sábado, outubro 31, 2015

Coprarquia

Segundo o DN, «O Tribunal da Comarca de Lisboa esclareceu hoje que a providência cautelar de José Sócrates contra a Cofina "não proíbe a publicação de notícias", mas "apenas" a divulgação de elementos do processo em segredo de justiça.»

Se isto é próximo da verdade (afinal, a verdade é exclusivo do grupo Cofina e dos seus consumidores), então o Correio da Banha não está impedido de publicar notícias sobre o Pinóquio I, mas apenas notícias que violem o segredo de justiça. A censura, por conseguinte, a haver, não é infligida ao tal Correio da Banha, mas aos magistrados da procuradoria que publicam compulsivamente no inefável pasquim. Trata-se, assim, duma censura bem mais gravosa e censurável do que a simples censura à liberdade de expressão: é uma censura à própria Justiça. Pior: Auto-censura! Um atentado, no mínimo, aos fundamentos da república, de democracia e do estado de direito. Não se fez o 5 de Outubro, o 25 de Abril e o 31 de Fevereiro para um despautério destes!...

E pelo que se vai assistindo, a liberdade de expressão espelha-se no segredo de justiça e ambos estão ao exacto nível da qualidade das governações. Às tantas, já não se distinguem os magistrados dos jornalistas, os jornalistas dos pulhíticos e tudo isto, em turbilhão, dum regato de imundície ao estilo das piores descargas de suinicultura a céu aberto.
A república não existe: chafurda. O que vale é que o estrangeiro já não se distingue: promove.

quinta-feira, outubro 29, 2015

Do Vácuo Ruidoso (r)

Fruto dum materialismo balofo e grosseiro que, nos últimos séculos, tem avassalado as mentes, corrompido os corpos e viscerado as almas, vem-se caindo, mais até que na tendência, no vício de confundir essência com circunstância. A pobreza ou a riqueza não são essências humanas: são meros acidentes, puras circunstâncias da existência. Não é menos homem o homem apenas porque é pobre, nem é mais homem o homem só porque é rico. Bem pouco é ter muita coisa - ninharia, na verdade. Ter não acrescenta nada ao ser de cada qual. Apenas o nanifica, mutila e irrisa quando se arroga aleives de substituição. É melhor o inválido só porque tem uma cadeira de rodas? Vale mais o aleijadinho só porque possui um ror de próteses? Só num mundo em que todos se degradem a inválidos e aleijões. Só numa enfermaria de amputados e autofágicos.
"Ah, mas não é nada disso!" - proclama-me o junkie porta-coisas. "Os meus teres não diminuem o meu ser; pelo contrário, amplificam-no!" E, como prova eloquente dessa excelência, apresenta-me uns ouvidos descomunais, uma língua desmesurada, uns olhos ultra-devassantes e um naríz de enormíssimo alcance. Ouve, vê, fareja e palra cada vez mais longe, cada vez mais alto e, em suma, cada vez mais. No entanto, pensa, reflecte e compreende cada vez menos. Esta hipersensualidade exorbitante é só a máscara do seu raquitismo espiritual. O excesso de sensações, de sensacionalismos apenas promove, por arrasto, a ausência clamorosa de senso, o atrofiamento de toda e qualquer hipótese de sensatez. À medida que se inunda de mundanidades, esvazia-se de si; na proporção em que se embriaga e empanturra de sentidos, perde o sentido. A enxurrada, porém, não é só de fora para dentro, pelas comportas abertas da imbecilidade cultivada, premiada e campeã: de refluxo, é também despejo. O porta-coisas lava o cérebro no esgoto do mundo. E se é verdade que a função faz o órgão, não é menos verdade que a prótese apenas preenche o seu vazio, quando, como é avassaladoramente o caso, não o engendra e fabrica.

quarta-feira, outubro 28, 2015

Futuro quase presente

Num futuro próximo, os restaurantes, após banimento e anátema dos fumadores, vão ter que disponibilizar zonas sanitarizadas para comedores de presunto, alheiras e salpicões em geral. A Portugália, em vez de bifes, vai especializar-se no tofu. E a cerveja, não tardará muito, há-de trocar, obrigatoriamente e sob patrulha severa da ASAE, o malte pela soja. 
Na paratopia avançada, fumadores, devoradores de francesinhas, carnívoros em geral e heterossexuais impenitentes refugiar-se-ão em subterrâneos (de minas e linhas de metro abandonadas).  Grávidas por inseminação natural serão obrigadas a abortar. A heroína, com selo de zona demarcada do Afeganistão, será legalizada. Os cartéis do  tráfico de droga transferir-se-ão, de armas, redes e bagagens, para o tráfico do Diesel. E chocolates.

É a geopolítica, estúpido!

A mecânica das paranóias induzidas é flagrante - basta prestar um pouco de atenção por detrás da cortina de fumo. Em nome do bem geral da humanidade, a paranóia é invariavelmente direccionada e, na essência, tem por finalidade prejudicar alguma coisa em concreto. A paranóia é uma arma.  Nesta paranóia recente das carnes conspiradoras tentem percepcionar quem é que sai mais prejudicado pelo bombardeamento do alarme merdiático.
Aceito palpites. E apostas.

terça-feira, outubro 27, 2015

Viver Mata!

Num tempo onde impera a paratopia aos molhos, o quotidiano esgota-se numa sucessão ininterrupta de paranóias induzidas em dose maciça. A mais recente a preencher antenas e ecrãs efabula acerca da carne de vaca e enchidos vários.
Em conformidade, vejo-me compelido a lançar o seguinte alerta:
- "Cuidado, respirar pode causar um ror de doenças, acidentes, intoxicações, envenenamentos, aflições, fobias, complexos, angústias, pensamentos e, no fim, seguramente, a morte! 

domingo, outubro 25, 2015

Revisionismos exclusivos




No Congresso Mundial Sionista (olha, afinal, o Sionismo existe mesmo), a decorrer em Israel, o Nathaniau lá do sítio saíu-se com a última pérola do milénio: afinal a ideia do holocausto final não foi de Hitler, mas do Grão Mufti de Jerusalém. O Adolfo apenas emprenhou pelos ouvidos, coitado. Ainda por cima dum tipo com título que mais parece uma sobremesa de hotel.
Não vou comentar este peculiar acesso de revisionismo holocáustico - esse sobretodos hediondo crime de hiperblasfémia! -, nem a sanidade mental do Natcoiso. No fundo, um sionista furioso dizer que foi o Hitler, o Rato Mickey ou o Conde Drácula, vai dar ao mesmo: zero credibilidade, absoluto chutzpah. A parte mais anedótica até nem é essa. De longe, a verdadeira cereja no topo do bolo vem da Alemanha, onde a chancelera Merkla se apressou a protestar: "A culpa é nossa e de mais ninguém! Só a nós pertence o opróbrio-mor pelo horror capital!"
Dir-se-a, assim, que no pós-Segunda Guerra duas nações parecem ter germinado de algum modo ao espelho: A Nova-Alemanha e Israel. Aquela, projectada na eterna culpa; esta florescendo na eterna vitimização. Ambas partilhando uma espécie de exclusividade mórbida e perversa: uns como exclusivos autores do genocídio superlativo, os outros como exclusivas vítimas do "holocausto".
Entretanto, não é menos curioso como alguns grupos judeus ortodoxos recusam Israel e o sionismo com base em objecções de ordem religiosa, ou seja, com sede no próprio judaísmo: Foi por determinação de Iavhé que os judeus foram dispersos pelo mundo - a diáspora é consequência de castigo divino. Por conseguinte,  só Iahvé pode determinar o fim da pena. O sionismo é, portanto, segundo eles, uma espécie de satanismo, de exorbitação humana à revelia de Iahvé. Por outras palavras, o judaísmo religioso considera ímpia a subaternização e a manipulação da religião pela política. Tratando-se duma teocracia milenar, devia ser ao contrário: tudo se submeteria à religião.
Pois bem, pelo que se vem assistindo, em inaudito e galopante desvelamento, é que o sionismo não coloca (apenas) o homem ao nível de Deus. Na verdade, trata-se em bom rigor duma nova e alucinada espécie de absolutismo. Onde  o outro proclamava "o Estado sou Eu", eles vão mais longe e compenetram-se: "Deus somos Nós". Tentem decifrar assim toda aquela arrogância e bazófia que lhes vai na barriga e deixareis de vos abismar com tão reiterada e absurda desfaçatez.

PS: Pois, para sermos rigorosos, eles não colocam o homem ao nível de Deus: divinizam o judeu. O homem, esse, vai sendo paulatinamente parqueado e confinado ao nível do chimpanzé. Com toda a cooperação e regozijo do dito, é preciso reconhecer.

PSS: Moral da História: só quem a falsifica pode corrigi-la.

quarta-feira, outubro 21, 2015

A cripto-escumalha

A ideia de que possa existir uma elite global a manipular secretamente os poderes planetários parece-me demasiado peregrina. A fazer fé no que se assiste por esse mundo fora, a realidade não infirma nem confirma tal hipótese. Bem pelo contrário, nega-a com todas as suas forças e portentos. Atesta não duma elite, mas, isso sim, duma escumalha global a armar à elite. Uma escumalha que tudo dissolve, terraplena e contamina. O que temos é uma indigência mental a conduzir as massas à indigência económica. Uma Europa e Estados Unidos (vulgo Ocidente) cada vez mais burocratizados e - sim, o termo é mesmo este- , sovietizados.
Um elite global, não obstante, já seria problemático e discutível; uma escumalha global a fazer de elite é simplesmente da ordem da imundície. E da catástrofe mais que anunciada.
É que nem se trata duma pseudo-locomotiva a puxar para desvios ignotos: esta merda descarrilou.

terça-feira, outubro 20, 2015

A essência do Óbvio

Leitores, deixem-se de megalomanias e delírios. Pela realidade é que vamos. E foi da realidade que extraí o essencial do postal anterior: os partidos não podem constituir governo. E tanto assim é, com verificação empírica à exaustão, que foi aos próprios partidos que fui buscar a ideia. Senão reparem, para os grunhos duma parte, os outros não podem ascender à governação senão é o desastre; para os burgessos da outra parte, os que governam são uma desgraça. Acontece que ambas as partes têm razão. Qualquer partido, de resto, considera os outros partidos como uma calamidade garantida. E, nisso, como a experiência tem atestado, todos os partidos estão certos.. Por conseguinte, tratava-se apenas de congraçar a plenitude da verdade: todos eles, em abarbatando a governação, conduzem à catástrofe e ao desgoverno obsessivo. A solução, portanto, é mais que óbvia: nenhum deles reúne condições para montar governo. São eles próprios, todos, que o certificam e proclamam.  
Resta-nos raciocinar e agir em conformidade.

segunda-feira, outubro 19, 2015

Para acabar de vez com a partidarite devorista




Brevíssima fórmula para a reconquista de Portugal pelos portugueses.... (E para que não digam que eu não apresento ideias construtivas)...

Não é segredo nenhum que eu ficaria encantado com a remoção, o mais violenta possível, do actual regime da nacinha. Coisa mais justa e urgente, aliás, não me ocorre, assim de repente. Porém, como não quero que digam que imponho à força as minhas ideias absolutamente razoáveis e sensatas, condescendo numa alternativa de transição, mais  degustável aos estômagos delicados e às sensibilidades efeminadas duma patuleia toldada e desvertebrada por decénios de tagarelice, lobotomia e liliputibérnia.
Pronto, em vez de encostados contra a parede e sumariamente despachados (nada de tiros, que isso é desumano: com catapultas!),  como recomendaria a mais elementar higiene e  saúde pública, os partidos até poderiam ser tolerados. Após banho geral de creolina, ser-lhes-ia mesmo permitido  concorrer a eleições e aceder ao recheio do Parlamento. Não podiam era constituir governo. Jamais! E ainda menos proceder a qualquer nomeação para quaisquer cargos do Estado. O governo era nomeado pelo Rei (barda merda o presidente da republiqueta, monumento à tolice e à imbecilidade de importação!), e exercia supra-partidariamente. De preferência, seria constituído por pessoas de reputada competência e probidade,  fora das quadrilhas partidárias (e desculpem lá a redundância da ideia). Procuraria orientar a sua acção segundo um programa resultante das propostas maioritariamente sufragadas, todas elas devidamente subsidiárias ao interesse nacional. Entende-se por "interesse nacional" não o interesse de classe x ou y,  e sobretudo não o interesse do estrangeiro por delegação em classe x ou y, mas o interesse de Portugal (vivos, mortos, passados, presentes e futuros, gentes e terras). O Parlamento, ainda assim, para não me classificarem de brutal, auferia do direito e do dever de fiscalizar a governação, podendo até prover à sua suspenção e remodelação por maioria de dois terços.
Entretanto, do sufrágio resultava uma representação não falsificada do universo eleitoral: os lugares na assembleia correspondiam não apenas aos votos mas também à abstenção (bem como votos brancos e nulos )-  reportando ao exemplo actual: 44% dos lugares ficariam vazios, sendo os restantes distribuídos de acordo às percentagens recebidas do eleitorado. Uma assembleia nestas condições não teria possibilidade de reunir quórum para suspender o governo, nem tão pouco, para orientar o seu programa executivo, pois não representava, em moldes plenos e legítimos, a maioria qualificada do povo. Assim, cumpria à iniciativa Real promover um governo que exerceria e responderia, durante uma legislatura, até novo acto eleitoral.
O Rei, naturalmente, não era eleito. Mas podia ser aconselhado, ou forçado a abdicar em caso de manifesta incapacidade ou grave risco para o interesse nacional. Através de plebiscito, ratificado pelo Supremo Tribunal, as Forças Armadas e o Patriarcado. Apenas a concorrência unânime de todos estes factores promoveria à abdicação.
O Reino seria regido segundo as regras e leis essenciais à harmonia e progresso sociais, sem necessidade de redundâncias bizantinas nem labirintos jurídicos meramente movediços. Sinal de verdadeiro avanço no bem comum e no aperfeiçoamento cívico seria, em primeiro lugar, a redução das leis, e, de caminho, a redução dos impostos.
Vêem, ó coisinhos? Não é assim tão difícil nem mirabolante. E se isto é fascismo, então a vossa mãe não vos pariu: defecou-vos. E entenda-se "Mãe" no estrito e amplo sentido: de mulher e de Pátria.

O resto decorre e concorre para tudo isto, e se me chateiam muito ainda apresento um Tratado completo.


PS (ou PSD): apenas admito uma objecção pertinente a este monumento de razoabilidade: é que inibidos de constituir governo e de distribuir gamelas no aparelho de estado, os partidos extinguir-se-iam ou ficariam reduzidos a grupos excursionistas residuais. É verdade. Pelo que nem sequer constitui objecção, mas encómio.


domingo, outubro 18, 2015

Provincianismos



«Mas quando um príncipe obtém algumas províncias que anexa. como membro, a um principado mais antigo, então precisa de desarmar esse país, com excepção daqueles que, durante a conquista, demonstraram ser por ele. E mesmo a esses, deve aproveitar o tempo e as ocasiões para os tornar brandos e efeminados.»
- Maquiavel,   O Principe

A explicação da Europa no pós-Guerra (Portugal incluído, trinta anos mais adiante) é a simples e reles história de principados que se degradam a províncias.
Lendo os garatujadores profissionais e amadores da nossa praça, das folhas de couve aos blogues, tudo aquilo fede a saloiada, parolice e grunhido. Pavor!, a aldeia global segregou o bimbo ubíquo - nharro burgesso e parlapatão.

quinta-feira, outubro 15, 2015

LIberdade de Expressão, ou Whisky de Sacavém (rep)

Respigado aqui do tasco e cada vez mais actual....

Mas se o ser, como ensinava Aristóteles, se diz em múltiplos sentidos, a Liberdade de Expressão, essa, pode ser avaliada, pelo menos, em duas dimensões, a saber, a qualidade de expressão e a quantidade de expressão.
Ora, neste nosso tempo de ruídos, grunhidos e seringas palrantes há, mais que a tendência, o imperativo categórico de considerar que dizer muito, palrar carradas de tanto, entornar-se por inúmeros púlpitos, palcos e pedestais, é dizer alguma coisa e é ser muito livre a todas as horas e minutos. Confunde-se liberdade com mera incontinência crónica; mascara-se opinião com mero despejo; trafica-se a mais gritante ignorância e, não raro, a mais rotunda falta de educação ou resquício de vértebra moral como sendo expressão de alguma coisa. Na verdade, a expressão duma ausência não exprime coisa nenhuma nem significa nada que seja. Assim sendo, não é livre nem deixa de o ser: pura e simplesmente, não é. É zero ou abaixo disso. E todavia, protagoniza, às escâncaras, o mais ubíquo dos fenómenos actuais, com devido patrocínio, impingência e promoção de meia dúzia de agências globosas. Mais até que avanço desbordante, adquire já contornos de enxurrada. "Podeis dizer tudo o que vos apeteça, desde que não digais coisa nenhuma", constitui o lema. É a cultura do solta-aleive como antídoto para a sempre indesejável inflamação da inteligência. Castra-se hoje a mente através da saturação noticiosa, como dantes se procurava exaurir através da escassez. Só que com bem maior perversidade e eficácia. A vítima da logocastração dispensa até torcionários sempre dispendiosos: automutila-se. Acaba esterilizada no seu próprio verbo hipersalivado. Sucumbe ao seu próprio vesúvio emissor. Enquanto palra, não pensa. Enquanto debita, não reflecte. Enquanto pasta notícia, ou gargareja sensação, ou cospe palpite, não digere (nem, vagamente, assimila). Quanto mais imerge no palanfrório desatado, mais se impermeabiliza a qualquer tipo de ponderação, equilíbrio ou ideia. Em bom rigor, nem opiniões ostenta, porque, à falta de esqueleto próprio, nem cabide ortopédico tem onde pendurá-las. Se tanto, resume-se ao esfregão mental, à amálgama de desperdícios de plantão a óleos, sordidezes e gorduras de garagem ou estação de serviço mediática. Porque se não despeja, convencem-no todos os dias, não existe. Mas se não absorve, pior ainda: não tem.
Jóquei da fervura do instante, surfista da poeira do momento, janota do último ruído a vapor, flana à esquina do acontecimento (quanto mais escandaloso, melhor) com a virtude da rameira e a perseverança do colibri. Tudo comenta, mas nada entende; tudo ingurgita, mas nada retém. Sob sequestro opressivo duma actualidade em constante metamorfose, entrega-se à tarefa digna duma danaide: encher uma cisterna sem fundo com um crivo por balde.
Contudo, este primado da quantidade não impera apenas no universo mediático: a própria literatura, a música, as artes enfim, também já cumprem os seus preceitos campeões. Ainda mais formatada e passevitada que a "expressão jornalística" anda a "expressão artística". Confundem-se até, expressão política, jornalística, artística e até científica, num puré uníssono, numa papa milupa comum. Cumprem o mesmo critério editorial: os mesmos que determinam quem escreve nos jornais ou aparece nas televisões, condiciona e filtra quem escreve nos romances, nos compêndios e CDs, ou seja, quem é catapultado nas editoras e embandeirado nos media. Mas não se pense que são apenas os donos do harém quem torce e distorce a seu bel-prazer: os próprios eunucos policiam-se, emulam-se, lambuzam-se, envazelinam-se, promovem-se e catam-se uns aos outros. No fundo, tudo se degrada doravante a mera xaropada publicitária, e não é apenas o jornal que se relaxa a pasquim imarcescível: é a própria linguagem literária (onde podemos incluir a "científica", na sub-cave) que estiola ao nível da mera bacoralalia efervescente de slogans, receitas, telegramas e anedotas. De tal modo que, se a ficção mediática raramente excede a prosopopeia ranhosa, já a literária, por seu turno, sem vergonha nem remorso, desalambica-se pelo algeroz duma contínua onomatopeia dodot.
Catalogar, assim, como liberdade de expressão todo este entulho da mera quantidade de expressão é não só rotundamente falso: é absolutamente obsceno. Pois, de facto, constitui, com todas as letras, o seu oposto. E tanto quanto atesta da ausência de expressão (porque destituição completa de autoria, autenticidade, originalidade, personalidade e autonomia), também procura, em perfeita sincronia, o seu extermínio.
Basta atentar como na realidade, por regra moderníssima (e ainda há pouco tempo podemos testemunhar um episódio desse tartufo jaez), são os grandes açambarcadores, armazenistas e empreiteiros -em suma, são os maiores falsários e mixordeiros - da "quantidade de expressão" (ou seja, e dito com propriedade, os inesgotáveis agentes, tarefeiros e moços de frete da "inexpressão") quem geralmente brama, em tom seráfico e descabelado, pela liberdade de expressão. Quer dizer, são os apaniguados - frenéticos e furiosos - do ruído (seja ele instalado, seja em ardores de instalação) quem mais barafusta pela redenção da música.
Não sabemos, com a segurança e clarividência que só Deus possui, onde mora a verdade. Mas duma coisa podemos ter a certeza absoluta: não vive em casa da propaganda. A não ser que ao matadouro já se chame residência. O que, bem vistas as coisas, neste mundo às avessas, cumpriria até toda a lógica.

Aquilo que denominamos como facções, na realidade, são meras erupções dum único fenómeno: a contrafacção. Da verdade. Mas, não obstante, representa o pão nosso desta "democracia de sacavém". Quem é como quem diz, esta zurrapa a imitar, rascamente, uma qualquer destilaria anglo-saxónica.

quarta-feira, outubro 14, 2015

Outono em Rilhafoles






Minoria PaF (20% dos eleitores) - Neo-prec! Neo-prec! Usurpadores!...Socorro!.... Acudam!...Às armas! Aos abrigos! Ao penico!...

Minoria PS (ainda menos de 20%) - Vá, não se baldem! A Catarina às cavalitas do Jerónimo e eu às cavalitas da Catarina!..."

Minorias BE/CDU (ainda muito menos que as outras duas) - Vá, ó Tó, não sejas totó. Sobe, caraças! deixa-te de merdas!...Sempre a mesma panhonhice, da-se!"

Minoria PaF - Ó da Troika! Ó da Troika! Gullag! Magog! Prec-Prec! Phol-Pot! ketchup!...

Minoria PS - Estou-vos a ver. Não pensem que me enganam. Não nasci ontem... Nada de baldas à última hora, ouviram!... manhosices, é que nem sonhem.

Minorias BE/CDU - E ele a dar-lhe. Monta, cara***! Seremos o pedestal de aço, que a muralha acabas de deitá-la a abaixo para inglês ver!..."

Minoria PaF - Baixem os ratings, subam os juros, desçam as calças!... Papão, não! Contra a bruxa má, Sofá, sofá!... facebook! Lucky Luke! Porky Pig! Big Mac!!...

Minoria PS - Bem, vou amagotar. Estão bem seguros - digo, coesos (seguro dá azar, fosga-se!)? Olhem que eu ainda sou pesado...

Minorias BE/CDU - Pois é.  Se calhar o melhor é subires para cima de mesa e a gente põe-se debaixo dela, simbolicamente. Mas atenção, não rapes tudo à pala, senão temos o caldo entornado!...

Minoria PaF - Frente Popular! retaguarda a arder! Abril sim, stalinismo não! Fonte Luminosa! Marocas, amigo, o povo afinal está contigo!... Centrão, centrão, és nosso irmão!

Minoria PS - Antes de subir na mesa vou primeiro explicar mais uma vez aos estranjas que a vossa conversão é o quarto segredo de Fátima.

BE/CDU - Cuidado, vão-te atirar lixo prós olhos!

Minoria PaF - Nem Salazar nem Cunhal - Pai Natal! Pai Natal! Coca-cola! Hallow'een! Carnava!  Escarro social! Etc e Tal...


MAIORIA ESMAGADORA DOS ELEITORES (43 % de Abstenção) - AHAHAHahahahah!!!!!!....


Politicolepsia e Demorróidas (r)

Entretanto, no circo do absurdo, assim como a democracia, de mero meio, ascende a princípio e fim de si mesma (temos a democracia para sermos democratas), também a política experimenta idêntica desfiguração: a política não tem como finalidade maior e mais nobre governar, mas o governo é um mero meio para fazer política. E assim se reduz a função, sobretudo, a um recorrente debitar e ininterrupto bombar de propaganda, no encalço do rasteiro descascar de ideologias geralmente rançosas, que aqui arribam já ao retardador e em estado de deterioração avançada. E onde, regravo, a fundo e fogo, a merda não se distingue: espelha-se.
No resto, redunda num quadro que escuso de repetir por outras palavras e apenas relembro na sua tão infeliz quão perene actualidade:

Passámos daquilo que, segundo os especialistas e tudólogos, era um país politicamente atrofiado para uma província politicamente hipertrofiada. O tremendo défice deveio enxurrada. A fome deu em diarreia. Quer dizer, se no tempo de Oliveira Salazar a política era tarefa exclusiva de um homem, hoje a política é ocupação geral e compulsiva da malta toda. E quem não a pratica, frenética e obsessivamente, lixa-se.
Nas escolas ensina-se? Não, faz-se política. Os hospitais tratam da saúde? Não, tratam da política. Os tribunais administram a justiça? Não, ajudam à política. A polícia investiga? Não, faz política. Os jornais informam? Não, fazem política. A própria tropa que, por estatuto e princípio, não devia meter-se na política, não faz outra coisa: política; ainda por cima internacional. O país inteiro anda a fazer que anda mas não anda, anda a fazer que faz mas não faz, em suma: de norte a sul ninguém faz corno de jeito porque anda tudo muito ocupado a fazer política. A Igreja faz política, a ciência faz política, os jornalistas fazem política, as universidades fazem política, o sector privado faz ainda mais política que o público, porque senão, queixam-se todos, ninguém se safa. Dos berçários aos lares da terceira idade, é política que nunca mais acaba!
Da política confinada, resvalámos assim para a política desenfreada. Antigamente tínhamos a polícia política e é o trauma, a compunção recorrente, a choraminguice militante que se celebra, semana sim, semana não. Hoje, em regime de corrimento gorjal, temos escolas políticas, hospitais políticos, tribunais políticos, forças armadas políticas, padres políticos, jornais políticos, televisões políticas, serviços de informação políticos, universidades políticas, empresas políticas, até os clubes de futebol já são meio políticos – e ninguém se queixa. Enquanto a banca der corda e a publicidade tocar a campainha, hão-de porfiar no rilhafoles.
O próprio Governo, que mais desgoverno parece, é uma redundância pegada, uma desmultiplicação clonística de um único ministério: o da política; e de um único ministro: o Primeiro. Sim, porque bem pouco se está lixando o Ministério da Educação para a educação, ou o da Justiça para a justiça, ou o da Saúde para a saúde, ou o do Ambiente para o ambiente: todos eles zelam e cuidam é da política. Não fazem outra coisa senão converter e dissolver tudo na política. Política caiada a finança. Aos baldes.
O que, de resto, cumpre uma lógica inexorável. Manhosamente, os eleitores entronizam um tipo que a única coisa que sabe fazer, após maturação intestina num país que não faz outra coisa, é política. Ninguém pode esperar que administre o país, que oriente a nação, que aprenda com o passado ou que prepare o futuro. Faz aquilo que sabe fazer, em que foi amestrado: política. Ou seja, flutua de modo a que o seu umbigo fique à tona, ao leme, ao sol. O maior número de dias possível.
Isto há-de chegar a um ponto que um tipo, um dia destes, chama um canalizador e em vez da reparação requerida, da torneira arranjada, recebe um comício. Há-de chegar, minto: já é assim. Entra-se num táxi e descobre-se um Demóstenes ao volante; vai-se ao barbeiro, e leva-se com um Catão de tesoura e pente em riste; passa-se na padaria e depara-se com uma Rosa Luxemburgo em erupção; convoca-se um limpa-chaminés e temos um Lenine de escovilhão pela certa; fugi da mulher-a-dias se não quereis aturar um Marcelo Rebelo de Sousa ao ralenti.
Os Atenienses clássicos tinham a mania dos tribunais; os romanos a tara do circo. Nós, lalonautas destravados, mascadores sonoros de crises elásticas, transformámos o país num frenético parlamento! Num palratório geral e compulsivo! Num grulhódromo desenfreado!´
É um país inteiro em demorragia oral, a entornar-se pelos cantos, a desbordar-se pelas esquinas, ruas, escadas, janelas, televisões e autocarros? Sim. Sem dúvida. E com uma grande camada de chatos, para cúmulo da comichice. E outra ainda maior de Demorróidas. Que, curiosamente, até passam por amigdalite.


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Quando naquele já célebre postal da Disfunção Pública (passe a imodéstia), se assssinalava o grande problema do Estado (que consistia na hubris Disfuncionária, ou excesso de disfuncionários), uma questão ficava implícita e por responder: como distinguir o Disfuncionário do Funcionário? Pois bem, em definição sintética, poderíamos dizer que o Funcionário é aquela criatura obsoleta que teima em prestar um serviço; Disfuncionário é aquele que faz política. Também, e inerentemente, os funcionários conseguem distinguir-se uns dos outros, pelo menos segundo espécies (educação, justiça, segurança, saúde, etc); os Disfuncionários não: constituem um género único - uma amálgama, um magma, um despejo (e aqui, despejo no tripo sentido:  de ausência completa de pejo ou vergonha;  de fluxo de matéria indistinta;  de expulsão de residentes e inquilinos). Por conseguinte, enquanto o funcionário fica sujeito ao labirinto curricular, o disfuncionário não. Quer dizer, se o funcionário da educação só pode funcionar nesta (um professor  não pode candidatar-se a um hospital), o disfuncionário tanto pode disfuncionar nas finanças, como na saúde, como na educação, na segurança ou, onde quer que a real cunha, comissão ou gana partidária da última eleicinha o permita e promova.  Assim, o disfuncionário congrega não apenas o dom da omnisciência, como o da omnipotência e da ubiquidade malfazeja. Afinal, em se tratando de fazer mal (ou seja, de fazer política em vez de qualquer coisa de útil à comunidade), é indiferente o lugar. Ao contrário da função, que é difícil, penosa e requer uma grande dose de espírito de sacrifício, a disfunção é fácil, ultra-gratificada e não requer qualquer esforço de sabedoria, organização ou moral. 

PS: É claro que quando se diz agora "política", este conceito nada tem que ver com o significado original. Hoje em diz, "política" traduz-se num mero cumprir, não de qualquer finalidade do interesse público ou comunitário, mas da mera finança. Na perspectiva do Disfuncionário, a Disfunção Pública constitui apenas um sórdido expediente de auto-financiamento. A destruição dum país para que os seus Disfuncionários enriqueçam poderá parecer uma exorbitância aos contribuintes, mas aos felizes Disfuncionários sabe a verdadeira pechincha, autêntico negócio de ocasião. A todos eles, sem excepção, ao acederem ao providencial úbere, um lema maníaco telecomanda: "É agora ou nunca!"

terça-feira, outubro 13, 2015

O Regime da Decadência

 

«Fingindo dar lições aos reis, deu-as ele, e grandes, aos povos. O Príncipe de Maquiavel  é o livro dos republicanos»
- J.J. Rousseau, in "O Contrato Social"

Absolutamente de acordo. Na mosca!

«Um defeito essencial e inevitável, que sempre porá o governo monárquico abaixo do republicano, está em que, neste último, a voz pública quase nunca eleva aos primeiros postos homens que não sejam esclarecidos e capazes e não os ocupem com dignidade; ao passo que, nas monarquias os que se elevam são, as mais das vezes, pequenos rixentos, pequenos velhacos, pequenos intrigantes, cujos pequenos engenhos, que permitem, nas cortes, alcançar os grandes postos, só lhes servem para demonstrar ao público o quanto são ineptos, tão logo aí consigam chegar. No tocante a essa escolha, o povo  engana-se bem menos que o príncipe, de sorte que é quase tão raro encontrar um homem de real mérito no ministério quanto um tolo à frente de um governo republicano.»

Agora peguem nesta última digressão, do mesmo Rousseau, no sobredito Contrato Social, e confrontem-na com a nossa realidade republicana - tanto na primeira República quanto na actual "Democracia" (ambas, na terminologia de Pessoa, que testemunhou a primeira e corroborado por mim , que assisto à segunda,  puras oligarquias de bestas). è mais que evidente que a descrição de Rousseau reflecte o contrário da realidade (a quantidade de medíocres numa corte é menor que numa república, pura e simplesmente, porque a  quantidade de comensais é necessariamente e avultadamente menor. Ou seja, só há  um Rei e respectiva corte, e não uma miríade de monarcúnculos rastejantes, cada qual com a sua corte, estrebaria e micro séquito de sabujos, histriões e trampolineiros de serviço e atalaia. A regra verificada à exaustão é que a república não é um repositório de virtudes raras na monarquia, mas, outrossim, um vasadouro  amplificado e multiplicado dos vícios inerentes às monarquias na decadência. Ou não constituíssem essas repúblicas a mera promoção e autonomização dos principais agentes patogéneos, oportunistas e comsumptivos da decadência monárquica. Alcança-se então a célebre fórmula de Lampedusa: "É preciso que tudo mude, para que tudo fique na mesa". Ou seja, não se trata de refundação alguma dum novo regime depurado, mas apenas da prossecução desembaraçada não já da monarquia, mas tão sòmente da decadência descoroada desta.

Já agora, a grande diferença entre o Estado Novo e a Primeira República não está no nível de repressão, censura ou arbitrariedade que palpitasse superiormente no primeiro. Mas apenas que Salazar governou mais à maneira duma monarquia do que duma república - agindo suprapartidáriamente e não permitindo a proliferação das facções à mesa do erário. Não acabou com a corrupção nem com o parasitismo, apenas os reduziu a níveis aceitáveis e inócuos para a nação. Mesmo a zaragata civil, endémica entre nós, conseguiu amortecê-la a uma mera latência. Quando alguns apelidam de "salazarquia" o consulado de Salazar não estão a faltar completamente à verdade. Uma nação saudável nem é um parque natural de puros anjos, nem um recreio infantil de autómatos ultrapasteurizados: é simplesmente um espaço onde o vício, a anomia, a amnésia e o suicídio colectivo não predominam. Onde não ascendem de  residual a triunfal. Como qualquer patogenia num organismo cujo sistema imunitário entre em colapso.

Entretanto, o que transportou Rousseau àquela enviesada definição não foi qualquer observação lúcida e, ainda menos, imparcial da realidade. Bem pelo contrário, foi o refinado espírito de vingança para com uma sociedade e um  regime que o preteriu a Voltaire. "Não me dão colo, vingar-me-ei!". Há sempre um rancor despeitado por detrás da terapia furiosa dos grandes cauterizadores da humanidade.

segunda-feira, outubro 12, 2015

Hierarquia de cenários ou catástrofe

Digo-o sem qualquer rebuço: considero duma tremenda má fé e transbordante ciganice alguém, com os alqueires bem medidos, duvidar que a esquerda disfarçada de esquerda não seja capaz de desgovernar tão bem como a esquerda mascarada de direita. Francamente!... Um mínimo de sentido da realidade, senhores!

No entretanto, pairamos no melhor dos mundos: a esquerda mascarada de direita descabela-se a rosnar impropérios e cagarolices ao espelho; a esquerda disfarçada de esquerda desdobra-se em consultas, flirts e amenas cavaqueiras. Enquanto as coisas assim se mantiverem, neste estado de suspensão benigna, o país lucra, folga e avança. É que se sem presidente, vai para dezena de invernos, a republiqueta lá marcha a preceito, então sem Desgoverno era uma bênção dos Céus, um brinde digno de peregrinação nacional à Santa. Vou mais longe: Era mesmo o melhor que podia acontecer à nacinha nos próximos quatro anos: uns a gafanhotarem à toa; os outros a parlapiarem pelos cantos. Até aposto que diminuía o défice e a Dívida!

Isto, por conseguinte, era a melhor coisinha que nos podia acontecer, acreditem. A segunda melhor coisinha, já agora, era aquilo que sugeri anteriornente: todos no Desgoverno (o que resultaria numa paralisia completa e permanente do dito, com enormes vantagens para a pátria desoprimida). E já que estou com a mão na massa, sempre adianto o terceiro dos melhores cenários: a esquerda disfarçada de esquerda entende-se, conglomera-se e convida o tipo do PAN para formar governo. Com a condição de que os ministros sejam exclusivamente constituído por animais irracionais genuínos e não de imitação, como é geralmente o caso e tem sobreabundado nestes últimos quarenta anos. Quem não está farto de presidentes embalsamados, ministros empalhados e secretários de estado embebidos em álcool é porque também já faleceu e nem sequer deu por isso.

E pronto, estes são os cenários minimamente aceitáveis. Recapitulando: 1, Desgoverno nenhum; 2. Todos no Desgoverno; 3. Desgoverno de bestiário natural.  Tudo o que saia disto, ninguém duvide: é a catástrofe!




domingo, outubro 11, 2015

Consultório Oracular - V. Porque não sou Democrata



Aqui há tempos, um leitor perplexo (e bastante pândego), a quem aproveito para desejar um Feliz Natal, alvitrava acerca dum putativo "ódio á democracia" da minha "mente deformada". Segundo ele, a mente estará deformada pelo ódio, mas, para sermos cientificos, tanto poderia o ódio deformá-la como ser consequência duma deformação dela. Assim, e embora já o tenha esclarecido a ele em termos que julgo satisfatórios, convém proceder a uma explicação mais abrangente e definitiva para todo o universo intrigado, passe a imodéstia.
Ora, e para começar, o meu não ser uma coisa (entenda-se um atributo da minha essência) não implica necessáriamente que eu odeie essa coisa. Por exemplo, eu não sou limpa-chaminés, como não sou médico e também não sou saxofonista e daí não decorre que eu deteste limpa-chaminés, abomine médicos e nem possa ver saxofonistas à frente. Portanto, não ser democrata não me obriga a odiar a democracia com todas as minhas forças. Até porque odiar irracionalmente outras ideias, em forma, sistema ou museu, é coisa típica dos democratas. Um tipo diz "No dia tal Salazar discursou na assembleia nacional" e não "No dia tal, o fascista Salazar falazou no antro folclórico da ditadura" (como manda a Junta psiquiátrica)  e imediatamente qualquer democrata encartado, de mioleira ultra-pasteurizada e cerebrelo envolto em preservatido, conclama: "Salazarista!"  E vá lá não ser "salazarento" ou "fascistão" e já vamos com sorte. Seria pois muito estúpido e contraproducente da minha parte pôr-me eu a emular democratas para declarar que odiava a democracia ou qualquer outro sistema político  que fosse. Registem, se faz favor: não sou de ódios e ainda menos de rancores. O minha especialidade, de resto, é bem mais motivá-los do que que cultivá-los.
Podia , por outro lado, dar-se o caso de a democracia me causar repugnância, nojo mesmo. Mas isso seria confundir a democracia com os democratas. O facto de os democratas portugueses meterem nojo não implica também, necessariamente, e por arrasto, a democracia. Democracia e democratas, sobretudo portugueses, são duas entidades não apenas diferentes, como, dois conjuntos de cuja intersecção resulta um conjunto vazio. 
Aliás, em Portugal, e mesmo antes de explicar porque não sou democrata com minúcia exemplar, cumpre, de antemão, testificar que faço sinceros votos que os democratas - mas os democratas todos, mesmo todos, democratas populares e impopulares, democratas liberais e socialistas, democratas cristãos, ateus, agnósticos, muçulmanos, judeus e sobretudo filisteus, democratas directos e indirectos, democratas progressistas e reacionários, - se fodam! Se fodam, leram bem e, se não for pedir muito, se refodam!

Pronto, estabelecido o preâmbulo, passemos ao exórdio.
Passo então a explicar em detalhe porque não sou democrata

1. Porque sou português. A democracia parlamentar é um sistema que muito satisfaz, favorece e conforma os ingleses. Sobretudo porque, na essência, não a praticam, nunca praticaram e estão-lhe naturalmente imunes. Não vejo que lógica há em que se adopte em Portugal um sistema cuja faculdade ostensiva e finalidade comprovada é fazer felizes os ingleses. Não vejo, e a realidade também não, que sentido faz deduzir que uma coisa que se afeiçoa aos ingleses e lhes acarreta grande proveito, também é excelente e proveitosa para nós. E se a coisa funciona em regime de compensação, pior um pouco: ensinámo-los a beber chá e eles impingiram-nos o parlamento; péssimo negócio.

2. Porque o clima não permite. Reparem, eu adoro maçã de caju. Direi mesmo, se vós fosseis caçadores de dragões e arquitectasseis uma armadilha para capturar um desses seres arredios, garanto-vos, no meu caso era simples e garantido: bastava engodar com maçã de caju. Pelo sumo fresco da maçã de caju, não direi que sou capaz de cometer homicídios múltiplos, mas quase. Porém, o cajueiro é uma árvore caprichosa e criofoba. Recusa-se a viver em climas que não os tropicais ,onde não compareça qualquer esboço de frio ou semi-frio. Em Portugal não medra. Mal arriba o Outono, eis que que a planta entristece e morre. A democracia é a mesma coisa: não se dá no nosso clima. Primeiro, porque os democratas não crescem nem frutificam; segundo, porque em vez de medrarem democratas, medram ervas daninhas e respectivos filhos vivazes. E vorazes. Mesmo que se transplantassem para cá ingleses  não resultaria: fora da sua ilha carrancuda, os britânicos desenvolvem invariavelmente síndromes autoritárias para com os indígenas (para eles, a democracia é, antes do mais, um privilégio de casta). Ora, castas e castudos, mais possidónios e piangarelhóticos já nós cá temos em abundância. Pior: em cornucópia! E principia logo neles a incompatibilidade geral com a democracia.

3. Porque a democracia não é um fim da existência humana, mas apenas um meio para as sociedades se ordenarem politicamente. Acontece que, entre nós, apenas nos desordena, arruina, prejudica e transporta ao vício. Portanto, enquanto meio não nos interessa. Ou interessa-nos tanto quanto a heroína, o crédito desenfreado ou o consumismo toino, passe a dupla redundância. Todavia, as brigadas tóxicas (e zoinas) da ideologia democrática pretendem obrigar-nos à crença na democracia como fim supremo da existência, baliza da história e zénite forçado da civilizacinha. Não importa que não se ajuste a nós: nós é que temos que nos ajustar a ela, custe o que custar (mecanismo típico da utopia), nem que para isso metade da população fique reduzida à indigência, toda ela à dependência externa e os vindouros, cada vez mais escassos e improváveis, subjugados à penhora. Este filme sabe a regurgitado porque é regurgitado: os mesmos que estiveram por detrás da utopia socialista, estão agora a alimentar os fornos da utopia democrática. Messianismos rançosos destes são excessivamente óbvios e apenas vicejam porque a estupidez humana é fértil, infecciosa e imarcescível. Acrescendo que o deslumbradinho fácil, e desmemoriado atávico, constitui o principal portador e transmissor da maleita.

4. Porque ao contrário da democracia original, que era exercício de homens livres, e onde escravos, mulheres e metecos não votavam - corrijo: não eram elegíveis, porque a eleição não ocorria por sufrágio, mas por sorteio -, nestas democracias de contrafacção e fancaria, apenas votam escravos, gajas e metecos, e apenas são elegíveis sabujos, rameiras e eunucos.

5. Porque não dou qualquer crédito ou valor a mitologias modernas,  fantasias de galinheiro,  evangelismos de chiqueiro,  realismos de hospício, nem, ainda menos, a auto-lobotomias gregárias por acefalopedia adesiva.

6. Porque, detalhe nada despiciendo, um povo que não respeita os seus antepassados, a sua história e as suas tradições, não merece respeito, perde o respeito dos outros povos e  conquista a repulsa dos vindouros. Quem não honra as suas raízes, desplanta-se ao relento do mundo e condena-se  a vogar ao capricho do vento, da história ainda menos que do flato mal-cheiroso da digestão refastelada das potências.

7. Em suma, porque não sou nihilista. Nem doente terminal de disfunção eréctil, não apenas física, mas sobretudo moral e intelectual.

sábado, outubro 10, 2015

Todos no Palramento, todos no Desgoverno - Democracia geral!

Cada bando, entre frenético alarido e sórdida peixeirada  dos respectivos sócios, accionistas, crentes, acólitos, apaniguados e papagaios de serviço, arvora a sua legitimidade exclusiva na formação do desgoverno. Não se vislumbra motivo para tamanha algazarra. Sosseguem, estão todos, natural e profissionalmente, habilitados ao lúgubre empreendimento. Continuo a achar que deviam até tirar pastas à sorte: todos no palramento e todos no desgoverno, passe a redundância. Querelavam na Assembleia e querelavam no Conselho de Ministros. O resultado prático era o mesmo, mas, ao menos, sempre conferiam um pitoresco acrescido à coisa. E além dum vice-primeiro-ministro, essa figura tão emblemática do nosso avanço politico-civilizacional (ao nível das Angolas democráticas e outras cafreopolis iluminadas), usufruíamos, por exemplo (e em barda) dum segundo-primeiro-ministro. dum semi-primeiro-ministro, dum terceiro-primeiro-mistro e por aí fora, de acordo ao número de partidos amesentados. Sempre era um carnaval mais completo e divertido. Vou mais longe: é um escândalo de ilegitimidade que assim não se proceda! Pois se das eleições para a Assembleia legislativa, vulgo Palramento, se deduz o governo, então que se deduza sem mutilações nem apartheids capciosos,  os quais, reconheça-se, em nada abonam do espírito democrático dos meliantes eleiçoados. Nunca ouvi ninguém apontar o óbvio ululante, o paquiderme no meio da sala: que o mais lídimo e pulcro dos fundamentos do chilreante "estado de direito" reside na separação entre o poder legislativo e o poder executivo. Desde Locke que é esse o mandamento-mor, a pedra de toque para todo o esquema. Os nossos adoradores de Locke, ultimamente convertidos à gamela PaF (Pá Frentex, neo-puggessistas unidos vencerão), pelos vistos, nunca o leram, ou leram mas devoraram queijos de empreitada entretanto. Ora, o que se tem visto e a que se assiste sobretudo com maiorias roncantes no Palramento é ditaduras quadrienais em forma de sobado ou caciquerie. Um chefe de bando abocanha o poder e desgoverna e legisla sem qualquer freio, tino, nem escrutínio efectivo. Quer dizer, numa esplendorosa distributividade, o símio toma de assalto o partido, o partido toma de assalto o Estado, logo o símio toma posse do Estado. E eis um Couteiro-Mor entronizado, à boa maneira da alegoria Jüngeriana. O Cavaquistão e a Socratilândia foram exemplos refinados disso mesmo. O ditador partidário exerce a sua preclara tirania sobre ministros, secretários e deputados - a assembleia legislativa funciona como espécie de  copa e sanitário do  executivo. A este despotismo promíscuo e javardolas, toda a gente - de escrevinhadores de saguão a opinadeiros de gaiola - chama e classifica de "estabilidade".
Quando eu digo e proclamo, sem cansaço, que tudo isto clama, não por um qualquer D.Sebastião, mas por vassoura e barrela exemplares, de alto a baixo. todos me tomam por insensato e irrealista. Mais: perigoso conspirador. Se pensarmos que são os mesmos que tomam a mais reles, toina, sonsa e beata ditadura por democracia, acabo laureado, ovacionado e levado em ombros. 


sexta-feira, outubro 09, 2015

Mais tolices do Império Tolo



Num dia, o Império Tolo interroga asperamente a Toyota. Como explica esta  a abundância de veículos novinhos e artilhados da marca  sob as patas das bestas do ISIS? Responde a Toyota,  com a maior das sinceridades, quase aposto, que não faz a mais pequena ideia É um mistério espantoso.
No dia seguinte, a chave para o enigma emerge: o diagnóstico de Vidal ganha nova confirmação eloquente. United States of Amnésia, de facto. Não se lembram no dia seguinte do que andaram a fazer no dia anterior.
«Recently, when the US State Department resumed sending non-lethal aid to Syrian rebels, the delivery list included 43 Toyota trucks.Hiluxes were on the Free Syrian Army's wish list. Oubai Shahbander, a Washington-based advisor to the Syrian National Coalition, is a fan of the truck."Specific equipment like the Toyota Hiluxes are what we refer to as force enablers for the moderate opposition forces on the ground," he adds. Shahbander says the US-supplied pickups will be delivering troops and supplies into battle. Some of the fleet will even become battlefield weapons.»
(Notem que a fonte é uma US Fundation, não é um quiosque da conspiração).

PS:  Não digam a ninguém, mas uspeito que Amnésia já peca por escasso. United States of Alzheimer surge a cada passo como realidade sobrevidente.

quinta-feira, outubro 08, 2015

Depois da silly season, o silly empire

«The next silly moment arrived at the UN General Assembly meeting in New York, where Obama, who went on for 30 minutes instead of the allotted 15 (does Mr. Silly President know how to read a clock?) managed to use up all of this time and say absolutely nothing that made any sense to anyone.But it was Putin's speech that laid out the Empire's silliness for all to see when he scolded the US for making a bloody mess of the Middle East with its ham-handed interventions. The oft-repeated quote is “Do you understand what you have done?” but that's not quite right. The Russian «Вы хоть понимаете теперь, чего вы натворили?» can be more accurately translated as “How can you even now fail to understand what a mess you have made?” Words matter: this is not how one talks to a superpower before an assembly of the world's leaders; this is how one scolds a stupid and wayward child. In the eyes of the whole world, this made the Empire look rather silly.

What happened next is that Russia announced the start of its bombing campaign against all manner of terrorists in Syria (and perhaps Iraq too; the Iraqi request is in Putin's in-box). What's notable about this bombing campaign is that it is entirely legal. The legitimate, elected government of Syria asked Russia for help; the campaign was approved by the Russian legislature. On the other hand, the bombing campaign that the US has been conducting in Syria is entirely illegal. There are exactly two ways to legally bomb the territory of another country: 1. an invitation from that country's government and 2. a UN Security Council resolution. The US has not obtained either of them.»
(...)
«But this is where it all gets meta-silly: in Syria they can't even achieve that. The Americans have been bombing ISIS for a year now; meanwhile, ISIS has gotten stronger and occupied more territory. But they haven't gotten around to overthrowing Assad; instead, the ISIS boys have been busy prancing around the desert in black head rags and white basketball shoes taking selfies, blowing up archaeological sites, enslaving women and beheading anyone they don't like.But now it appears that the Russians have achieved in five days of bombing what the Americans couldn't in a year and the ISIS boys are running away to Jordan; others want to go to Germany and ask for asylum. This has made the Americans upset, because, you see, the Russians were bombing “their” terrorists—the ones the Americans recruited, armed and trained... and then bombed? I know, silly—but true. The Russians will have none of that, because their approach is, if it looks like a terrorist and quacks like a terrorist, then it is a terrorist, so let's bomb it.»

Estados do sítio

Li por aí que a Maçonaria estará a preparar um golpe de estado (institucional, entenda-se) contra a magistratura independente. É obra! Junta-se o vago ao estapafúrdio a cavalo no impraticável. Não quero armar em céptico e desmancha palpites, mas,  tudo somado, oscila algures  entre o anedótico e o delirante. Começemos pelo vago...
"Maçonaria" significa exactamente o quê? É que, maçonarias, na paróquia, existem pelo menos três: a regular, a irregular e a espanhola (vulgo opus dei). Convinha, portanto, ser um bocadinho mais específico. Depois, desfere um golpe de quê? Cá não existe Estado, nem  qualquer sentido, curadoria ou cultura do mesmo. O que abunda e transfede é uma usurpação, tripudiação e aproveitamento do "estado" para outros fins (sectários, particulares, coorporativos,  alógenos, escusos todos eles,  cavernícolas em suma), e a maçonaria irregular já domina, trafica e mercadeja a seu bel prazer em toda essa caverna do Ali Baba. Daí, aliás, o estapafúrdio repimpado: a maçonaria a dar um golpe nela própria.  E contra quem? A "magistratura independente"... Presumo tratar-se daquela agremiação inefável e parangélica que expele comunicados e provas de vida através do Correio da Manha. Nesse caso, o alerta deve ser duplo; e o alarme público redobrado. Não é apenas a "magistratura independente" que corre  perigo de morte: é também a imprensa livre e o jornalismo imaculado onde ela se alivia. E exercita.

PS: Em todo o caso, chamar golpe de estado a meras tricas entre lojas indicia (não direi manifesto desequilíbrio, por caridade) mas avultado exagero. O fenómeno está mais ao nível  do roubo por esticão. Ou do golpe do baú (que resume na íntegra o matrimónio entre a maçonaria e a república de aluguer).

quarta-feira, outubro 07, 2015

Aliança natural contra o caos


“We are not speaking of an assumed threat, we are speaking of a real aggression that exists every hour, every day, every night,” said Hezbollah Secretary-General Hassan Nasrallah in a recent speech. He explained that armed groups have launched continuous attacks inside Lebanese territories while also holding dozens of Lebanese soldiers and police officers hostage, “so we need a permanent solution.”

PS: Entretanto, muito apropriadamente, o rei Saudita foi hospitalizado com demência. Já tínhamos percebido que o fulano sofria disso. 

PSS: Mesmo espantoso é quando até já grandes organizações evangélicas americanas reconhecem o benefício da intervenção russa.  Para a prevenção óbvia do massacre anunciado de cristãos na Síria, caso o caos prevaleça. Pode também tratar-se já do plano B das "forças do mal":  os psicopatas do ISIS falhem no extermínio dos ortodoxos/católicos, enviam as brigadas evangélicas!....

terça-feira, outubro 06, 2015

Mudança da maré?


A reaparição dum czar na Rússia terá algum significado particularmente simbólico? 

Para eu não ter que me repetir


 (de 2011)

Como eu aqui venho expondo, plácida e baldadamente, ao longo dos anos, Portugal tem estado sem governo nos últimos decénios. Isto não significa nenhum atestado de excelência àquele conjunto de pessoas que governava o país antes do 25 de Abril. Significa apenas que aqueles que faziam oposição ao regime, a partir de 1974, transferiram-se para a Oposição ao país. Isto é, depois de derrubarem o regime, aproveitaram a embalagem, e trataram de derrubar o país. Era o que sabiam fazer: oposição. Foi o que continuaram a fazer, afincada e fervorosamente. Desbancado o governo que não permitia oposição, a oposição, ressacada e recalcada de mais de meio século de jejum, tratou de engendrar e instalar um regime de absoluta ausência de governo. De exclusiva e furiosa oposição. Onde as várias oposições respiram e acordam todas as manhãs para se oporem - umas às outras, por principio, e todas juntas ao país, por fim. Bem como a qualquer hipótese, ainda que remota e fantástica, de governo. No mínimo, depreende-se da dinâmica intrínseca desta gente, para compensar de cinquenta anos sem oposição, o país deverá penar cem anos sem governo.

Do mesmo modo, assim como a última forma de governo que o país experimentou se pautava por uma autocracia, esta substituta forma de desgoverno rege-se por uma heterocracia. Significa isto que assim como antes a responsabilidade pelo governo era dum só, agora essa mesma responsabilidade é de vários, terceiros, incertos, ou seja, dos outros, sempre os outros. Cada Oposição ao País (vulgo Desgoverno eleito) descarta-se e limpa-se, assim, na oposição precedente, o que esta, por seu turno, uma vez alcandorada ao poleiro, tratará de imitar na perfeição. Resulta disto que, distribuída a responsabilidade por terceiros, a responsabilidade acaba por nunca ser de ninguém. É claro que, como no momento actual, a Oposição-ao-País culpa a Oposição-ao-Governo e a Oposição-ao-Governo culpa a Oposição-ao-País, mas, daqui a dois meses lá vai tudo a eleicinhas e tudo decorrerá, então, na santa paz dos enterros, como se nada de (anor)mal tivesse acontecido. Até porque, como todos sabemos, não aconteceu. No fundo a Oposição fez o que sabia, lhe competia e em que está viciada: opôs-se. A tudo o que mexia ou tentava mexer-se ( a não ser, honra lhes seja feita, esses excepcionais que se puseram a mexer daqui para fora). No restante, cumpre-se a sina e o fado inerentes a um regime de alterne e alternadeiras, cuja única séria e genuína alternativa, enquanto não chega a vassoura da história, é, por alturas da pífia e manhosa urnoscopia, pura e simplesmente, nem meter lá os pés. Nenhum indivíduo está em condições de amar a pátria, se antes disso não começar por desenvolver amor pelas suas próprias vértebras.

(de 2009)

Logo a seguir a Abril de 1974, tentaram sujeitar o país ao "Partido Único". Trinta e quatro anos depois, transpostas inúmeras e caricatas peripécias que seria agora fastidioso enumerar, alcançaram-no. Acordámos, um belo dia, não direi súbita porque lenta e merecidamente, subjugados sob a patorra duma seita cleptocrata única. Uma hidra de duas cabeças, qual delas a mais vácua, formada, via alporquia de cortelho, por um Governo que desgoverna e uma Oposição que promove. Ou seja, um governo que faz oposição ao país e uma oposição que faz promoção ao governo.
Isto já não vai a lado nenhum, muito menos a eleições dignas desse nome. O povo não tem por onde escolher, apenas ratifica. E o regime já nem é de república nem de monarquia: é de procissão.

segunda-feira, outubro 05, 2015

Já se aliviaram? A histeria e a verborreia prosseguem dentro de momentos......

«Todo o democrata é um tirano de opereta».
- E.M. Cioran

«É o que a Democracia tem de mais genuíno: a ubiquidade da anedota. O grotesco ao virar da esquina.»
- C.A.Dragão

domingo, outubro 04, 2015

Bombas santas

Entretanto, os guardiões da moral internacional mostram aos ogres russos como se executam bombardeamentos assépticos, inodoros e indolores. Quase ao nível da perfeição angélica dos ultra-imaculados na Faixa de Gaza. Mas isso, claro, é outro campeonato, não está ao alcance dos humanos.

«Ataque dos EUA a hospital é "indesculpável" e "possivelmente criminoso"»

No mesmo embrulho, a Al-Qaeda na Síria, vulgo  Jabhat al-Nusra (e outras epifanias avulsas), mal as bombas russas começaram a chover, viu-se prontamente promovida a "moderada", "entidade benigna" e outras hagiordomias que tais. O Ocidente (US e colónias) despertou, subitamente, para uma devoção ensolapada a estas animaizinhos amigos da democracia. É um crime ecológico de magnas proproções, clama-se no jornalixo e telelixo da praxe. O lamento mais lancinante que se escuta, traduzido, dá em qualquer coisa como:
 "Horror! Anátema! Eles não estão a bombardear apenas o ISIS, também bombardeiam a Al-Cagada!..."

Globalização? Manicómio a céu aberto.

sábado, outubro 03, 2015

Paga quem deve, manda quem pode



Eu já uma vez aqui o referi: o total do efectivo das Forças Armadas Alemãs é ligeiramente inferior ao grosso do efectivo americano estacionado na Alemanha.  É por isso que a Europa pia fininho e do as they told. O Pós-45, reforçado pelo pós-90, defeca de alto.

Imposturas, Sacanagens, Refolhos, Aldrabardas, Embustes & Logros, Inc

Os White Helmets são uma  ONG (organização não governamental) made in Soros net, especialmente activa no Médio-Oriente, que tem como principal missão colaborar na implementação do caos e na perpetuação da diarreia propagandística de conveniência. Um exemplo disso mesmo, pode aferir-se na imagem que se segue:

A mesma fotografia, duma ocorrência de 2013, serve agora para denunciar os bombardeamentos russos, atentatórios dos direitos humanos e das vidas de civis indefesos. 
Esta choldra convenceu-se que consegue enganar toda a gente durante todo o tempo.
A origem duma tal capacidade de hipocrisia, a raiar o ultra-fariseismo, é mais que óbvia. Ulula!

sexta-feira, outubro 02, 2015

Eleiçoem-se!

Portanto, trata-se de escolher quem é que nos vai conduzir à próxima bancarrota - O PSD-PP ou o PSDU.

Their way

A propósito do mais recente ritual expedito de interacção social no Oregon, em ambiente pré-zombilândia...

Nos primórdios já longínquos deste blogue, eu defini o "cogito" americano como "bombardeio, logo existo".
Compete proceder-se a uma actualização. Agora, "cogitos", professam dois:  um para uso no plano externo - o tal "bombardeio, logo existo"; e outro para aplicação no foro interno: "Massacro, logo existo".
No restante, aplica-se tudo o que já tinha ficado consignado para a anterior fórmula. Sobretudo no que concerne ao corolário:
«Quando os americanos bombardeiam [ou massacram], não estão a ser bons nem maus, justos ou injustos, salvadores ou facínoras - estão a ser, pura e simplesmente, "americanos". É a forma deles existirem.»

PS: Não tarda, por força da proibição (ou lei seca) das armas, e transtornados por ressacanço alucinante e licantropismos de abstinência, os tipos começam a massacrar-se à dentada. É aí que se passa da fase pré-zombie à zombificação completa.

Terrorismos de segurança

Ao combater o terrorismo no Ultramar, o governo português de então foi, recorrentemente, apontado como estando a colocar em causa a segurança dos Estados Unidos. Assim mesmo, sem preâmbulos nem rodeios. E todo uma máquina propagandística bombou essa trêta.
Agora, os Russos, no Médio-Oriente, ao bombardearem justamente os terroristas do ISIS da AL-Cagada e seus derivados ou afluentes, também já estão a ser tratados, pela mesma máquina da trêta, como estando a colocar em risco a segurança dos Estados Unidos, do Ocidente e da Civilização em geral.
Tudo indica que o fomento do caos e do terrorismo pelo mundo constitua peça importante do dispositivo de segurança dos Estados Unidos.

PS: Todavia, a bem da não-desintegração do planeta, Russos e Americoisos já alcançaram um acordo: Uns bombardeiam, outros abastecem... em horários alternativos.

PSS: Entretanto, o franshising terrorista, em prol da "segurança americana" funciona em duas componentes: a dos terroristas avulsos e a dos governos terroristas (enquanto não se implanta o governo terrorista, recorre-se ao terrorismo avulso).



    

quinta-feira, outubro 01, 2015

Efeitos secundários

Eh pá, mas animem-se, que diabo! Não sei se já repararam, mas, desde que entrámos, de charola, na redoma austeritária, nunca mais houve gripe das aves, nem dos suínos, nem moléstias súbitas e devastadoras, fora agora este surto recente de refugiados. Já todos tínhamos percebidos que não se tratava de economia, que não servia para nos proteger ou curar dos défices, dívidas e bancas maltrapilhas. Pelos vistos, serve para nos proteger das pandemias. Já não é mau. Se os efeitos secundários dum remédio podem gerar um veneno, também os colaterais dum veneno, às tantas, redundam em remédio. Como parece ser o caso.