terça-feira, dezembro 30, 2003

BOMBARDEIO, LOGO EXISTO

Por causa dos meus sarcasmos desarvorados, dou comigo a pensar: afinal, o que é ser "americano"? Melhor: como é que que um americano se perspectiva e reconhece, enquanto ser? Dum francês, já sabemos, mais ou menos, como a coisa se processa: "pensa; logo existe"; o alemão: "trabalha, logo existe"; o irlandês: "bebe, logo existe"; o chinês: "aguarda, logo existe"; o árabe: "reza, logo existe"; o espanhol: "toureia, logo existe"; o português: "telefona e conduz, logo existe". Assim, o francês, sempre que precisa de afirmar a sua identidade ou confirmar da sua existência, precisa de pensar e duvidar; tal qual o alemão precisa de trabalhar, o irlandês de beber, o árabe de rezar ou o português de sacar do telemóvel, de preferência ao volante, e ligar a alguém. E o americano, nas mesmas circunstâncias, que faz ele? Não sendo suficientemente inteligente para pensar, nem honesto para trabalhar, nem folião para beber, nem crente para rezar, nem educado para aguardar, nem malabarista para conseguir conduzir e falar ao telefone ao mesmo tempo, bombardeia. O seu esquema ontológico é "bombardeio, logo existo". Se não bombardeasse, se parasse de ir despejar bombas nos lugares, deixava de saber quem era, via dissolvida e volatilizada a sua identidade. Tornava-se um espectro amnésico de si mesmo. Tirar os bombardeiros a um americano, seria quase tão trágico como sutrair os telemóveis e automóveis a um português. Mais que ao nível do "dever" ou da "idiossincrasia", estamos, pois, ao nível da pulsão, ou melhor, da compulsão. Bombardear, para o americano, como telefonar, para o português, é compulsivo, em tudo equivalente a respirar ou fazer as necessidades. Não é um atributo, um acidente, um acessório, mas sim a própria essência, se quiserem, um instinto inato, uma vocação genética, consagrada e irresistível. Dai a tornar-se religião, não espanta nada, mesmo nada. Tal qual o árabe entra na mesquita ou o irlandês no pub, o americano sobe para o bombardeiro e o português enfia-se na viatura de telemóvel engatilhado. Não deixa mesmo de ser curiosa a relação entre o americano e o português: um enfia-se num veículo aéreo para ir lançar bombas no chão; o outro enfia-se no veículo terrestre para lançar mensagens pró ar. Dir-se-ia que acontece uma simetria perversa entre eles: imitam-se em planos inversos, partilham duma qualquer onticidade abissal. Assim, o americano não precisa de arranjar motivos ou razões para bombardear: preocupa-o apenas arranjar sítios. Não lhe é opcional bombardear ou não. Tem que bombardear; resta apenas saber onde. Tal qual ao português não ocorre discutir consigo próprio se deve telefonar ou não; mas apenas encontrar a quem. Por conseguinte, quer um quer outro, como, aliás, todos os povos do mundo, em se tratando das suas manifestações essenciais, estão isentos de culpa, ou de circuncrições morais ou éticas, pois não se pode acusar de maldade um acto que exercem por absoluta necessidade. Seria o mesmo que acusar o vírus do ebola de causar o ebola: pois se é virus do ebola não pode optar por ser vírus da gripe ou doutra maleita qualquer. Que se reponha, assim, alguma justiça e rigor nas apreciações: Quando os americanos bombardeiam, não estão a ser bons nem maus, justos ou injustos, salvadores ou facínoras - estão a ser, pura e simplesmente, "americanos". É a forma deles existirem.

segunda-feira, dezembro 29, 2003

DEMOCRATIZAR À AMERICANA

O Caguinchas, ocasionalmente, dá-lhe pró sentimento. Sobretudo, em se tratando de trinados fadistas ou reportagens sobre terramotos. Quer uns, quer outras, deixam-no à beira das lágrimas, todo compungido e amargurado. Foi assim que o fui encontrar, defronte da televisão, desfilavam no telejornal uns escombros retumbantes, por via duns abanões de Terra no Irão (apregoava o locutor).
-"Já viste, ó Dragão!? - Interpelou-me, com voz triste. - Coitados dos Iraneses, até parece que foram mastigados e cuspidos!..."
Eu bem queria consolá-lo e manifestar a minha solidariedade, mas este meu feitio cão é mais forte que eu. Pelo que não me contive de comentar:
-"Os Iranianos e não só!..."
-"Como assim? - Admirou-se o Caguinchas. - Houve mais algum país a levar c'um tratamento daqueles?..."
-" Não é isso, pá. -Esclareci-o. - Coitados dos Iranianos e dos Americanos!..."
- "Mas o que é que os américas são pr'aqui chamados?!" - Abismou-se o Caguinchas, confundido e já a ficar desconfiado.
- "Então não sabias: Planeavam "democratizar" o Irão a seguir ao Iraque. Ora, pelas imagens, é mais que evidente que a Mãe Terra se lhes antecipou!..."

O ARISTÓTELES

Afinal, o Caguinchas desembezerrou mais depressa do que eu pensava. Bastou eu soltar um brado, de incontido nojo, "Mas que filho da puta este!...", para o Caguinchas, cheio de curiosidade, se aproximar todo interessado e solícito. "Quem?...Quem é o cabrão?...", sondou-me, que nem inspector da judite à cata de negócio obscuro.
É preciso referir que, em questões de filha da putice, o Caguinchas, além de erudito, é um investigador nato, um pesquisador digno duma "National Geografic". O bicho filho-da-puta para ele não tem segredos: conhece-lhe o habitat, o regime alimentar, os ciclos predadores, as épocas de cio e acasalamento, as moléstias como ninguém. O facto de ultimamente se andar a interessar pelos extraterrestres não leva a que descure a sua especialidade, o mister em que é perito. Além disso, segundo ele, há claros indícios de parentesco entre o extraterrestre e o filho da puta. Argumenta mesmo que, em sua douta opinião, a filha-da-putice é exógena ao nosso planeta, fruto de inseminações alienígenas e incubamentos escabrosos. Di-lo por outros termos, muito mais técnicos e sucolentos, mas vai dar ao mesmo.
Por conseguinte, se era um filho da puta que me apoquentava, ninguém melhor que ele para passar o certificado ou proceder ao despiste.
Ora, o facto é que eu, entre dois trotis, recapitulando mentalmente um artigo do Luís Intestino Delgado no "Diário Digital", não tinha conseguido conter o desabafo e largara a bojarda com aquela espontaneidade toda.
Qualquer artigo do ilustre croniqueiro serve para o efeito; é irrelevante a data ou o assunto. A criatura tem um dom. Pode mesmo submeter-se o cidadão racional ao teste dos olhos vendados e ler-lhe, ao calhas, passagens disto ou daquilo à mistura com trechos do Delgado, que o resultado será sempre garantido e invariável: ao escutar a prosa delgadiana, o testado não se conterá e exclamará "mas que filho da puta!"...É irresistível; um verdadeiro reflexo condicionado, garanto-vos. Senão acreditam, experimentem.
Entretanto, não adiantava explicar ao Caguinchas quem era o Luís Intestino Delgado: ele só lê jornais desportivos e a necrologia dos restantes. Referir-lho, pois, pelos locais de frequência de pouco serviria. Ora, o Caguinchas, estava a ficar frenético e cada vez mais impaciente para peritar a alimária em questão. E, para estabelecer um diagnóstico definitivo, precisava, no mínimo, de sintomas, dum historial clínico, ainda que breve e grosseiro. "Desembucha, foda-se!", invectivava-me ele.
Muni-me de toda a objectividade e imparcialidade de que era capaz e forneci-lhe alguns dados: de como o asno em questão primava pela sabujice, a pedantinácia, o frete pago; de como escrevia a cagar postas e sentenças; de como louvaminhava e tecia hossanas à lei da selva; de como guinchava à moda dos babuínos em defesa do indefensável; apanhei mesmo um Diário de Notícias já caducado e li-lhe parte dum artigo de opinião do Delgado.
O Caguinchas escutou tudo com a máxima atenção e os luzentes a transbordar de inteligência. Via-se claramente que não perdia pitada. Por fim, ainda eu não tinha poisado o jornal no tampo da mesa, e vai ele exclamou:
-"Empresta aí!... -E quase me arrancou literalmente o matutino das mãos.
Pôs-se, então, de olhos bem assestados, a mirar o artigo. "Mas que raio, pensei eu, não me digam que este gajo se pôs a ler aquela merda!"... Mas, na verdade, o que o Caguinchas estava a perscutar era a fronha do Delgado, em fotografia apensa ao artigo. Gastou pr'aí 15 segundos na fronhoscopia, 2 ou três "hums" e desarrincou-se com o seguinte:
- "Ya, é um filho da puta encartado e escarrado, podes ter a certeza!..."
- "Bem, sérias supeitas, tenho. - Ripostei. - Agora a certeza, só Deus!..."
- "Deus e a matemática! - Alembrou-se o Caguinchas, por via duma certa discussão metafísica que em tempos me ouvira contra o Dinossauro. - Porque, é tão certo ser filho da puta como 2+2=4!...E por duas razões óbvias..."
- "Que são..." - Agora era eu que estava curioso.
- " A primeira, de ordem fisiocoisa - decretou -: porque tem a filha-da-putice estampada e carimbada nas fussas!..."
- "E a segunda?"
- "A segunda é de ordem funcional: Porque só escreve bosta, e ainda lhe pagam para isso!" - Retumbou, o Caguinchas, que nem professor doutor da Sorbonne, lauredao e jubilado.
Este Caguinchas, às vezes, é um Aristóteles.

O HOMEM INVISÍVEL

A tasca estava quase a fechar, quando o Caguinchas se saíu com esta:
-"Ó Dragão, sabes o que é que eu gramava mesmo ser?..."
Puz-me logo de pé atrás. O que é que iria sair dali? Preparado para o pior, atrevi-me a dizer:
- "Não, Caguinchas, não sei. Talvez presidente do Benfica, não?..."
O Caguinchas, pra quem não saiba, é um lampião fanático, fundamentalista, nacional-benfiquista; daqueles sempre prontos a abrir campos de concentração pra lá meter quem ouse não idolatrar o emblema da águia.
Lançou-me um olhar homicida e rosnou:
-"Foda-se, ó Dragão, nos dias que correm, presidente do Benfica qualquer cabrão ranhoso ordinário já consegue ser! Não tem nada de milagroso. E é melhor nem me falares nisso, que já sabes que me deixa passado!..."
-"'Tá bem, pronto, não te ofendas todo, ó Caguinchas! Já cá não está quem falou. - reconfortei-o. - Mas se não é isso, é o quê?"
-"Pá, o que eu gramava mesmo ser era o Homem Invisível!..." - Confessou ele, com um brilho sonhador nos faróis. E já se imaginava, todo lampeiro, nas ourivesarias, nas pastelarias, nos cinemas, nos bancos, a gozar a vida à borliu, a apalpar impunemente a bilha às gajas, a pregar partidas aos bófias, etc, etc. -"O Homem Invisível, 'tás a ver Dragão, bem fixe!..."
Fitei-o com o a minha cara manhosa número três. Desafivelei o sorriso sarcástico número 31 e citei-o bem de frente:
-"Só isso?... É fácil!..."
-"Fácil?!! - Quase cuspiu os dentes. - 'Tás cos copos?!!"
- "'Tou-te a dizer, ó Caguinchas, se é só isso, não custa nada: empregas-te aí numa dessas fábricas multinacionais, dás ao coiro até teres quarenta ou mais anitos, ganhas o estritamente necessário para comer, beber e vestir (à rasquinha), inscreves-te no sindicato, na caixa e essas coisas todas, constituis família e depois, quando já estás bem viciado na coisa e achas que vives no melhor dos mundos (com cartão Visa e tudo), eis que os gajos decidem deslocalizar-se, ou seja: mudarem-se para um país ainda mais miserável, com otários ainda mais baratos. Fecham a fábrica e dão de frosques sem dizer água vai. Vais ver se não ficas invisível!...No mesmo instante. É como se nem existisses!...Experimenta só!..."
-"Foda-se!" - Bradou o Caguinchas. - Também tu!...Desmancha-Prazeres!..."
Agora vai estar dois dias sem me falar.

domingo, dezembro 28, 2003

NÃO ESTAMOS SÓS

Claro está, que o Caguinchas não desarmou. Tinha acabado de ler sobre os mutismos inexplicáveis da sonda "Beagle 2", em missão sobre Marte, e aquilo inspirava-lhe enredos rocambolescos que só visto.
-"Eh pá, os gajos silenciaram-na, foi o que foi!...Topou algo que não devia e catrapimba, vai de embute: escaqueiraram aquela merda toda!..."
Os "gajos" eram os extraterrestres. O Caguinchas estava numa de certeza absoluta e garantia a quem o ouvisse que eles existiam. Mais: estavam entre nós! Só que andavam disfarçados, tipo "low prophile". Mas, gradualmente, iam ocupando posições chave, lugares estratégicos, cátedras universitárias, até ao dia F (de Final e Fodido, ou Final fodido) em que nos dariam o golpe de misericórdia e nos acabariam de vez, e em simultâneo, com o cagar e com a tosse. Qual deles primeiro, o Caguinchas não especificou.
-"Pois!... -trovejava ele - não viste aquele filme , o "Eles Vivem"?!!...Julgas que aquilo é a renar, a fingir: é a mais pura das verdades!...Foda-se, deviamos era arranjar uns bons óculos, uns raiban especiais que é pra desmascarar os cabrões! De certeza que se andam a aboletar com os melhores carros, os melhores cargos e as melhores gajas!..."
A lógica do Caguinchas era avassaladora e a sua oratória retumbante. E sem dar hipótese de réplica, avançava a todo o galope.
-"Experimenta cuscar o céu numa destas noites estreladas...Passam-se coisas estranhas, meu: é um ferrobodó de luzinhas e luzetas, que só visto! E não julgues que são só aviões, satélites e meteoritos a fornicar a atmosfera! Cortem-mos rentes, senão anda pr'ali passarada alianigénica ou lá o que é!.."
-"Alienígenas" -corrigi eu - diz-se alienígenas, ó Caguinchas!"
-"Pois, ou isso. - Prosseguiu ele, a todo o vapor. - Mas digo-te mais: esses tais de alienígenas, de certeza absoluta, são os que já cá estão instalados e a foder esta merda toda. Os outros que andam por aí, à socapa, de noite, devem ser os contra-alienígenas, ou sejam, uns alienígenas porreiros, bacanos que devem querer avisar-nos do sarilho em que estamos metidos!..."
Este era o toque singular da teoria do Caguinchas: havia os extraterrestres maus e os extraterrestres bons, uma espécie de versão modernizada das guerras angélicas entre a Luz e as Trevas.
-"Dragão, -concluiu ele, agora num sussurro confidencial (depois dum basqueiro monumental) -, estamos a ser invadidos, meu!..."
-" OLha a grande novidade, ó Caguinchas! - Riposteu eu, com ar trocista. - Só agora é que descobriste?..."
E ante as ventas encaralhadas e boquiabertas do Caguinchas, finalizei:
-"Isso de bons e maus, transcende-se-me. Agora que o mundo está cheio deles, não tenhas dúvidas. Só que ninguém lhes chama extraterrestres: chamam-lhes "americanos".
E lá ficou o Caguinchas de cara à banda.

VIDA INTELIGENTE

O Caguinchas, é meu dever informar, encontra-se, há cerca duma semana, na triste situação de desempregado. Precisamente, desde o dia em que o resto da quadrilha foi presa. Desde essa data fatídia, há que reconhecê-lo, encheu-se de melancolias e cuidados sobressalentes. Queixa-se até que o artista, a solo, não é respeitado e fica-se pela tasca, de volta dos jornais e das cuscuvilhices do bairro.
Foi nessa inusitada ocupação que o encontrei. Mirava, algo vagamente, o tecto e duas moscas que nele copulavam, ao mesmo tempo que escutava de esguelha, pareceu-me, as últimas da filha do merceeiro arguida em baldas diversas. Mas o mais extraordinário aconteceu quando me sentei à  mesa e o saudei:
-"Então, Caguinchas, isso vai?..."
Encarou-me, com um olhar esquisito e assim, à  queima-roupa, sem deixar sequer a bola bater no chão, disparou:
-"Ouve lá, ó Dragão, tu que és um gajo com miolos, achas que há vida inteligente noutros planetas?..."
Não escancarei a cremalheira, mas quase. Mas, depois de enfiar um trotil bem atestado no bucho, até lhe achei piada. Atirei-lhe com a resposta às ventas, numa defesa quase instintiva:
-"Espero bem que sim, ó Caguinchas! Porque neste já quase não há nenhuma!..."

sábado, dezembro 27, 2003

O NEO-LIBERALISMO NORTE-COREANO

-"Não ouviste, pá?! - Alertou-me o Caguinchas, mal entrei na tasca. -Disseram agora mesmo: estão previstos 4 milhões de mortos de fome, no próximo ano, na Coreia do Norte!..."
O Caguinchas estava perplexo, diante da TV, e eu, devo confessá-lo, também me estarreci.
- "Pôrra, vai ser uma razia!...! - Desabafei.
- "Não, nada disso. - Corrigiu-me o Caguinchas. - Vai ser é uma catástrofe humanitária, foi o que eles disseram."
Foda-se!, murmurei pra com os meus botões, como é que se explica uma coisa destas?...
O Caguinchas, esse, não tardou a arranjar uma explicação adequada:
-"Oh pá, o problema é que os gajos não têm de comer, neribi com que dar ao serrote!..."
Mas eu, sempre com a mania das filosofias, não me contentei com os factos e desatei à procura das causas, como recomenda Aristóteles.
Isso transportou-me. desde logo, a uma aceso debate mental sobre o comunismo. Que é, afinal, o comunismo? Existe? É um regime? É uma desculpa? É um equívoco? É um pretexto? E por aí fora. Ocorreu-me então pensar que, quiçá, o comunismo é um pouco como o kung fu ou as artes marciais: tem diversos estilos, consoante os mestres e, sobremaneira, as zonas geográficas. Por isso o comunismo coreano, ao jeito do Tae-kwon-do, diferia do comunismo chinés, ou do vietnamita, ou do russo, ou do cubano. Por outra palavras: o comunismo norte-coreano lá teria as suas peculiaridades, sendo uma delas, matar pessoas à fome. Só que fome e comunismo, não sei porquê, não combinam. Tradicionalmente, o comunismo, como bom materialismo que é, até se preocupa quase exclusivamente em encher a pança à turba, enfim: em dar-lhes fardamento e enfardamento. A "fome", a existir, é mais de ideias e de luxos ocidentais. Portanto, se acontece uma fome generalizada destas, isso só pode ser sinal inequívoco, além da falta de alimentos, também de falta de comunismo. Quer dizer: não me venham com trêtas, mas o regime norte-coreano, de comunista deve ter quase nada. Ou então é um comunismo ainda mais avariado que a nossa democracia. A esta hora, os norte-coreanos deviam estar estúpidos, mas gordinhos. Se além de estúpidos ainda estão a morrer de fome, então, ali há gato. E gato bem grande, senão mesmo uma pantera!
Trata-se, então, dum regime tresloucado, pilotado por um tirano psicopata, uma espécie de Saddam Hussein coreano, obsecado por armas de destruição maciça e apocalipses urgentes...Mas, nesse caso, os norte-bushianos, esses anjos da guarda do nosso mundo, já teriam corrido a salvar toda aquela boa gente das garras do vil monstro. Ora, não só não o fizeram, como não parece que isso lhes passe sequer pela cabeça. Portanto, também não é um regime destrambelhado.
Foi então que se fez luz no meu espírito, estimulado que foi este, diga-se em boa verdade, por três cálices de trotil.
Ora, é sabido como o ditador norte-coreano nutre um especial fascínio por coisas ocidentais, capitalistas, norte-americanas (parece que do cinema às armas de destruição maciça, tudo lhe cai no goto)...Vai daí, parece-me evidente, ele pôs-se a observar cientificamente como o Ocidente resolve o problema do emprego e da rentabilidade das empresas. Descobriu assim a noção de "excedentário", quer dizer, aqueles que, sempre que convém às administrações, estão a mais e não fazem falta nenhuma. É mesmo o Bê-a-bá da administração de empresas no regime neo-liberal dos paraísos ocidentais: a empresa tem problemas, reais ou inventados? Não interessa; despedem-se uns gajos e tudo se resolve. Isto, transposto para a mecânica de automóveis, resultaria mais ou menos no seguinte: o carro não anda, avariou-se? - É porque tem peças a mais, desnecessárias. Retirem-se esses pinchavelhos, e tudo voltará à excelência. O problema nunca está no condutor ou eventual azelhice do mesmo. Imaginá-lo sequer, constitui crime. É tabu.
Por conseguinte, o títere norte-coreano, aproveitando tão pedagógico exemplo, limitou-se a aplicá-lo à sua "empresa". Pensou mais ou menos assim: "esta minha empresa, chamada "Coreia do Norte", não tem falta de comida, tem é comedores a mais! Aliás, sendo a minha administração perfeita, imaculada, de inspiração divina, não vejo como é que qualquer defeito ou anomalia poderia suceder".
E vê muito bem. Nós é que vemos mal e, nesciamente, chamamos "mortos de fome", quando deviamos dizer "despedidos". Em 2004, a confirmarem-se as previsões, serão 4 milhões de bocas no desemprego, sem comida para trabalharem ou transformarem. É apenas mais um caso de excesso de mão-de-obra para a matéria prima disponível.
Mão-de-obra, ou melhor dizendo, "boca-de-obra" excedentária, descartável. Porque o norte-coreano, é um neo-liberalismo de vanguarda, radical!...Resolve logo o problema pela raíz! E, ao mesmo tempo, consegue um verdadeiro milagre socio-económico, que só pode fazer babar de inveja os pseudo-doutores ocidentais: resolve o excedentário sem agravar em nada a taxa de Desemprego!
-"Mas porque é que os américas não os invadem?!" - Clamava, indignado, o Caguinchas.
Ora, não os invadem, nem libertam, nem democratizam, porque, pura e simplesmente, estão a aprender com eles. "Vais ver daqui por uns anos!..", culminei, astutamente.
Mas acho que ele não percebeu.

E NÓS?...

A resistência iraquiana (ou União terrorista, conforme preferirem) acaba de abater quatro soldados Búlgaros. Ainda não foi desta que tocou aos portugueses. Mas como os resistentes (ou terroristas) têm muito por onde escolher, compreende-se que estabeleçam prioridades, segundo o grau de importãncia e representatividade dos efectivos. Ainda pra mais, como as forças portugueses não são portuguesas mas ministeriais, é natural que fiquem para o fim. Mas, certamente, não perdem pela demora.
Os media nacionais sabem disso e ardem na espectativa. Não tanto por questões éticas ou políticas (as primeiras desconhecem, as segundas é consoante a massa de ar dominante), mas porque sabem do impacto nas tiragens e audiências que isso garante. O frenesim de imagens, o rodopio de entrevistas que não vai ser!...
Entretanto, um pouco em surdina e veladamente, todo o país se impacienta e arrepela: é sempre a mesma coisa, até para sermos mortos ou mutilados, ficamos sempre pró fim!...
Decididamente, não somos um país competitivo!...

sexta-feira, dezembro 26, 2003

O BELICISMO GAY

A imagem do "gay belicista", não só é difícil de imaginar como pertence, sem dúvida, à categoria dos chamados "oximoros" (figura de retórica que consiste em reunir no mesmo conceito, palavras de sentido contraditório). Um bêbado quezilento, um vigarista agressivo ou um espanhol filho da puta são conceitos pacíficos, mais que plausíveis: frequentes. Mas o tal "gay belicoso", decididamente, remete para a ordem do mirabolante. Todavia, como em Portugal parece que o Entroncamento se transferiu para Lisboa, sucedem-se os fenómenos. As abóboras e hortaliças gigantes não só crescem acima do metro e meio, como deambulam e falam. E com tal desenvoltura que conseguem mesmo ser eleitas para cargos governativos.
Vem tudo isto a propósito da notícia que dá os bravos GNRs lusitanos no Iraque, não em representação dum país, mas de dois ministérios, sendo um deles o da Defesa. Surpreendente, não é?...
Até porque não há muito tempo, o digno ministro da Defesa tinha condecorado os heróicos prisioneiros de guerra portugueses que se haviam rendido ás forças da União Indiana, nos finais de 50, aquando da queda de Goa, Damão e Diu. Condecorar tipos que se rendem, na sua grande maioria sem disparar um tiro, é, no mínimo insólito. Mas corresponde ao perfil e à concepção "gay" dum conflito e dum exército. É, sem qualquer dúvida, um prémio à passividade e à mariquice. "Vale mais um maricas vivo, que um herói morto", deve ter sido o lema gravado nas medalhas distribuídas. Ao mesmo tempo, olha-se de revés e com rancor para todos os ferrabrazes históricos, brutamontes da igualha dum Decepado, Albuquerque, Nun'Ávares, Afonso Henriques e quejandos, gentinha que, a seu tempo, competirá menoscabar e cobrir de opróbrio (até porque existiram em épocas bárbaras, não-históricas, pois anteriores à fundação dos Estados Unidos da América, marco efectivo e indiscutível do início da História - em resumo: tudo figuras que nem sequer existem nos anais de Hollywood!)...Portanto, até aqui, tudo normal, dentro da anormalidade. Em vez do heroísmo, da bravura, do feito inaudito, como se faz em qualquer país vertebrado, condecorava-se a pusilanimidade, a resignação, a fraqueza (pra não dizer, a cobardia), como é digno duma nação de moluscos.
Mas eis que agora, para espanto geral e contradição dos seus próprios princípios, o Ministra envia GNRs armados até aos dentes com ordem para matar. Por um lado compreende-se a lógica: quando fôr para bater em desgraçados e tivermos as costas quentes, toca a ser valente e audaz. Convém estar na linha da frente.
Mas por outro, aberto o precedente, corre-se um sério risco: é de que os funcionários da Guarda, anelantes de condecorações ou destaques no seu curriculum, mal se lhes depare o inimigo, em acção beligerante, corram a fazer-se reféns, prisioneiros ou, sabe-se lá!, até amantes!... Tudo isto heroicamente, claro está.

quarta-feira, dezembro 24, 2003

A PÉROLA DO PACHECO

O Pacheco Pimba começa mais uma das suas pérolas retóricas do seguinte modo: "Basta ler e ouvir à  nossa volta para perceber, sem a mínima sombra para a dúvida, que muitos comentários sobre a prisão de Saddam são mais motivados pela agenda do antiamericanismo, ou antibushismo se quiserem, do que pela vontade de que venha a existir um regime mais moderado, pluralista e democrático no Iraque".
Bem, sobre antiamericanismo e antibushismo falaremos noutra altura. Provavelmente, em comparação com o americanismo e bushismo do senhor Pacheco. Por agora, fiquemo-nos pelo bom samaritanismo politiqueiro do Pacheco.
Eu, por exemplo, estou-me bem marimbando para os regimes pluralistas e democráticos do Iraque. Se os instauram ou enxertam; se os implantam ou decretam à  cacetada. Estou-me rigorosamente nas tintas!...E isso, seguramente, enquanto não vir um regime pluralista, democrático e que funcione no meu país. Senão, lá estamos nós como é típico numa certa franja de pelintras mentais e patos-bravos da coltura, isto é, a dar palpites e a cagar postas sobre a casa dos outros quando a nossa é duma rasquice que Deus nos acuda!...
Porque, no fundo, que em Londres, Paris, Nova Iorque, Berlim ou Moscovo se discuta o problema Iraquiano, ainda vá que não vá - vale o que vale, mas faz algum sentido. Cada qual tem lá os seus "projectos democráticos" prá região e, sobretudo, pró petróleo. Agora o Pacheco, o Delgado, o Durão, o Portas, a maria caxuxa, alguém quer saber do que eles pensam ou dizem?!...Até porque não pensam nada de original, de genuí­no, autónomo ou digno de registo!...São assim uma espécie de papagaios louros a emitirem verborreias alugadas ou em segunda mão!...
Digo-vos mais: se o estatuto de superpotência deriva essencialmente do armamento, então Portugal, graças a esta classe de políticos, também não pode deixar de ser considerado uma: é que em "armar ao pingarelho", não há quem nos bata!...
E se o "pingarelho" destruisse, ah de certeza que era de destruição maciça!...

NATAL

Aproveita esta noite
e o dia de amanhã, Jesus!...
Pra seres menino, adorado, sem dano
porque o resto do ano
já sabes: vão-te pregar na cruz!...

terça-feira, dezembro 23, 2003

NOTÍCIA DO DIA

O bétinho que anda por aí travestido de ministro da Defesa realizou mais um prodígio: ostracizou o PCP e o Bloco de Esquerda das confidências estratégicas. Isto é, não lhes mostrou o novo Conceito nacional de estratégia, ou de estratégia nacional, ou de estratégia conceptual, ou contraceptiva, ou lá o que é!...(Bem, presume-se que é qualquer coisa contra o aborto, a eutanásia e as salas de chute. Ah, e também a marijuana, essa vadia!) Ostracizou, descriminou, em suma: recusou-se a deixá-los jogar com a bola dele!...
Compreende-se perfeitamente porquê: são perigosos espiões a soldo da União Soviética!...

domingo, dezembro 21, 2003

CLONAGEM AO DESBARATO

Não sei como ainda há pessoas que consideram o senhor presidente WC Bush um mentecapto, atrasado mental, imbecil ou coisa que o valha!...Juro que não sei. Nunca um líder foi tão clonado, nunca o mundo viu tantas e tão boas réplicas duma figura - um primeiro ministro inglês, um primeiro ministro espanhol, um primeiro ministro italiano (enfim, não são propriamente uns desgraçadinhos quaisquer) -, e ainda há quem diga que o homem não vale nada! Que não passa dum andarilho, fantoche ou similar, nas mãos de ciganões maquiavélicos! Nesse caso, sendo clones dum fantoche andarilho, os dignos dirigentes de tão importantes países da Europa seriam também eles fantoches andarilhos, o que seria, convenhamos, inadmissível. Não lembraria ao diabo. De maneira nenhuma! Até porque nada na realidade dos seus comportamentos e acções o confirma ou sequer indicia. Nem por sombras!
Mas, e o primeiro ministro português, perguntais vós, esqueci-me dele?...
De maneira nenhuma. Só que, esse, convenhamos, não é clone: é fantoche mesmo!
Fantoche de quem? - Parece que do luso clone do W Bush - o Portas!...
Em Portugal, as coisas nunca são rectilínias: opta-se invariavelmente por desvios.

O NATAL DOS CEMITÉRIOS

Antigamente havia "um Natal dos Hospitais". Não deixava de ser um acontecimento televisivo. Talvez só houvesse um, porque também só havia uma televisão. Agora há vários, porque há várias televisões. E também há a TVI. Que não é uma televisão, nem pretende ser, mas, só de natais dos hospitais já vai pr'aí em três - deve ser "o natal dos hospitais", o "natal das clínicas", o "natal das maternidades" e, até ao dia de Natal propriamente dito, ainda devem emitir o "natal dos asilos", o "natal das ambulâncias" e o "natal dos desastres" (que consistirá em fazerem um espectáculo de cantorias numa qualquer auto-estrada). Para além disto, também já existe o "natal das prisões", o que é justo porque há muito de semelhante entre uma prisão e um hospital.
E para que é que servem os natais nos hospitais, nas prisões, asilos e etc? Para além do essencial -promoção nacional da música pimpa das editoras pimba e das televisões pimba - há também o acessório que passa por essencial, ou seja, o apoio solidário a todos aqueles que, por infortúnios diversos, se encontram acamados, internados, em suma, separados inapelavelmente dos seus entes queridos durante a quadra natalícia. Enfim, caridadesinha melodiosa com o seu quê de sadismo (para aquela minoria de pessoas de bom gosto que seja apanhada sem se poder defender - tipo aquele acidentado todo engessado e entubado que é levado de maca, directo da sala de operações para a plateia, pela senhora enfermeira ansiosa dum autógrafo do Marco Paulo.)
Pois, tudo isto está muito bem. Mas já que falamos em internamentos, ao menos sejam coerentes e consequentes e lembrem-se daqueles que, mais que a um internamento temporário, se vêem sujeitos a um internamento perpétuo e compulsivo. É isso mesmo: deixo aqui um apelo sentido à TVI, para que corra a cobrir esta lacuna e organize urgentemente um... "Natal dos Cemitérios"!

É que aí, ao menos, nenhuma das vítimas se vai baldar!...

sábado, dezembro 20, 2003

CONTABILIDADE MACABRA

Considerações éticas e políticas à parte, atenhamo-nos estritamente aos números. Na guerra oficialmente encerrada do Iraque, onde o exército da superpotência americana defronta o escol do terrorismo mundial, morrem ou ficam feridas, por mês, "X" pessoas. Nas estradas de Portugal, um pequeno país periférico da União Europeia, morrem ou ficam feridas, no mesmo decurso de tempo, "Y" pessoas. Ora, parece que o número "Y" é maior que o número "X". Se pensarmos que os Estados Unidos têm uma população de 300 milhões de habitantes, e Portugal uma de 10 milhões, a perplexidade instala-se. Estamos em guerra com quem?
Percentualmente, baixas equivalentes às nossas por parte dos americanos, implicariam um novo e assanhado Vietname. Percentualmente, quinamos que nem tordos.
Curiosamente, são capazes de estar mais preocupados os americanos com as suas baixas no Iraque, que nós, os portugueses, com as nossas nas estradas. Bravura inata ou inconsciência empedernida? Ou um grau atávico e adestrado de insensibiliade à própria dor, que nos transforma numa espécie de "pitbulls do asfalto"?
É no mínimo aberrante que, para cúmulo, os nossos inefáveis governantes ainda nos venham com ladainhas de "crise económica", "desequilíbrio orçamental" e quejandas. Foda-se, é difícil não haver "desequilíbrio orçamental" no meio duma guerra civil. Indiquem-me um país que tenha conseguido conciliar os dois, crescer e desenvolver-se placidamente no entretanto, e eu calo-me. Está o rincão pátrio a ferro e fogo, literalmente, e as azêmolas só pensam no caralho do défice!...
O paciente escarra sangue e cospe os pulmões, deitado no catre miserável e bafiento dum casebre em ruínas, e os senhores doutores médicos iluminados concentram-se exaustivamente nas borbulhas das costas!...
Só não percebo uma coisa: se se organizam lutas de cães, lutas de galos, lutas de pugilistas, karatecas e outros; se isso é altamente rentável e atractivo; porque é que ninguém ainda se lembrou de organizar "lutas de portugueses"? O que não falta por aí são lutadores encartados e profissionais, gente que nunca fez outra coisa na vida...O espectáculo, de resto, já existe, é endémico. Só lhe falta adequada promoção, divulgação internacional e investimento em infraestruturas de apoio (quase bastaria dispôr bancadas ao longo das estradas). Estou certo que atrairia mais turistas e divisas que a tourada! E quem sabe se, pioneiros e desbravadores como só nós somos, não seríamos até os primeiros a conseguir conciliar a guerra civil e o "equilíbrio orçamental"!...
Não deve ser mais difícil que chegar à Índia!...

PS: Pra que é que serviram os subsídios e ajudas comunitários? Tirando as golpadas do costume (que não foram poucas), do que se visse, essencialmente, serviram para fazer estradas e auto-estradas, viadutos, túneis e afins. E também para comprar carros, jeeps, motas e outros que tais. E para que é que servem as estradas, os carros e os portugueses tudo junto?...Se eu fosse um teórico da conspiração, diria assim: em África largaram a Sida; aqui injectaram carros e alargaram as estradas!...O resultado, esse, vai ser o mesmo.
A CÓLERA INTESTINA DO DELGADO

O Luís Delgado, grão-emético de serviço à lusa imprensa, rejubila com a prisão do monstro Saddam. Muitos rejubilam e ovacionam, mas ele fá-lo como se tivesse participado na detenção, nas investigações e pistagens. Percebe-se porquê: o homem é americanóide dos quatro custados, o campeão dos wannabe american cá do sítio. Como bom cobarde, sabujo de serviço, a soldo, quer destacar-se, agradar, dar ao rabo mais que todos...não lhe basta a prisão, que o algemem e levem sob escolta: quer dar-lhe pontapés, cuspir-lhe nas barbas hirsutas, chamar-lhe nomes! O Hitler, ao menos, era europeu e deu um tiro nos cornos (diz ele, como se tivesse assistido); mas este é um cabrão dum árabe imundo, escondido num buraco!
Não é por acaso que este Luís partilha o nome com um intestino célebre: fica-lhe mesmo a matar. Ao ouvi-lo ladrar, até o monstro Saddam dá pena! Em vez de nos apetecer dar pontapés no Saddam, dá-nos ganas é de correr a pontapés o Delgado! A sua hipocrisia deslavada pede meças à misericórdia divina!...
O mundo pode agora dormir descansado: prenderam o monstro; o presidente WC Bush subiu nas sondagens! O Delgado vela e, da porta da casota, sacode a corrente, coça a coleira, e guarda a casa ao dono.
A sua última grande pérola chama-se, sugestivamente, "Saddam Bufo" (está no Diário Digital, de 16/12/2003).
Ninguém, fora os presumíveis captores, sabe onde está Saddam nem o que está a fazer (ou lhe estão a fazer). Aliás, ninguém até hoje sabe claramente o que se passou com as Torres do WTC. Delgado também não sabe, nem de Saddam nem das torres. Mas como lhe compete ladrar, ladra. E jura que Saddam é um bufo porque "um ditador deste tipo, mais cobarde do que se acreditava, fará tudo para «salvar a pele», como fez, aliás, ao sair do «buraco» onde estava" (sic).
Vale a pena ler o artigo. Não pelo português, que é dum basismo inerente ao produtor, mas pela sensação inquívoca que deixa no leitor: a de que Delgado fala simultaneamente de Saddam e dele próprio, ou seja, de Saddam a partir dele próprio...Como se para extrapolar uma lei, o aprendiz de cientista, se socorresse da amostra que tinha mais à mão.
Como todos os acólitos, Delgado confunde factos com anseios. Saddam está a fazer o que ele, Delgado, gostava que ele, Saddam, fizesse. Ou melhor, aquilo que o Saddam faria se fosse ele, Delgado. É por isso que o título do artigo não quadra: Devia ser: "Se eu fosse o Saddam".
Ponham-lhe este título -aliás, devido - e leiam então de seguida o artigo. Vão ver se não faz, então, o maior sentido.
DO IRAQUE, COM AMOR

Parece que os bravos soldados americanos abateram mais cinco polícias iraquianos, supostamente aliados. Mataram-nos por engano, claro. Ou por nervosismo, ou para passar o tempo. Seja como fôr, uma coisa é certa, nas proximidades das tropas norte-americanas (ou norte -bushianas, se preferirem), parece mais seguro ser inimigo que aliado. Os gajos matam mais por engano que por precisão. De resto, a sua competência e bravura no campo de batalha já não deixa dúvidas: ser morto por eles, só mesmo por engano ou por acaso. A coca-cola não perdoa.
Entretanto, o porta voz da coligação desculpa-se e argumenta que os bravos rapazes terão confundido os polícias com bandidos. É natural. Usavam fardas fornecidas pelos americanos.
A NOTÍCIA DO DIA

Está no "Correio da Manhã". O ministro Figueiredo Lopes, o tal que deixou arder o paí­s quase todo durante o verão, queixa-se amargamente que "há uma campanha para derrubar o governo". É bizarro. Se já sabemos que uma campanha para erguer um governo se chama "campanha eleitoral", que nome havemos de dar a uma "campanha para o deitar abaixo"? - "Campanha demolidora"? "Campanha de abate?"... Eu proponho que se chame "Campanha arriante"!...Dá uma certa dignidade à  tarefa, como no "arriar da bandeira".
Quanto à  legitimidade dessa campanha, se é que existe, não sei que dizer. No mí­nimo parece inoportuna, uma campanha para derrubar um governo, democraticamente eleito, logo agora que ele anda tão atarefado na sua campanha para derrubar o paí­s.
É mesmo caso para dizer: quem é que vai cair primeiro, o governo ou o país?
Se calhar, (não querem lá ver) a campanha contra o governo é a reacção à  campanha do governo para derrubar o país!...É o país contra o governo, por causa do governo contra o país. Mas , que diabo, este não era suposto ser o "governo do paí­s" e não o "governo contra o país"? Já não percebo nada.
Mas, se não é este o país do governo, então qual é?

PS: talvez o nome por mim escolhido se preste a alguns equí­vocos...De facto, muitos poderão confundir e até preferir "arriar no Governo" com "arriar o governo". Olhem, ainda bem!...Quantos mais, melhor!...
Decididamente, temos um governo "bizarro". Um misto de energia e matéria escuras. Um autêntico túnel...sem luz ao fundo.

sexta-feira, dezembro 19, 2003

O TOP TEN DOS AVANÇOS CIENTÍFICOS EM 2003

Pois é, os cientistas estão sempre a descobrir coisas. É para isso que lhes pagam. Se não descobrissem coisas, morriam de fome. Os pedreiros fazem paredes, os agricultores plantam batatas, os padeiros cozem pães; eles, cientistas, descobrem coisas. E lá vão ganhando prás sopas. Na verdade, se as descobrem ou as inventam é irrelevante: essencial é que surjam, no mí­nimo anualmente, com novas teorias e hipóteses, fruto de meticulosas observações e cálculos alucinantes. Dispõem de equipamentos e instrumentos poderosos, para o efeito. Como o Satélite WMAP ou o telescópio SDSS. Agora foram os dois ao mesmo tempo e, graças a eles, descobriram aquele que é considerado "O avanço cientí­fico do ano", o nº 1 do Top Ten. Que pode ser resumido nos seguintes pontos:
a)O universo está cheio de "matéria escura" e "energia escura" (também chamadas "matéria e energia bizarras do Universo");
b) 23% do Universo é matéria escura (por definição, matéria que não emite qualquer luz);
c) 73% do Universo é energia escura (força repulsiva que acelera a expansão do Universo);
d) 4% do Universo é matéria normal.
Isto dá que pensar e, no mí­nimo, é inquietante. Inquietante, que digo eu, isto é de pôr os cabelos em pé. Dir-se-ia que, afinal, o Universo, em vez de obra dum Ser Iluminado, mais parece feudo dum Tenebroso qualquer. Todavia, se bem que horrí­vel, isso teria a vantagem de explicar o manicómio actual que é o nosso planeta; mas, para complicar as contas, os cientistas garantem (muito convenientemente, diga-se de passagem) que o nosso planeta e mundo em geral são constituídos pela tal "matéria normal" e minoritária. (Tinha que ser, senão o emprego deles ficava em risco... )
Eu não tenho satélites nem telescópios, mas tenho algo melhor - este meu dragoscópio, instrumento muito mais fíável e preciso -, pelo que vos garanto que esta teoria é prova eloquente que o nosso, além de ser um Universo bizarro, apinhado de gente bizarra, está cheio,cada vez mais  à  cunha, de teorias escuras e obscuras! É que fazendo as pessoas parte integrante do Universo, e aceitando como válida a teoria, não vejo como é que elas escaparão à  mesma. Pelo contrário, é mais que evidente que a confirmam e, a seu modo, desempenham. Porque se passarmos um pouco além do ní­vel superficial, das meras aparências, ou seja, se atentarmos ao ní­vel do espí­rito, da inteligência e das ideias, oferece poucas dívidas que cerca de 73% da população mundial palpita de "energia bizarra" e 23% (no mí­nimo) das mentes irradia "matéria escura", não emissora de qualquer luz. Restam 3% de alminhas normais - no fundo, matéria em vias de extinção (porque, esqueci-me de dizer, a matéria e energia bizaras, escuras, segundo os senhores cientistas, estão em expansão para sempre). A realidade actual confirma-o.
Para terminar, em que é que isto tudo reconforta e congratula o desempregado ou assalariado urbano do nosso tempo, quando confrontado com o escravo da antiguidade? Numa imensidão, ora essa: enquanto o ancestral vivia submerso na obscuridade e na ignorância, culpando uns quaisquer fulanos divinos, já o actual sabe agora, de fonte segura e indubitável, com que matérias se coze, percentagens exactas e tudo. Se isto não é progresso!...


SOBRE O ABORTO

Este título é lixado; induz logo o leitor em erro! Dir-se-ia que vou falar da Manuel Ferreiro Leite, ou do Paula Portas, ou do Pacheco Pimba...Mas não confundam: vou falar da espécie e não do indivíduo x, fulano, ou sicrano. O assunto vai voltar à assembleia, de visita aos irmãos, e eu não podia deixá-lo impune aqui neste meu dragoscópio. Acondicionado na lamela, eis o que me é dado observar...
Esta questão do aborto tem muito que se lhe diga. Quer para aqueles que berram contra, quer para aqueles que urram a favor. Por mim acho que a humanidade, no seu geral, perdeu uma grande oportunidade quando as mãezinhas, quer duns, quer doutros, não disfrutaram do privilégio de abortarem nas melhores condições.
Assim, muitas delas abortaram nas piores e o resultado está à vista: os abortos estão por todo o lado e já chegam à governação e ao parlamento.
É um espectáculo macabro. A falta de higiene e limpeza, leva a que os deixem assim espalhados e nauseabundos, a empestar a aragem e a conspurcar a paisagem.
Cito apenas alguns que convinha limpar urgentemente, e depositar, pelo menos, em aterros convenientes:
Paula Portas
Burrão Darroso
Manuel Ferreiro L.
Pacheco Pimba
Juís Delgado
Beato Guterres
Asco Rato
Pimba Moura
etc, etc (isto, só em Portugal e agora sim, falei dos aborto enquanto indivíduo).
Também já me sugeriram a co-incineração. Não discuto processos, desde que a higiene prevaleça. Um país que passa a vida a tropeçar em abortos, como querem que avance, que se desembarace? É que pior que o facto em si de se abortar nas piores condições, está o destino que se dá aos abortos, aos resíduos resultantes desse processo claramente poluidor e contaminante. Por falta de tratamento, corremos sérios riscos de ficarmos todos envenenados.
Por outro lado, este impasse é compreensível, senão mesmo fatal: um país ancestralmente vocacionado para a pedofilia é natural que sinta os maiores embaraços em confrontar-se com o pedocídio.
A NOTÍCIA DO DIA

Um tribunal americano mandou libertar um individuo, acusado, pelo Presidente, de ser cúmplice da Al Kaeda e pretender usar "bombas radiológicas", também conhecidas por "bombas sujas"...
Já viram isto? Onde é que este mundo vai parar?!...
É inadmissível! A falta de higiene já chegou às bombas. Depois ainda falam em Progresso e avanço civilizacional!...
Se um tipo vai usar uma bomba convém lavá-la bem antes. Lavá-la e desinfectá-la...e, porque não, escová-la, vesti-la condignamente. Devem haver escovas, pastas, detergentes ou até fios dentais para o efeito. Nunca reparei, porque não tenho bombas, nem cães, mas o que não devem faltar por essas prateleiras dos hipermercados são produtos de limpeza diversos e eficazes. Se há champôs para automóveis , também devem haver para bombas, ora essa!...Não, isto só podem ser bombistas hippies cujo lema actual deve ser "make bombs, dirty bombs; not love"...
E acima de tudo, há uma grande falta de seriedade e profissionalismo nestes gajos: propõem-se limpar o sebo e nem sequer são capazes de limpar as bombas!...Irra, que puta de inconsequência!...Até parecem portugueses, os gajo!...

quinta-feira, dezembro 18, 2003

UMA QUESTÃO FUNDAMENTAL

Ora, como o post anterior não contou, a questão fundamental que se coloca é: com que assunto vai este meu Blog perder a virgindade? Não pode ser um assunto qualquer maltrapilho e leviano, que não garanta um futuro risonho e uma famí­lia numerosa - não mandei o meu Blog estudar na universidade para deixá-lo agora entregue a sabe-se lá que aventuras e regabofes! Sou dragão, não sou otário!...Assim sendo, que tal a minha "portugalidade", hein?...Condição essencial a qualquer ser vivo, ou meio morto, ou meio vivo-meio morto, é o seu lugar de origem. O meu é Portugal. Sou um dragão made in Portugal. Genuí­no português...para a pobreza e a riqueza, na tristeza e na alegria, até que a morte nos separe! Ora, se este não é um belo assunto, então não sei o que será um belo assunto!
Então, vejamos: qual é a caracterí­stica mais forte do português?...Esperteza saloia, mesquinhez, balbúrdia, burrocracia, inveja, superficialidade, bacoquismo, futebolite, hipocrisia?...É certo que estas abundam, mas serão realmente o vértice?...
Não restam dúvidas que o português adora falar ao telemóvel e guiar o automóvel (de preferência as duas em simultâneo), mas quanto a mim há algo que ainda supera estas delí­cias e o deixa, mais que derretido, babado...Não adivinham? Eu digo: Mirar. Pois, mirar e remirar com a maior das gulas. O português não come com os olhos, empaturra-se. E não há dispepsia que o aflija: digere tudo! É uma gibóia insaciável, uma anaconda voraz. Mas nada de voyeurismos ou espreitadelas subtis, de soslaio, como quem não quer a coisa. O verniz não lhe quadra...gosta mesmo é de plantar-se defronte dos acontecimentos, das coisas e, sobretudo, dos desastres, das cenas degradantes e empanzinar-se, tirar a barriga de misérias, ou melhor, enché-la! Não se pode exigir aos portugueses que apaguem incêndios, quando, na verdade, o que eles gostam mesmo é de vê-los, apreciá-los, na sua beleza feérica, catastrófica (e quem sou eu, dragão, para os criticar nesse caso especí­fico...) Diante da própria casa a arder, o português deve ser único no mundo a experimentar sentimentos contraditórios: por um lado "ai que desgraça!,minha rica casinha!..."; por outro, "compõe-te mulher, vem ali os senhores do telejornal!..."
Da mesma forma, é absurdo incitá-los a que se levantem da desgraça, da miséria mental e fí­sica em que vivem, qual país prostrado, rastejante, mendigabundo, quando, acima de tudo, o que eles mais gostam é de contemplar misérias, desgraças, ignomí­nias, hecatombes, nem que sejam as suas! Aliás, sobretudo as suas!...Para que quereriam eles um paí­s organizado, seguro, planificado, ordeiro: só se fosse para morrerem de tédio! Tanto mais, que nenhum sarrabulho lhes chega, nenhuma confusão lhes basta: mergulhados numa babel monumental, eis que anseiam emigrar para as áfricas ou brasis, só porque sonham que aí a balbúrdia ainda é maior!... E é, graças a Deus!...
O caso dos acidentes aparatosos e sanguinolentos (ou melhor será dizer, massacres?) nas auto-estradas serve de modelo alegórico...Quem já não assistiu às tripas do semelhante em exposição gongórica nestas galerias? E as filas de basbaques que logo se formam? E os desastres subsequentes, como que por simpatia (por simpatia mesmo) que, regra geral, se encadeiam? A malta a ver, a absorver morbidamente, com volúpia... a assistir, a esquadrinhar, a pesquisar, à  cata de minúcias e detalhes, quanto mais escabrosos, repugnantes, melhor! Uma corja, sem dúvida. O português conforta-se na sua própria repugnância, engrandece-se e regozija-se na proporção directa da desgraça alheia. O seu bem, a sua sorte, só são reconhecí­veis, assinaláveis a partir da desgraça e do azar dos outros. Puta de gente! E eu, apesar de dragão, sou um deles. Ninguém escapa: vem com o Tejo, os sobreiros, o azul único do céu e tudo o que faz com que este lugar seja este e não outro. Os gregos chamavam-lhe "moira"; nós chamamos-lhe "destino".
Não deixa de ser irónico: os portugueses embasbacados diante de misérias e desgraças, e eu embasbacado diante deles e de mim próprio (ou sejam, outras misérias e desgraças que tais)...Mas felizmente há o riso! e este meu dragoscópio, que dá para ver tudo e mais alguma coisa!...E que vejo eu, dragão, nos portugueses, através do meu dragoscópio?...
A desgraça que é ser português..., pensais vós...
Desgraça?! Não me fodam!, desgraça mesmo era ter nascido americano!...
Bem vindos ao Blog do Dragão!
Era para se chamar "Lança-Chamas", título muito mais apropriado ao meu feitio, mas estas porcarias anglófonas (raios as partam!) não aceitam pacificamente o "Ç" (o cê cedilhado, pois), pelo que tive que me contentar com esta arma mais discreta, mas não menos letal, felizmente. Nos tempos que correm, um dragão não pode vir prá rua armado só com as garras que Deus e a Natureza lhe deram, sob pena de acabar maltratado por algum energúmeno ou malta brava.
Por conseguinte, instalem-se, ponham-se a jeito, que eu já vos trato da saúde!...
E se os lenhadores gritam "madeira!", eu, em contrapartida, grito "lume!"...Depois não digam que eu não avisei!...