quinta-feira, janeiro 28, 2010

Abaixo de cão

Os poetas - os autênticos e, por isso mesmo, raros - são tratados com menos consideração que os cães. E não me refiro aos cãezinhos da burguesia que avistamos, de pelo escovado e barriga farta, a passearem os respectivos serviçais por esses trotadeiros de bairros coquetes. Não, refiro-me a rafeiros vadios mesmo, daqueles famélicos e remelosos, abandonados à sua sorte e em espera para o desenlace final no asfalto. É que estes, ao menos, depois de mortos, são abandonados pelos parasitas. Ao contrário dos poetas: depois de mortos é que os atraem. Em verdadeira chusma.

Lembra-me um dito que havia na tropa (no tempo em que havia tropa), que servia de slogan na recepção ao instruendo:
"Estás dois abaixo de cão e três acima de polícia".
Se fosse hoje, por mim, remodelava-o:
"Estás dois abaixo de cão e três acima de polícia. O que significa que se não és poeta, pareces."

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