sexta-feira, maio 26, 2006

Pirilampos trágicos e doutas gambosinices

É triste mas é assim. Não sei quantos milénios suplementares serão precisos, mas não se avista saída breve para fora disto. Dir-se-ia até que, em cada dia que passa, piora a olhos vistos. Sou testemunha viva de acusação e hei-de declará-lo aos vermes, quando me vierem limpar os ossos:
Não há pensador humano, de vão de escada rolante ou poço de elevador celeste, que não parta do tesouro das suas conclusões e dos seus preconceitos para se lançar no tricoteio dos seus argumentos. Melhor dizendo: logo que os seus preconceitos se sedimentam e cristalizam no montículo sólido das suas conclusões, ei-lo que se encafua nas profundezas duma masmorra mental, qualquer uma serve, onde, com requintes de verdugo e ganas de inquisidor, se entrega à tortura metódica da realidade, a fim de que esta, heresiarca relapsa e contumaz, lhe forneça as premissas convenientes à apoteose do seu raciocínio. E a todo este ignóbil, sebento e refalsado processo chama ele “filosofia”.
Esta, uma vez extorquida após tão cruéis sevícias, ou há-de servir de fralda da Religião, de babete da Ciência, ou de vaselina para a Ideologia.
A verdade - na irrisória porção que lhes compete, a estes pirilampos da sabedoria -, é que traficam filosofobia por filosofia.

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