sábado, março 08, 2008

Contra Hegel

«Os homens estão prestes a descobrir que o egoísmo do indivíduo, dos grupos e das massas serviu sempre de alavanca aos movimentos da história; mas ao mesmo tempo, esta descoberta não inquieta ninguém; pelo contrário, decreta-se que o egoísmo deve ser o nosso deus.»
(...)
«Em vez de uma nação hão-de surgir talvez, sobre o palco do futuro, associações de egoísmos individuais, fraternidades com o fim de explorarem pelo banditismo todos aqueles que não fazem parte delas e outras criações de utilitarismo vulgar.»
(...)
«Creio que neste século não houve oscilações nem viragens perigosas que a influência prodigiosa, sensível ainda hoje, desta filosofia, o hegelianismo, não tenha tornado mais perigosas. Na verdade, é um pensamento triste, paralisante considerarmo-nos os rebentos tardios de todos os tempos, mas o que é terrível e destruidor é que esta filosofia, por uma impudente reviravolta, tenha divinizado o que chegou tarde, como se ele fosse o sentido e o fim de toda a evolução anterior. Estes reles mestres-escola identificaram-se com a história universal. Este modo de pensar habituou os alemães a falar do "processo universal" e a justificar o seu próprio tempo como o resultado necessário desse processo; como consequência, instalou a história no lugar de todas as outras forças espirituais, arte e religião, como senhora exclusiva, na medida em que ela é "a ideia que se realiza por si", a "dialéctica dos génios nacionais" e o autêntico Juízo Final.»
(...)
«Mas quando se aprende a curvar a espinha e a baixar a cabeça diante do "poder da história", acaba-se por aprovar com a cabeça, como um bonzo chinês, qualquer poder, quer seja do governo ou da opinião pública ou da maioria do número, e por agitar os membros em obediência estrita a quem tem nas mãos os fios. Se qualquer sucesso é devido a uma necessidade racional, se qualquer acontecimento é uma vitória da lógica ou da "Ideia", então punhamo-nos de joelhos perante toda a espécie de sucessos.»

- Nietzsche, "Considerações Intempestivas"

Estou em crer que Hegel, infelizmente para todos nós, é o filósofo mais bem sucedido e mais influente dos últimos séculos. Mas se caímos no buraco não foi decerto por falta de aviso. Só que a Nietzsche, para corolário da tragédia que foi a sua própria vida, coube-lhe ainda a triste sina de Cassandra do século XX.

4 comentários:

timshel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
timshel disse...

quando morreu o maior amigo de Steinbeck, Ed Ricketts, Steinbeck escreveu-lhe uma espécie de elogio fúnebre num texto chamado "About Ed Ricketts"

em dada altura, falando do pai de Ed Ricketts, Steinbeck disse que segundo este o pai dele era um génio pois que, dada a probabilidade de alguém apenas dizer coisas certas ou apenas coisas erradas ser mínima, quando alguém apenas diz sempre coisas certas ou sempre coisas erradas, esse alguém tem que ser necessariamente um génio

o pai de Ed Ricketts conseguindo apenas dizer sempre coisas erradas, era, deste ponto de vista um génio

como se vê por este post, Nietzsche não era nenhum génio

zazie disse...

Tu estás a fazer serviço público, Dragão!

Anónimo disse...

"Hegel, imposto de cima pelos poderes vigentes como o grande filosofo oficializado, era um charlatao de cerebro estreito, insipido, nauseante, ignorante, que alcançou o pinaculo da audacia por garatujar e forjicar as mais malucas e mistificantes tolices. Essas foram barulhentamente proclmadas como uma sabedoria imortal, por seguidores mercenarios, e prontamente aceitas como tal por todos os tolos, que assim se juntaram num coro perfeito de admiraçao, como nunca antes se ouvira. O extenso campo de influencia espiritual que assim foi fornecido a hegel por aqueles que se achavam no poder capacitou-o a realizar a corrupçao intelectual de toda uma geraçao."

Schopenhauer num brasileiro ranhoso

dlm