sábado, maio 10, 2008

Silêncio e Nudeza (rep)

Dois dos momentos superlativos de lucidez e sapiência que permanecem incólumes ao tempo, e que reconheço na nossa cultura são:
1. A resposta de Jesus a Pilatos sobre o que era a Verdade.
2. O grito espontâneo da criança diante do cortejo pomposo da majestade: "O rei vai nu!"
Ajustam-se a todas as idades. E é por entre esses dois abismos que singramos e nos confrontamos: o Silêncio dos Deuses e a nudeza dos poderosos. Cila e Caribdis da nossa civilização.
Entretanto, passamos a vida a confundir Verdade com Certeza, Conhecimento com Saber, e a alfaiatar a majestade à última moda. Sem sequer perceber o mais óbvio e comezinho da fábula: que a majestade vai nua apenas porque, em vez de roupa, a enfarpelaram numa teoria - melhor: numa crença (uma crença, note-se, só ao alcance dos inteligentes). A ela, por vaidade e estupidez; e aos súbditos, por imitação e obediência.
Não há quem deteste mais os antigos Dominicanos do que os Novos Dominicanos. Um dos sinais evidentes do Filho da Puta é o ódio resfolegante ao seu antecessor.
A imbecilidade galopante desta escumalhada ateísta hodierna, que germinou debaixo de não sei que pedras, consiste em ulular: "Não, o rei não vai nu, vai é mal vestido! Temos que despi-lo. Ou melhor, revesti-lo com um despido só ao alcance dos inteligentes!"
E é tal o gafanhoteio, a histeria e a peixeirice, que a majestade acaba a desfilar, já nem revestida de crença ou descrença, mas apenas revestida de cuspo.

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