sexta-feira, abril 23, 2004

UM PAÍS GAY

«A alteração de competências para as autonomias regionais, o direito à orientação sexual e a consagração do primado dos tratados da União Europeia na ordem interna portuguesa caracterizam a VI Revisão Constitucional »

A Constituição não é importante. A Revisão Constitucional não é importante. O país não é importante. O passado já não conta e o futuro logo se vê. O que é importante, então?
Importante é o apito e o Major que foi apanhado com a boca no apito. Importante é o Iraque e as judiarias que o Bush faz ao pagode; ou os manguitos que o pagode faz ao Bush; ou os mísseis que o Sharon atira; ou as pedradas que o Sharon recolhe.
Importante é o Benfica e as peripécias do Benfica.
Que importa a soberania? Afinal de contas, não enche barriga. Que importa a independência, num país que se tornou toxicodependente de subsídios?
Mas reparem na maravilhosa contrapartida, no prémio por tão bom comportamento: "o direito à orientação sexual". Sublime.
Que importa a desorientação nacional, se agora disfrutamos do pleno direito à orientação sexual? Ou então era toda uma desorientação nacional derivada duma desorientação sexual...ou dum recalcamento.
Os sintomas e indícios, já que se fala nisso, até nem eram de menosprezar: histerismo, delírio, fantasia, desejos aberrantes, desordem da personalidade, amnésia, pobreza de pensamento, comportamento errático, depressão, distúrbios de stress e ansiedade, etc.
Há algo de freudiano nisto tudo. É mesmo de presumir toda uma formidável lógica terapêutica em marcha: uma vez orientado o sexo, tudo o resto entra nos eixos, volta ao seu lugar - orienta-se a economia, a educação, a justiça, a saúde, a cultura, o emprego. É a estrela polar do sistema.
E se assim é, somos até forçados a admitir: O sexo é mais importante que o país. É, direi mesmo, determinante. Faz-nos imensa falta: é graças a ele que nos vamos fodendo todos uns aos outros, e ao país em especial.
Ou então, sou até capaz de intuir, revela um prodígio ainda maior: O direito do país, ele todo, inteiro, em absoluto, a ser um "país gay", ou seja: um país que leva no cu. E gosta.

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