segunda-feira, julho 30, 2007

Lá vem mais um Picasso

«Orangotango pintor expõe em zoo alemão».

Entre nós ainda estão um pouco atrasados. Só ainda se dedicam à política e ao jornalismo. Quer dizer, ainda só guincham e ululam estridentemente, cada qual com sua horda.

domingo, julho 29, 2007

SL Quê?...

Declaração solene do Engenheiro Ildefonso Caguinchas há coisa de hora e meia atrás:
-"Se alguém volta a dizer que aquilo que anda ali de cor-de-rosa, na televisão, é o Benfica eu dou-lhe com uma cadeira nos cornos!"

sábado, julho 28, 2007

A Agenda, parte 2

Revela o DN: «Há 18 mil idosos em lista de espera para entrar num lar».
Isto quer dizer que os vazadouros para a 3ª idade já não dão minimamente conta do recado. Ainda mais em época de férias. Qualquer dia, além dos cães, deparamos com velhinhos desorientados nas auto-estradas. E não exactamente ao volante de carros em contra-mão.
Eis mais uma oportunidade dourada para a veia sempre dinâmica e filantrópica dos nossos progressistas de serviço. Imagino até como já devem fervilhar em fornicoques legisladeiros e referendários. E o caso não é para menos. Depois de implementados e glorificados os vazadouros para embriões descartáveis, nada como avançar com aterros sanitários para as carcaças improdutivas, essa sucata humana. Aterros e incinerações amigos do ambiente, naturalmente. Sob a supervisão da Quercus. Não vá aquilo contaminar os solos.
Avante, rapazes! Nada de dormir na agenda. A IVG já está no papo, chegou a hora da eutanásia!... Mais que janela, é uma vala a céu aberto de oportunidade. Os pobrezinhos, o melhor mesmo é despejá-los. Não vamos querer nem estorvar a família nem sobrecarregar os contribuintes.

sexta-feira, julho 27, 2007

O dealbar da luz ofuscante

Em 1686, Robert Plot, professor de química na Universidade de Oxford e conservador do Museu Ashmole, publica um documento onde menciona uma "Society of Freemasons". Refere também detalhes sobre a composição e extensão desta sociedade secreta. Cita pessoas da "mais alta estirpe"; indica que que se reunem naquilo que chamam "a Lodg", onde se entregam a determinados cerimoniais e ritos; aponta ainda "artigos secretos que ninguém conhece, a não ser os iniciados". Mais interessante ainda, afirma que esse "costume inicialmente de Statfordshire", se terá expandido "mais ou menos por toda a nação".
Dois anos depois da publicação do livro de Robert Plot, a Inglaterra eliminou a dinastia pró-católica dos Stuart e substituiu-a pela de Hanover, dominada pelo protestantismo.
Em 1689, Locke publicava a sua "Carta sobre a Tolerância", onde afirma, a certa altura:
«Que a tolerância a favor daqueles que diferem dos outros em questões de religião é tão conforme ao Evangelho de Jesus Cristo e ao senso comum de todos os homens, que podemos considerar uma coisa monstruosa existirem pessoas cegas que no meio de toda a luz que os rodeia não vejam a necessidade e a vantagem (...)
«Que não haja no mundo nenhum homem, igreja ou Estado que se arroje o direito de, sob o pretexto da religião, invadir os bens de outrem ou de o despojar das suas vantagens temporais (...)
«Que ninguém acredite que é por caridade, amor e indulgência que um homem faça expirar o seu semelhante para quem deseja ardentemente a salvação no meio de tormentos.»

São perfeitamente reconhecíveis nestas declarações os princípios filosóficos da franco-maçonaria.

quinta-feira, julho 26, 2007

Leis do cuspo são boas para cuspir

Havia uma lei anterior da IVG/Aborto que o país inteiro não cumpria e que a esquerda baixa se abespinhava toda nos raros e pitorescos casos em que se simulasse cumprir. Agora há uma nova lei da IVG/aborto que a Madeira diz ou faz que não cumpre. E a mesma esquerdaria, cada vez mais baixa, seita de afundadores, ladra e exige que tem que ser fiel e cegamente cumprida.
Só quem não pode cumprir as leis que não lhe apetecem, que não lhe quadram é ela, a esquerda toina. A liberdade pertence-lhes por inteiro, serve-lhes de babete e coutada privada. Dantes, aqui d'el rei porque metiam as abortadeiras na pildra; agora é aqui d'el presidente, porque têm que ser presos e condenados os que não querem colaborar pressurosamente no folclore da abortadice. Tão libertários e contestatários ontem, tão esbirros e repressores hoje.
Uma coisa é certa: esta esquerda a clamar pelo cumprimento das leis é o mesmo que uma rameira veterana e relaxada a pregar a moral e os bons costumes.

Pig-Brother is watching you

«Os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia aprovaram nesta segunda-feira um acordo que permite aos Estados Unidos ter acesso a uma série de informações pessoais de passageiros de voos transatlânticos, incluindo orientação sexual, política e religiosa.

Pelos termos do novo acordo, o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos terá acesso à morada, número de cartão de crédito, dados de saúde, eventual associação a sindicatos e origem étnica de todos os passageiros que queiram entrar no país provenientes da Europa.

(...) Frattini tenciona adoptar o mesmo sistema com os dados de passageiros aéreos entre os 27 países da UE.»

O mais difícil será fornecerem a "orientação sexual". A maior parte é sexualmente desorientada.

Mas está bonito, não está?....

quarta-feira, julho 25, 2007

Eu, taliban, me confesso

Toda a gente sabe que a Madeira, além duma ilha, é uma região antónia. Ora, as regiões antónias, ao contrário das regiões tónias, gozam de umas certas prorrogatices e outras tantas ausenções. Chamo a atenção -e também a atencinha, como diria o meu amigo Dragão (fora nos dias de bola) - para o facto de por exemplos Barrancos não ser uma região antónia e, todavia -bem como todavila -, não cumprir a receita legal vidente no restante batatal. E assim é que, uma vez por ano, desatam a matar toiros à força bruta e ninguém lhes diz nada. 'Tão com a excepção toda, os gajos. A malta, no restante rincagalhão, já nem uma galinha pode matar, ou um porquito, que a sanitária não deixa. Matar, que digo eu, nem bater-lhes, ao de leve que seja - na galinha ou na porca da consorte (raio de nome, mais legítimo era chamar-lhe com-azar, que maior azar que um tipo descobrir que comprou galinha ou porca por mulher, desconheço) por exemplos, cai o Carmo e a trindade e o Bairro Alto quase desaba, o que se compreende porque aquilo vai-lhe aos acolicerces. Mas eles é quantos cornúpetos queiram, fora os cabrões lá do sítio, senão despovoavam a terra. Então, pergunto eu, se Barrancos pode porque é que a Madeira não há-de poder? Os Barranqueiros cismam de matar bois, os Madeireses teimam de não matar embrigões. Isso é algum problema?
Problema é aquela puta de camisola abichanada com que aquele Orelhas metenojo quer apalhaçar o Glorioso, isso é que é um problema! Isso é que abala os alicerces da Nação e amputa-os cerces a qualquer português chefe de família que se preze! Nisso é que o presidente da República, o Governo, a Nato e o Tio Bush deviam meter os olhos e, a seguir, uns belos cacetetes pelos lombos abaixo de tamanho ciganão , o dos abanos!... Na volta, foi ideia daquela bruxa trombalazana da Leonor Pinhão, um grande das Caldas a fertilize!... Quando devia estar a coser meias e a marechalar panelas, põe-se a tricotar artigos e a inventar camisolas, e lá temos o resultado à vista. Dantes o Glorioso perdia, raramente, e nós, como nos competia, íamos para casa e batíamos na mulher. Ela acompanhava pelo relato e, patriota, ciente dos seus deveres, punha-se logo a jeito. "Ai, alivia-te marido, alivia-te, que aquilo foi uma tragédia!..." "Vai gritando, para adiantar serviço, que eu primeiro ainda vou beber mais um copito. - Diziamos nós, pontapeando umas cadeiras e esmurrando mesas e armários, depois de brutalizar uma ou duas portas. A sova, como a cópula, requer preliminares. Mas isso era dantes, bons tempos. Agora o que é que temos? Temos que, regularmente, o Glorioso perde e empata, quando não ganha miseravelmente e ao colo sabe-se lá de quê. E um gajo, um Benfiquista sério, da velha-guarda, mal-habituado a glórias passadas, volta para casa e já nem na mulher pode bater. Principalmente, porque não a encontra: a vaca da gaja foi para o estádio, lançar piropos aos jogadores, cravejar de impropérios a mãe do árbitro e cantar merdas do género: "SLB! SLB! Glorioso SLB!"
Entretanto, e para cúmulo, a merda dos jogadores, umas coqueluches da tanga, já andam de brincos e penteados às trancinhas; passam a vida aos beijinhos e às palmadinhas no tutu uns dos outros. Vestir de cor-de-rosa até deve excitá-los muito. Qualquer dia, além do relvado, temos as linhas de marcação a malmequeres e roseirais à volta das cabeceiras, fora as trepadeiras nas balizas e os bonsais aromáticos nos balneários.
Foderam-nos o país, e nós não dissémos nada. Agora fodem-nos o clube, e nós não dizemos nada. A seguir, fodem-nos o quê? Provavelmente, fodem-nos a nós.
É por isso que eu não me cálo. E a próxima vez que o Glorioso perder ou empatar, não volto para casa: alivio-me e digiro logo ali mesmo, no estádio. De preferência na tromba da Leonor Pinhão.
Hooligans? O futebol está a precisar é de talibans!...

Três perguntas...

Dum Dragão aristotélico a um discípulo da Santa Utopia:

1. Numa colmeia duma espécie avançada de abelhas poderíamos chamar à abelha-mestra Abelha-Papa?

2. Se com uma espécie de abelhas poderíamos constituir uma espécie de colmeia, com um espécie de escorpiões poderíamos constituir o quê?...

3. Unem-se ou congregam-se mais depressa as pessoas em torno dum "Bem Comum" ou dum "Mal Comum"?...

terça-feira, julho 24, 2007

A Sina V, (ou Do Leitmotif)

«Pondo de lado tudo o que pode ser considerado arte de jornalista no inquérito e ainda, aqui e além, curiosidades de menor monta, são visíveis as duas grandes preocupações do autor. Confesso que elas me divertiam um pouco pela insistência com que eram postas, embora reconheça que traduzem as maiores dúvidas do grande número. A primeira pode exprimir-se assim:
Este homem que é Governo, não queria ser Governo. Foi deputado; assistiu a uma única sessão e nunca mais voltou. Foi ministro; demorou-se cinco dias, foi-se embora e não mais queria voltar. O Governo foi-lhe dado, não o conquistou, ao menos à maneira clássica e bem nossa conhecida: não conspirou, não chefiou nenhum grupo, não manejou a intriga, não venceu quaisquer adversários pela força organizada ou revolucionária. Não se apoia aparentemente em ninguém e dirige-se amiúde à Nação, entidade bastante abstracta para apoio eficaz. Tem todo o ar de lhe ser indiferente estar ou ir; em todo o caso, está. Está e há tanto tempo e tão tranquilamente como se ameaçasse nunca mais deixar de estar. Suporta os trabalhos do Governo, sofre as injustiças,os insultos dos desvairados, os despeitos, as raivas dos impotentes. Vai engolindo, de quando em quando, a sua conta de sapos vivos, comida forçada de políticos, segundo pretendia Clemenceau. E está, e fica... Mas o problema, a dúvida continuam no mesmo pé. Aquele que não foi toda a vida candidato ostensivo à governação, que não sacrificou a esse objectivo todas as energias do seu ser, que a si próprio se não proclamou capaz de dirigir, de mandar, de executar e fazer executar um programa de governo, seu ou alheio, que considera o Poder mais como um dever de consciência que como direito a usufruir pela força da conquista, - de onde lhe vem, se não é filha da ambição de mandar a força de vontade necessária para não ficar a meio caminho? de que se alimenta o ânimo no trabalho, na luta, para não mostrar abatimento, desânimo, vontade de desertar?
Não sendo eu o autor do inquérito, não me cabe a mim desfazer estas dúvidas e esclarecer este ponto. Entretanto formulo, por desfastio, algumas hipóteses.
[Hipótese nº1]
As últimas dezenas de anos são na História Portuguesa de decadência profunda; esta atingiu, pode dizer-se, todas as manifestações da vida nacional, a produção, a cultura, a administração pública, a política. No entanto, examinadas mais ded perto as coisas, verifica-se que esse abatimento não proveio da absoluta carência de homens. Nas artes, nas ciências, no ensino, no jornalismo, na indústria e na agricultura, na colonização, afirmaram-se ou trabalharam simplesmente, ignorados, alguns valores de primeira ordem. Por outro lado, nós não podemos fugir, sobretudo num país da formação do nosso, a que seja o Estado quem represente efectivamente a Nação, aos olhos de portugueses e aos olhos de estranhos; dele vem a orientação superior, a organização e disciplina dos indivíduos, a sequência da vida nacional. A expressão desta é mais ou menos alta e digna, conforme a elevação do próprio Estado. Sem que desconheçamos ou menosprezemos inteligências, capacidades, esforços, boas vontades, aliás primeiras vítimas dum estado de coisas deplorável, o Estado português esteve longe de dignificar sempre Portugal. Quero dizer: se a Nação não correspondia aos seus valores individuais, o Estado era ainda inferior à Nação. Uma falta de organização, de enquadramento, de direcção superior deixava as melhores unidades inaproveitadas ou improdutivas, cada qual se queixando de um mal que sozinho não podia suprir e não se unindo espontaneamente a outros para o fazer cesar.
De facto, enquanto a nossa educação for o que é, o poder público há-de ser sempre a mola real da vida e progresso do País, e consequentemente o grande responsável da sua inferioridade ou decadência. Ora, o cuidado que devia haver na organização do Estado, na sua adaptação às realidades e necessidades nacionais, no recrutamento dos valores a quem se havisa de confiar a administração e a política, esse cuidado, mercê de circunstâncias que não vale a pena examinar, nem sempre o houve - não é verdade? -e por isso a nossa expressão ou representação nacional não foi sempre feliz e sobretudo não foi justa: tínhamos mais e melhor.
Todos os que temos, pela inteligência, pela voz do sangue ou simplesmente pelo instinto do coração, a consciência da nossa unidade e independência, da nossa grandeza passada, da nossa colaboração na obra civilizadora da Europa, dos nossos interesses actuais na África,na Ásia, na Oceania, sentimos - ferida aberta na alma - o riso mundial, a troça dos povos em nada superiores a nós, a não ser na sua linha exterior, por causa da nossa agitação revolucionária, da nossa incapacidade governativa, das nossas irregularidades de administração, do nosso atraso e do nosso descrédito. Temos sido, numa palavra, enxovalhados e vexados. Ora há portugueses suficientemente orgulhosos da sua qualidade de portugueses para sentirem tudo isto como afronta pessoal, e para, chegada a ocasião, tirarem do seu orgulho ferido a paciência, a tenacidade, a força necessária para procurar implantar no País a ordem e a boa administração, fomentar o progresso material, revolucionar a educação e dar à Nação e à sua política um tal aprumo e dignidade que possam reconquistar para Portugal o bom nome e o respeito de todos. Esses portugueses sabem que, sem exageros, sem agressividade, sem declarar quixotescamente guerra ao mundo, os países, como os indivíduos, podem, pelo seu trabalho e pelas suas virtudes, ter direito os pobres a estar diante dos ricos, os pequenos diante dos grandes, de cabeça levantada e até de chapéu na cabeça

- A.O. Salazar in prefácio de "Salazar, o Homem e a sua Obra", de António Ferro (16 de Janeiro de 1933)

Fica-me a ideia de que é uma espécie de assombração atávica no carácter português: damos sempre uma excessiva importância ao que os outros pensam de nós. Deve ser por isso que, entre nós, o Parecer prevalece desmesuradamente sobre o Ser. E seguramente é por isso que somos cada vez mais Coisa Nenhuma direitos a Lado Nenhum.

sábado, julho 21, 2007

Pesadelos de uma noite de verão



CENA I

Paulo Portas recolhido em reflexão...

Paulo Portas - Espelho meu, mas afinal existe alguém mais inteligente do que eu?

Espelho Dele - Queres a lista por ordem alfabética ou por data de nascimento?...

Paulo Portas - A Lista?!!...

Espelho Dele - Bem, não é exactamente as Páginas Amarelas, mas ainda dá um bloco jeitoso. Com uma boa encadernação, ainda bota um vistaço.

Paulo Portas - Não me estás a aldrabar?... Vá, confessa, mentes com quantos dentes eu tenho!...

Espelho Dele - Sabes bem que a aldrabice, a vigarice, a peixeirice, a sonsice e a charlatonice me estão interditas: sou o teu inverso.

Paulo Portas - Mas...mas então o sistema solar não gira à volta do meu umbigo?...

Espelho Dele - Não. De maneira nenhuma. À volta do teu umbigo orbita apenas uma creche e um cardume de protozoários criníferos. À retaguarda dele, então, é melhor nem falarmos...

Paulo Portas - Insolente! Vou-te quebrar em mil pedaços! Foi a primeira e a última vez que te dirigi palavra!

Espelho Dele - Não te agradou a sondagem. Fazes bem. Volta lá para o charco onde, tradicional, obsessiva e sincronizadamente, te miras, remiras e coaxas. Ele que te conte histórias e doure a pílula. Porém, aceita um último augúrio: por mais peixeiras que beijes e atmosfera que absorvas, nunca chegarás a príncipe. Ainda menos de Maquiavel.

Paulo Portas - Ah, maldito!!...

E quebra o espelho em mil pedaços.

sexta-feira, julho 20, 2007

Até que a Morte nos una



Este país não respira, conspira. Conspira, suspira, transpira, aspira, mas respirar é que não. Já não se mexe. Agita-se, fermenta, mas já não se move por vontade própria. Perdeu o ânimo e a cerviz. Ah, sim, é palco duma actividade febril... Todo ele justifica um frenesim intenso. Abutres, hienas, chacais, hordas de vermes sôfregos disputam-no com volúpia. Os parasitas, que em vida o transportaram à vulnerabilidade e à falência orgânica, aproveitam agora a confusão e transferem-se para o pêlo e a tripa dos necrófagos: carraças, pulgas, piolhos, lombrigas, vírus, bactérias, tudo aquilo migra, tudo aquilo trepa, tudo aquilo se evade e infiltra.
Era eu pequeno, dumas cinco primaveras, quando o meu pai teve a brilhante ideia de construir uma casa junto a um rio. Era uma bela casa, um recanto encantador. Um dia o rio chateou-se. O rio o céu, o vento, Deus, sei lá, aquilo tudo. Escavacaram aquela merda toda. Eu escapei quase por milagre e para grande tristeza dos meus contemporâneos, especialmente blogosfóricos. Na altura, retirou o meu pai a família poucos minutos antes do desenlace fatal. Na aflição que preside às tragédias, que só deu para salvar a roupa que levávamos vestida, ficou para trás o cão. Era meu amigo, compincha de brincadeiras. Naquela altura eu ainda chorava e chorei pelo cão. Às escondidas, claro -a não ser de raiva, nunca chorei diante de ninguém. Um homem não chora. Julgámo-lo levado também pela enxurrada.
Mas uma semana depois, apareceu uma fotografia no jornal, o DN da época. Um daqueles insólitos para atrair basbaque: nos escombros daquilo que fora uma casa, um cão não arredava pé. Era o meu cão, de plantão ao que restava da minha casa. Não só sobrevivera: resistia.
Hoje, vistas as coisas, sei que tive sorte. Fui um privilegiado do destino. Deu-me treino prévio. Quando chegou a vez de ver ruir o país, eu já tinha o calo que dá ver ruir a casa ( e uma certa sanidade familiar junto com ela). Já me equipava músculo mental bastante para aguentar uma carga daquelas sem gemido nem lamúria. Outros não tiveram essa sorte. Foram apanhados a frio, sem preparação nenhuma. Coitados, calculo o desconforto que devem ter sentido. O apocalipse sem preliminares, assim, sem aviso prévio, pela vida abaixo, não é facilmente digerível. Não é coisa fácil.
Portanto, meus senhores, acreditem: de desgraças, de catástrofes, de hecatombes percebo. Sei bem o que sentem os bombardeados, os desalojados, os tsunamizados, os cataclismados, os massacrados por esse mundo fora. Para mim, não são só figurinhas no ecrã do telejornal. Mas de culinárias e receitas não sei nada. Mentiria se dissesse que tenho alguma, ainda mais infalível, para salvar o que anda perdido. Aldrabaria descaradamente. Não sou político e enoja-me essa actividade. Também não sou virtuosíssimo, santo de pau caruchoso e, ainda menos, catador de doutrinas ou cabeleireiro de ideias tetraplégicas.
Lições, cada qual que aprenda a sua. A vida tem escola aberta todos os dias. Não queira todavia ensinar quem nunca, sequer, aprendeu. Do essencial, eu já aprendi a minha. Por decreto da Moira, recebi-a na forma de um exemplo - o exemplo daquele rafeiro destemido e obstinado há muitos anos atrás. Resta-me, como ele, montar guarda, feito cão destes escombros. Arvorado fantasma vivo por entre este montão de ruínas. Daqui não arredo pé. É este o meu chão. Será nada para vós, mas é tudo o que me resta. É aqui que me cumpre ficar, é aqui que estou e é aqui que eu fico: de vela, sem descanso nem dúvida, a esta pátria caída, esvaída e destroçada.
Até que a morte, que acabou com ela, venha e acabe também comigo.

quinta-feira, julho 19, 2007

O Terra-mottu ou Por motu impróprio


Debatia-se uma iniciativa ousada do senhor prior. Os mais progressistas, impregnados no espírito da época, apoiavam e auguravam aplauso e casa cheia; os mais tradicionalistas, avessos aos modernismos, invectivavam e condenavam, unanimemente, ao escândalo e à vaia generalizada.
Uma das mais indignadas, uma austera e alquebrada anciã a quem o cangalheiro media já com volúpia, parecia mesmo ter encontrado na indignação o elixir da juventude, pelo que protestava com vigor desatado, enquanto ia gesticulando abrenúncios e vade retros, numa ginástica tão meritória quanto espalhafatosa.
“Mas por muito depauperados que estejam os cofres da igreja e carcomidas as traves da capela - ralhava ela -, onde é que já se viu um padre a fazer strip-tease para angariar fundos?!! Valha-nos Deus e a Virgem Santíssima! Antes uma igreja às moscas que aos demónios!...“
“Realmente!... – barafustava, uma outra, bastante mais jovem mas a querer exaltar-se, pelo menos, tanto. – E em vez do santo latim, propõe-se rezar missa em hip-hop!... Que os santos todos nos acudam! Por este andar, em vez de tomarmos a hóstia, fumamo-la!...”
-“Sim... –corroborava uma terceira, prima da anterior, no escândalo e no protesto. – E ainda falam para aí, o que já não me admira nada, que um dia destes, levado do diabo que o pilota e teledirige, ainda converte a igreja, de templo sagrado, em templo de alterne, quer dizer, alternativo: tabernáculo durante o dia e taberna-discoteca durante a noite. Em vez dum pastor, o rebanho de Deus ainda acaba aos caprichos dum disc-jockey! ...”
Quis mais a premeditação rapace do que o simples acaso que o Engenheiro Ildefonso Caguinchas rondasse por ali, como tem por hábito patrulhar, àquela hora, em busca de presa fácil. “O que genuflecte promete; e quem promete paga”, é o seu lema (um deles, pelo menos). Ao ouvir falar em strip-teases e outros pecados hirsutos, que aquilo para escutar porcarias tem um verdadeiro radar de tísico, quase sprintou ao comício, cheio de interesse, gula e segundas –além de terceiras - intenções. Ao aperceber-se, todavia, que era o padre quem se propunha aliviar-se do vestuário em público, experimentou, também ele, adepto doutros espectáculos, uma grande desilusão, agravado de superlativo aborrecimento e tratou, sem mais serpentilóquios nem procrastinações, de aliar-se aos protestatários. Em três tempos, já causava assombro em redor, gorjeando pérolas do seguinte jaez:
-“Ah, mas não se admite! Um padre tem que dar-se ao respeito, ora essa. Uma freira, sim senhor, uma freira é que era! Um convento inteiro que fosse, estava bem. Era por uma boa causa, os tempos estão difíceis. Uma noviça era até o mais sensato. Agora um cura masculino, um homem de Deus destes, assim a armar-se em cónego!...”
-“A armar-se aos cágados, isso sim! Ele, o homem do diabo, raios o partam, está é a armar-se aos cágados !” - Terá ribombado um crente iracundo a seu lado.
-“Ah, mas nem toma banho e teima em despir-se?! É o cúmulo!! Onde é que este mundo vai parar!...” – Aprimorou, para quem o quisesse ouvir, o Engenheiro Ildefonso.
Não contente com isso, desatou a premir mensagens no telecoiso, onde me convocava com a maior das urgências e promessas de pancadaria garantida. Sobretudo estas, conduziram-me ao local, a mim e mais toda a clientela da tasca do Armindo, digo cibertasca, que ninguém está disposto a perder pitada em se tratando de congressos, conferências, revoluções, ou simples badernas onde Sua Excelência, o Engenheiro Ildefonso Caguinchas se meta.
Quando arribei ao local, a coisa, realmente, ia sobre rodas e prometia carris. Muito por via do Engenheiro, mas também da vetusta inaugural - cada qual emitindo seu assombro maior, naquilo que me pareceu uma disputa renhida pela liderança da cruzada -, a cristandade reunida personificava o vulcão à beira dum ataque de nervos. Aquilo se não explodisse, rebentava.
De serviço ao rastilho, a velhota, arvorada porta-voz dum qualquer profeta alucinado, acabava de promulgar “por este andar, se um dia destes dermos com uma máquina de vender preservativos à porta do confessionário, não nos admiremos!” – ao que o Engenheiro Ildefonso competia com um armagedão ainda mais desfolhante, do estilo “Confessionário? O mais certo é o gajo transformar aquilo em cabine para show privado, reservado aos mais abonados, os empreitrolhas, as finaças, os doutores !... Enfim, quem pagar para vê-lo a despir-se em reservado !...”
Mas eis que o Engenheiro nota a minha presença -apresento-me em avatar humanotário, com cartão de contribuinte e tudo, para não assustar a assembleia -, pelo que rompe – rompe, rasga e descose - em grandes brados rejubilantes:
-“Ah, cá está ele, o César! Este é que a sabe toda e vai-vos explicar a morosca sem mais pintelhices! Chega aqui, ó César! Anda cá ver isto!...”
Lá me aprocheguei - um tanto curioso, devo confessá-lo, com todo aquele comício em local tão inusitado e impróprio. Nisto, a idosa rival do Engenheiro, zelosa do seu protagonismo, brama:
-“A Deus o que é de Deus, a César o que é de César!” (Como quem diz, esse macaco primo deste chimpanzé não é para aqui chamado).
Mas o Engenheiro, que estava com a corda toda e a inteligúcia ao rubro, não se ficou. E contrapôs, mais maionésico que maiêutico:
-“Ouça cá, avózinha: esse padre striper é de Deus?...”
-“Não, de Deus é que ele não é! – Disparou automática e visceralmente, a relíquia. - Um homem de Deus não arma escândalos destes!
Presisamente, o que o Engenheiro Ildefonso queria..
- “Então, se não é do Deus , é do César! Vamos perguntar-lhe e ele que decida. Anda depressa, ó César!...”
Claramente apalpada, a múmia recauchutada ainda ensaiou um estrebucho:
-“Quando perguntamos a César, sai-nos o Pilatos e desata a lavar as mãos! Da última vez, aliás, não correu nada bem e maltrataram muito Nosso Senhor.”
No que o Engenheiro, soberanamente, tratou de comê-la com batatinhas. Grungrunzando, crocodilou:
-“Ora, se ele não tivesse lavado as mãos, se calhar não estava aqui hoje esta igreja... E o César, este César, o meu amigo César, não é de lavar as mãos, nem o pés - é mais de afiambrar com toda essa membração adulta nas fuças dos impertinentes e malignos. Aquilo é cada patada que só visto! Não é Cristo, mas também faz milagres!... Querem ver?...
Nesta altura, eu já estava junto de Sua Excelência, eu e o zénite da minha curiosidade. O Engenheiro entendeu por bem iniciar-me ao briefing, bem como ao catering, o que, acautelando as aurículas, mentalmente lhe agradeci.
-“É um da qualidade do teu amigo Borga, o padre canoro, ó Dragão!...”
Este intróito animou-me. Deveras. Chispei das vistas e rangi os dentes, visivelmente pronto a desembestar direito aos fagotes do primeiro presbítero que me apontassem. Nada como a lembrança do tal Borga para me ferver os azeites. Ele, o Ildefonso, prosseguiu:
-“Só que este, em vez da cantoria e do coça-barriga, quer-se despir durante a missa, ah.ah.ah!.... Um padre striper, imagina! Um artista, mais um!...”
Eu, porém, escaldado de múltiplas odisseias, requeri confirmação, detalhes mais objectivos. O Engenheiro é muito dado à ficção. Pela-se por armar sarrafusca. Não era, todavia, o caso. Toda aquela assembleia, em uníssono, corroborava. Era inadmissível. Se eu fizesse a caridade de lhe chegar a roupa ao pelo, ao clérigo de mau porte, era até um grande favor que lhes fazia e teria a bênção de Deus e de todos os santos. Desataram mesmo a fitar-me cheios de admiração e esperança, uns; enquanto outros, mais exaltados, conclamavam e complodiam:
-“Já viu um padre a despir-se em público, a pôr-se em cuecas, senão mesmo em pelota, com as vergonhas ao léu?!!...É o fim do mundo! Deus vai mandar fomes e pestes!...
O pior é esta minha mania da realidade, sempre pronta a estragar idílios. Levado dela (e antes o fosse de seiscentos diabos), e também duma indisfarçável frustração, lá me vi constrangido a deitar água na fervura:
-“Ora bolas, e tanto alarme por via duma coisa tão simples. Acho que interpretaram mal. Quando o prior diz que se vai despir, isso não significa que fique em cuecas ou pelota... Significa apenas que tenciona desembaraçar-se da sotaina e paramentos. Ora, por baixo disso, ele traz o avental. E esse ele nunca despe. Em resumo, quando o padre diz que vai fazer strip-tease, não significa que vai tirar a roupa: vai apenas tirar a máscara. Não se aflijam."



Foi o anti-clímax. Dispersaram todos, cabisbaixos.
-“Empata-festas!” – Rosnou-me o Engenheiro Ildefonso Caguinchas. Esteve três dias sem me falar.
...//...


Nota: Este postal é dedicado à modernidade briosa do clero português.

quarta-feira, julho 18, 2007

O Metavoyeurismo


(imagem fanada aqui)

Alertou-me a Zazie para mais uma ratice da minha amiga f.
Sempre na brecha, a f, não me canso de repetir. Agora, descobriu uma velhinha de 82 anos que, do alto da sua vasta experiência de vida, menoscabou valentemente o sexo na versão extra-missionária. A senhora, imagine-se, duvida mesmo das virtudes civilizacionais do felatio e da sodomia. Nestes tempos modernos, isso é arranjar sarilhos. E é também fazer vista grossa à história da humanidade, Idade Média incluída (onde a sodomia conjugal foi efectivamente um método contraceptivo). Os mediavais eram infinitamente menos moralões do que a burguesia moderna. E, à sucapa, rir-se-iam da respeitável senhora. Se descessemos à Antiguidade, então, seria galhofa pegada. Dir-me-ão "bem, daqui a nada estamos nos chimpanzés"; sim, mas isso não fica para trás, tudo indica ficar é mais adiante. E marchamos em bom ritmo. Mas vamos às minudências...
Não me desiludiu, a f. Nunca desilude. Na segunda-feira de rescaldo a mais uma "vitória histórica" da sua tribo, em vez de nos vir falar dos velhinhos arrebanhados pelo PS por essa província afora, veio denunciar-nos uma anciã de gostos bizarros e peregrinações aberrantes. Compreende-se; com uma vetusta destas, a malta já nem pensa mais nos outros. Não pensa nem fala. F também é de frete. Ou de fita.
Por outro lado, entende-se a atracção fatal de f por Patrícia, a idosa extra-terrestre. Entende-se mesmo na perfeição. f, mais que uma semelhante, encontrou um espelho mágico: que lhe desvela, sem qualquer máscara ou maquilhagem, como será daqui a quarenta ou cinquenta anos (fora algum imponderável nefasto, Deus a guarde e o Santo Padre por ela interceda).
Resta acrescentar que a senhora dona Patrícia tem todo o direito a não apreciar sexo oral e anal. Imagino até como o anillingus, que é uma joint-venture de ambos, deve aborrecê-la. Gostos não se discutem. Mas não se pense mal, sobretudo não se pense que a senhora é uma anacrónica obsoleta e bota-de-elástico. Isso sou eu e ela não é nada parecida comigo. Não, desenganem-se; estamos até diante duma perpétua jovem, surfadora desembaraçada numa poça de sempre-viçosa modernidade; uma - acreditem que eu nunca minto!- neófita garrida duma perspectiva avançada do deboche: enfada-a o sexo anal e oral entre pessoas porque a excita sobretudo o sexo anal e oral -e, quiçá, até manual - entre países. É este requinte de perversão que a maralha não compreende. O metavoyeur, quando alcança o nível do país, desinteressa-se dos indivíduos. E a Patrícia está farta de explicar: o sexo anal é mau, faz mal à saúde, excepto quando praticado activamente pelos países anglo-saxónicos e passivamente por todo o restante planeta; tanto quanto o sexo oral é péssimo, excepto quando exercido, sofregamente, por todos os países ao semper-erectus Estado de Israel. Especialmente na versão anilingular. As leis rigorosas gozam sempre de excepções meticulosas. E providenciais.
Vós todos, ó charilas, ainda tendes muito que aprender com a Patrícia. (A quem aproveito para daqui enviar as minhas cordiais saudações).


PS: Proponho que façamos uma entrevista colectiva, sobre estes protuberantes temas, ao Engenheiro Ildefonso Caguinchas -única entidade viva capaz de dilucidar acima de qualquer suspeita todos estes enigmas sexuais que nos assombram. Depois do estágio para o Salão Erótico de Lisboa, está agora em rescaldo (e caldo de galinha) a tentar recuperar, aos poucos, a consciência, a memória e a demografia testicular. Mal se restabeleça, acredito que produzirá o aguardado relatório e responderá, com clarinanimidade, aos nossos inquéritos ou preces. Fica aberta a caixa de comentários a quem queira participar - e eu até estimava que o fizessem. Até porque não gostaria, mais tarde, de ser acusado de açambarcar o oráculo.

terça-feira, julho 17, 2007

O Ovo do Basilisco

O Basilisco, como o descreve a mitologia, era um réptil fabuloso que "matava com um simples olhar, ou com o bafo, qualquer pessoa que se aproximasse sem o ter visto e ter sido ele o primeiro a ver." Mas é a sua origem que é especialmente sugestiva e, para o que adiante veremos, nos interessa. Diz a lenda que teria nascido, o pérfido sujeito, dum ovo de galo velho, ovo todo ele redondo, depositado no estrume e incubado por um sapo ou uma rã.
Poderíamos enxertar esta fábula no epílogo duma outra bastante mais conhecida - aquela das rãs que pediam um rei a Zeus. Desdenhosos da tábua e escaldados com a cegonha, os batráquios clarividentíssimos terão, em seguida, cortado relações com o divino, dispondo-se, após geral conciliábulo, a tratarem elas próprias do assunto. Foi então que desencantaram, sabe-se lá vindo donde, um ovo perfeitamente redondo, misterioso, interessante e, com o espírito empresarial que as caracteriza -e distingue sobre toda a criação -, puseram-se a chocá-lo. Iam parir, mais que um rei, um imperador perfeitabilíssimo e de todo conforme aos seus ancestrais anseios - pelo menos, foi o que anunciaram, em delírio, aos quatro-ventos e respectivos catadores. E se o proclamaram, melhor o fizeram: formaram filas e turnos e, sem descanso nem hesitação, colocaram traseiros à obra. Não sei se demorou dias, horas ou séculos. Certo é que ele nasceu, o basilisco (um primo meu muito afastado, a ovelha mais que ranhosa da família).
-"Ahh!... - deslumbraram-se todos, rãs e sapos, ao presenciarem a eclosão de tal portento - Agora sim, agora é que vai ser. Finalmente chegou quem vai olhar pela nação!..."
Não sabiam que era um basilisco pelo que o baptizaram com outro nome, mais a seu gosto. Chamaram-lhe Estado.
Quereis uma moral? Dou-vos um conselho:
É importante olhar para ele... Antes que ele olhe por nós.

Pastar o guardanapo

Vamos a um restaurante e apresentam-nos o menu: bacalhau. Bacalhau assim, bacalhau assado, bacalhau frito e cozido. Bacalhau em filetes, omeletes, souflés e tortilhas. Bacalhau com todos e todos os dias. Até o pudim é de bacalhau. E café não há, só chá. Imaginem...pois, de bacalhau.
A primeira vez ainda achamos piada: "Olha, que giro, que original, que especialistas!..." Deve ser o dia do bacalhau. Ou o festival do bacalhau. Enfardamos, entre risadas. A bacalhauzada lá escorrega, com o tintol.
À terceira ou quarta vez, no entanto, perde completamente a graça. Carrancudos, interpelamos o serviçal:
-"Então, ouçá cá, ó criatura de Deus: é sempre bacalhau? So sabem fazer bacalhau? E um bife, um mariscozinho, uma sardinha assada, um pires de caracóis que seja, não se arranja? Quer dizer, vocês nunca variam? Não servem mais nada? É a terceira vez que cá venho e é sempre bacalhau... mas não há alternativa? Isto é um cardápio ou o Ultimato Inglês?..."
O tipo, sempre com a mesma cara de pau e um grande tom de frete, lá decreta:
-"É só o que o cozinheiro sabe fazer. Como também é o dono e somos o único restaurante autorizado no país, o cavalheiro tem muitas alternativas: "bacalhau com todos", "bacalhau à brás", "bacalhau à Gomes Sá", "bacalhau com natas", "bacalhau à Zé do Pipo", "bananada de bacalhau", "bacalhau à Narcisista", "bacalhau assado" e por aí fora. São mais de trinta alternativas. Todas elas bem confeccionadas, eloquentes, cremosas e bem temperadas. Não encontra melhor bacalhau em lado nenhum."
Passamos do carrancudo ao iracundo:
- Ouça, parece que não entendeu bem: estamos fartos de bacalhau! Queríamos comer outra coisa. É o que se espera quando se vem a um restaurante: variedade, múltiplas opções de escolha. Esta monomania já enjoa, este regime de prato único em diversas maneiras já chateia! Até por questões sanitárias: de tanto e permanente bacalhau, já está o país inteiro de caganeira. Já marchamos a crédito para a farmácia."
O criado de mesa, porém, não se apoquenta. Imperturbável, monocórdico, cínico, estipula:
-"Pois, mas aqui come-se bacalhau. É o que há. Se querem comer fora, comam bacalhau; se não querem bacalhau, comam em casa. Ou no estrangeiro, como tantos fazem. É assim, são os regulamentos. Temos alvará e é o que lá vem escrito."
Já a deitar fumo pelas narinas e chispas pelos olhos, ainda vociferamos:
-"E a merda dum livro de reclamações, ao menos, têm?!!..."
Imperturbável, aquela espécie de robot de servir às mesas apenas informa:
-"Reclamações? Somos um restaurante, ora essa; não somos uma secção de Perdidos e Achados, ou um guiché das Águas Públicas!... Aqui come e fala, mas não reclama."

Naturalmente, esta é uma alegoria das eleições -ou melhor será chamar-lhe eleicinhas, dada a estatura anã dos candidatos - em Portugal. Alguns inteligentes consideram que, como forma de protesto, o cidadão não deve ignorar nem desprezar o restaurante. Pelo contrário, deve encher-se da sua pessoa, acorrer lá sempre que possa, sentar-se à mesa e, com grande civismo e boas maneiras, de faca e garfo -aquela na direita, este na esquerda -, devorar o guardanapo. E depois sair, a transbordar da mesma dignidade com que entrou. Chamam a isso, os luminares, "voto em branco" - ou "dente em branco", para manter o léxico na metáfora.
Tenho uma recomendação a fazer-lhes... Em bom português: Vão à puta - não direi apenas - que os pariu mas, sobretudo, que os sustenta!...

segunda-feira, julho 16, 2007

Sinais dos Contratempos

Há dois anos, na eleição para a Câmara lisboeta, Manuel Maria Carrilho perdeu com 75.022 votos; ontem, nessas mesmas eleições, António Costa venceu com 57.907. A anedota em regime de ambulatório que temos como Primeiro Ministro veio clamar, em histriónica celebração, uma vitória histórica.
Eu explico melhor: a associação de malfeitores vulgarmente apelidada de Partido Socialista recebeu nas urnas a preferência de 29,54% de 38,4% da totalidade dos eleitores, ou seja, na realidade, 11,04 dos munícipes inscritos e com direito a vot0. Um dia destes, ainda alcançam a maioria absoluta com 1 ou 2% do eleitorado e é vê-los a celebrar, em surreal delírio, noite fora...
Isto suscita, desde logo, uma dupla questão elementar: qual a legitimidade democrática para o exercício desta gente? E qual a validade legal dum tal sufrágio?
Se a democracia, por definição, é um regime em que o poder é exercido por representantes eleitos duma maioria da população (seja ele nacional, autárquica ou clubística), então é caso para dizer que, entre nós, as maiorias são cada vez mais minoritárias. Nos próximos dois anos, em Lisboa, 62% dos eleitores não estão representados; 11% comandam os destinos; 38% decidiram a coisa e vão abichar o trem de cozinha.
Quer dizer, segundo apregoam os iluminados do costume, quem se abstém desinteressa-se, faz declaração pública de incivilidade ou indiferença? E porque não de desprezo, de perspicácia, de desengano? No meu caso, por exemplo, já raia o nojo.
Seja como for, quem se abstém apenas descomparece à urna, não deixa de existir. O não-votante, por muito que custe ao regime e os comensais deste teimem em tratá-lo como tal, não se transforma automaticamente num fantasma, num nada ostracizado para um limpo periódico. Fantasmagórica, efabulástica e espectral tem vindo a tornar-se, isso sim, ao longo das cleptodiceias, a paródia eleiçoeira. Com uma única e fatal constante: os espectros vão aparecendo cada vez mais gordos e as afluências cada vez mais magras. Já não falta tudo, se é que ainda falta alguma coisa, para que aqueles atinjam o ponto de balão e estas o nível mínimo de clientela.
Calculo nuns 20% a percentagem nacional de aborígenes que vive directa ou familiarmente da debicação e parasitagem do erário público, nas seus múltiplos úberes, jugulares, intestinos e manjedouras. Pois bem, no dia, cada vez mais próximo, em que a lorpice se evaporar por completo e, por inerência, a abstenção cavalgar o zénite dos 80%, sempre quero ver que novo record da desfaçatez metódica o triunfador da época não estabelecerá.
Outro detalhe deveras sintomático e esclarecedor da mentalidade destes proxenetas da urna que nos assombram reside, invariavelmente, no seu clamor pungente e desesperado por uma "maioria absoluta". Com a "maioria absoluta" é que a coisa vai, é que o milagre é garantido e a banha da cobra infalível. Sem ela é a continuação do caos, prossegue o dilúvio, recalcitra a enxovia, ganha anti-corpos a infecção. Mas que significa realmente este pedido sistemático da "maioria absoluta"? Significa: "Autorizem-nos a ditadura grupuscular a prazo!" "Isto, sem ditadura não vai lá!" "Com democracias, ninguém se entende e é uma balbúrdia inconsequente." Etecétera e tal. Admira-me, num país atestado de tantos explicadores encartomantados, de bola de cristal à cabeceira, admira-me que nunca nos tenham explicado isto. Um fenómeno tão simples. E tão óbvio.
Do Cavaquistão ao Socratistão, passando por Limianiputes e Barrosais, a paisagem (queirozianamente falando) desaguou no país: enxames de besouros ilustres, fervilhando buliçosos em volta de abelhões mestres, na demanda sôfrega de bosta quente onde aconchegar a postura, apoderaram-se do Estado e, sob a maquilhagem democrática, instalaram a ditadura de alterne. Isto é, a ditadura alternada dos enxames. Ora agora ditas tu, ora agora dito eu. Os resultados deste sequestro - repartido e revezante - do país estão bem à vista. Os clamores impúdicos por "maioria absoluta" ecoam cada vez mais abafados pelos brados de "fim-da-pátria" e manguito absoluto.
Não espanta que o antigo ditador, mesmo em efígie póstuma, comece a ganhar eleições. Tivessem autorizado a sua candidatura e, muito provavelmente, teria ganho Lisboa. Não nos iludamos com explicações mentecaptas de nostalgias mórbidas, provincianismos e atavismos servis da indigenância rústica. Não existe maior pacóvio do que aquele que acha que tem que ser moderno sem saber para quê e apenas porque o vizinho é ; e esse está no poder, reina ufano em todas as cortes. Não é tanto a saudade do ditador antigo aquilo que mobiliza as pessoas, mas o asco, cada vez mais entranhado e justificado, aos ditadorzinhos modernos. Aos balões vazios promovidos a astros reis. Se a mentira tem perna curta, a vigarice contumaz nem pernas tem: rasteja sobre o ventre peçonhento e causa, mal se avista, a repugnância e o opróbrio públicos. Desde a antiguidade, a experiência ensinou ao povo uma verdade insofismável: é preferível a ditadura dum homem à ditatura duma choldra; são mais suportáveis os defeitos de um, por muitos que sejam, do que os defeitos de mil, tão incontáveis e infestantes se tornam.
Por outro lado, é sempre mais digno e legítimo o original do que a pacotilha, ainda por cima sonsa, ordinária e mascarada. O carnaval também chateia e abomina, se convertido, mais que em dia banal, em todos os dias do ano. Acresce que a ditadura salazarista, ao contrário da actual, era uma ditadura contra os partidos e parcimoniosa no que concerne à ingerência do Estado. Estas, as da partidarquia laroca, são ditaduras - por enquanto - a prazo, de partido único e de Estado convertido ao partido -partido, esse, que se investe, mal se hospeda, da omnipresença, da omnisciência e da omnipotência do Estado. E nessa medida, para quem saiba o que significa realmente fascismo e não se serve do termo apenas como arma de arremesso e contágio da sua própria imbecilidade generosa e canora, são, estas ditadurazinhas modernofobéticas, bem mais fascistas que a do Estado Novo. Com a peculiaridade óbvia do Estado já não ser Novo mas apenas Noivo, carochinha doméstica à procura de ratão estrangeiro com quem casar, e de estar cada vez mais transformado em albergue espanhol. As vantagens, para as nomenclaturas instaladas e apaniguados da situação, são mais que muitas; as tolerâncias infinitas e as desculpas imarcescíveis. Há lá melhor mundo, regime mais benigno, abençoado e perene do que estas teleditaduras 3G, este fascismozinho cor-de-rosa!...
Para a maioria da população, cada vez mais farta de ser estrangeira no seu próprio país e colónia sucedânea às patas de mafias albardadas de elite, resta, acima do desespero, a esperança - a esperança estribada na certeza que o tempo ministra: toda a podridão incha. Até que rebenta.

Viva Portugal!

sábado, julho 14, 2007

A Sina - IV (ou o Hábito não fez monges).

«A miséria parece uma secreção do progresso, da civilização. Não é nos campos (até em plena crise), onde a vida é simples e sem ambições, que a miséria se torna aflitiva, dramática. A sua tragédia sem remédio desenvolve-se antes nas cidades, nas grandes capitais, tanto mais insensíveis e duras quanto mais civilizadas. A mecanização, o automatismo do progresso que transforma os homens em máquinas, isolam-no brutalmente substituindo os seus gostos e impulsos afectivos por complicadas e frias engrenagens. O homem das cidades, modelado, esculpido na própria luta com os outros que lhe disputam o seu lugar ao sol, é talvez, sem reparar, a encarnação do próprio egoísmo. (...)
Nas cidades, o homem que deixa de trabalhar encontra-se completamente desamparado e arrisca-se, de facto, a morrer de fome. Enquanto há trabalho, não falta dinheiro para o necessário e até para o supérfluo. A falta de calor humano, de solidariedade natural provocada pela ausência da vida familiar, torna a miséria negra quando o trabalho cessa. Assim, os sete milhões de habitantes de Nova Iorque são, pouco mais, pouco menos, para o desgraçado que tem fome, sete milhões de desconhecidos. Por isso fazemos sempre a apologia da vida modesta, familiar, onde não falte o indispensável, e até o que suaviza a vida, mas sem aspirações exessivas, desumanas. (...)
Devemos guerrear, cada vez mais, a concepção materialista que leva o homem à sofreguidão da riqueza, num desporto perigoso e doentio, ainda que o vejamos, por vezes, como na América, distribuir parte da sua fortuna por instituições de que beneficiam os pobres. É mais humano e mais cristão procurar antes aquela mediania colectiva em que não são possíveis nem os miseráveis nem os arquimilionários. É difícil, ou impossível, evidentemente, sufocar por completo a ambição do homem, a sua marcha para o dinheiro, mas o que se pode certamente impedir é que grande parte da riqueza da Nação seja absorvida por mil e um parasitas. Só reduzindo ao mínimo esses parasitas, criando trabalho e estabelecendo maior soma de justiça nas relações económicas e sociais, se conseguirá o desejado equilíbrio.»

- A.O. Salazar, in "Entrevistas de António Ferro a Salazar" (7ª Entrevista, de 1938).

Parece que, segundo fórmula conhecida, Salazar "queria levar os portugueses a viver habitualmente". Ora, se bem que a sabedoria popular ensine que o "hábito faz o monge", entre nós não fez. Entre nós, a tendência sempre foi mais para fazer o frade. O feijão-frade. O bifronte. O que se traduz, por exemplo, em várias duplicidades singulares e maravilhosas: frequentar a missa e o bordel; confessar-se ao prior e à bruxa; pedir a Deus e comprar ao Diabo; vestir do direito e fardar do avesso; comer à mesa e debaixo dela. Tudo isto e muito mais, bem como vice-versa, com a mesmíssima cara ambivalente e bífida.

Poderá parecer contradição atávica apenas a quem não entenda a evidência elementar: um povo destituído de profundidade é imune à contradição. Ao nível da rama, por onde sistematicamente colibriza, pasta e delibera, a necessidade e a possibilidade geminam-se, fluindo ambas ao sabor da aragem. Cumulando que, em matéria de ventos da História, qualquer flato mais estrepitoso, em prenúncio de romarigante foguetório, lhe serve.

Não lembrava ao Diabo impor o monasticismo a uma gente que, claramente, está viciada - até à medula, até à oitava geração, até à segunda natureza! - no meteorismo. Lembrou ao Salazar.

Ciclicamente, com o sentido de humor que só a liberdade verdadeira e absoluta permite, os Deuses, sensibilizados pelo clamor dos batráquios bem pensantes, enviam uma cegonha. Portugal, é certo, merecia outra gente. Mas isso não é só Portugal, é o planeta inteiro. Esta gente que somos, por lei eterna, merece o que semeia e colhe o que cultiva. Abro apenas uma excepção: a nossa esquerda. Essa, sobretodos angélica e insaciável matilha, não merecia, nem hoje nem nunca, um Salazar: merecia um Vlad. O Empalador.

sexta-feira, julho 13, 2007

A Sina - III (ou Da internacionalite convulsa)

«Desejava dizer ainda duas palavras acerca dos organismos operários, e só duas palavras, porque noutra oportunidade espero que o problema seja tratado com maior desenvolvimento.
A grande massa operária portuguesa não está organizada, associativamente; uma pequena parte, chefiada por intelectuais, está no Partido Socialista; outra parte, muito pouco numerosa, anda pelo sindicalismo revolucionário, pelo Anarquismo e pelo Comunismo. Aqui há, de mistura com raros indivíduos das profissões liberais, dirigentes operários que nem sempre são operários de verdade.
O Partido Socialista tem a feição, a forma de actuar dos outros partidos republicanos. Na projectada organização do Estado não tem, como eles, o seu lugar; perante a nova mentalidade operária parece não ter condições de vida. Salvo uma transformação profunda nas suas ideias e métodos, suponho que é força condenada à dissolução.
Os outros organismos operários de carácter revolucionário são hoje dominados pela ideologia bolchevista e organizados ou trabalhados por agentes estrangeiros. Todos tendem, por meio da luta de classes, para a revolução social, conceito complexo que abrange não já só a transformação económica e social dantes ambicionada pelo operariado, mas a substituição integral de toda a ordem estabelecida, e a realização duma nova sociedade - sem pátria, sem família, sem propriedade e sem moral. (Empregamos estes termos no seu significado corrente).
Nessa atitude, nada há de mais oposto às tendências da Ditadura e aos princípios do Estado Novo; nós consideramos uma tal ideologia contrária à Nação e aos seus interesses, e consequentemente aos interesses do próprio operariado. Para evitar equívocos marcamos diante dele lealmente a nossa posição: como não queremos privilégios para ninguém, não podemos admitir que o operariado seja uma classe priviligeada: também não precisamos de o incensar para que nos sirva de apoio, nem de incendiar-lhe as iras contra ninguém, para o mandarmos depois fuzilar pelos seus excessos. Num regime de autoridade forte nós só queremos que o seu trabalho seja ordeiro, probo e consciente da utilidade geral; o Estado o coordenará com outras actividades e o integrará no conjunto da economia nacional.»
- A.O. Salazar, "Discurso à União Nacional de 23 de Novembro de 1932"


É natural que os comunistas pensem o pior possível de Salazar: ele também pensava o pior possível deles. O que não é natural, nem aceitável, é que os outros, e especialmente quem busca uma perspectiva fria e autêntica do assunto, se deixem sequestrar pela cartilha soviética. Como se 48 anos da História de Portugal e o dia 25 de Abril fossem património exclusivo, coutada ideológica vitalícia, dum bando de famintos da sobremesa alheia e ascensoristas frenéticos.

quinta-feira, julho 12, 2007

A Sina - II (ou Da Estatofilia)

Começo por saudar o interesse e o nível geral dos comentários ao postal anterior. Antes de emitir também o meu parecer -e adiantando desde já que não cultivo nem uma visão idílica nem infernal do regime salazarista - permitam-me (sem querer parecer o Manuel Monteiro) que atire mais umas achas para a fogueira. Já que estamos em época de incêndios...

«Esse socialismo de Estado, que muitos apregoam e aconselham como um regime avançado, seria, na verdade, o sistema ideal para lisonjear o comodismo nato e o delírio burocrático do comum dos portugueses. Nada mais cómodo, mais garantido, mais tranquilo, do que viver à custa do Estado, com a certeza do ordenado no fim do mês e da reforma no fim da vida, sem a preocupação da ruína e da falência. O socialismo de EStado é o regime burguês por excelência. A tendência para esse regime, entre nós, deve, portanto, procurar-se mais no fundo, falho de iniciativas da nossa raça do que noutras preocupações de ordem social. O Estado não paga muito mal e paga sempre. É-se desonesto, além disso, com maior segurança, com segura esperança de que ninguém repare. As próprias falências, os desfalques, as irregularidades, se há compadres na governação, são facilmente afastados e os défices cobertos - regalia única! - pelos orçamentos do Estado. As iniciativas, por outro lado, não surgem, não progridem, porque o padrão é imaterial, quase uma imagem. As coisas marcham com lentidão, com indolência, com sono. É possível que essa socialização tenha dado ou possa vir a dar óptimos resultados em qualquer outro país. Entre nós, os resultados não podem ter sido piores nalgumas experiências já feitas. Basta citar os Transportes Marítimos, os Bairros Sociais, os Caminhos de Ferro do Estado... Apenas uma excepção, que me lembre: a Caixa Geral de Depósitos. Essa é, realmente, uma iniciativa admirável do Estado Português, que tem prestado ao País, ao desenvolvimento da sua economia, sobretudo nestes últimos anos, incalculáveis serviços. (...)
Sou absolutamente hostil a todo o desenvolvimento de actividade económica do Estado em todos os domínios em que não esteja demonstrada a insuficiência dos particulares. Admito, sim, e procuro a cada momento desenvolver a intervenção dos poderes públicos na criação de todas as condições internas ou externas, materiais ou morais, necessárias ao desenvolvimento da produção. Essa intervenção é, mercê das dificuldades da época e dos problemas postos pela economia moderna, não só necessária, como cada vez mais vasta e complexa. Qualquer economia nacional que se encontrasse desacompanhada e desprotegida soçobraria em pouco tempo. Mas isso dificilmente se pode chamar socialismo de Estado.»

- Adivinhem quem?...


Nota: Chamo a atenção que estas declarações são de 1932. A entrevista foi publicada no DN, entre 19 e 23 de Dezembro desse mesmo ano.

quarta-feira, julho 11, 2007

A Sina ou Do Luso-Geiserismo

«Mas a vida dum país é mais complexa, mais larga, escapa mais aos órgãos e à acção do poder do que muitos o poderiam julgar: a história duma nação não é apenas a história dos seus conquistadores, dos seus grandes reis; ela é, sobretudo, a resultante do trabalho que o meio impõe aos homens, e das qualidades e defeitos dos homens que vivem nesse meio. Acho salutar para a mocidade que à máxima de Maurras, Politique d'abord, ela oponha a interrogação (que é uma resposta negativa) de Demolins - A-t-on intérêt à s'emparer du pouvouir? Isso a desviaria de pensar que o problema nacional se resolve unicamente com o assalto aos órgãos do Estado. Nós precisamos duma coisa que nunca tivemos e cuja falta sensível tem sido a causa dos nossos altos e baixos: formação das vontades para dar continuidade à acção. De quando em quando, aparece na História de Portugal um rei, um estadista, um chefe, que levanta a Nação, que faz um pedaço de História, e que a deixa cair quando desaparece ou morre. O nosso passado está cheio de beleza, de rasgos, mas tem-nos faltado, no último século, sobretudo, um esforço menos brilhante mas mais tenaz, menos espectaculoso e com maior perspectiva. Tudo quanto seja apelar somente para o heroísmo da raça, sem modificação da mentalidade geral, do nosso modo de fazer as coisas, pode trazer-nos momentaneamente páginas de epopeia, mas queima-nos, nessas labaredas contínuas, entregando-nos, depois, a esse fatalismo doentio, de que o Fado é a expressão musical. É essa a razão por que nós somos um povo eternamente saudoso, longe das realidades por termos vivido demasiado, em certos momentos, uma realidade heróica mas falsa... Para fazer, portanto, obra nova, obra reformadora, é necessário, antes de mais nada, renovar o indivíduo, transformá-lo, pô-lo de acordo com o seu próprio ambiente, com a sua própria terra.»
- A. O. Salazar, in "Entrevistas de António Ferro a Salazar"


Para já, vou deixar os comentários aos leitores. Se acaso lhes interessar.

Da pequena Ogreterra

Começo por dizer que não simpatizo minimamente com esbirros. As polícias são instituições modernas prometidas aos mais lúgubres experimentalismos e instrumentalizações. Isto não invalida o reconhecimento da função social destas coorporações. Se não existisse a polícia, provavelmente, o canibalismo já teria descido da economia aos restaurantes. Por enquanto só ainda vai nos mercados. Mas é manifesto: perdido o medo ao inferno e às respectivas penas resta o medo à polícia e aos tribunais. Aquele, aliás, veio, sistematicamente, sendo substituído por este. Se repararmos com atenção, os terroristas do nosso tempo, para efeitos concretos, fazem as vezes dos súcubos, íncubos, bruxas, judeus e demais hostes satânicas da Idade Média. E a Nova Igreja a que chamam Estado - o Ídolo Frio de que falava Nietzsche -, aposta num policiamento cada vez mais concentracionário e intrusivo das multidões, dos indivíduos e, por herança preciosa, das consciências. A pretexto, como é da praxe, duma luta contra a intrusão de entidades invariavelmente híbridas, misto de demoníaco e fantasmagórico.
Resumindo, o alienígeno tenebroso continua à solta, à espreita, e neste parque infantil onde nos apascentam, para efeitos de vigilância, o esbirro de Deus cedeu a vez ao esbirro do Estado. Quer dizer, para o que dantes desempenhava o pastor humano, agora basta o cão polícia. Não abona muito da saga mental cá da rapaziada, pois não. E para agravar a vergonha, calcula-se que em breve o cão será substituído por um robot. Chamamos progresso à desumanização. Certo é que a máquina sairá ainda mais barata que o animal. E o medo, suspeito bem, é o lubrificante dos ogres que por aqui se abastecem.
Posto isto, vamos à banalidade quotidiana que aqui nos traz.
«O director nacional adjunto responsável pela Direcção Central de Investigação do Tráfico de Estupeacientes (DCITE) da Polícia Judiciária, o inspector coordenador José Brás apresentou a demissão, na sequência do escândalo dos desaparecimentos de dinheiro apreendido a traficantes de droga. »
Cá está mais um bom motivo de reflexão.
É só na mente das crianças e dos ingénuos compulsivos que os países se regem pelas leis escritas nos Códigos ou constituições. Como em tudo na vida, a tese e a prática não coincidem. O conceito e o preceito divergem todos os dias. As ilações são óbvias: o senhor inspector-coordenador e todos os seus subordinados deviam saber que neste país desviar dinheiro dos traficantes é um acto da maior gravidade e infâmia. Ao contrário do dinheiro dos contribuintes.
Ou visto doutro prisma: uma vez apreendido, o dinheiro dos traficantes transforma-se em dinheiro dos contribuintes, pelo que só pode ser desviado, delapidado, malbaratado ou refundido por agentes devidamente autorizados. Quer dizer, eleitos.
A cleptocracia tem regras. E hierarquias. Não - ou pseudo, se tanto - celestiais.

terça-feira, julho 10, 2007

Salas de Despejo

Parece que a realidade não se compadece muito com decretos nem fornicoques de agenda política...

«A administração do Hospital S. Francisco Xavier, em Lisboa - onde 100% dos médicos são objectores de consciência para o aborto a pedido da mulher - está já a contactar as unidades privadas da cidade no sentido de perceber para onde pode enviar as grávidas que queiram abortar. Isto porque não tem tido resposta favorável dos outros hospitais da região que integram o Serviço Nacional de Saúde (SNS).»

Têm sempre uma solução de recurso. Barata e infalível, ainda por cima: criam "salas de despejo" nos Matadouros Municipais. Aí, de certeza, os funcionários não se põem com objecções inconvenientes. No que concerne ao abate de gado, já devem ser imunes a pruridos de qualquer espécie.

Ainda sobre um debate

Sobre todos os candidatos, desiludiu-me o representante do PNR. Bem, na verdade foi o único que me desiludiu, pois sobre todos os outros já não acalentava quaisquer ilusões. E desiludiu-me, o digníssimo senhor, em três vertentes:
1. Animado pelas fábulas e mitologias que dele faziam na Comunicação Social, eu esperava que no mínimo se transformasse em lobisomem ou Adolfo Hitler, que é o mesmo que dizer "se licantropizasse à paisana ou fardadamente". Mas nem uma coisa nem outra. Um perfeito anti-clímax. Não se licantropizou. Pelo contrário, foi dum civismo a toda a prova. Terminou o programa com a mesma gravata com que o tinha começado.
2. Acicatado pelas minhas próprias fantasias, tendências e imperativos categóricos, eu afagava o enredo de vê-lo defender varonilmente os meus interesses em todo aquele debate, os quais cujos se resolveriam resumidamente com uns apalpões, rebolões e titilações íntimas na balzaquiana moderadora (o Engenheiro Ildefonso Caguinchas reclamava, com berros de impaciência, a cópula múltipla, urgente e completa, com preliminares e rescaldos, cigarro de encerramento e tudo, mas esse, toda a gente sabe, é um radical furioso). Porém, que eu visse, e estive atento, nem um piscar de olho malandro, ou umas tele-beijocas sequer.
3. Finalmente, pelos princípios da mais elementar justiça, eu estimava que, sem qualquer hesitação ou pusilânime adiamento, ele, ciente das prioridades universais, se servisse da cadeira - que lhe fôra providencialmente atribuída à mesa do tal debate - como lhe competia e a população de Lisboa abençoava, ou seja, que pegasse nela energicamente, com ambas as mãos, e desse com ela, generosamente, nos cornos de todos aqueles proxenetas -em acto ou potência - da municipalidade. A cadeira tinha um aspecto magnífico, convidativo, devia ser de boa madeira, bem mais sólida e promissora que estas aqui da tasca. Mas que fez ele? Sentou-se nela. Uma oportunidade daquelas, um rebanho de toutiços daqueles ali à mão de semear, e ele... ele sentou-se. Sedentarizou do princípio ao fim do debate. A pobre da cadeira, que já se via imortalizada para a posteridade por via de toda uma saga épica, cantada e louvada por todos os grandes vates do Porvir, a esta hora, ainda para lá deve estar, inconsolável, a debulhar-se em lágrimas. Reuniram-se o instrumento, a ocasião, o motivo - faltou o homem.

Nos meus ouvidos, desde o fim da noite de ontem, ainda retumbam as palavras ameaçadoras e inquietantes do Engenheiro Ildefonso Caguinchas, que nestas coisas prefere sempre a acção à lamúria:
-"Nas próximas eleições, quem se candidata sou eu!..."
O Engenheiro não sabe muita coisa. Mas sabe o essencial. Que, por exemplo, nestes dias, qualquer debate tem um prefixo inútil.

segunda-feira, julho 09, 2007

A propósito de um debate

Antigamente, Lisboa tinha bairros de lata. Agora, de lata, ainda mais imensa e sórdida, só já tem políticos.
Razão tinha Lavoisier: aqui, nada se perde, nada se ganha, tudo se transforma.
A minha urnofobia está bem e recomenda-se.

domingo, julho 08, 2007

A Via do Progresso sempre a aviar

Nos Estados Unidos, baluarte do progresso, farol da humanidade, panteão da democracia, uma «menina de 11 anos foi apanhada a conduzir alcoolizada». Presume-se que no regresso de uma rave.
Por cá, nesta república de bananas, saberemos que, mais que no bom caminho, teremos alcançado a excelência do desenvolvimento e da modernização quando começarmos a ler notícias do género:
«Menina de 11 anos apanhada a conduzir alcoolizada, em excesso de velocidade, num veículo roubado, com o cadáver do pai escondido na bagageira e enquanto mantinha relações sexuais com o amante adulto, um disc-jockey afro-europeu, cujo colo aproveitava em simultâneo como andaime para alcançar os pedais.»
Nos Estados Unidos, um país severo, a desaustinada criança foi acusada de condução embriagada, de excesso de velocidade e de tentativa de fuga ao local do acidente.
Em Portugal, nesse futuro risonho, apenas será acusada porque, além de não levar o cinto posto, fumava cigarros enquanto conduzia. O resto -ó oitava maravilha do progresso! - será, tudo, perfeitamente legal.

Uma última nota ao episódio da menina americana: presumo que terá tentado fugir ao local do crime na ambulância que a levou ao hospital. Gravemente ferida, segundo reza a crónica.

sábado, julho 07, 2007

Pontas da democracia

A notícia refere que os "funcionários da Polícia Judiciária estão envergonhados com o desvio de cem mil euros". Realmente, o caso não é para menos. Qualquer esbirrozito de África ou da América Latina, daqueles acima de paspalho de giro, consegue sacar, no mínimo, umas centenas. Ao ano.
E ainda por cima, de acordo aos rumores, foram cem mil euros a dividir por uma caterva de inspectores. E inspectrizes.
Bando de pilha-galinhas!...
Charada do dia: Sabem porque é que a Democracia porcoguesa é um Titanic que não corre qualquer risco de afundamento, mesmo quando singra cegamente a todo o gás?
- Porque não é um navio: é um iceberg à deriva.

Maravilhoso é que não!...

1. Entre outtras mirabolâncias que agora seria fastidioso enumerar, este é o único blogue cujas audiências (ou diz-se visitâncias?) aumentam sempre que o autor não posta. Disparam exponencialmente. Pelo que verificada essa formidável idiossincrasia tenho estado, astutamente, a implementar o meu pecúlio sitemeteriano e, por inerência, a minha esperteza, o meu interesse e, sobretudo, a minha credibilidade.

2. Nesse entretanto, alguns blogadores claramente ociosos e visivelmente suicidas decidiram alvejar-me com aquelas correntes infecto-contagiosas que infestam, em regime de praga, a blogaláxia. Compete-me retaliar a contento. Vamos por ordem cronológica...

Primeiro, foi o Diogo Vaz Pinto que me encomendou três filmes.
Sobre isto, começo por declarar o seguinte: o meu estado actual é bastante mais próximo da cinefobia do que da cinefilia. Socorro-me até da definição de cinema no Dicionário Shelltox Concise - "arte de assassinar bons livros e de vender maus", fora a propaganda camuflada e o resto - para melhor ilustrar o meu cepticismo em relação às fitas. Não obstante, reconheço que assisti a alguns bons filmes. Como por exemplo (pela demora, em vez de três, vai indemnizado com dez):
- Apocalipse Now
- Doutor Estranho Amor
- A Laranja Mecânica
- Imperdoável
- A Quadrilha selvagem
- Os Condenados de Shawshank
-The Thing, (Veio do Outro Mundo)
- Brasil, o Outro lado do Sonho
- Eles Vivem
E, naturalmente, como não podia deixar de ser,"Enter the dragon".
Tudo somado, e no essencial, em matéria de cinema (do qual proclamo olimpicamente nada perceber nem nutrir a mais pequena vontade disso), os meus gostos congregam-se e encarniçam-se, qual chusma amotinada, em redor de três realizadores baluartistas: Kubrick, Peckinpah e Carpenter. E agora passo isto a quem realmente percebe e gosta de cinema (uma das suas raras imperfeições): a Zazie, pois claro. E à amiga dela, a Cris. E ao misantropo disfarçado, que julga que eu não o topo. Topo e estimo.

3. E por falar neste indivíduo de boa catadura, eis que nos abarbamos da segunda correnteza. Onde, imagine-se, sou taxado de "maravilha". Bem, já me chamaram muita coisa, algumas até com sentido - como "desalinhado", "alucinado" e "desconcertante"-, mas "maravilhoso", confesso, é a primeira vez. Meu caro amigo, gostaria de deixar bem claro o seguinte: eu, César Augusto Dragão, não sou maravilhoso! Irra, é que não sou mesmo. Maravilhosos são a Branca de Neve, a Cinderela, o Gato das Botas, a fada madrinha, a rainha de Copas, o Humpty Dumpty, o Pacheco Pereira (passe a redundância), o Conselho de Ministros, o António Vitorino e mais não sei quantos milhões de elfos, gnomos e duendes mentais que pululam aqui pela terrinha. Todos esses e essas e mai-los seus essinhos são maravilhosos, maravilhosérrimos, efabulásticos! Todos eles, repito, em desaustinava corrida e monumental certame, Deus os abençoe enquanto o diabo não os carrega. Eu não. Tenho o direito de não ser maravilhoso. Faço mesmo questão disso. É-me ponto de honra. Portanto, e embora sabendo que o animou a melhor das intenções, não me rogue uma tal praga ou deslustre os pergaminhos com tal carimbo. Nem me peça para que eu a rogue a pessoas que estimo - a quem, de resto, o numerário sete seria manifestamente exíguo para quantificar - e nas quais, naturalmente, o incluo na primeira fila. Tome lá um abraço e não se fala mais nisso. Vou fingir que não li.


Maravilhoso...francamente! Até parece que já oiço o Engenheiro Ildefonso Caguinchas:
- "Ena, ó César: já cá tínhamos o Fabuloso Alex, não me digas que agora também vamos ter o Maravilhoso Dragão!..."

quinta-feira, julho 05, 2007

Um clube alternativo?

Este postal é exclusivamente dirigido ao meu amigo e confrade Engenheiro Ildefonso Caguinchas.

Caro Engenheiro e conterrâneo, tenho uma questão a colocar-lhe. Que é a seguinte:

Com uma camisola destas


SLB passa a significar o quê - Sport Lisboa e Bichanos?...

quarta-feira, julho 04, 2007

Abaixo a reacção!

«... o Ministério Público convocou alguns jornalistas - dos muitos que estiveram no local a fazer a cobertura do Conselho de Ministros informal que naquele sábado se realizou na cidade berço - para tentar obter mais fotos, declarações ou outro material que pudesse conduzir à identificação de manifestantes.»


O país é extremamente tolerante para emigrantes ilegais, para traficantes ilegais, para abortadeiros ilegais, incendiários ilegais, construtores ilegais e outros que tais. Para manifestantes é que não. Isso agora, ajuntamentos e arraiais desses, desabafos corais em público, só com a devida autorização e o beneplácito das autoridades.
A democracia tem que defender-se, ora essa. Desses arruaceiros faxistas sempre prontos a atentarem contra o normal funcionamento das instituições.
Por outro lado, o Conselho de Ministros que naquele dia se realizava, como especifica a notícia, era informal. Já a manifestação não podia sê-lo. Inadmissível, chocante, superlativamente melindrante aos olhos ultra-sensíveis de Sua Excelência, terá sido, de certeza, que os manifestantes, no mínimo, não tivessem comparecido em "traje de cerimónia"- eventualmente de "ir à ópera".
Imagina-se até o pungente diálogo que não há-de ter culminado a desagradável peripécia:
-"Difamaram-no muito, os ingratos, Excelência? Menoscabaram-lhe a digníssima mãezinha, foi, os atrevidos!?..."
-"Qual difamaram nada, ó coiso!... Ofendem-me lá palavrões e vitupérios!... Ofensivo e super insolente foi o modo com se apresentaram diante de mim: você reparou que mal vestidos? Irra, a maioria nem uma gravata se dignou jungir para vir falar ao Primeiro-Ministro da nação!... E o cheiro? Mas nem uma porcaria dum desodorisante decente esta gente usa? Reparou decerto no pivete... Mais parecia que planeavam intoxicar-me."
-"São estes pedintes modernos, excelência. Estão cada vez mais arrogantes e malcriados. Antigamente, prostravam-se e suplicavam; agora, partem logo para o insulto, a ameaça e a exigência descabelada. Em menos de nada, barricam-se e fazem reféns!..."

domingo, julho 01, 2007

NO PRELO! - O Dicionário Shelltox Concise do Dragão.

Está quase aí a rebentar o Dicionário Shelltox Concise do Dragão.

Para já, e antes de mais confidências, recordemos a penúltima letra a ser publicada neste abominável blogue...

C (factor~) – catalizador curricular; gazua; “abre-te Sézamo” das carreiras; calçadeira para a promoção; trampolim profissional
CABALA, s.f., interpretação alegórica, com laivos ocultistas, do Antigo Testamento, do Código Civil, Penal e da Constituição da República
CABALISTA, adj., pessoa dada às práticas da cabala; funcionário judicial
CABARÉ s.m., lugar ou estabelecimento onde se servem bebidas e se dança; ministério; embaixada ou consulado português
CABECILHA s.m., chefe de um bando; líder partidário; chefe de facção; Presidente do Conselho de Administração; pastor evangélico
CABELO s.m., ideário; convicção ideológica
CABELEIRA s.f., conjunto de ideias num deputado; trunfa
CABISBAIXO adj., português
CABOTINO s.m., cómico ambulante; actor reles; político em campanha
CACETE s.m., argumento
CACETEIRO s.m., retórico
CACIQUE s.m., chefe indígena de retórica contundente; autarca; presidente de governo regional
CACOFAGIA s.f., predilecção pelos alimentos repugnantes; adepto da fast-food; regime alimentar americano muito apelativo para crianças e adolescentes, bem como extremamente cómodo para a acídia apostólica dos pais
CACÓFAGO adj. adolescente ou teenager; gigolo especializado em jet-set
CACOSTOMIA s.f., halitose; político em genuflexão presepial, bafejando o Zé Povinho nas palhas deitado
CADAFALSO s.m., patíbulo; primeira página; ecrã; telejornal
CADASTRO s.m., registo criminal; currículo dum gestor público ou autarca; cartilha ou folha de serviços do “jota”
CADAVÉRICO adj., lívido; citadino
CÁFILA s.f., conjunto ou caravana de bem-pensantes
CAFRE s.m., condutor da cáfila
CÁFTEN s.m., empresário de prostíbulo; intermediário de multinacional que geralmente agencia e avença governantas de países
CAGA-MILHÕES s.m., novo-rico; pato bravo
CAGANIFRATE s.m., ver bonifrate;
CÃIBRA s.f., forte contracção espasmódica e dolorosa de certos músculos cerebrais, também conhecida por breca, que resulta geralmente em convicção dogmática, mas estapafúrdia
CALDEIRÃO s.m., camarote ou frisa no Além
CALIBRE s.m., diâmetro interior das bocas de fogo e da embocadura vaginal de certos coirões ou senhoras ditas finas mas, em boa verdade, grosseiros calhamaços
CALIPEDIA s.f., arte rara de engendrar filhos formosos
CACOPEDIA s.f., política de estado actual, que consiste em engendrar e criar grandes abortos
CALOIRO s.m., vítima; capacho; parvalhão todo contente e vaidoso de se ver achincalhado; féretro radiante; larva
CALVÁRIO s.m., suplício; vida adulta segundo as sociedades altamente industrializadas
CALVINISMO s.m., cristofobia; doutrina descabelada de Calvino, magarefe francês (1509-1564) que dotou o capitalismo duma “religião”, também conhecida como redenção pela riqueza; segundo ele, a Graça Divina, afinal, é uma Gratificação e mede-se em “dnheiro vivo”: quanto mais rico, o crente, mais gratificado e predilecto de Deus
CAMAFEU s.m., galináceo do jet-set; velha gaiteira; coirão com alardes
CAMISA-DE-FORÇAS s.f., traje de cerimónia
CAMISA-DE-VÉNUS s.f., fato macaco
CANCRO s.m., elite social; corte
CANGALHEIRO s.m., gestor público; ministro neoliberal
CANGAR v.tr., empregar; recrutar; jungir
CANHÃO s.m., boca-de-fogo, fixa ou móvel, de elevado calibre, destinada a projectar granadas, teses e argumentos, com base na força expansiva dos explosivos
CANIBAL s.m., selvagem antropófago; neoliberal
CANIBALISMO s.m., nova forma de liberalismo que concede ao Estado intervenção muito reduzida nos assuntos económicos, e liberdade absoluta às empresas para emigrarem - e se recrearem- para países onde pessoas, de todas as idades, possam desempenhar tarefas e receber salários em tudo semelhantes aos insectos; predação intraespecífica com intuitos alambazantes e açambarcadores
CANIL s.m., jornal; canal televisivo
CÂNONE s.m., decisão de congresso sobre matéria de fé ou disciplina partidária
CAOS s.m., estado confuso dos espectadores antes da intervenção dum analista
CARACOL s.m., molusco gastrópode vagaroso, pulmonado, nocivo, em muitos casos oriundo do Alentejo, que tem por hábito tomar de assalto as crucíferas e os quadros baixos e médios da administração pública
CÁRCERE s.m., casa hipotecada
CARCINOMA s.m., variedade de político
CARDÁPIO s.m., boletim de voto
CARDIOPUNCTURA s.f., picada no coração de certos animais, com fins experimentais; engate; namoro
CARÍBDIS (entre Cila e ~) s.f., mesmo que entre a espada e a parede; entre o PS e o PSD; fatalidade democrática
CARISMA s.m., conta bancária; sinal exterior de riqueza; dinheiro; ver também “charme”
CARISMÁTICO adj., que tem carisma, isto é, que tem dinheiro
CARNAGEM s.f., morticínio; hecatombe; África
CARONTE s.m., armador grego; organizador de cruzeiros mediterrâneos; agência de viagens póstumas
CARRASCO s.m., despachante oficial; curador público; aviador de presuntos; congelador; tira-nódoas
CARRO s.m., prótese ontológica; amplificador da essência social; agilizador de engate; desbloqueador de castidades
CARROCEIRO s.m., condutor do carro
CARTESIANISMO s.m., escolástica recauchutada
CASAL s.m., joint-venture – que designa empreendimento conjunto de duas pessoas com vista à exploração de um ou mais ramos comerciais que, embora susceptível de risco, se admite venha a ser do interesse mútuo
CASAMENTO s.m., pretexto para divórcio
CASAR v.tr. contratar; convidar dadores de prendas para boda
CASSETE s.f., ideologia
CASTA s.f. grupo de pavões
CATACLISMO s.m., novo governo eleito; pretexto para filmes e concertos beneméritos, onde superstars e megabiltres se auto-promovem pela enésima vez e ad nauseam, a título de caridade internacional
CATÁFORA s.f., letargia entrecortada por períodos de semi-consciência; presidência da república
CATALEPSIA s.f., perturbação psicomotriz caracterizada por mobilidade e inércia da mente, com tendência para manter as atitudes que lhe imprimem; bancada parlamentar
CATAPULTA s.f., engenho de arremesso de palavrões e ordinarices; trolha; camionista, automobilista
CATÁSTROFE s.f., programa de governo; plano de reformas; estudo científico
CATEDRAL s.f., igreja principal de uma diocese; local de culto religioso; estádio de futebol
CATIVEIRO s.m., estado ou tempo daquele que contrai empréstimo ao banco; escravidão
CATIVO adj., prisioneiro do banco; seduzido; sujeito à escravidão
CATÓLICO adj., crente em Sua Santidade, o Papa, e na respectiva carta de procuração exclusiva passada por Deus Nosso senhor
CAVALO-MARINHO s.m. auxiliar de governação indispensável em certos países
CAVAQUEIRA s.f., conversa amena e prolongada; discussão parlamentar
CAVILAR v.intr., planear enganos; reunir em congresso
CEMITÉRIO s.m., estabelecimento de ensino superior
CENSURA s.f., selecção arbitrária; em democracia: critério editorial
CERA s.f., aquilo que grande parte dos funcionários públicos fabrica nas suas colmeias
CERBERO s.m., cão tricéfalo que, segundo a mitologia grega, guarda a porta dos Infernos; porteiro de discoteca
CÉREBRO s.m., órgão situado na parte anterior e superior do encéfalo, que é sede das funções psíquicas excepto a inteligência e o pensamento autónomo ou um pouco mais elaborado; centro intelectual donde emanam as desordens e distúrbios crónicos ao ser humano
CEREBROPATA s.2 gén. pessoa que sofre de cerebropatia; neurasténico; homem moderno
CERNELHA s.f., forma de abordagem recomendável para certos políticos recalcitrantes ou viciados no poder
CESSAR-FOGO s.m., pausa acordada entre ambos os beligerantes para recarregar as armas e renovar as tropas
CÉU s.m., promessa eleitoral
CHACAL s.m., mamífero carnívoro, voraz, selvagem (da família dos mirones, semelhante ao homem), que experimenta grande volúpia diante de desastres sangrentos e mortíferos; jornalista; condutor automóvel (em Portugal)
CHACINA s.f., acto de civilizar; converter; educar; democratizar; espécie de higiene social; descompressão étnica; expediente demográfco
CHAFURDAR v.intr., ensaiar um cunnilingus ávido e alabregado; investigar a vida alheia; recordar misérias
CHALAÇA s.f., pilhéria; comunicação ao país
CHALADO adj., aquele que profere a chalaça
CHALRAR v.intr. falar muita gente ao mesmo tempo; falar à toa; gralhar em bando; discutir no parlamento
CHAMPÔ s.m., noticiário
CHARCUTARIA s.f., estabelecimento onde se vendem essencialmente preparados de carne de porco, suados ou fumados; health-club; ginásio
CHARLATÃO s.m., indivíduo que vende drogas nas praças públicas, exagerando-lhes as qualidades; publicitário; candidato em campanha
CHARME s.m., o mesmo que carisma
CHARRUA s.f., pénis de homem vigoroso
CHATO s.m., espécie de piolho púbico ou público que outrora infestava a região púbica causando prurido, mas que agora prefere os canais televisivos causando náusea
CHAUVINISMO s.m., instinto básico de auto-conservação e defesa; num país grande e poderoso: orgulho nacional; num país pequeno e dependente: fanatismo ou exagero patriótico
CHAVE-INGLESA s.f., utensílio que serve para desbloquear engarrafamentos, desligar buzinas ou explicar o código da estrada a teimosos impertinentes; ver também Chave-de-rodas
CHEFE s.2gén, indivíduo que tem sempre razão e que convém sabujar
CHEFIA s.f., acto de ter sempre razão e ser continuamente engraxado
CHICANA s.f., contestação capciosa; discussão entre democratas rivais ou concorrentes
CHINFRIM s.m., banzé; escândalo; debate pré-eleitoral
CHIQUE s.m., alarde petulante ou aleive afectado daquele que vive em chiqueiro
CHIQUEIRO s.m., curral de porcos muito vaidosos e ufanos; pocilga bizarramente decorada; vivenda de novo-rico ou escravo de banco com pretensões ou em trânsito para novo-rico
CHOCALHO s.m., espécie de campainha que se dependura de certos animais para denunciar a sua presença; telemóvel
CHOLDRA s.f, comício; jantar partidário com mais de 50 pessoas; agrupamento reunido para escutar arenga e receber comenda; conjunto de pessoas que se reúnem para celebrar uma determinada data que calha ser feriado
CHORAMINGAS s.2 gén., fadista; sindicalista; membro da oposição
CHORRILHO s.m., cópula agreste e ininterrupta de algo ou alguém sobre a mentalidade pública (pode ser política, literária e musical)
CHOURIÇO s.m., recém-nascido, no conceito moderno-científico
CHUCHA s.f., mama; chupeta; desfrute; mangação
CHUCHADEIRA s.f., política
CHUPA-CHUPA s.m., entretém para fedelhos com aspirações; secretaria de estado
CHUPETA s.f., enganadeira (para crianças); comissão parlamentar (também para imberbes)
CIBERESPAÇO s.m., pornosfera
CICERONE s.m., xenofilo
CICLISMO s.m., fornicação compulsiva; cópula ao sprint
CICLOMOTOR s.m., amante com automóvel
CICLONE s.m., revitalizador da construção civil
CÍCLOPE s.m., gigante fabuloso com um só olho na testa, donde se depreende que tinha cara de cu
CICLOTURISMO s.m., cópula agrária, bucólica e itinerante; sexo rural
CICUTA s.f., bebida típica dos filósofos
CICUTISMO s.m., embriaguez socrática
CIDADE s.f., conglomerado heteróclito e mais ou menos babélico de traumas, frustrações, taras, paranóias, fobias, lobotomias, e outras aberrações ou desarranjos mentais
CIDADE-DORMITÓRIO s.f., cemitério; necrópole; subúrbio
CIÊNCIA s.f., conhecimento certo e racional sobre mundos imaginários; investigação metódica das leis e fenómenos que podem ser subsidiados, comercializados e lucrativos; sofisma passageiro bem sucedido; cegueira deslumbrante; contubérnia da tecnologia
CIENTÍFICO adj., relativo à ciência; sem princípio nem fim; referente a um fragmento catalogado do acaso
CIENTISTA s. 2 gén. mercenário erudito e asséptico que não utiliza armas: apenas as inventa e desenvolve
CIGANO adj., economista
CILADA s.f., emboscada preparada para acometer ou atrair alguém; comício
CILHA s.f., livro de cheques
CILINDRADA s.f., coeficiente de inteligência medido a partir duma loura, dum adolescente ou dum pato-bravo (passe a redundância)
CIMENTO s.m., massa encefálica de certos regimes
CINANTROPIA s.f., estado patológico em que o doente se julga cão e procura agir em conformidade:; doença endémica a políticos, jornalistas, meliantes e diversas outras espécies de gangsters
CINEFILIA s.., perversão sexual que se traduz numa variante compulsiva de voyeurismo
CINEMA s.m., (na América) arte de assassinar bons livros e de vender maus; indústria sofisticada de fazer embasbacar as pessoas; estupefaciente autorizado; propaganda camuflada
CIO s.m., manifestação de apetite sexual, mais ou menos alarve, nos e nas adolescentes
CISMA s.m., confronto épico à volta duma ninharia ou frivolidades
CIVILIZAÇÃO s.f., conjunto de morticínios, rapinas e depredações (intra e exra-específicas), organizadas com determinados propósitos e para cumulação de determinados benefícios
CLANDESTINO adj. escravo contemporâneo de importação
CLAQUE s.f., grupo excursionista de vândalos
CLIENTE s. 2 gén., partidário
CLIENTELISMO s.m., regime democrático (em Portugal)
CLISTER s.m., reality-show; política de austeridade
CLOACA s.f., cavidade terminal do intestino, em certos animais, artistas e figuras públicas, onde se abrem simultaneamente os ductos defecante e genital
CLUBE s.m., sociedade recreativa ou de alta recreação (neste caso, também partido)
COACÇÃO s.f., acto de informar nas sociedades modernas e liberais
COALESCÊNCIA s.f., vida partidária
COBAIA s.f., aluno; consumidor; paciente; contribuinte
COERÊNCIA s.f., crime de índole política ou ética;
CÓIO s.m., lugar onde se ocultam malfeitores; valhacouto; alfurja; sociedade secreta
COLECTA s.f. esbulho de otários
COLECTÁVEL adj. 2 gén., não inscrito em nenhum clã, família ou seita registada no Regime Geral de Isenções Vitalícias
COLETE-DE-FORÇAS s.m., fraque para reveillon
COLGADO adj. pendente; enforcado; o “povo português” por antonomásia
COMEDOURO s.m., lugar ou vaso em que se dá comida aos animais e pequenos tachos aos políticos juniores ou aos famiiares
COMÉRCIO s.m., a liberdade, segundo os liberais; ídolo sanguinário e insaciável que reclama diariamente vítimas humanas
COMETA s.m., deputado cabeludo dado a órbitas excêntricas
COMÍCIO s.m., reunião de famintos para discussão de cardápios; cilada
COMITÉ s.m., sínodo, banquete
COMPRAR v.tr. aliviar-se; celebrar a eucaristia liberal; sacrificar ao Comércio
COMPULSÃO s.f., forma predominante de pensamento
COMPUTADOR s.m., aparelho electrónico desviante que serve essencialmente para divulgar pornografia
COMTISTA adj., relativo a Augusto Comte, mentecapto francês, 1798-1857, autor dum anedotário famoso
COMUNISMO s.m., regime político, económico e religioso caracterizado pela comunhão do trabalho pela maioria esmagada das pessoas e das mordomias e luxúrias por uma minoria esmagadora de indivíduos
CONCEPÇÃO s.f., descuido; azar; contrariedade; motivo para remoques
CONCERTO s.m., reunião de surdos broncos a pretexto de escutarem música, mas com o propósito efectivo de desfilarem indumentárias e penteados; (em caso de música pop) acrescentar ganzas
CONCORRÊNCIA s.f., sacanagem
CONCRETO adj. que existe na imaginação a título de realidade; singular
CONCUBINATO s.m., coligação partidária
CONDÓMINIO s.m., presídio discreto
CONFEITARIA s.f., editora literária
CONFESSIONÁRIO s.m., consultório psiquiátrico
CONJÚGE s.2 gén., sócio
CONSEQUÊNCIA s.f., algo que nunca existe; em política: aquilo que nunca vem depois do acto
CONSTITUCIONALISMO s.m., doutrina que os ingleses encontraram para se governar tornando os outros países ingovernáveis
CONSTITUIÇÃO s.f., conjunto de fábulas jurídicas, óptimas para adormecer crianças
CONTÁGIO s.m., transmissão de conhecimentos, crenças ou teorias por contacto mediato ou imediato; transmissão de vícios no pensamento e no raciocínio; corrupção intelectual; ensino
CONTORCIONISMO s.m., exibição de contorções e revoluteios; governo
COPROFAGIA s.f., ingestão de excrementos; visionamento compulsivo de certos programas televisivos (telenovelas, reality-hows, telejornais, entretenimento matinal, etc)
COREOGRAFIA s.f., audiência em tribunal; parada militar
CORROMPER v.tr., gratificar
CORRUPÇÃO s.f., exercício dos diversos tipos de poder; esmola liberal
COSMÉTICA s.f., pensamento contemporâneo; alternância democrática; pluralismo
CRENÇA s.f., opinião
CRETINO adj. e s.m., indivíduo ou designativo de indivíduo dotado de absoluta incapacidade mental, estética, política, ética, tudo excepto um vociferar ininterrupto de opiniões e estados de alma acerca de notícias, denúncias e outras atoardas
CRIME s.m., pobreza; falta de perícia na execução de sacanice ou malfeitoria; mau planeamento; azar
CRIMINALISTA s.2gén., parasita; indivíduo seboso que aparece na televisão; escrevinhador monopolista de telenovelas
CRIMINOSO adj. e s.m., desastrado; azarento; aquele que se deixa apanhar; pequeno delinquente; pilha-galinhas; rouba-carcaças; pessoa que comete atrocidades, pilhagens ou homicídios a título individual
CRIPTOCEFALIA s.f., monstruosidade caracterizada pela ausência de cabeça ou pela apresentação de cabeça mais ou menos oculta; ver também “delgadismo”, “helenamatismo” e congéneres
CROMOSSOMA s.m., entidade fabulosa da ordem dos gnomos, mas bastante mais pequena, não lobrigável à vista desarmada
CRUCIFICAÇÃO s.f., grande reportagem; guerra de audiências
CUBISMO s.m., borrão imperscrutável mas valiosíssimo
CULTURA s.f., presunção
CURRÍCULO s.m., requisito formal irrelevante, quando não catalizado; objecto de contemplacão mórbida e perplexidade crónica para desempregado; fetiche; regra geral, é inversamente proporcional competência


Nota: Trata-se duma reposição, pelo que os cinco primeiros comentários são referentes a Janeiro de 2005, aquando da primeira postagem.