sexta-feira, junho 27, 2008

Matraquilhices



É impressão minha, ou o cristianismo ronaldo sofreu um duro revés?...

Espírito Casa Pia

Não me ofendam... Não estive de férias: estive sem net. Continuo a arcar com os estilhaços da guerra PT / Vodafone.
Mas devo dizer que até nem desgostei. Pelo contrário, soube-me muito bem. E só não encerro desde já esta coisa por respeito àquele núcleo de irredutíveis portugueses leitores que, vá-se lá saber porquê, persistem e não desarmam.
Porém, capacitem-se: isto não é eterno. Vou queimar mais meia dúzia de cartuchos e ponho-me na alheta. É só mesmo o tempo de deixar os "is" bem pontificados.
Entretanto, e adiantando já serviço, não pude deixar de reparar na imensa alegria que o país experimentou com a aquisição da "portuguesa" Mobicomp pela gigante e merdosa Microsoft. Aliás, supermerdosa. Pois, é revelador do luso-nível à entrada deste terceiro milénio. Ficamos todos contentinhos quando alguém nos compra; pelamo-nos por que qualquer gigante descomunal repare em nós e, munido da sua super-potência mercantil, nos enrabe com nanoternura, microfaguice e vaselina. Por mim, quero enviar daqui um grande (e desnecessário, porque redundante) "ide ao caralho que vos foda!" aos proficientes e pacóvios administradores da tal Mobiconas. Vão todos e depressa!! E toda esta merda de tropa rastejante junto com eles! Se o Bill Gaitas, quando começou com a sua empresa de vão-de-escada, tivesse tido a mentalidade caniche destes gajos, nunca teria havido Microsoft (o que seria excelente, mas não vem ao caso, nem, ainda menos, à lógica). Todavia, a verdade é essa: se em vez de piratear e latrocinar a Aple, ou lá quem foi, o grande vígaro (e vendedor global de banha-da-cobra) Gaitas se tivesse sub-alugado ao primeiro cartel de sanguessugas que lhe aparecesse, bem anãozinho ainda estava hoje. Portanto, se este não fosse um país soterrado sob um manto de vermes mentais, morais e, pior que tudo, estéticos, motivo para celebração seria que a Mobicomp comprasse a Microsoft ou, no mínimo, resistisse dignamente e não se vendesse logo à primeira investida. Assim, é o clamor triunfal que se vê e escuta, a cada telejornal e, por arrasto, aposto decuplicado contra singelo, pelos pasquins e blogofones todos da paróquia.
Vai até citar-se, já de enfiada, a "universidade não sei das quantas" (onde aqueles mentecaptos aprenderam não sei que tecno-punhetices) como exemplo de alfobre preclaro e paradigmático de serafins milagreiros. Pura fantasia e prestidigitacinha. As universidades deste país, por fora, são todas diferentes. Mas, por dentro, são todas iguais... impregna-as e avassala-as a todas o mesmo espírito - o tal que escorre do Parlamento, dos Mass-media, das cripto-lojecas, e ensopa e contamina toda a sociedade: o espírito Casa-pia.
É o que explica os actuais festejos e foguetórios: Toda a malta rejubila porque agora a Mobicomp vai aparecer com uns ténis novos e uns trapos de marca.

quarta-feira, junho 18, 2008

Ninguém





«Quando, porém, o vinho tinha subido à cabeça do Ciclope, disse-lhe então com brandura:
- Ciclope, tu perguntas-me o meu ilustre nome. Vou dizer-to; mas dá-me o prometido dom de hospitalidade. Ninguém, é o meu nome. Minha mãe, meu pai e todos os companheiros costumam chamar-me Ninguém
- Homero, "Odisseia"


«Na odisseia, o caminho de partida é também o caminho de regresso. Aquele que rompe, que rasga e fere horizontes, é também aquele que, necessariamente, haverá de curá-los. Ulisses - de "oulhe", cicatriz - é o que faz o caminho, mas é igualmente o portador da cicatriz, pela qual o pai o reconhece e o "fio" (filos), que este representa, o recupera. A odisseia, nesse sentido, é também a ulisseia: o caminhar devém cicatrizar. Depois da ferida aberta pela senda da guerra (a "Ilíada", ou o "patos" do afastamento e do fratricídio) segue-se o caminho de regresso, da cura e do apaziguamento (a Odisseia). Recuperar o "filos" é recuperar o seu lugar cósmico, o triunfo da unidade sobre a dispersão, da plenitude sobre a decadência, da necessidade sobre o acaso. O homem que partiu para se engrandecer, cevando-se no morticínio, na devastação e no espólio, paga essa desmesura aprendendo, a duras expensas, que, afinal, tudo isso é insignificante, fumo que se dissipa num segundo, e ele próprio é "outis" - ninguém -, estrangeiro na sua própria terra, mendigo na sua própria casa, estranho à sua própria mulher, desconhecido do seu próprio pai. A viagem é catarse - purificação. O homem do mundo que parte para despojar cidades, acaba, afinal, por despojar-se: daquilo que nunca lhe pertencera, como daquilo que lhe era supérfluo. Purificação, saliente-se, quer dizer "libertação". Descobrir o que genuinamente lhe convém, o que essencialmente carece, é libertar-se de tudo o que o arrasta e afasta do seu destino, da sua realização; de tudo o que o dispersa e distrai, de tudo o que o encobre e confunde; em suma, de tudo o que o que o separa do seu próprio lugar. Nessa libertação arde a suprema necessidade humana. É o fogo dessa Necessidade, como no Homem que Ulisses representa, que, apesar do acaso aparente, guia através dos confins do Asco até à recuperação no leito da Harmonia. Esse, é um ímpeto vital, uma força cósmica de ser, não gana ou empurrão, mas convocatória perene à transparência e ao convívio. Como o regato que, após a enxurrada, recupera o seu curso risonho e morulhante. Como Ulisses, que, depois de tantas maquinações, artimanhas, lutas, dissenções e guerras aos deuses e à natureza, alhures, por mares e terras ignotos, volta à sua fundação ctónica, ao seu leito construído em aliança e simbiose à Fysis, ao Cosmos, à terra que o viu nascer. É nesse leito que Ulisses e "ninguém" se reencontram, que aquele que um dia se apartou, finalmente, se reúne. Mas, também, para nunca mais se separar: Ulisses será sempre "todos os homens" e, nesse convénio, será igualmente Ulisses, filho de Laertes, pai de Telémaco, esposo de Penélope, rei de Ítaca e navegante do Cosmos. Ulisses sozinho nunca existiu. Como "cada qual" não existe.
A moral da história de Ulisses e da lição de Homero dá-la-á Platão, mais tarde, ao descrever a eterna lotaria do Destino, onde cada qual escolhe o seu. Chamado a reencarnar, após a morte correspondente à sua vida aventurosa, Ulisses, o mais prudente e astuto dos homens, manteve-se placidamente arredado de corridas e disputas. Mordomias e principados não o seduziram: escolheu, discretamente, uma simples vida de humilde anónimo.»

- Passagem quase final do tal "Livro" que alguns leitores amigos me vêm recomendando que escreva. E, quase apetece dizer, um excelente mote para encerrar esta labiríntica viagem.

segunda-feira, junho 16, 2008

O Todo que pulsa em cada qual

Em 10 de Fevereiro de 1969, numa das suas conversas em Família, Marcelo Caetano, dizia:
«Andam hoje outra vez muito em voga os termos "direita" e "esquerda" para significar posições políticas em relação às quais se procura situar o governo. Trata-se de palavras de sentido muito equívoco. Todavia, se a essência da "esquerda" está no movimento, se o espírito da "esquerda" é o da reforma social, não me esquivo à qualificação que dessa tendência possa resultar. Mas na medida em que a "direita" signifique a manutenção da autoridade do Poder para permitir a normalidade da vida dos indivíduos, o respeito das esferas da legítima actividade de cada um e o funcionamento das instituições que asseguram a ordem - então, e sobretudo nos tempos que correm, creio que nenhum governo, em qualquer regime que seja, pode deixar de ser dessa "direita". A luta contra a subversão que lavra com intensidade pelo Mundo, obriga por vezes a medidas que despertam os protestos daqueles que, consciente ou inconscientemente, fazem o jogo revolucionário, mas que traduzem a defesa natural de uma sociedade não disposta a perecer às mãos dos seus inimigos.»

Propunha, portanto, Marcelo Caetano que o governo praticasse um certo sincretismo operativo, sendo simultaneamente de esquerda e de direita. Como projecto a apresentar a portugueses, poderia até ostentar alguns méritos, uma tal receita. Sabendo-se de antemão como o luso aborígene consegue conciliar os opostos na maior das desportivas e descontrações - ao domingo vai à missa e ao sábado vai à bruxa -, as perspectivas até seriam, à partida, animadoras. Mas, se reunia potencialidades para cair no goto aos portugueses, congregava, ainda mais garantidamente, condões de desagradar a gregos e troianos, isto é, a todos aqueles saloios com pretensões a estrangeiros que sempre, à mama de novidade, por aqui infestam. Uns, belos trastes, porque exigiam que o governo fosse apenas de direita; outros, superlativos biltres, porque sonhavam que o governo fosse apenas de esquerda. Tudo trocado por miúdos, porque de facto era de charilices que se tratava, morto o pai, os filhos e os enteados disputavam e preparavam a zaragata em redor da herança. O eclético Marcelo queria que se sentassem todos à mesa, em perfeita harmonia, embalados ao som das suas paternais perlendas. A família devinha assim classe, trocando o pai austero pelo professor amigo. A progenitura, porém - entre mimosos, birrinhas, bastardos e ressabiados (todos eles édipos ávidos de matarem o pai tirano e largarem às fornicadelas na mãe Pátria), não estava exactamente pelos ajustes. Não estava mesmo nada. O desenrolar das peripécias havia de comprová-lo. E o resultado da romaria já todos conhecemos, se bem que contado das mais diversas maneiras, ao gosto do freguês e, sobretudo, do alfaiate. Noutras núpcias, alongar-me-ei sobre o assunto. Por agora, interessa-me apenas recordar a radiografia exacta – e profética – que Oliveira Salazar deixou do seu sucessor. Aconteceu no dia 1 de Junho de 1966, numa conversa com Franco Nogueira, à época Ministro dos Negócios Estrangeiros:
«- Marcelo Caetano é um belo espírito, tem grandes faculdades de trabalho, é muito culto e sabedor; mas não é flexível, não suporta a contradição mesmo em privado, não aguenta uma ideia oposta, e perde facilmente o moral, apossando-se de pânico e tendo então a tendência para seguir a corrente geral
Salazar não estava apenas a ser lúcido no diagnóstico: estava a gravar o epitáfio exacto do seu regime.

É, de facto, um dos erros metódicos – e elitoscos – deste país: acreditar que um excelente académico faz um excelente político, ou que uma resma de diplomas e bibliofagias é garante de esplendor cratosófico. A verdade que a vida e a experiência ensinam é, contudo, bem diversa: não basta apenas a pródiga faculdade de produzir belas e prendadas ideias, bem calafetadas a virtude e estofadas a doutrina: é essencial a força de vontade, a resistência moral e a perseverança titânica de as impor, muitas vezes, senão quase sempre, contra as modas do tempo, os torvelinhos cegos e geralmente turvos da correnteza, o eucaliptal das pseudo-elites invariavelmente amesendadas e, em síntese geral, o vórtice sempiterno que induz os estreitos e captos de vista a deduzirem o umbigo do universo no simples ralo de esgoto da História.
Com a agravante de que o paralaxe é duplo: tanto a multidão acredita nestes poços de sabedoria enchida à bomba nos ginásios e aviários da universidade (que é, por seu turno, cada vez mais monomania e monoversão), como cada novo diplomado, mal recebe o canudo, logo se imagina e fantasia investido de todos os super-poderes e brevês legisladeiros deste mundo.
Todavia, os políticos não deviam ser homens como os outros; como os padres, os médicos, os militares, os juízes, os professores, os escritores, os artistas, os artesãos, os pedreiros, os carpinteiros, os lavradores, os pescadores e todos os homens não deviam ser “homens como os outros” – homens ordinários, homens indistintos, amálgama de homens. Nenhum homem devia contentar-se em “ser como os outros”. Todos os homens deviam procurar ser também “cada homem”, ou seja, a realização viva desse extraordinário que em cada qual palpita e aspira, tanto quanto respira e vegeta. Todo o homem, que é kata-holos –conforme o Todo (e daí, por exemplo, o kat-ólico, o universal), não pode abdicar do seu ser kata-ekaston – conforme a cada qual ( e daí o individual, o particular). Pois tanto quanto pertencente e orbital do Mundo imediato, ordinário e próximo, o homem pertence também a algo longínquo, a esse fora do mundo, a esse extraordinário que exorbita de todas as classes, categorias e mesuras. E a que tanto pode chamar-se Deus, como Ser, como “eu mesmo”. Um “eu mesmo”, um “eu próprio” que está nos antípodas da egomania plástica hodierna e cujo conhecimento constituía um dos mandamentos da idade de ouro da civilização. "Conhece-te a ti mesmo", que é como quem diz: Procura-te lá bem no fundo...e encontrarás Deus. Ou seja, encontrarás o Outro. O autêntico.

Pois o Homem é essa tensão entre o imediato e o longínquo – esse equilíbrio afinado em que o Todo e a parte coincidem porque se reflectem, donde resulta a harmonia –; ou essa alienação destrambelhada em que se digladiam e se abominam, donde frutifica o ruído. E a ruína.

Não se foge ao Destino. Como não se foge de si próprio. Tornamo-nos no assassino que segue, sombriamente, atrás de nós. Quem foge porque pensa que ninguém vê nem ninguém tece e vai encontrar abrigo ao virar da esquina da ciência ou do mercado, engana-se redondamente. Não vai encontrar a salvação: vai descobrir a desgraça. Melhor dizendo, vai encontrar o Destino, mas à força de catástrofe.

E tanto acontece às pessoas como aos povos. Aconteceu-me a mim e, por isso, sei bem do que falo. E aconteceu-me a mim, notem bem, duplamente: quer enquanto homem, quer enquanto português.

domingo, junho 15, 2008

A Taxa angélica

Ora bem, elucubremos...
No entanto, uma empresa que apresenta um tal montante de ganhos não pode assumir riscos inerentes à sua actividade. Quando existem vários milhões de anjinhos disponíveis, de carótida sempre pronta e tetinha a dar-a dar, para quê arcar com essa maçada?... Há clientes que não pagam (porque faliram, emigraram, faleceram)? Não faz mal: pagam os outros por eles.
É claro que a carneirada, por uma questão de cultura atávica, paga e não bufa. E a seguir, certamente atraídos pelo sangue na água, podemos estar seguros que acodem, em espadanante alcateia, a Banca e a Galp, para nos cobrarem os assaltos, os desvios e os percalços inerentes aos tradicionais pecadilhos dos familiares das administrações.
Ou não fosse isto o paraíso da ladroeira, em que o Estado age como se fosse uma grande empresa, as grandes empresas agem como se fossem o Estado e, todos juntos, actuam como se imperasse, à tripa forra, a pura lei do covil.
E, afinal, é só mais um item na factura - a seguir à "Contribuição audio-visual": a Taxa angélica.

Viva a Irlanda!




A terra que já tinha parturido Swift e Sterne, respondeu agora com um sonoro "Não!" a toda esta burrocracia kafkiana que nos embosca e pecuariza.

ABENÇOADA IRLANDA!

Abaixo a Europoia!

sexta-feira, junho 13, 2008

O gangue do paraplégico, ou Psico-tunning

Acreditem, esta notícia é um must:
«Gangue liderado por paraplégico desmantelado».


Logo à partida, é a própria redacção do título que nos deixa a arfar: já não lhe bastava ser paraplégico, o cabecilha, ainda por cima é "paraplégico desmantelado". Como é que um "paraplégico desmantelado" lidera um gangue, não me perguntem. Despenteado, talvez eu ainda conseguisse explicar. Mas, desmantelado, convenhamos, é obra. Estão à espera de quê, os senhores do Guiness Book of Records?...
Porém, o mais fantástico emerge a parágrafos tantos, na notícia, pela voz dum tal Babo Nogueira, Comandante da GNR de Felgueiras:
Quer dizer, além de "desmantelado" e cabecilha, o paraplégico é também pessoa violenta, homicida e traficante. O mais fascinante dos epítetos, quanto a mim, é o "pessoa violenta". Um paraplégico bestialmente agressivo, pelos vistos. Por outro lado, até é capaz de ser um bom exercício de ginástica imaginativa: conceptualizar-me a ser atacado por um paraplégico... Atropelava-me com a cadeira de rodas? Kung-fu telepático? Boxe voodu? Vitupério apofântico?...
É caso para dizer que isto já é um lugarejo que se assusta, quando não se espavore, com qulquer merda. E depois de bandos de aleijadinhos mentais terem tomado de assalto a governação, a economia, as academias e as artes -com a maior das facilidades, diga-se de passagem -, como não hão-de os paraplégicos avulsos e outros entrevados meramente motrizes sentir-se estimulados a formar pequenas empresas recolectoras? Ditos gangues, apenas quando, ao contrário da Galp, da PT, da Banca e quejandas associações de malfeitores (desde os partidos às autarquias), espoliam os galináceos sem alvará.

Calendários TIR -1. Janeiro



Em homenagem aos bravos camionistas. Malta, soube a pouco!...

quarta-feira, junho 11, 2008

Frankens-times II, ou Fart west

«Seeds of Deception».

(The material describes the conflict of interest among regulators that allowed GMO foods on the market; the wide range of adverse findings from animal feeding studies such as higher death rates, organ damage, reproductive failures, and infant mortality; reports by farmers of thousands of sick, sterile, and dead livestock; toxic and allergic properties of GM foods; numerous scientific assumptions used as the basis for safety claims that have since proven false; inadequate regulatory oversight; biased industry safety studies; manipulation of public opinion; and the mistreatment of scientists critical of the technology. )

O state-of-the-science... Cada vez mais longe do state-of-the-art. E cada vez mais perto do state-of-fart...west.

Frankens-times

Tele-Proliferação

«Nascem 20 bebés por ano com sexo indefinido».
Mas nada de desesperos. Porque, concluída a escolaridade obrigatória, em plena adolescência, já são, seguramente, vários milhares. Entre portadores de sexo indefinido, sexo hesitante ou sexo confuso.
A televisão não dorme. E vela por nós.

Psico-kinder



«Psicopatas tendem a usar colegas para subir na carreira profissional».
Sim, e nos intervalos, tendem a escrever blogues liberdadeiros onde dão vazão a toda a sua frenética sociopatia e celebram a sacanice mais deslavada. Isto, uma metade deles. A outra metade tende, não menos morbidamente, para os blogues de ciência ou militâncias fracturantes do estilo barbie progressista.

Se bem que, a fazer fé na definição de "psicopata lícito" fornecida -, ou seja, "um psicopata não criminoso tem, ao contrário dos que cometem acções punidas pela justiça, características que lhe permitem uma rápida escalada de poder em algumas profissões. Prejudica os outros e utiliza-os em seu benefício para subir na empresa, eliminar a concorrência ou manter-se no poder por formas moralmente censuráveis, ainda que nunca chegue a cometer actos ilícitos." -, somos tentados a deduzir que, quer o darwinismo, quer o capitalismo, na respectiva essência, são duas mundovisões decorrentes de grave e viciosa patologia mental. O que, devo dizer, até vem bastante de encontro às minhas suspeitas.
Uma coisa, porém, é certa: os psicopatas lícitos são muito mais perigosos que os ilícitos. Estes, mais tarde ou mais cedo, após uma pequena série de crimes violentos, acabam na prisão; aqueles, pelo contrário, e no decurso de uma ascensão meteórica, correm o sério risco de acabar no governo. Dos Estados Unidos. Onde se tornam particularmente homicidas. E industrialmente também.

domingo, junho 08, 2008

Coisas que a vida ensina

Ducunt volentem fata, nolentem trahunt.
(O destino conduz quem consente e arrasta quem não consente).

sábado, junho 07, 2008

Prioridades

É bom saber as prioridades dos governantes:
«Os iates de luxo estão a pagar o gasóleo ao mesmo preço dos barcos de pesca, ou seja, 80 cêntimos por litro».

Podemos, pois, ficar tranquilos. Pode arrumar-se a frota de pesca, pois uma outra frota mais necessária e sublime floresce. É sinal de que a nossa economia vai de vento em popa. Está a criar-se riqueza de três em pipa. Que felizes que os nossos liberalóides barbies devem estar!...

sexta-feira, junho 06, 2008

Absurdistão, como diz o outro

Esta notícia, que fala da integração de «500 alunos autistas ou com multideficências no próximo ano lectivo, em unidades especializadas das escolas», é muito intrigante. Se eles já são autistas e multideficientes não deviam ser dispensados de ir à escola? Não será isso desnecessário e redundante? Isto é, se a função actual da escola, em triplo tandem com a televisão e as bestas dos pais, é transformar indivíduos normais em autistas e multideficientes, que raio lá vai fazer quem já está naturalmente instruído e deformado? Não deveriam antes encaminhá-los directamente para estágios na política, nos jornais, nos conselhos de administração ou nas repartições públicas?

Para um país que se diz pobre, o que mais aqui se erige é monumentos ao desperdício. E ao absurdo.

Trela, coleira e tutela

Tenho um grande pecado a confessar e quero fazê-lo aqui, publicamente, para que o remorso seja sincero: experimento a maior dificuldade, além duma montanha de embaraço, em acreditar piamente que o mundo, a civilização e a humanidade racional e esclarecida principiaram no radioso dia 14 de Julho de 1789. Como atenuante, se é que umá aberração destas tem atenuante possível, asseguro que estou em tratamento e tudo faço para ultrapassar esta tremendo e obstinado desarranjo. Os peritos não concordam com os especialistas - o médico diz que é uma alergia incurável, o padre assegura que é uma heresia crónica adquirida, o vidente desconfia que é encosto e o psicanalista jura a pés juntos e por alma da mãezinha dele tratar-se de um Complexo boomerang cíclico (isto é, um complexo que vai e volta e quanto mais se manda embora, mais ele se apresenta à nossa porta) -, mas eu não desistirei. Também sou gente e filho de Deus, pelo que também tenho direito a experimentar certo tipo de êxtases, transportes e deslumbramentos. Falta-me, é certo, a capacidade, entrava-me esta não sei quê nas meninges, tarda em germinar-me a penugem nas costas, mas hei-de lá chegar. Nem que me esfarrape todo. À cambalhota ou ao pé coxinho, senão nesta encarnação numa das próximas vinte, hei-de conseguir. Custe o que custar! A delícia suplementar, penada e acrescida que não experimentarei então!... A delícia, o deleite, o regalo...e a regueifa!
Uma vez lá, alcançado esse estádio clarividente e luminoso, poderei então arvorar-me desses trajes solenes, carnavalescos, desses arreios dourados, com franjas, berloques e guizos, vulgarmente denominados "esquerda" e "direita", e, devidamente paramentado num deles (meu Deus, até estremeço só de pensar nessa volúpia!...), lançar-me, que nem gato ao bofe, nesses debates periódicos em redor da doutrina ou da cartilha, da sebenta ou do manual, do shampô preguiçoso ou do pentelho renitente e sequestrador de horizontes.
Agora, peço desculpa, mas tenho que ir escrever, de correctivo, mais cem vezes no quadro: "14 de Julho de 1789". A ver se me entra na cachimónia. Depois, em reforço terapêutico, tratarei de imaginar, pela enésima vez, o caos, a caverna, a balbúrdia e a selvajaria que não era, em todas aquelas dezenas de séculos anteriores - através dos quais a pobre humanidade penou e padeceu horrores -, sem a bênção da tutela política, a redoma da coleira económica e a vacina da trela mental da puta da burguesia. Eu disse puta?! Ora porra, outra recaída!...

quinta-feira, junho 05, 2008

Como lidar com a opinorreia - II




Vai para três anos que aqui escrevi o seguinte:

«Ocorre-me aquela fábula do "Velho, o rapaz e o burro". Fizessem o que fizessem, dessem por onde dessem –os dois a pé e o burro folgado; os dois a cavalo e o asno derreado; o velho montado e o catraio a penates, ou vice-versa -, havia sempre alguém na populaça que, arvorada de escândalo ou mofa, bramia de sua justiça, discordava ou corrigia.
Dizem que a moral da história se resume a "cada cabeça sua sentença".
Depois de ponderar no assunto, não concordo. Para mim significa algo substancialmente diferente. Ou seja: Que só anda aos palpites da malta, aos caprichos da turba, quem se insere nestas três categorias específicas: ou está gagá, ou é imberbe, ou é burro.»
Além desta convicção, há outro preceito que muito estimo e venho praticando, sistematicamente, ao longo da minha vida adulta: desagradar a gregos e troianos, ou dito mais apropriadamente, a romanos e cartagineses. É certo que, regra geral, me deixa em guerra com o mundo. Mas põe-me em paz com Deus.
Os gregos, do tempo de Sófocles, chamavam-lhe "hedoné". Eu traduzo por "alegria de viver". E parece-me que não traduzo mal.


PS: Naturalmente, a "hedoné" dos antigos estava nos antípodas deste "hedonismo" hodierno. É como comparar o prazer de ouvir Bach com o prazer de cagar. Isto é, enquanto para eles o templo do prazer era o noos (o espírito), para nós é estritamente o corpo. Atribuir e confinar o prazer ao corpo é como atribuir e confinar a visão ao telescópio. A modernidade é uma pura e avassaladora masturbação de meios, um onanismo instrumental e metodológico. De operador da natureza, o homem converte-se em mero operário duma qualquer conjuntura, servente duma determinada máquina ou mecanismo.

quarta-feira, junho 04, 2008

Diz o morto ao nu

Aqui há dias o Sir Bob Ganzas tinha feito uma mirabolante descoberta: que Angola era governada por malfeitores. Pensei para com os meus botões: "só agora, Sir Bob? E só Angola?..."
Pois bem, ontem, ou anteontem, é indiferente, um grupo de malfeitores reunidos consumou um não menos fulgurante achado: que «850 milhões de pessoas passam fome». Só 850 milhões, ó Sarcoiso? E fome não será um conceito excessivo? Não será antes "dieta rigorosíssima"? Ou "anorexia involuntária"? Ou "jejum obrigatório"? Ou "disfunção alimentar"? Ou "défice nutritivo crónico"? Enfim, há todo um léxico alternativo e suavizante que um certo pudor recomenda e o politicamente correcto baptiza. No melhor dos mundos, atestado de géni0s, cientistas, sacerdotes, pantólogos resfolegantes e pintelhógrafos desenfreados, decretos e petições em barda, eleições e palramentos a cada esquina, quando já temos sondas a esquadrinhar Marte e o Pacheco Pereira embasbacado nelas, não pode decerto haver fome. Há, quando tanto, gente com vontade a mais e comida a menos. Ou excesso de gente aglomerada em locais com pouca comida. E fome, bem vistas as coisas, todos nós temos. Fome de justiça, por exemplo, ainda somos uns quantos; fome da sobremesa alheia, aí, é para cima de bilião e só em Portugal quase todos; fome de fama, fome de poder, fome de bola, fome da desgraça alheia até - como poderá o anão sobressair se não derribar todos os gigantes? Com a agravante de que, para o nanico, qualquer tipo normal já é um gigante. Em resumo, fomes há muitas. E nada prova que a simples fome de pasto para o bandulho seja a mais excruciante de todas elas. Ao menos, o tipo com fome de batatas ou arroz só tem fome: não padece angústias, ganâncias, ansiedades, stresses, vertigens consumistas, invejas sitiantes, bulimias ideológicas, complexos de culpa, crises de identidade, dispepsias profissionais, ditaduras sexuais, etc, etc. O tipo que apenas tem fome já fica feliz com um prato de lentilhas e meio pão saloio. Se acompanhado dum copito, então, entra em êxtase. Nós, em contrapartida, já não ficamos felizes com nada. Porque temos fome de tudo. E quanto mais comemos, quanto mais tragamos e devastamos com o nosso apetite descomunal, insaciável, com a nossa infinita gula avassaladora, mais fome temos, mais vazios e famintos nos sentimos. Um vazio muito mais atroz e desesperante que o vazio do estômago porque é o completo, e cada vez mais desmesurado, vazio da alma. Eles, fome, têm-na; nós, somo-la.
Aliás, é essa a nossa tão ufana e propalada superioridade... Que ostentamos e jactamos por toda a parte e anunciamos já, em delírio, aos alienígenas das galáxias... que exibimos sordidamente, à maneira daqueles mendigos monstros, proxenetas da sua própria aberração. A superioridade da nossa fome, enfim. A nossa fome maior que todas as fomes - mãe, ama, filha e amante de todas elas. Andamos de megafone a apregoar a nossa megafome para quem nos quiser ouvir (para quem tiver esse infortúnio, para quem tiver o azar de participar de tamanho flagelo). Essa insatisfação permanente, que quanto mais se mima, lustra e amamenta, mais frustrada fica, mais insatisfeita se torna. Essa insatisfação parteira de todas as facções e facturas. Esse deserto mental que nem o dilúvio fertiliza.
Nessa medida, os 850 milhões que passam fome são apenas uma tragédia. Atrozes mesmo são aqueles não sei quantos biliões que, empanturrados em vacuidade e ninharia, sepultados sob a própria gordura, vegetam e chafurdam na mais indigente, arenosa e movediça das inanições: a mental. E moral.
Quais pobres supliciados perpétuos que, à semelhança das Danaides no Hades, em vão tentam encher o tonel imenso dos seus apetites com os crivos completos da sua ganância.
O que nos transporta, em forma de epílogo, à ironia dos mitos: é que, mais que relatar-nos o passado, profetizam-nos o futuro.

terça-feira, junho 03, 2008

Xenoclastia

O Ildefonso Caguinchas, se não andasse escafedido em parte incerta, em fuga a não sei que conspiração alienígena e em perseguição dum qualquer putedo franciscano, dir-me-ia: "Dragão, esta noite chinaram dois monhés no Terreirinho."
E eu, provavelmente, responderia: "Correu mal o ensaio das marchas?..."
O certo é que, apesar de tudo, ainda não chegámos ao Londonistão, onde as Urgências hospitalares, em cada três traumatizados que atendem, um é por obra e graça de naifada.
Por outro lado, como em boa hora o caro FSantos lembrou, ai Mouraria! Ai, ui, porra, chiça e foda-se!, quem te viu e quem te vê. Porque se ainda não é um em cada três nas Urgências, já são 11.000 dos 15.000 moradores do Socorro. Ou seja, mais de dois terços dos indígenas já são alienígenas.
Por este andar, um dia destes, o luso-totó, que a Democracia tem distribuído e aboletado pelos subúrbios e periferias com a sagrada missão de queimar combústivel de empreitada e, dessa forma assaz sisifiana e lorpa, contribuir para as sumptuosidades vitalícias dos mamíferos da Galp e dos chupacabras do Orçamento geral do Estado, num dos intervalos ou interstícios dessa parolice asfaltófaga, descobre que a cidade que o viu nascer e ser deportado, está agora tomada - ou melhor dizendo, infestada - por hordas de estrangeiros esquisitos em forma de vespeiro e de estrangeirados pluritachistas em forma de condómino fechado.
Resumindo, entre Ali Babás de arribação e Lilis Bibis de arribacinha, é a minha terra entregue aos bichos!... Os que reinam cá dentro a viajar lá para fora e os fervilham lá fora a viajar cá para dentro. O ideal era que, ao menos, os segundos comessem os primeiros. Mas na realidade são todos eles, em macabra cevadura, de roda da carcaça dum país e do despojo que resta dum povo entrevadinho, capado e amnésico.

O cadáver adiado
que procria
não é apenas poesia.
Também fede
e apodrece.
E sobretudo
morto o entrudo
finda a quermesse,
fica só e rebenta
com os vermes que sustenta...
E merece.

segunda-feira, junho 02, 2008

Saque-mate

«Tribunal Contas detecta 800 milhões em despesa pública ilegal».

Ouvido, o Ministro das Finanças disse que não "fica admirado", já que o balúrdio representa apenas "1,1 por cento da despesa total da administração pública".

Digamos que se um tipo, entusiasmado com o expediente, desatar a assaltar repartições de Finanças de empreitada, até perfazer uma módica quantia da interessante ordem dos 80.000 euros, também não deve causar qualquer espanto ou escândalo às autoridades. Escorando-se na jurisprudência, pode sempre argumentar, caso se veja, desagradavel e asperamente, catrafilado: "então, senhores, que é lá isso?! Guardem lá as algemas, baixem lá os canhangulos, acalmem lá os chavais! Afinal, isto só representa 0,01 por cento da despesa pública ilegal em 2007!..."

A voz da experiência

Dizia Chamfort, com ampla pertinência, que é “de desejar a preguiça dos maus e o silêncio dos tolos”. Transposto para esta nossa vil época, em que os maus vivem num afã permanente e os tolos rabiam numa algazarra constante, sentir-nos-emos, então, tentados a dela dizer que, mais que muito, deixa praticamente tudo a desejar.
Como suportar um tal manicómio? O mesmo Chamfort, por sinal, tem uma receita deveras atractiva: “a melhor filosofia, com respeito à sociedade, consiste em aliar o sarcasmo da satisfação à indulgência do desprezo”. Só tem um problema: cria habituação.

Epistemopolis com bandeira a meia-haste

Morreu o costureiro Yves Saint Laurent. O pensamento moderno está de luto.

domingo, junho 01, 2008

Frank-einsteinogogia

Uma profecia do chief executive of the Independent Schools Council: dentro de trinta anos, as criancinhas serão formatadas muito mais cientificamente, por dowload directo pelas respectivas mioleiras abaixo.


Portanto, em dois ou três decénios, se bem entendo a tecnologia, os burrocratas do ministério estarão habilitados e equipados para despejar -digo, descarregar- directamente, e sem necessidade de serventes que só atrapalham (vulgo professores), os programas luminosos na psicovasilha rasa das vítimas. Será a máquina dos chouriços em toda a sua apoteose. Depois de mais de meio século de clisteres televisivos, o intestino mental há-de estar pronto para o implante directo de "conhecimentos". Através duma espécie de algália eléctrica às avessas, ó maravilha das maravilhas, dispensar-se-á, de uma só vez, ingestão, degustação, mastigação e tantas outras fadigas supérfluas ou culinárias complicativas. No lugar de escolas, presumo, teremos, então, uma rede internacional de postos de abastecimento educativo, eventualmente integrados, em anexo aos actuais McDonnald's, nas Estações de Serviço. Será o chamado 3 em 1, para gáudio dos felizes consumidores: atestam o depósito dos veículos soberanos e, de caminho, a tripa e a mente (passe a redundância) dos pequenos títeres.

Credibilizacinha ou PBD

Confesso que o tríptico a votos era de rir e chorar em simultâneo. A Madame Min batia-se contra o Pato Donald e o Gastão poupadinho. Ganhou a Madame Min. Espera-se agora que pegue na vassoura e limpe a casa. E só depois voe nela.
Feliz, e de ego sobre-empapuçado, deve estar o Magoo Patalógico da Marmeleira. E os metralhas e Bafo-de-onças todos da confraria.
O assalto ao erário público e aos úberes da nacinha prossegue dentro de... uns anitos.
Entretanto, aproveitando esta dinâmica restauradora, o partido deverá mudar de sigla pela segunda vez: depois de PPD e PSD, chegou a hora do PBD, ou seja, Partido do Bando Desenhado.
O país, esse, já antegoza o seu futuro nas próximas legislativas: optar entre a roulotte de farturas do Rosa-choque ou o caldeirão da bruxa.