quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Em bom português - I

É claro que isso dos judeus como se todos os judeus fossem iguais, por atacado, não existe. Ou existe tanto, enquanto forma de enunciação, como existe "os portugueses", "os "ingleses", "os americanos", "os alemães", "os espanhóis", "os ciganos" ou "os esquimós", entre uma miríade de outros povos, etnias ou meros grupos excursionistas, musicais ou recreativos.
Mesmo os Beatles, que eram apenas quatro, não coincidiam nas personalidades nem nas idiossincrasias ou singularidades de cada um deles. A começar pelo instrumento... No entanto, em conjunto, produziam determinado produto característico. E quando dizemos os Beatles isto, ou os Beatles aquilo, pró bem ou pró mal, estamos pura e simplesmente a estabelecer uma crítica, elogiosa ou depreciativa, a um determinado conjunto. Um conjunto de indivíduos não significa que os indivíduos são todos iguais: quer dizer apenas que partilham determinada característica.
Tudo isto para explicar uma coisa muito óbvia e simples; quando referimos em género, ou em espécie, quer dizer isso mesmo - género ou espécie. Não significa indivíduo. Desde Aristóteles que o critério está bem delineado e exposto, pelo menos para todo aquele que não se contente com o ser papagaio e procure ser algo mais: humano, por exemplo. Aliás, esse é precisamente, desde o livro Zeta da Metafísica, há 24 séculos, o limite da própria ciência humana: não alcança o indivíduo. E era bom, para variar, que o indivíduo se capacitasse disso. Poupava-o a muitos amargos de boca e figuras tristes. E dispensava-o, ainda mais, de cada vez que ouve falar em espécie, de ir a correr enfiar-se lá dentro, como se lá coubesse por inteiro e absoluto. Não cabe. E é extremamente estúpido meter-se, clamando para que não o metam. Não verdade, não metem: apenas lhe abrem a cancela e estendem a passadeira. O resto ele executa sozinho. Enfia cabeça no balde e brada ó da guarda que o querem afogar.
Pode parecer que esta elementar noção da diferença entre género, espécie e indivíduo é um mero bizantinismo académico. Não é. Houve um tipo que disse que a ignorância é o mal. Se não é, imita-o - ou, no mínimo, aduba-o e faculta-o - muito bem. Pode parecer que o principal foi uns terem metido outros feitos gado em vagões de comboio. Pode parecer que o algoz reúne toda a factura e deve pagar o preço inteiro, com juros e sobretaxas. Mas, de facto, tanto ou mais grave que haver uns prontos para fazerem dos outros insectos (que sempre os há, ainda hoje para aí zanzam sob os mais diversos, insuspeitos, coloridos e melífluos trajes) é o facto de haverem outros a pensarem-se como gadeza ou como insectos colectivos. Isto é, pior, realmente pior que haver gente a querer enfiar outra gente em comboios, é haver gente predisposta a entrar neles. E gente a treinar e adestrar gente para esse efeito.
Não sei quantos judeus foram massacrados durante o III Reich. Assim, assado, desta ou daquela forma. Essa contabilidade não me seduz nem excita muito. Tudo aquilo foi um descalabro, esse episódio e a própria guerra onde decorreu. Um puro hino à impiedade, agora na sua forma industrial. Tenho por Hitler a mesma consideração que tenho por Staline, Churchill e Rooseveld: Quatro hienas de alto coturno que, se vistas do céu como representantes da nossa espécie, hão-de causar nojo e vómito à galáxia inteira. Todavia, no que às específicas atrocidades cometidas pelos alemães sobre judeus concerne, em Nuremberga (e até hoje em imarcescível patíbulo) foram julgados, demonizados e banidos da raça humana os culpados? Julgo que não. Os Nazis - no seu departamento especializado - foram apenas os carrascos, os executores. Portanto, condenou-se o carrasco, o imolador. Falta julgar quem conduziu as ovelhinhas ao sacrifício, quem entregou as rezes nas mãos do carrasco. Os mentores (mentecaptores) do carrasco? Bem, continuam por aí na maior; Darwin já é santo e Hegel, só para citar os mais emblemáticos, para lá caminha. Apenas o pobre Nietzsche, que continua pau para toda a obra, padece no pelourinho. Ah, e, claro, Céline. Foi depois de ler as Bagatelles que o Himler entendeu a chacina asséptica como imperativo categórico.
Então e os mentores da ovelhinha? Os pastores e seleccionadores da dita? Foi el-rei Dinheiro, o tal deus profano, que joeirou? Quem teve dinheiro para pagar a portagem safou-se, quem não teve foi para o calvário? Para meu grande espanto, o Rothschild austríaco safou-se com uma perna às costas. Quando até era suposto simbolizar o judeu na sua máxima perfídia e malfeitoria. Era suposto e merecido, reconheça-se. E no entanto... ei-lo feliz e contente nos Estados Unidos, depois de passar pelas mãos das SS. Amáveis que eles foram, os da caveira. Dá cá parte da massa e vai-te lá embora.
Bem, quanto aos mentores da ovelhinha, há quem diga que saíram altamente gratificados de todo aquele imbróglio. Andam por aí, arrotantes e pesporrentes, a tentar limpar as mãos ao anti-semitismo e a não sei mais quantos mil gambosinos de ocasião. Suspeito até que nisto, como em tudo, se cumprem atavismos ancestrais. Tal qual se referia no tempo de Herodes: "a maior parte dos animais oferecidos para os sacrifícios são cegos, coxos ou doentes".
Cegos, digo agora eu, porque não vêem para onde vão; coxos, porque não conseguiram fugir a tempo; e doentes, porque já nem oferecem resistência ao seu destino.

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