sexta-feira, janeiro 02, 2004

A CIBER-TASCA

Não me perguntem como, mas o Dinossauro lá conseguiu convencer o Armindo (insigne e casposo proprietário da tasca) a instalar um terminal de computador, ligado à net, no estabelecimento. Assim sendo, a tasca vai passar a ser uma Ciber-tasca. Um gajo pode navegar enquanto se alambaza com um pires de caracóis ou umas moelas fritas. Acho até, tenho quase a certeza, que vai ser a primeira Ciber-tasca do planeta. Se isto não é progresso!...
Entretanto, conseguida a autorização, muito por obra e graça dos cabelos brancos e da verve impecável do fóssil (o Armindo não percebe patavina do que ele diz e, para não passar por ignorante, faz que sim a tudo), só já nos falta o computador.
O Caguinchas, depois de o termos aldrabado indecentemente com a garantia de que também dava pra jogar matraquilhos no computador e ver ao mesmo tempo gajas nuas (enfim, meia aldrabice), já se propunha ir partir uma montra qualquer avulsa e requisitar um aparelho topo de gama. A ideia não era má; só que o executante não era de confiança. Com os seus dotes de "master mind", o mais certo era trazer uma televisão em vez dum monitor, ou ser apanhado, após perseguição anedótica, enquanto conduzia, alucinantemente, o carrinho de mão.
Tentámos demovê-lo do projecto a troco duma imperial e um pires de tremoços. Não resultou: estava cada vez mais entusiasmado e concebia planos atrás de planos, qual deles o mais lastimável. Um whisky duplo de Sacavém, também não resultou. Desfilaram bagaceiras, aguardentes velhas e até uma dose de jaquinzinhos, mas eram baldes de água na areia do deserto. Não só não se desimaginava, como prometia desembestar porta fora a todo o momento. Por fim, até o próprio Armindo, somítico encartado, mas vendo-se em risco de perder o melhor cliente durante uns bons meses, acudiu com um "Chivas" de 12 anos (garrafa vinda directa da Escócia, já que o líquido vem directo de Sacavém)...Aqui, o Caguinchas, teve uma ligeira oscilação, mas voltou rapidamente ao mesmo. Quando nem os pastéis de bacalhau, com meio litro de "porta da Ravessa" o seguraram, a malta perdeu de vez a paciência junto com as estribeiras:
Amarrámo-lo e fechamo-lo na arrecadação do quintal. O Armindo até disse ao cão: "Benfica", se este cabrão quiser sair, morde-m'o gajo!..."
-"Filhos da puta!...Hão-de mas pagar!!..." - Clamava, indignado, o Caguinchas.
Enquanto isso, o Dinossauro achou melhor precaver novas recaídas e resolver quanto antes o assunto.
-"Olhem, jovens -disse ele-, e se eu trouxesse o meu PC?!..."
-" Pois, -respondi eu -, instala-se ali ao lado da máquina dos flipers, por causa da tomada!..."
O Armindo já estava por tudo. E depressa, que não queria perder o melhor cliente para as penitenciárias do Estado.
-"Pois é isso mesmo! -Compenetrou-se, o Dinossauro. - Eu até passo mais tempo aqui que em casa, que diabo!...Anda daí, ó jovem Dragão: vamos lá agora mesmo buscar o meu PC!..."
E lá fomos...
Apesar dos gritos alarmados e furiosos do Caguinchas, que, lá do arrecadamento, berrava:
-"Foda-se, não vás, Dragão!...Eu sempre desconfiei que esse gajo era um comuna!!..."

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