sexta-feira, março 12, 2004

A SEGUIR É O METROPOLITANO

Estavamos nós todos embasbacados, aqui na tasca (aliás, ciber-tasca) com aquela tragédia toda que aconteceu aos espanhóis -minto: o D.Afonso Henriques, na pessoa do Batnavó, não estava e até sorria, vá-se lá saber porquê -, mas, dizia eu, estavamos então nesses compungidos propósitos, quando o Caguinchas, depois de se estarrecer mais que todos (excepto, repito, o D.Afonso, que até propunha brindes e rodadas gerais), entrou em profunda meditação.
Enquanto os jornalistas de toda a parte louvavam os céus por tamanho maná em queda livre e as notícias iam desfilando, num delírio esmiuçante e conjecturalista, o Caguinchas, agora alheado, soturno, entregava-se ao abismo, pelas insondáveis cavernuras da sua mente.
Na televisão, vários emissários de várias televisões competiam pelos destroços. Iam refocilando na carnificina, ao melhor estilo das hienas e chacais. Mutilações e esfacelamentos serviam de plano de fundo. Após a hecatombe humana, seguia-se o festim informativo.
-"Temos pra vários dias! - Murmurou, resignado, o Dinossauro. - Vão remoer, digerir e regurgitar até à náusea!...Até ao vómito."
-"É. -Concordei. - Um verdadeiro banquete!"
Varriamos uns caracóis nestes considerandos, quando o Caguinchas regressou dos abismos onde tinha andado a mergulhar.
-"Estive aqui a pensar... - confessou ele. Primeiro, foi o 11 de Setembro e os gajos atacaram os aviões. Agora é o 11 de Março e rebentam com os comboios..."
Nisto, fez uma pausa, como que pra recapitular e tomar fôlego. Ao mesmo tempo, um brilho alucinado fazia-lhe cintilar as vistas. Nós fitávamo-lo, suspensos e curiosos, pressentindo instintivamente a pérola...E ele, sem mais requebros, não nos desiludiu:
-"Garanto-vos: nos próximos Onzes todos de cada mês, a mim é que ninguém me apanha no metro!... Nem nas proximidades. Foda-se!!..."
Se o Caguinchas não dava um excelente analista...

Sem comentários: