. Não é um dano essencial ao cosmos, mas apenas um dano colateral, um acidente insignificante. Isto, apenas em teoria, colide com grande parte da tradição civilizacional europeia, sobremaneira desde o século XII, em que o protagonismo do homem na Criação foi instaurado - quer dizer, passou a considerar-se o Homem como o destinatário da obra divina. Todavia, na prática e na experiência empírica, esse optimismo exacerbado cede lugar a um pessimismo dificilmente sanável; e quanto mais o tempo avança e a História se desenrola, mais sinais inequívocos do "erro" abundam.  Eventualmente, uma das provas deste "erro" poderia até ser inventariada na "descida da própria divindade" ao mundo para tentar corrigi-lo (ou conceder-lhe alguma espécie de hipótese disso, de auto-correcção). Não se pode dizer que o panorama actual, bem como dos últimos séculos, incline ao optimismo. O homem está cada vez mais homem. Aliás, enquanto "coisa que erra" passou mesmo da essência específica à vocação obsessiva, isto é, trepou da essência à quintessência. Não erra já apenas por natureza; erra por princípio e fim. À auto-correcção preferiu a auto-destruição? Poderá um milagre salvá-lo? O futuro o dirá. 

Um protagonista de um dos meus escritos impublicados, que é quase meu homónimo, apresenta o seguinte plano de vida: "se errar é humano, então vou errar absolutamente de modo a tornar-me um super-homem". E trata de agir em conformidade. Começando, claro, na própria linguagem e nos seus significados. A lógica é irrebatível: se errar é humano, então super-errar é suprahumano. Num aparte teológico, poderíamos talvez atalhar que "suprahumano" também é  Satã. Mas não entremos, por agora, em teologias.

O certo é que o homem concreto e mundano dos nossos dias  aproxima-se, cada vez mais, e perigosamente, do alucinado personagem da minha sobredita ficção.  Reparem até como  continua  a fantasiar-se e auto-investir-se no papel de, unilateral e megalómano, umbigo do mundo. O seu erro metódico e avassalador já o conduziu não apenas ao despejo de Deus, como à usurpação do seu papel na história: arvora-se super-protagonista, mais ainda do que há oito séculos, imensamente mais, só que, doravante, não já como destinatário da criação, mas autor inspirado do seu contrário, a destruição. Dir-se-ia que pretende reescrever a Bíblia às avessas, partindo do Apocalipse para o Génesis. A bomba atómica, tudo indica, subiu-lhe à cabeça: se é capaz de arrasar uma cidade, porque não um planeta inteiro!?... Todavia, o delírio não fica por aqui: ao mesmo tempo que se proclama destruidor do mundo e arredores (depois de expulsar Deus, destrona o próprio sol, portanto passa da religião à física sem sair da anterior), rompe, esquizofrenicamente, em trajes de profeta aceso e clamores à penitência, ao arrependimento, para efeito de salvação do mundo, da qual, não menos curiosamente, se auto-investe de stand concessionário e representante exclusivo. Portanto, é, simultaneamente, o protagonista geral e definitivo - para a destruição, para a salvação e para todas as causas entremeadas. Os antigos acreditavam que Zeus controlava o clima; os modernos substituíram Zeus pelas forças da natureza; estes actuais treparam à torre de controle e garantem que é o próprio homem que, depois de se fazer a si próprio (evoluindo, quiçá, desde aminoácido), faz também o clima. A meteorologia cedeu passo à mentirologia? Não apenas. É mais complexo: é a tal vertigem do erro. Não são apenas os graves, como desde Galileu se sabe, que experimentam no movimento de queda uma velocidade uniformemente acelerada. Os homens também. E isso, entre eles, tem um nome muito sugestivo: Progresso. O progresso, se repararem bem e a história documenta, também é uniformemente acelerado.

Assim, é-se tanto mais progressista ou amigo do progresso quanto mais se erra, em acto, pensamento ou potência. Até porque o progresso é sempre mais sedutor e atractivo para muita gente, dado que afaga e cativa aquilo que pulsa e habita numa, digamos assim, propensão material/natural/emotiva do humano ao erro. O invólucro da novidade, a excitação da descoberta, a sensação da velocidade, também contribuem ao enlevo (e ao engodo), e não é pouco. Fernando Pessoa recorre a uma outra fórmula equivalente ao "errar é humano": ser insatisfeito é ser homem.  Lá está, o erro fica sempre aquém, nunca preenche, realiza ou satisfaz plenamente. Apenas cartografa um percurso - ou um precipício, se quisermos ser rigorosos - onde cada erro é apenas um degrau necessário para outro ainda mais abaixo, ainda mais infundado; em suma, onde cada novo erro, mais que conhecimento real, apenas cria um vício e uma necessidade de mais e mais erros, quais doses sempre escassas e, por fim, vácuas, nadificantes da própria existência. O erro, em bom rigor, como toxicodependência radical. Um vazio que tanto mais se dilata quanto se procura encher. O "quanto mais sei, mais descubro que nada sei" também não dista muito daí. Entretanto, em épocas mais religiosas, talvez se apresentasse o erro na embalagem do pecado (remontando ao pecado original). A teologia cristã elaborou exaustivamente sobre o assunto, tentando inúmeras explicações, até porque a questão não era fácil: se a Criação era perfeita como podia o erro surgir no âmago da mesma? Quem criou a serpente? Que raio fazia ela no Éden? Etc. Daqui partirão os gnósticos para o demiurgo trapalhão. O próprio Platão, no Timeu, entrega a criação do mundo material (inferior, portanto) a um demiurgo, que trabalha para um Deus superior. O Deus Desconhecido, benevolente e misericordioso, é o de Jesus? Tudo questões hirsutas que, ao longo dos tempos, abordaram o erro. Foi preciso chegar a Idade Moderna, e o erro maior e mais obstinado da "razão", para surgir uma explicação mais superficialmente abissal (assim mesmo, com todo o paradoxo): o pecado era movido por uma voluptas - o homem retirava um prazer especial no erro. Especial e voluntário: a voluptas decorre, com efeito, do exercício duma voluntas, isto é,  o prazer culmina um desejo: o homem deseja o erro. Porque o erro lhe confere uma gratificação libidinosa. Excita-o muito. Desembarcamos assim num mundo obsceno; a limite, e com mais ou menos cobertura edulcorante, o "paraíso de Sade", da lógica sado-masoquista, que prevalece -  e se refina, recicla e circunvoluciona - até aos nossos dias. Onde Poder e Prazer surgem entrelaçados, situando-se o primeiro como a capacidade de errar - não só no sentido de se mover sem respeito por qualquer ordem ou sentido (destino ou mapa prévio), mas também de cometer todo o tipo de "pecados", atentados, atropelos, violências e alucinações-, e o segundo como recompensa anexa e estímulo inesgotável. 

Se recapitularmos a obra mais sinistra do Divino Marquês, "Os 120 Dias de Sodoma" (cuja última parte é simplesmente ilegível, embora adivinhável segundo a cadeia lógica dos acontecimentos), constataremos uma sociedade concentracionária, sumamente legislada e repressiva (embora aparentemente entregue ao deboche e à libertinagem desenfreada) onde as vítimas (a maioria) estão submetidas a todas as regras e interdições, muitas delas humanamente inconciliáveis, de modo, precisamente, a ocasionarem motivo para falta e castigo. As quatro bestas presidentes àquele labirinto, personificações do Poder e da Volúpia soberana, escoltados por uma corte de acólitos e torcionários coadjuvantes (especialmente as "historiadoras", sacerdotisas da linguagem), contabilizam as faltas, ministram os castigos, reprimem e abusam desvairadamente, até ao paroxismo inexorável, culminando, por fim, na chacina literal das vítimas e retirando de tudo isso um prazer demoníaco (já que mesclado numa exasperação furiosa por acarretar consigo um vazio sempre crescente e frustrante - onde o clímax é só o patamar para a queda). Há nisto uma espécie de silogística dos abismos: o inferno não é apenas um lugar de suplício dos internados; é também uma área de prazer dos demónios torturadores. Portanto, se estamos confinados ao inferno, sejamos demónios o mais possível. Tanto melhor será a nossa posição nesse mundo quanto piores formos; quanto mais errarmos e atentarmos contra o outro. Erremos, pois, com todas as nossas forças e volições. Esta lógica rastejante vem de longe, andou tanto que gastou as pernas. Não é esse itinerário que, por agora, importa aqui mapear. Todavia, se transpusermos a alegoria para o nosso tempo, ela cai que nem uma luva. Desvela-se a cada ano que passa, uma corte algoz (os tais menos de 1%, mai-los apaniguados de aluguer) com intuitos globais - ou seja, de confinamento planetário a um único parque de recreio e delícias -, onde a maioria silenciada é submetida a todo um aparato kafkiano de leis, tabus e interditos, que principia na linguagem da propaganda e se dissemina através  de sistemas securitários e hipervigilantes, corporizando mecanismos punitivos, mutilantes e zeladores do bom andamento dos suplícios, bem como da alimentação do medo. O que distingue esta minoria residual superpotente da maioria disfuncional impotente é precisamente a possibilidade de transgressão. Um estar acima das leis, das pseudo-regras e da própria lógica ficticiamente vigente. Na verdade, gozam de impunidade na medida em que são eles quem administra os rituais e burocracias da punição, quem sacrifica, quem, de certa forma, se substitui aos próprios flagelos naturais. Que não macaqueiam apenas: expandem, ampliam, refinam. À esporadicidade daqueles opõem agora uma perseverança hermética e ininterrupta;  desempenhando-se como um flagelo perpétuo, impiedoso, omnipresente. Por outro lado, o estar acima é também um estar fora. Administram o progresso - controlam-no e urdem-no; o desenvolvimento da história decorre segundo os seus interesses, caprichos e insondáveis desígnios. Mas, simultaneamente, escapam-lhe, transcendem-no: enquanto pilotam os acontecimentos, estão imunes a eles, para lá do próprio olimpo administrativo, arvorando-se princípio e fim dos mesmos. São, por isso, o "fim da História" e o "motor do progresso". Além deles é o impensável,  o indizível, o despenhadeiro. De tal modo que, se atentarmos bem, já nem estamos sequer no domínio dos novos-deuses ou semi-deuses. O caso já reenvia para uma espécie de mecânica fatal, cega e obscura como era o Destino para os gregos clássicos. Só que destituído de qualquer sentido ético, estético ou profético. Bem pelo contrário, no seu exacto avesso: do perverso, ascoroso e exasperante. Em bom rigor, uma maquinaria absurda numa  aceleração helicoidal directa ao infinito, onde o extermínio de todo e qualquer sentido compete com a urgência distópica. No meu "Tratado da Besta" eu chamo-lhes "Meta-criaturas". Para facilitar a compreensão ao nível do quotidiano, eles auto-denominam-se, cinicamente, o "Ocidente". De contrafacção, como é óbvio.

Mas, como em qualquer odisseia da palavra, por pequena que seja, voltemos ao início. Se atentarmos bem à definição, nesta, não é o erro que é uma essência do homem: é o homem que é uma essência do erro. Noutras palavras, não é o erro que serve ao homem: é o homem que serve ao erro. Quer dizer, logo na expressão "errar é humano", o sujeito não é o homem, mas, outrossim,  é o homem que se sujeita, se reduz ao erro. Sendo o erro inútil ao homem, este, todavia, é útil ao erro, na medida em que lhe serve de transporte. De predicado. Etimologicamente, também tem a sua piada... o Prae - dicus , ou seja, a ante - dito/nomeado/exposto. Donde o homem como expositor do erro, como montra, enunciação e pronunciação do erro. O erro não exprime o homem: o homem exprime o erro. Lembram-se da teologia, lá atrás? Será que necessito acrescentar um desenho?... Não precisam de lhe chamar Deus (ou o seu contrário). Podem também pensar enquanto Kosmos, ordem, beleza, Ser. A ilacção é a mesma; e é fatal. A não ser que o homem se confine ou nanifique ao erro, então a dimensão do homem é muito mais vasta que esse mesmo erro. Quando digo que o homem se exprime, essa expressão do homem, pode também exprimir-se enquanto erro, mas esse erro não o exprime absolutamente, é apenas uma falha sua, um acidente. Todavia, se o homem se deixa reduzir (esgotar)  a mera expressão de algo, o erro, então não estamos perante uma real expressão humana, mas sim diante  da expressão de algo, o absoluto erro, através do homem. A diferença que existe entre ambas as acepções é exactamente aquela que existe entre condutor e  veículo.  Se o homem conduz, então pode também errar, ter um acidente, despistar-se: mas não é essa a sua finalidade, nem o princípio e causa que o levou à viagem. Mas se o homem é apenas um veículo que erra, sem respeito por princípio ou causa, mas por mero capricho ou vício de errar, estrita sucessão de despistes e colisões, despenhamentos e avarias, nesse caso nem sequer há uma viagem, porque ausente princípio e fim, partida e chegada, tudo se resume a nada. Não sendo expressão do Ser humano, o homem, enquanto viajante do cosmos, é expressão do nada. O Homem enquanto essência do erro (a limite, do mal) é mera expressão duma ausência. De si em si, de ordem em si, e de ordem no mundo.

domingo, março 17, 2024

Nome artístico

 

«Ancient cuneiform Babylonian artifact bearing name ‘Benayahu ben Netanyahu’ will be shown to visiting dignitaries»


Parece que o psicopata Bibi arranjou um objecto arqueológico onde aparece, datado de há muitos séculos atrás, o seu "nome" actual. Sendo que o objecto será babilónico e o seu nome é um falso nome auto-fantasiado (como é típico desta choldra), não se percebe muito bem que raio de evidência pretende impingir aos otários frenéticos.
Como o próprio jornal israelita revela, o pai do Bibi chamava-se  Benzion Mileikowsky, e terá mudado o apelido quando desembarcou na Palestina. Oriundo da Polónia, imagine-se. Nada de surpreendente: os tampinhas assumem o nome de acordo à geografia, de modo a melhor vigarizarem os indígenas. No caso dos palestinianos, vão mais longe: não contentes de vigarizá-los, estão decididos a exterminá-los. É o chamado golpe perfeito: apropriam-se-lhe dos bens e da identidade.


 

sexta-feira, março 15, 2024

Saneamento básico no paraíso

 




O ex-engenheiro da Boeing, onde trabalhou 32 anos, e que, entretanto, denunciou várias trafulhices da gigante aeronáutica,  apareceu finalmente suicidado. Para conforto, regozijo e sossego de todos os abnegados palhadinos do neoparaíso e respectiva perfeição regimental. Uma serpente destas, assim, à solta, causava uma mescla de temor e angústia que este feliz (e justiceiro) desenlace veio colmatar. Todas as macieiras estavam em perigo.

O caso mereceu alguns comentários de terceiros diversos. Passo a reproduzi-los:

1. Sempre foi um meticuloso. Tinha a mania de certificação. Certificava-se por tudo e por nada. Chegava a ser obsessivo. Chegava, não: ultrapassava. Quase patológico. O primeiro tiro foi mortal, segundo o médico. Os outros dois foram só mesmo para ter a certeza. Ao menos assim, estou segura, vai poder descansar em paz. Caso contrário, nem dormia. Quanto mais pela eternidade!...

       - Uma prima sob anonimato.


2. Não ouvimos tiro nenhum. Deve ter usado silenciador. Era uma pessoa tímida... Muito discreta. Ou então, também já ouvimos dizer, recorreu ao veneno. Primeiro terá envenenado a faca (curare, como os índios) e depois espetou-a nas costas. 

      - Anónimos sob disfarce.


3. A facada nas costas, qual é o mistério? Isso é mesmo querer inventar teorias da conspiração. Praticava ioga, tinha um cúmplice, era aliado dos Estados Unidos, que sei eu!...

    - Xerife mistério.


4. Doutor,  a auto-degolação, tecnicamente, pode ser classificada como "ferimento auto-inflingido"? 

     - Jornalista estagiário (ao médico legista)

5. Só poderemos determinar isso quando encontrarmos a cabeça. Aliás, esse deve ter sido mesmo o móbil para o acto extremo: perdeu a cabeça.

     - Médico legista (ao jornalista estagiário)

     

6. "Apareceu morto" é uma forma muito infeliz, negligente e alarmista de expressão. Sejamos sérios: os mortos não aparecem. Se aparecem é porque não estão mortos. Veja-se o caso de Jesus Cristo. Apareceu e teve que tornar a aparecer porque um tal Tomé deu em armar ao Descartes, fora de horas e de século. Não, se apareceu é porque não está morto; se está morto, não aparece. Desaparece e nunca mais ninguém lhe põe a vista em cima, isso é garantido. E está mais do que demonstrado empiricamente, por milénios e multidões de exemplos. Tirando, naturalmente, aquela excepção conhecida (e autorizada) à regra: Cristo? Eu disse "naturalmente", não "sobrenaturalmente". Portanto, refiro-me, como é óbvio aos mortos do holocausto. Ora,  este Barnett nem judeu era. Portanto, jamais poderia aparecer morto. QED.

      - Congressista americano de Seatle


7. Putin mandou matá-lo, onde é que está a dúvida!... Tentaram arrastá-lo à força, os FSBês, para um arranha-céus, de onde o defenestrariam "acidentalmente". Mas como ele resistisse com ucro-frenesim, acidentaram-no mesmo ali. Pela janela da pickup não resultava.  Teve que ser  com uma marreta... que previamente aguçaram. Porque motivo Putin faria isso? Isso é irrelevante para a narrativa. Até porque não era ele quem tinha o trabalho de afiar a marreta.

     - John Milhazes, teórico da conspiração putino-compulsiva 


8. Não há como negar que só pode ter sido consequência de suicídio. Abaterem-no a tiro, nos Estados Unidos, é totalmente inverosímil... Afinal, estava no parque de estacionamento dum hotel, não estava no interior duma escola.

     - Sociólogo Pragmatista


PS: Entretanto, prossegue a campanha demoníaca (e altamente difamatória)  contra um dos símbolos empresariais do  MaisQuoxidente: A Boeing está em grandes sarilhos . Não tarda, estão a imaginar mafias, gangsters, bombas atómicas e até o assassinato do Jimmy Hoffa.

Metalógica Política

1.)  Esquerda mascarada de esquerda + Esquerda mascarada de direita = (Ch)arco da (des)governação

          (Ch)arco da (des)governação

2.)    -----------------------------------  = Democracia + Estado                  

                 Povo Português                                                                                     

3.) Democracia = {   }

4.) Democracia - 0 (zero) = 0 (zero)

5.) Povo Português x Democracia = O (zero), Esquerda

6.)  + Esquerda =  Portugal - Governo

7.) Orçamento de Estado : (Ch)arco da (des)governação = Povo Português x 0 (zero)

8.) Esquerda (ao quadrado) = Rectângulo



quarta-feira, março 13, 2024

Não é coincidência: é repetência

 




Ora atentem lá nesta, com mais de 2000 anos, só para elevar os espíritos...

De seu nome Políbio, viveu no século II a.C., e foi historiador. Morreu em 124 a.C. Escreveu o seguinte, acerca da Atenas do seu tempo:

«Não tivemos de suportar nem epidemias nem guerras prolongadas e, contudo, as nossas cidades estão desertas e as nossas terras primam pela esterilidade. Temos falta de homens, porque temos falta de crianças. Dá-se demasiado apreço ao dinheiro e ao bem-estar, e muito pouco ao trabalho. Consequentemente, já não há quem se queira casar, ou, se o fizer, cuida de não ter mais que um ou dois filhos, a fim de os poder educar com todo o fausto e de lhes poder deixar uma maior herança.»


Este sinal eloquente da decadência grega repetir-se-á séculos adiante aquando da decadência romana. Os bárbaros vieram resolver esse problema. Vêm sempre.

Descubra as diferenças

 Entretanto, no Ukranistão, como cá, o "não passarão" já teve melhores dias. Mas enquanto lhes restar a tremela, a vitória é certa.


Em tempos, estavam nisto:



Agora chegaram mais ou menos aqui: 



terça-feira, março 12, 2024

Rescaldo telúrico da eleiçoadela




 No fundo, trata-se dum choque tectónico entre duas placas: o populismo e o "elitismo".  Acontece que este brotou também, por sua vez, duma erupção "ultra-populista" em 25 de Abril de 1974. Depois de implantado, ultrapassada a fase convulsionária do vómito, assumiu-se rapidamente como a nova elite. E não menos rapidamente principiou a afastar-se e alienar-se das populações e do interesse geral. Instalada, subsidiada e tutelada por interesses alógenos, passou a agir (desgovernando) mais em prol desses interesses e do seu próprio interesse enquanto agente concessionário, do que, propriamente, pelo interesse nacional. Entrou-se no período do mal menor: a população foi ensinada, à exaustão, que o melhor que podia aspirar era o menos mau dos governos no menos mau dos mundos possíveis. Entretanto, as "elites nacinhais" (já expliquei no penúltimo postal o que isso significa) foram acompanhando caninamente as modas tutelares, como de resto lhes competia e açambarcava a vontade. Assim, não demorou muito a transformarem o desprezo em repugnância, pela população degradada a empecilho. O país não andava prá frente e ascendia ao olimpo da riqueza e da alta potência porque a estúpida da população teimava em ser pobre, descrente e lamuriosa. E, ainda por cima, obstinava-se em não emigrar. Chegou-se, então à última moda, que consiste em as elites atacarem, o mais cínica e obscenamente possível, as populações que as segregam e sustentam. Em bom rigor, no estado actual da arte, é isso que aqui denomino de "elitismo". A analogia com o cancro não é por acaso ou exagero. È mesmo por retrato fiel: Uma célula cancerosa amotina-se contra as células sãs do organismo e medra na medida em que o liquida. Os últimos (des)governos do "Rectângulo" também se amotinaram contra os rectanguleses comuns, isto é, naturais. Ora, o senhor Isaac Newton, que Deus haja, produziu uma leis muitos bem aparelhadas e clarividentes. Uma delas, a Terceira, mais exactamente, explica muita coisa: Toda a acção tem uma reacção de intensidade igual e sentido oposto. Portanto, se o "elitismo", segregado pelo povo, se amotina contra ele, o povo trata de reagir em conformidade: segrega o populismo e subleva-se contra a "elitose". É aí que vamos. 

Assim, o Chega não é, por enquanto, uma "representação" do povo, mas uma "manifestação" do povo. É um movimento, mais que um partido. Quando, por exemplo, eu vi a abstenção descer para metade vi logo o que ia resultar disso. 

O que se segue vai ser determinando por algo muito simples: ou o Chega não se deixa confinar a "partido" e à "assembleia parlamentar", e cresce. Ou o Chega adere àquilo contra o qual irrompeu e, institucionalizando-se, instala-se, abanca à mesa; e desincha e passa. 

Não cultivando eu grandes expectativas ou simpatias com a crista do fenómeno, os demagogos de serviço, estou, todavia, curioso. Até que ponto a genuinidade resiste ao costume?...

Por fim, assim como até aqui tivemos pseudo-elites, também entretivemos um pseudo-bipartidarismo. Na realidade,  e para o essencial, aquilo que de facto importa, sempre foi uma monopolítica através de ambipartidos - o mesmo aborto com duas cabeças. Nunca esteve disponível qualquer verdadeira alternativa. Era a mesma merda assim ou assado. O que doravante se vai descobrir é se existe alguma coluna vertebral detrás do ruído. Em caso afirmativo, somente aí poderá começar a falar-se duma genuína alternativa. 

De qualquer modo, o critério é elementar: ou recuperam soberania e noção de interesse nacional, ou é mais do mesmo. E lá ficamos a pastar a monopolítica (ou palhopolítica, melhor dizendo) de importação... Na fila pró matadouro.

segunda-feira, março 11, 2024

Bipartidarismo a valer

 Oiço por aí comentar que o bipartidarismo acabou. Tudo indica que, bem pelo contrário, atingiu agora um nível  assombroso: daqui para a frente é o Não Chega contra o Chega.

domingo, março 10, 2024

A Declaração de voto como uma das belas-artes

Colhido hoje, à boca dos féretros...



1.  Votei em todos. Hoje estou um mãos largas!...

2. Votei secretamente. Reunimo-nos, eu e os meus confrades, num local incógnito. Todos nós encapuçados e sob rigoroso juramento de sigilo.  Cada qual exerceu então o seu direito.  Numa urna devidamente descaracterizada. O pior foi quando o conde Drácula saiu lá de dentro... 

3. Votei num dos pequeninos. Exactamente qual não me perguntem. Esqueci-me dos óculos em casa.

4. Votei com todos os preceitos. Excepto no fim. Em vez de meter o papel na urna, meti-o ao bolso. Hábitos de carteirista, desculpem.

5. Não votei. Estou em greve de voto. Tiveram que chamar a polícia para me retirarem da cabine. Uma brutalidade fascista, foi o que foi!

6. Votei várias vezes, e em diversos partidos. O meu psiquiatra diz que sofro de megalomania democrática. É uma espécie de incontinência eleitora. Mas a parte em que sequestro e brutalizo pessoas para extorquir a identificação ainda me acarreta  problemas um dia destes...

7. Não votei. O papel não era kosher. Reparei como todos me odiavam disfarçadamente. Nenhuma exposição comemorativa do holocausto à entrada. Retirei-me enojado. Ainda por cima não me deixaram entrar com o bode...

8. Votei, claro. Confessei e até assinei. Mas comi o papel. Aprendi num filme. Assim não conseguem incriminar-me.

9. Tentei votar mas não consegui: como era a primeira vez, excitei-me tanto que ejaculei antes de chegar à cabine. Foi um bocado embaraçoso.

10. Votei às prestações. Votei, não: voltei. Descobri um bordel novo onde facilitam a crédito. Uns juros um bocado altos, mas, enfim, o vício obriga.  

11. Fui o primeiro a entrar. Fui para lá ainda não eram 5 da manhã. Receberam-me ao balcão, muito simpáticos, identificaram-me e deram-me um papel. Mas não me deram a vacina. Barafustei em vão. Vim-me embora indignado. Todavia, agora, pensando bem, se calhar o papel era para alguma recolha de fezes para análise. Da próxima, já sei: vou à cabine e colaboro. E almoço feijoada na véspera.

12. Votei, sim. Mas já não me lembra em quem. Nem aonde. As eleições eram mesmo para quê?...

13. Não votei nem me abstive. Fui lá, mesmo diante da assembleia de voto e resisti à tentação. A abstenção não me satisfaz nem preenche: sou mais pela abstinência, o jejum, a castidade. Pelo sim, pelo não, até pedi que me envergassem previamente uma camisa-de-forças. A carne é fraca e o espírito ainda mais.

14. Votei em consciência.  Em papel já não se justifica. Lamentavelmente, continuamos atrasados cem anos. Já se pode mandar o voto por correspondência, pelo ciber-espaço, por tutoria democrática, por sondagem, mas quanto à telepatia continua o bloqueio obscurantista.

15.  Não só não votei como despejei um balde de tinta verde nos que estavam na mesa de voto. O planeta a morrer e estes negacionistas a brincarem à democracia! A seguir deitei-me no chão para impedir a passagem dos transeuntes.

16. Recusei-me a votar: não me identifico com o meu nome, nem, muito menos, com o vil género que lhe está associado. Além disso, não havia transcabine.

17. Votei livremente. Corri pelos campos, rebolei na erva, gritei aos passarinhos e, por fim, atirei-me a um riacho. Apanhei uma pneumonia, mas valeu a pena. Fascismo, nunca mais!

18. Juntei-me à fila. Quando chegou a minha vez, olhei para a lista no papel e confesso que fiquei um bocado confuso. Deviam ser genéricos novos ou sintéticos. Inocentemente, perguntei: "já não têm metadona?"

19. Às vezes, voto. Outras vezes, não. Leio primeiro a página de astrologia do jornal. Sou Touro, com ascendente em Balança. Há que ter cuidado com Marte em trânsito para Vénus. Um passo em falso e posso entrar numa confluência negativa que ainda desemboca no adultério da minha mulher ou na  coloração psicadélica do cabelo da minha filha. Além disso, tenho um pressentimento... Nã, não arrisco. Vou antes jogar no euromilhões!

20. Votei em branco. O tinto, dizem os enólogos, deste ano, deixa muito a desejar. Faltou temperatura adequada. 

21. Votei no vencedor. Pelo menos, é o que sempre declaro a posteriori.  Na realidade, a priori, nem lá pus os calcantes. O que importa não é o que se faz, é a narrativa. E sobretudo detesto perder. Nem que seja a feijões.

22. Não votei nulo porque votei fulo. Há que chamar os bois pelos nomes! 

23. Votei devidamente vendado. Se funciona com a justiça, também funciona com o circo.

24. Estava cheio de pressa. Votei no primeiro que me apareceu à frente. Por acaso até calhou, bem a propósito, que era careca. Carimbei-lhe a cruz bem no centro da testa. 

25. Eu queria ir votar, juro. Mas o telecomando não deixou...


sexta-feira, março 08, 2024

A Anticracia electiva

 




Está entranhada no rectângulo uma superstição feiticista que consiste basicamente nisto: se um encantamento não resulta (entenda-se, as eleições) não é porque esse encantamento não funcione, seja porque provém de candonga marada  ou provoque efeitos precisamente opostos às receitas e prescrições mágicas; não, de maneira nenhuma: a coisa não funciona por enquanto: porque não se insistiu ainda suficientemente nela. Há que estafá-la, à maneira dos cavalos selvagens, de modo a domá-la e torná-la dócil aos nossos caprichos hípicos.  Daqui a 100 anos, caso ainda reste algum resquício do rectângulo, quiçá um dos ângulos mais a norte, teimaremos ainda na emolução parola dum Sísifo atoleimado. Havemos de vencer a crise pelo cansaço, ou pela náusea! Algum dia, está garantido nas escrevinhaduras profanas e nos arcanos mágicos, num futuro miraculoso, após uma alvorada chilreante (mais uma), o pedregulho transformar-se-á numa cornucópia e, não só não rebolará de volta ao ponto de partida (novas eleições), como, deslumbrantemente, desatará numa multiplicação de mariscos e esplanadas que só visto! Nesse dia radiante e maravilhoso, muito provavelmente, já não restará corrupção porque seremos todos corruptos, nem pobreza porque seremos todos indigentes (mentais, seguramente, porque até já vamos muito avançados), nem ignorância porque seremos todos cientistas, nem mau gosto porque seremos todos artistas, nem doença porque seremos todos cobaias, nem falta de habitação porque estaremos todos emigrados, etc. 

Portanto, lá vem mais do mesmo. Insistiremos no processo do costume, onde das mesmas causas  tentaremos pela enésima vez a extracção de efeitos opostos. Sem bilhete para a taluda, aguardamos, desvairadamente, o milagre. Se a estupidez, dizem, alivia, então a extrema estupidez deve transportar ao Nirvana. Deve ser aí que apontamos, quais foguetões excitados, mas rapidamente murchos após cada descolagem sufraginosa. 

Convinha, todavia, que orçássemos a dimensão da vigarice. Se ainda fosse realmente democracia, como na origem grega, em forma de sorteio e não eleição condicionada, então, se bem que remotas, sempre subsistiriam algumas hipóteses de acerto. Tal como na lotaria. Poderia até ser em forma de raspadinha, que seria de superior extracção e probabilidade de prémio.   Da maneira que está, nem é democracia que se veja, nem há hipótese alguma de fugir à degradação sucessiva, ao mero desperdício de esperanças, projectos e fundos. E quando afirmo que não é democracia, estou simplesmente a recorrer à definição dum dos padroeiros fundadores da seita - Rousseau. Ainda aqui recentemente o citei e expus: Rousseau não acreditava que a democracia funcionasse à escala humana e, em contrapartida, considerava a melhor forma de governo a "aristocracia electiva". Significava ele com isso  exactamente aquilo que nos flagela hoje sob o eufemismo anglocatita de "democracia representativa". De tal modo avançada que, se noutros tempos, o aristocrata acontecia por valor guerreiro e hereditariedade, agora, por sortilégio da treta, irrompe por urna investidora. Em vez da excelência (o aristos), a estatística, a meta-sondagem, o sufrágio. Quer dizer, dantes, os privilegiados obedeciam a um critério e a uma lógica; agora obedecem a outra. Outrora iam para a guerra, iam para padres ou iam para a corte; agora vão a votos. O povo, doravante, é montado e toureado na mesma, mas com um bónus: elege os seus cavaleiros, jóqueis e hipocratas (com mais ou menos esporas, chibata e rédea, estes;  mas com super antolhos e introjectadíssimo freio - de tal sorte que já ninguém, com olhos de ver, percebe muito bem se está perante uma cavalgadura de carga ou duma mescla de mula e cabra-cega, o tal povo).  É claro que estes novos privilegiados  aspiram igualmente a mordomias vitalícias e cumprem determinados critérios prévios: antes de serem escolhidos pelo eleitorado remanadescente, são pré-seleccionados pelas divindades alógenas e respectivos sacerdotes consagrados (entenda-se. as "instâncias inefáveis do Acolém" e os mass-media em perpétuo alarido e campanha).

Assim, estamos perante uma "aristocracia electiva" não direi de "pleno direito" mas, seguramente, de "estado de direito", ou seja, de direito aleijadinho ou paralítico. Às fatias ou fardos. E funciona como funciona, ou seja, disfuncionando. Às arrecuas e às avessas... O que, de resto, é bem patente nos resultados e na deterioração sistemática e fatal dos resultados.  Donde é necessariamente deduzível que se trata duma "aristocracia" de contornos assaz peculiares. Peculiares, aliás, e nunca é demais referi-lo, no sentido etimológico  do termo, de pecúlio, peculato e, a limite, pecuária. Nada nela remete para as aristocracias guerreiras ou fundadoras do antanho, mas antes para as aristocracias decadentes de mero parasitismo cortesão, em épocas de finis patriae. Reforço: as pecuárias jet-set, ontem como hoje. Afundam-se (e afundam o país) em venalidade, imbecilidade, frivolidade e corrupção. Da sua saga genética, ressalta uma mania obsessiva: o pretexto curador ascende rapidamente a guardanapo ou babete revolucionário - os novos pseudo-aristocratas, afinal, apenas pretendiam alçar-se aos camarotes e banquetes dos anteriores.  A gulodice cede lugar ao devorismo. Tudo espremido, trata-se, portanto, em bom rigor, não dum "governo pelos melhores", mas dum "desgoverno pelos piores". Não acreditem em mim: confiram a sucessiva qualidade dos eleitos ao longo do último hemi-século. Deslumbrem-se com a actual fornada de "baronetes e viscondes" a concurso. Com efeito, falando com propriedade, a "aristocracia electiva" salda-se numa cacocracia desatada. Que, por dinâmica intrínseca, nunca melhora coisa nenhuma: apenas degrada, deteriora e corrompe. Não o faz sequer por mal, quer dizer. não é deliberado: cumpre simplesmente a sua natureza, dá vazão ao seu reflexo mecanizado; até porque para haver deliberação teria que haver autonomia mental, coisa que desconhecem, odeiam e procuram ilegalizar olimpicamente. Mesmo para escolherem o mal teriam que praticar alguma forma de livre-arbítrio (meu Deus, que horror!)... Afinal, como diziam uns pseudo-filósofos aqui há uns anos atrás, não passam de máquinas desejantes. E defecantes, por sina e ápice.

Desta forma, instalou-se no retângulo todo um esquema porfiado, abnegado e concertado de piorar e delapidar o sítio. Estes cacocratas auto-denominam-se, com pompa e cagança, as elites. Sendo elites do piorio desembaraçam-se como "nulites", a nata da nulidade e da nacional-anulação. Consagram-se como os privilegiados da situação, herdeiros legítimos e hipertrofiados das prerrogativas exclusivistas e snobes dos piores dos seus protótipos pré-revolucionárias. A classe, de resto, veio piorando através dos tempos (por falar nisso, um pouco à semelhança das outras, excepto aquela que já irrompeu estragada). Da fundação à corte, do valor guerreiro à frivolidade, o percurso foi sempre a descer. Atingido o grau zero, parecia que já não era possível descer mais. Felizmente, Descartes congeminou os números negativos. E assim, de certo modo, estes artistocratas eleitos conseguiram e conseguem partir do pior para ainda mais abaixo, quer dizer, não apenas macaqueando como superando a degradação prévia. Outra definição, de índole mais exacta, para "esta aristocracia electiva" é a de "uma aristocracia mais que nula, abaixo de zero". Definição, essa que, dada a exaustiva verificação na realidade, corre sérios riscos de ascender a axioma.  Assim, se os cortesãos de Versalhes experimentavam um reduzido número de virtudes a sucumbir num mar de vícios, os actuais barões partidéricos não padecem dessa angústia crepuscular: esbaforidos da virtude, refocilam no total conforto absorvente duma fossa de vícios.  A sua snobice, a sua frivolidade, a sua venalidade integral alcançam recordes sucessivos; o seu desprezo pelo povo jamais cessa de se dilatar e reproduzir; a sua cobiça por prebendas e privilégios nunca esmorece; o seu zelo absoluto  pelo interesse pessoal suplanta qualquer outra consideração de ordem pública. Aqueles que dão hossanas ao estado apenas pensam em explorá-lo no seu próprio interesse privado; os que clamam pela privatização apenas pensam em extorquir vantagem pessoal à custa da delapidação do estado. Quer dizer, uns pensam em sacar internamente, os outros externamente. O pensamento, esse,  não varia... Avaria. No duplo sentido: De finura e de mal função.

Entretanto, este culto exacerbado e parlapatão do pedigree de arribação ideológica (globálatra) tem consequências sérias e, ultimamente, bem documentadas. O chamado populismo de arremeço, se repararem bem, surge crivado de ápodos e epítetos classistas, snobes e afectados: são energúmenos faxizóides, tipos rascas, chungas, labregos, populaça, saloios, gentalha sem nível, malcriados, grosseiros, sem maneiras, incapazes; enfim, plebe, que nojo!... Como se atrevem a querer meter as patas sujas nas neo-cortes laicas, nas televisões e bancadas?!!  No rectângulo, a repugnância geral das "elites" - dos cacocratas políticos aos cacoescribas e cacomentariado por conta - pelo Chega (como anteriormente, à falta deste, pelo PNR), não reflecte uma qualquer genuína discrepância programática (nenhum partido tem ou respeita qualquer tipo de programa, nem ninguém quer saber disso, entre o otariado basbaque), nem, tão pouco, nenhuma preocupação séria com o quer que seja, mas apenas a denúncia da falta de pergaminhos ilustres, de berço democrático, de chupeta e fralda na ama da treta correcta, de brasão nobiliárquico antifassista e salazaroclasta, em suma, não é gente bem: mentalmente  e politicamente esterilizada. O facto do pastor Ventura, ainda por cima, atirar parecenças fisionómicas retintas à célebre figura do Bordalo, o Zé Povinho, só agrava a azia e o asco dos grã-finos institucionalizados.

Quanto ao método operativo desta cacocracia, convém escalpelizá-lo. Socorro-me duma alegoria para o efeito. Sem querer armar ao platónico, todavia. Imaginem, por conseguinte, o Estado como um cancro e a nação como um organismo onde esse cancro se implantou. Obstar-me-ão: "Ah, mas isso não é fictício, ó Dragão, é a realidade!" Pois, seja. Avancemos... Os partidos, claro está, são metástases desse mesmo cancro. Cada metástase tem uma determinada mania malfazeja apontando a determinado órgão, membro ou sistema predilecto. Fazer mal de uma determinada maneira esgota o seu projecto para o organismo; competir contra as metástases competidoras e concorrentes, de modo a impor a sua mania como prioritária e açambarcadora do estado para o efeito, resume a meta da sua existência. Cada partido, agora em linguagem não cifrada, apenas reconhece a capacidade maligna dos rivais (o que é até honesto, revelador e genuíno, pois não há outra), sendo que esta é tanto mais celerada quanto aqueles se devotam a áreas afastadas ou contrárias à sua - o lado esquerdo ou direito do organismo, as vísceras ou os músculos superiores, o ânus geral ou os genitais masculinos, etc. Tudo decorre dum momento inaugural, ou pig-bang socio-político, remontando à alvorada abrilabunda do 25 das Petas. Mal brotaram, fétidos e ranhosos, da cloaca matriz, logo os partidos desataram a inventariar e atribuir todos os males do organismo ao anterior regime. Que se resumia e decorria dum mal principal e avassalador: a ausência dum cancro metastizado no organismo.  Porém, isso congregava-os mas não os satisfazia nem realizava plenamente. Pelo que não se ensaiaram de desembestar logo de seguida na denúncia pública e publicada de males uns nos outros, e a alardear, bem como  demonstrar, caso a ocasião se lhes propiciasse, de como eram capazes e compenetrados a fazerem sempre pior. Traduzindo para casos concretos: o partido X, uma vez eleito, fez bastante mal às finanças, sob a teoria que era aí que se impunha danificar prioritariamente; o partido Y protesta contra o anterior pela sua falta de eficácia e sentido estratégico, e promove-se ao otariado como sendo o campeão da malfeitoria à educação e à defesa, por exemplo, assumindo-se como bem capaz de fazer muito pior que o anterior nessas pastas; por seu turno, o partido Z, com um desprezo especial  pela saúde, a agricultura ou a habitação, irrompe em denúncias de esbanjamento de oportunidades e fundos pelos anteriores, logo coroladas de clamores de superlativa proficiência e determinação em fazer muitíssimo pior nas áreas da sua putativa perícia. E por aí adiante. Há até partidos com apetite por todas as áreas e créditos firmados na piorização de qualquer uma delas. E há ainda partidos, ou metástases, de nicho: causas animalejas, por exemplo; climatérios urgentes, noutra hipótese; sexualidades delirantes, eventualmente. Transpondo ao presente, os aristocratas concorrentes vão ter alguma dificuldade em fazer pior que os actuais demissionários na educação, na saúde, na segurança interna, na agricultura et al, mas em contrapartida vão seguramente conseguir piorar noutras áreas menos martirizadas ou ainda não suficientemente fustigadas. Na cultura, por exemplo, qualquer um consegue e trata de não desperdiçar a oportunidade; na defesa, idem, aspas; nos negócios estrangeiros, a mesma coisa; mas essas são as fáceis. Outras há mais cabeludas e exigindo uma maior especialização, digo, devoção. Ninguém tema. Eles conseguem.   A verdade é que não há como falhar. Seja qual for a estirpe eleita, o resultado é garantido e invariável: vão conseguir fazer pior.  Mesmo que reelejam os mesmos, o pior está garantido. Eles próprios (como qualquer um dos outros) em cada dia de desgovernação pioram e deterioram fatalmente, É essa, simultaneamente. a fórmula única e a dinâmica compulsiva, semi-zombi, que os ocupa e dirige. São pré e pós eleitos para nada mais que isso. Aliás, é até para esse inescrutável efeito que existe o cancro nas suas múltiplas metástases: para garantir, sem sombra de remissão ou dúvida, que a possibilidade de cura ou melhoria, no todo ou em qualquer das suas partes, não passe duma quimera. Dum tabu. E nem sequer se trata duma nação transportada à eutanásia: não há qualquer bondade a concurso. É mesmo cacotanásia: é mesmo liquidar Portugal da pior maneira possível. Esta "aristocracia electiva", sem máscara, é mesmo uma anticracia. Quer dizer, não é sequer uma forma de governo, mas apenas uma deformidade, repelente e continuada, deste.

Posto isto, se alguém ainda teimar em inquirir que recomendação faço, de comparência ou de voto, (sendo certo e seguro que, por regra e costume, não meto lá os pés), devo declarar, solenemente, o seguinte: é irrelevante. Se ides lá ou não ides lá; se votais ou não; neste, naquele, aqueloutro, ou mesmo grafais digna genitália, o resultante é o mesmo. Fazei, pois, como vos aprouver ou julgardes adequado. Como causa não existis; como efeito não contais; como processo de procuração assinais de cruz. 


PS: Mas não creiam: não são todos iguais. De todo. Bem longe disso, são todos diferentes. São todos, enquanto conjunto, o mesmo tumor maligno que Portugal padece, mas são também, cada qual, uma metástase especializada, alocada, encarniçada e letal.  Por outro lado, o aumento do seu número activo não atesta de qualquer melhoria do organismo; pelo contrário, manifesta um estágio cada vez mais avançado da doença. De tal ordem, que não dista muito a hora em que o governo coincidirá com uma mera Unidade de Cuidados Paleativos.

quarta-feira, março 06, 2024

O Suicídio como estratégia

Segundo um Instituto Psiquiátrico qualquer:

 «Os principais efeitos da intoxicação aguda por cocaína são:

Pois bem, à luz disto, começo finalmente a perceber,  não apenas o anão Zelento, mas também os seus émulos europeus - da Ursula Doida ao Micro Macron.
Aliás, este último prossegue a dar no vício com toda a força. Está claramente numa fase avançada da relação:


Ocorrem-me, assim de memória, dois alemães - um chanceler e um filósofo. O primeiro confessou que quando ordenou o início da "Operação Barbarossa", tinha experimentado a sensação de estar a entrar num grande quarto escuro. O segundo deixou-nos um aforismo famoso: "quando olhas no abismo, o abismo também olha para dentro de ti".

Ora, o Minicron instiga â repetição do chanceler e desdenha a prudência recomendada pelo filósofo. O quarto escuro não o preocupa, muito menos assusta; e quanto ao abismo, deixemo-nos de contemplações, nada de hesitações; e toca de saltar, a pés juntos, lá para dentro. 

Agora, a parte menos dramática: como é que sabemos que o estado de desarranjo do petit napoleon à l'asile psychiatrique , sendo avançado, ainda não é terminal? Então, porque ainda vai na fase de "pedir". Ainda não atingiu aquele paroxismo em que "exige". Um delírio de grandeza culminante que, eventualmente, recheará com uma revelação apoteótica, essa sim, e ao contrário do salto, realmente "estratégica": uma tia-avó processada no holocausto.


terça-feira, março 05, 2024

Cromos e percentagens

 

O cromo a ser entrevistado abaixo é Erik Prince, o fundador e top manager da Blackwater (a principal empresa para-militar americana, vulgo PMC). É muito significativo que venha dizer abertamente aquilo que aqui diz. Sobretudo no que concerne à muito provável mudança de "war ambience" nos States. 

Registei, entretanto, uma citação que merece realce (até porque não anda muito longe da realidade):

« - 1% da população controla o mundo;

   - 4% da população serve caninamente os anteriores;

   - 90% da população está zombificada;

   - 5% da população tenta fazer com que os zombis despertem;

   - O 1% da população assegura-se de que os 4% tudo fazem para evitar que os 5% alcancem o seu objectivo. »