quarta-feira, maio 04, 2005

Os Grandes Problemas da Humanidade - I.


A fazer fé no meteorismo mediático, que a todas as horas ribomba e nos azucrina as orelhas, os grandes problemas da humanidade para o próximo milénio, pelo menos, resumem-se, se tanto, a meia dúzia. É uma lista pequena mas premente: diariamente, são feitas homilias, telejornais, e o espírito ruminante da manada é atafulhado com essa palha noticiosa. Ou melhor, é uma espécie de pó anabolizante, de engorda rápida, que lhe misturam na ração.
Mas enunciemos esses grandessíssimos e gravíssimos problemas:
1. Interrupção voluntária da gravidez
2. Eutanásia
3. Casamento entre homosexuais
4. Adopção de crianças por casais homossexuais
5. Legalização das drogas moles
6. O sexto é opcional. Uma espécie de sobremesa.
Se é certo que já vivemos no melhor dos mundos, uma vez resolvidos estes tremendos problemas é-nos garantido que passaremos a viver no mais excelente dos paraísos.

Sobre a questão 1., já falei aqui atrás e mantenho integralmente o que então bramei. Sobre a 2., elucubrarei brevemente. Por hoje, atenhamo-nos às duas que, de entre todas estas urgentes, são, sem sombra de dúvida, as mais importantes: a 3. e 4., pois claro.
De facto, não sei o que será da humanidade, do planeta, da civilização, se continuarem a vedar os altares e os nenucos vivos aos gays. É preciso acabar com esse resquício fascista. É, sim senhor! Até porque, atestam-no várias sumidades espertíssimas, pode nascer-se gay como se nasce preto ou branco ou mongolóide ( Trissonomia 21, para pessoas do jet-set).
Pois bem, eu hoje sinto-me liberal. Em conformidade com esse meu singular (e raro) estado de espírito, proclamo que os homossexuais devem poder casar. Mas casar com todas as regras: não só pelo registo civil como também pela Igreja. Especialmente, pela igreja. Já estou mesmo a imaginá-los no dia de Santo António, aos magotes cacarejantes, "elas" de vestido e véu, eles de fraque rosa choque, todos a posarem para a fotografia, os sinos a badalarem em júbilo cristão, e o padre, diáfano, a benzer e a abençoar a panelei..., quer dizer, os novocrentes.
Vão por mim: Deixem-nos casar pela igreja, permitam que se enpanzinem de hóstias e vereis que Deus ressuscita, o ateísmo passa de moda e até o Carlos Esperança corre a peregrinar Fátima. Mais: Até a Santíssimia Inquisição volta e ninguém protesta.
No capítulo do casório, se me permitem, vou ainda mais longe: além do civil e do religioso, também deveriam ter direito ao tradicional, aquele matrimónio típico das áfricas em que o noivo tem que pagar alambamento ao pai da "noiva". Uns cabritos, uns bacalhaus, umas latas de conserva e uns litros de gasolina sempre são alguma compensação para um pai que tenha o azar de lhe nascer um filho bichon..., quer dizer, homossexual. Ao menos, não é só prejuízo.
Quanto à adopção de crianças, logicamente, também estou de acordo. É deixá-los. Devem até ter prioridade em relação aos casais hetero. Basta que se equipem as crianças com (primeiro) fraldas (e depois) cintos de castidade. Pelo menos até atingirem a maioridade. Ou então, reune-se uma comissão de sábios especialistas, daquelas muito iluminadas e peregrinas, que apura, em menos de nada e sem margem para dúvidas, quais as crianças homossexuais e quais as heterossexuais, pois, segundo a novociência, elas já nascem com essas singularidades, coitadinhas. Uma vez determinada essa idiossincrassia inata, os casais homo adoptam crianças homo e os casais hetero adoptam crianças hetero. Já agora, se não é pedir muito, convinha que os americanos aperfeiçoassem a máquina das ecografias de modo a que a bendita prospecção pudesse ser feita logo no útero materno. Por lei constitucional, e em correcção judicial ao erro da natureza, os nascituros gays passariam a ser expropriados aos progenitores naturais e entregues a famílias homo. Poupavam-se, com isso, desgostos à família inicial e burocracias à adoptiva. Tinha ainda outra vantagem: se deixássemos os homos adoptarem bebés, todos, sem excepção, passariam a insurgir-se contra o aborto, e já não se gastava tempo nem dinheiro com refrendos. Em vez de abortarem, as mães preocupadas com o seu futuro nas discotecas e passereles, entregavam os empecilhos para adopção. Donde se depreende, mais uma vez, que resolver os problemas dos gays é resolver, por simpatia, todos os problemas da humanidade.
Todavia, não nos admiremos se daqui por uns tempos, resolvidos estes enormíssimos problemas, irrompam de pronto -e aos gritos - outros, talvez menores, sua prole, mas não menos candentes. Assim, precavendo desde já o iceberg que esta pequena ponta visível anuncia, o melhor mesmo é irmos adiantando serviço. Para o efeito, e acautelando futuras e fatais erupções:
* Autorize-se, desde já, o divórcio entre homossexuais;
* Reservem-se-lhes lugares exclusivos nos parques de estacionamento, como já existe para os deficientes (é justo e obedece à mesma lógica);
* Priorizem-se-lhes assentos nos transportes públicos, como já existe para grávidas, idosos e acompanhantes de crianças de colo;
* Instaure-se uma discriminação positiva na sociedade pró-Apartheid sexual, tal qual se fez na África do Sul no pós-Apartheid racial.
* Decretem-se cotas mínimas gays no parlamento, no governo, nas carreiras judiciais, nas forças de segurança e nas forças armadas. Sem esquecer os bombeiros, os hospitais e todos os serviços que impliquem o uso de farda; sobretudo a Marinha;
* Isentem-se de impostos;
* Obriguem-se as instituições bancárias a abrirem linhas de crédito Homo, como já existem outras como o "Crédito Sénior", ou "júnior", ou "crédito agrícola", etc;
* Criem-se bolsas de estudo para homossexuais;
* Subsidiem-se escolas, infantários, creches, liceus e universidades homossexuais;
* Instituam-se reservas e coutadas homossexuais, sobretudo na cultura e nas artes, isto é, legalize-se o actual comércio informal naquelas áreas; concedam-se alvarás;
* Converta-se a TV2 em canal gay;
* Nos restaurantes, aviões e espaços quejandos, além de áreas para fumadores e não fumadores, estabeleçam-se também áreas para homossexuais e não-homossexuais.
* Consigne-se na lei a homossexualidade como atenuante, senão mesmo alibi, para qualquer tipo de crime, sobretudo económico;
Em resumo, converta-se "homossexualidade" em critério prioritário. Seja daquilo que for.
Com isto, termino. Espero que este meu contributo para a paz social e a descompressão de jornais e televisões não caia em cesto roto. (Que é como quem diz...)

Entretanto, fica desde já a promessa: Numa próxima oportunidade, tenciono debruçar-me sobre os gordos e os feios. Também se nasce gordo ou feio, quanto a isso, então, é que não há mesmo dúvidas, e também se é discriminado negativamente por causa disso.

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