domingo, janeiro 25, 2015

Crónica do purgatório

A Finança tem andado entretida a  a brutalizar a economia. Os governos, pela trela da Finança, vigiam e acolitam para que a economia não estrebuche nem refile. De modo a revigorar a economia, proclamam, o Banco Central Europeu vai imprimir uma batelada de euros. Para despejá-los onde?
Recapitulemos o processo: O BCE vai dar dinheiro aos bancos; os Bancos vão vender dinheiro aos governos/estados. Para combater a deflacção? Acham mesmo que sim?...
Então, grande parte da batelada é para revitalizar o Casino Financeiro: é lá que a banca corre, com certeza absoluta, a derretê-lo - a dar na bolha e,se possível, a criar novas bolhas. Pura maldade? Não, puro vício. A parte restante, quase toda, vai vendê-lo aos governos, muito provavelmente, para combaterem os gambosinos, digo, terroristas. A guerra aos gambosinos é essencial para o futuro da civilizacinha. Ora, cada gambo... terrorista, e eles são imensos, inesgotáveis, entre actuais, potenciais e metafísicos, custa um balúrdio de massa a combater (e com a agravante de, quanto mais se combate, mais se multiplica e alastra, conforme temos visto). Ao contrário, por exemplo dum desempregado, que após um investimento mínimo, por ele próprio previamente depositado, evapora-se e autotransfere-se para um limbo inefável longe de qualquer simpatia ou preocupação públicas. Então em tendo já transposto a vetusta idade de 35 anos é praticamente como se nem existisse. Some-se das estatísticas e desaparece dos gráficos a uma esplêndida e fantástica velocidade.
O terrorista, porém, é uma figura de suma-importância para os negócios e progressos materiais da humanidade. Requer todos os desvelos e cuidados. Até porque, ao contrário do desempregado, anda armado e raivoso. Justifica, pois,  uma vasta série de investimentos avultados, com equipamentos onerosos e tecnologias caríssimas. Há, depois, toda um nova mentalidade a presidir ao empreendimento: não temos tempo nem dinheiro para acudir aos nossos filhos, porque estamos muito ocupados a exterminar os filhos dos outros. A arma sempre foi o supremo motor económico, ou nunca repararam?
A antiga ideologia comunista explicava-nos que o  sacrifício do nosso presente era para garantia e em nome dum amanhã paradisíaco. Esta nova ideologia  assegura-nos que o nosso sacrifício presente é para prevenir e proteger dum amanhã infernal. Uma espécie de plano Poupança Reforma. O paraíso dos outros, já vimos, nunca chegou. O inferno com que estes nos nos assustam e encurralam, a este ritmo, se algum dia chegar, temo bem que já nem nos apercebamos disso.


PS: Mas nem tudo é mau. Muito deste desemprego jovem, o único verdadeiramente problemático para a elitose que nos pastoreia, vai também ser combatido: empregando estes mancebos desocupados na guerra aos gambosinos, pois claro. Quer dizer, "antes que te tornes gambosino, toma lá um fuzil e um saco e vai caçá-los". E depenam duas galinhas duma assentada: excesso de desemprego e excesso de população.

3 comentários:

muja disse...

"Bolha" é também calão para heroína.

Vivendi disse...

Usura = Escravatura

Vivendi disse...

Muja,

Só há bolha quando alguém dá à chama. ;)

Os "magos" da finança lá vão viciando a malta até à overdose.

Ressacar?
Desintoxicar?
Acordar para a vida?

Naaa! A malta quer é viver na ilusão.