quarta-feira, junho 08, 2005

"Dragoscópio" vai passar a livro



Está em marcha todo um amplo e espontâneo movimento popular que tem por desiderato cimeiro levar o "Dragoscópio" a livro. A livro, para já; o DVD e o CD-ROM vêm depois. Sim, uma campanha entusiasta, como não há memória, percorre o país, de norte a sul. E apesar dos esforços desesperados dos bombeiros e autoridades competentes, nada nem ninguém parece já com força de fazê-la extinguir ou sequer abrandar no seu furor justiceiro. Por toda a parte se erguem labaredas em protesto - e vigília nacional - pelo "Labaredas-Mor" do reino, que os caciques de plantão à cultura porfiam de amordaçar e obstruir na sua legítima apoteose, no trânsito para a glória triunfal.

Ora, tendo já sido o "Dragoscópio" convidado por uma editora (cujo presidente do conselho de administração é meu primo e casado com uma pessoa amiga -do sexo feminino, realço), para se converter em lixo, digo livro, e tendo eu, na altura, com a modéstia que me caracteriza, recusado, eis que me vejo confrontado, agora sim, com inaudito dilema. Com efeito, face a esta nova evolução dos acontecimentos, confrontado com toda esta vaga popular de estima e afecto, que se adivinha de norte a sul e ilhas adjacentes, será que estou no direito de, com nova recusa, partir o coração a toda esta boa gente, se bem que desta vez, por especial atenção, não acompanhada do "bardamerda!" anterior?
É sabido que, embora alado, o dragão é da família dos répteis, logo, portanto, uma criatura de sangue frio. E coração de pedra.
Mas mesmo um coração de pedra, de rocha insensível, como o meu, conseguirá ele ficar indiferante a tamanho clamor, a tão lacrimejante súplica?
Agora que o país, como de costume, arde e eu tiro a barriga de miséria (ops, acho que não devia ter escrito isto...), enfim, agora que a depressão se cava e alastra, agora que o bom povo, sem a dose semanal de bola, vai ressacar à torreira, a besuntar o coiro nos brasis , caraíbas e algarves, será que mais um não da minha parte não mergulhará o país, já de si tão martirizado, numa aniquiliadora catástrofe? Num armagedão ou ragnarok piores que em 1755?
Não, mesmo para a misantropia e o genocídio deve haver limites! Se o país desaparece, se a população se extingue, depois, rio-me de quem? Está bem, sempre existem os espanhóis, os americanos, os chineses, os angolanos, etc, etc...mas, que diabo, não chegam nem à unha do pé dos alentejanos. E os algarvios? E os madeirenses? Tudo isto é património da Humanidade. Seria uma perda irreparável.

Por isso, serenai, ó gente do meu país (como canta a outra)! Tranquilizai-vos. Não permitirei que o mundo acabe. Haja televisão.
Em conformidade, tomei uma decisão, que passo a comunicar-vos:
(Que se lixe!) o "Dragocópio" vai passar a livro.
Pronto, não chorem mais. Acabo de falar com o meu primo e ele já deu ordens à editora. Só falta escolher a capa [vou falar com a Fátima Lopes, que me deve uns favores e dá o cu e oito cêntimos por estas coisas (calma, tenciono perdoar-lhe os oito cêntimos)]. Enxugai, pois, as lágrimas e desconvocai a manifestação com que, após encher de novo a Alameda, vos propunheis cercar as principais editoras e mantê-las a pão e água até que a 1ªedição do "Dragoscópio" ocupasse o 1ºlugar dos Tops Bertrand e Fnac. Lançai lá os foguetes à vontade (de qualquer modo, o país já está todo a arder). Com tamanha alegria, o melhor, se calhar, é irdes celebrar para o Estádio da Luz, penso que o Benfica não se importa. No Porto, enchei o "homónimo que erigiram em minha honra", a ponte de D.Luís e a Avenida dos Aliados, num verdadeiro S. João antecipado.
Mas o melhor ainda não vos disse...
É que o "Dragoscópio", ao contrário dos outros blogs negligentes, àsperos, nada preocupados com o conforto do leitor, vai ser o primeiro a ser editado em papel apropriado, ou seja, higiénico. De folha dupla, cobertura especial -simultaneamente absorvente e massajante, e encadernação de folhas com picotado (tal qual como os livros de cheques ou facturas). E - maravilha acrescida e totalmente gratuita! - será também personalizado: o "Dragoscópio" para cavalheiros surgirá em tons de azul; para senhoras, em tons rosa; para gays, em tons arco-íris; e para metrossexuais, em tons pastel. Haverá ainda uma edição infantil, com tratamento a talco, de modo a precaver assaduras, e folha-fralda rigorosamente descartável; e também uma edição especial para séniores (como agora se diz), em folha mata-borrão tripla, devidamente testada e garantida contra a incontinência.
As senhoras que certos dias do mês atormentam, não desesperem: em breve, ficará disponível o "Dragoscópio" em folhas-penso. Basta dirigirem-se à livraria mais próxima e pedirem o "Dragoscópio-evax" (também à venda nas farmácias, bombas de gasolina e lojas de conveniência).
Por fim, fica desde já a promessa: não descuraremos o "Dragoscópio" em folha-guardanapo, ou folha-lenço de papel, para leitores mais excêntricos ou ecléticos.
Claro está que, por cada exemplar do "Dragoscópio", o comprador receberá, de brinde, uma T-Shirt do Dragão (este vosso criado) e um porta-chaves com a mesma criatura.
Providencial lembrança, esta, hão-de Vªs Excªs convir. Pois de todas as vezes que a aflição da leitura vos surpreenda sem o "livro" à mão, sempre podeis limpar o cu à T-shirt.

Ah, e última -mas não menos refinada - das surpresas: Todos os exemplares serão autografados pelo autor! Adivinhem como...

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