sexta-feira, julho 09, 2004

Parasitas modernos


Antigamente, os parasitas primavam pelo silêncio, tinham todo o interesse em passar despercebidos. Agora não. Mamam e ainda refilam.
Passou-se assim do parasita discreto, low-prophile, para o parasita arrogante, hard, exibicionista. A revolução ocorreu, sobretudo, a nível da mentalidade: o de facto consolidou o de jure. Por sua vez, o direito adquirido estabeleceu parentesco divino. O parasita, herdeiro dum avô (alguns, nem tanto, um pai ou padrinho já lhes incendeiam a mente) que já ali chupava, convenceu-se que, afinal, não só não suga o hospedeiro, como é ele, imagine-se, o proprietário da estalagem. O Criador. O Verbo detrás do Génesis.
Providencial desarrincanço, convenhamos. Degradado a inquilino, a criatura, o hospedeiro, lorpa, além de dar o coiro, ainda tem que pagar renda.
Mas o mais extraordinário é que ele próprio acredita nisso, a pé juntos. Jura que é o seu dever. Que o outro não o sanguessuga, mas apenas o guia, o pilota, lhe ilumina a senda toda adiante. Debaixo do outro, que nele galopa e se vai banqueteando, escuta-lhe as histórias:
-“Se não fosse eu, morrias de fome! Se eu não te estimulasse, que seria de ti?! Se eu não te esporeasse, se não te avivasse com o aguilhão da fome e das necessidades, fenecias na pasmaceira!...”
O parasita antigo, consciente da sua canalhice, mamava e calava-se. Chupava em silêncio. Congeminava até idílios a longo prazo para camuflar a coisa; utopias cor-de-rosa. O moderno não; mama e vocifera ao mesmo tempo. Sorve e cospe. Chupa e dá ordens, caga sentenças, manda bafos. À maneira romana, empaturra-se e vomita logo de seguida, para ir a correr empanzinar-se de novo, ad eternum. A refeição nunca acaba nem está do seu agrado; a carne nunca é suficientemente nutriviva, tenra, satisfatória. Fica sempre aquém do néctar e da ambrósia requeridos, devidos, exigidos. Uma merda!
E o corpo, todo, inteiro, das vísceras ao cérebro, é apenas um mero aperitivo...para a alma.

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