segunda-feira, novembro 30, 2015

Entre os gambosinos e os terroristas, os gambosinos têm prioridade




O Mundo livre, onde decorre o "nosso modo de vida", na figura do seu Tutor global (por delegação divina para o planeta Terra) encontra-se perante uma tremenda encruzilhada. Um dilema atroz... Tem que combater em simultâneo duas apocalípticas ameaças: o terrorismo islamico e o aquecimento global. Qualquer um deles, é garantido, propõe-se dar-nos cabo do canastro. Com requintes de malvadez e refinarias de perfídia.
Mas, e aqui o cruel dilema, ao combater o terrorismo eis que promove o aquecimento; ao batalhar o aquecimento, eis que acicata o terrorismo. Como decidir perante tão diabólica alternativa?
Estabelecendo prioridades, pois claro. Avaliando qual o mais perigoso para o "nosso modo de vida". Parece que é o Aquecimento . 
Estou a brincar? Não estou, não.
São eles próprios que certificam:

Vêem? E faz imenso sentido. Cada vez que atiram uma bomba, míssil ou projéctil XXl a alguém, aquilo tem um inconveniente muito grande para o "enviromental": explode. Ora, ao explodir, acarreta necessariamente outro inconveniente ainda maior: desenvolve magnas quantidades de temperatura. Estas, para cúmulo, propagam-se em todas as direcções, não apenas chão adentro como armosfera afora. Tudo isso multiplicado, digamos assim, por uma Shock and Awe ou mesmo por um pequeno estímulo a uma Primavera qualquer resulta em danos evidentes para o "enviromentino", designadamente através do subsídio inopinado ao Aquecimento Global. Imaginem agora, derramado em cima de terroristas poisados sobre enormes jazidas de petróleo. Armagedinho talvez não seja, mas mini-china será pela certa. 
Por conseguinte, é fácil extrapolar: o menos perigoso para o "nosso modo de vida" é o terrorismo. É por isso que os americanos, a nossa vanguarda planetária, agem com extremos cuidados e delicadezas mil. Por cada terrorista morto, são, no mínimo, várias toneladas de explosivos, exorbitante emissão de gases poluentes pelos motores de combustão das aeronaves e um consumo inaceitável de carne de vaca pelas tripulações, sobretudo nos porta-aviões e bases de apoio. Não compensa. Por esse andar, o preço do extermínio do terrorismo é o dilúvio 2.0. Para não socumbirmos às garras dos psicopatas islamicos, soçobramos aos delíquios e suóres das calotas polares.  

PS: É de justiça realçar: os terroristas não são tão maus quanto parecem. Demonstram até consciência ecológica de realce. Precisamente quando, em vez de executarem a tiro, ou seja, através de mecanismos poluentes, preferem degolar à facada (tecnologia limpa e amiga do ambiente). Estão, assim, claramente, a diminuir a sua pegada do carbono. Middle age? Não me lixem. New-age aos molhos.

sexta-feira, novembro 27, 2015

Fenómenos do Entroncamento Global




«US State Department: The shooting of the catapulted Russian pilots could be self-defense»


É mais que evidente tratar-se de legítima defesa. Os pilotos russos, de bordo dos seus paraquedas, tentavam mictá-los até à morte. O jacto malfazejo, na sua viagem pela atmosfera, convertia-se em granizo perigosíssimo. Autênticos aero-icebergues.

«Impacts of Turkey’s Aggression against Russia. The “Turkish Stream” is Dead. Disruption of Gas Pipeline Routes to the EU. Russia’s Economy in Crisis?»
Repito:
"Os geostrategas de sofá acham que guerra pressupõe obrigatoriamente tiros, bombas e violência bélica. Como nos filmes onde cursaram e tiraram o brevet de think-tanquistas de alguidar. Na verdade, a coacção militar (aquela coisa com tiros e explosões) constitui geralmente um último recurso. Antes de irem lá dar tiros, onde quer que lhes contenda com a veneta, os americanos, por exemplo, exercem coacção psicológica (mass-media aos gritos), coacção diplomática (sanções na ONU, etc), coacção política interna (promoção de distúrbios, indução de protestos - revoluções primaveris ou coloridas) e coacção económica (sanções financeiras, bloqueios, proibição de exportações ou importações, expulsão de organizações internacionais, manipulações de mercado, etc). Só depois disto tudo bem exploradinho é que avança o porta-aviões ou os F16. Neste momento os Estados Unidos estão em guerra com a Rússia em todos os departamentos de coacção, excepto na componente militar aberta. Pois, falta apenas esse detalhezinho para entrarmos na III Guerra Mundial. E só ainda não entraram nesse detalhezinho por causa de outro nada despiciendo: a capacidade russa em armamento nuclear estratégico. Os americanos estão também em guerra (actual ou potencial) com o resto do planeta, que se divide entre aqueles que são suavemente coagidos (como a União Europeia), e os que se encontram ou no estágio intermédio ou brutal de coação, conforme a respectiva atitude ou unilateral necessidade do superior e soberano interesse da potência hegemónica. Àqueles que se submetem mansamente à suave coacção, os americanos chamam aliados. Àqueles que exigem uma coacção brutal, chamam inimigos. Há apenas um com estatuto excepcional."

«Meet The Man Who Funds ISIS: Bilal Erdogan, The Son Of Turkey's President.»

Em resumo: There's no business like crude business.

«Turkish newspaper editor in court for 'espionage' after revealing weapon convoy to Syrian militants»

Liberdade de expressão is for assholes.

«Guess Who is Behind the Islamic State? Israeli Colonel “Caught with IS Pants Down”»

Parece-me incorrecta a notícia. Pelos vistos, não estava atrás mas à frente. Atrás do Estado Islamico anda o Putin.

quinta-feira, novembro 26, 2015

Prolegómeno a toda a Antropecuária Futura

«Penso que agora entenderás melhor o que há pouco te perguntava, ao interrogar se a função de cada coisa não era aquilo que ela executava, ou só ela, ou melhor do que as outras.
-Entendo - respondeu - e parece-me que é essa a função de cada coisa.
Bem - disse eu -. Portanto, não te parece ter uma virtude que lhe é própria tudo aquilo que está encarregado de uma função? Tornemos ao mesmo ponto: os olhos, dizíamos nós, têm uma função?
- Têm.
- Portanto, têm também uma virtude?
- Têm também uma virtude.
- E então? Tínhamos dito que os ouvidos tinham uma função?
- Tíonhamos.
- Portanto, uma virtude também?
- E uma virtude também.
- E relativamente a todas as outras coisas? Não é igual?
- É.
- Ora bem! porventura os olhos cumpririam bem a sua função, se não tivessem a sua virtude própria, mas um defeito em vez dela?
- Como poderiam fazê-lo? - retorquiu -. referes-te talvez à cegueira, em vez da vista?
- À virtude deles, seja ela qual for - respondi -. Não é isso que eu estou a perguntar, mas se a sua função se desempenha bem, graças à virtude que lhes é própria, ou mal, devido ao defeito.
- Falas verdade.
- Logo, também os ouvidos, privados da sua virtude própria, desempenham mal a função?
- Exactamente.
- Englobaremos, portanto, todas as outras coisas no mesmo raciocínio?
- É o que parece.
- Ora vamos lá, depois disto, a examinar este ponto. A alma tem uma função, que não pode ser desempenhada por toda e qualquer outra coisa que exista, que é a seguinte: superintender, governar, deliberar e todos os demais actos da mesma espécie. Será justo atribuir essas funções a qualquer outra coisa que não seja a alma, ou deveremos dizer que são específicos dela?
- A alma, e a nenhuma outra coisa.
- E agora quanto à vida? Não diremos que é uma função da alma?
- Acima de tudo - respondeu.
- Logo, diremos também que existe uma virtude da alma?
- Di-lo-emos.
- Então, ó Trasímaco, a alma algum dia desempenhará bem as suas funções, se for privada da sua virtude própria, ou é impossível?
- É impossível.
- Logo, é forçoso que quem tem uma alma má governe e dirija mal, e, quem tem uma alma boa, faça tudo isso bem.»
- Platão, "Politeia"

Vamos por partes. Para muitos, Deus não existe; logo, a alma também não. Não faz pois qualquer sentido falar nisso.
Para outros, inúmeros também, embora Deus exista, agem como se não existisse. E apesar de terem alma, não a usam.
Objectar-me-ão, e eu aceito, que Deus é uma questão demasiado intrincada e potenciadora de equívocos ou resistências emocionais. Traduzindo: está fora de moda. Vamos então para uma ideia mais terrena e menos problemática: a Pátria. Também está fora de moda, mas não tanto. Deu-me para o optimismo, hoje.
Sendo certo que para muitos, tanto à esquerda quanto à pseudo-direita, o homem actual não tem Deus, nem alma, nem pátria, para uns tantos outros, por enquanto, a pátria ainda é um conceito com algum significado. Embora, para a grande maioria possa ser dito aquilo que já anteriormente se avaliou em relação a Deus: se bem que reconheçam que a pátria existe, agem como se não existisse.
Não obstante, a mesma função e virtude que a alma desempenha no homem (enquanto indivíduo), tem ou não tem um correspondente nesse mesmo homem enquanto povo? Sintetizando: a Pátria tem uma alma? Bem, parece-me que a afirmativa é facilmente deduzível: algo tem como função dirigir um povo e respectiva pátria. E se a esse algo cumpre superintender, governar, deliberar e todos os demais actos da mesma espécie, parece então óbvio quem desempenha a alma de Portugal: os seus governantes e autoridades administrativas.
Ora bem, uma alma má, segundo Platão (e penso que aqui só internados ou candidatos a Rilhafoles poderão discordar dele),  dirige e governa mal; e uma alma boa, pelo contrário, dirige e governa bem. E o que é que distingue uma alma boa da alma má antes mesmo do resultado dos seus actos, ou seja, o que é que promove a bondade ou a maldade da acção? Ambas cumprem a mesma função, só que uma fá-lo juntando-lhe a virtude, a outra executa-o prescindindo dela. Governar é governar bem; governar mal é desgovernar; tal qual ter olhos e ver é auferir da virtude da visão e ter olhos e não ver é padecer do  defeito da cegueira. Os parâmetros da acção medeiam assim entre a governação virtuosa ou a desgovernação viciosa/deficiente.
Por outro lado, dizer que a alma dum povo se resume ao seu governo parece um tanto ou quanto redutor caso  se entenda o simples número dos ministros e secretários do executivo central. Ora, esse pequeno número significa geralmente a manifestação mais visível e proeminente de algo mais vasto. Quando hoje em dia assistimos a desgovernos vários e consecutivos, tanto quanto ao entranhamento dum regime defeituoso, assistimos igualmente à ausência desse "algo mais vasto" subjacente. Não falta apenas a alma, falta o corpo são e digno de onde a alma se eleva. Há um problema sério com o corpo actual de Portugal. Actual significa em acção, activo, e o que se depara, a todas esquinas e horas, é a uma chusma passiva, resignada, impotente.  Que chafurda, destilando licores de trampa, em rótulo novo-rico  ou velho-abutre, que exibe - e ora lambuza, ora defenestra - nas pantalhas. É uma massa informe e criptocéfala que se odeia e despreza a si própria na figura daqueles que içla e sustenta. Daí, aliás, o espelho palúdico onde desgovernantes e desgovernados se reflectem. A safadeza impera. É o safe-se quem puder, cada qual por si e todos auto-investidos no imperativo descategórico:  todos lhe devem e ele não deve nada a ninguém.  Portugal está reduzido e nhanhificado, mais que a um rectângulo auto-mutilado, poltrão e inglório, às suas vísceras. De facto, a ausência de elites condignas desse nome apenas certifica o raquitismo do povo que as deveria arvorar. Não falta apenas essa bandeira: falta, sobremaneira, o braço e o corpo que a empunha e ergue com orgulho e destemor. Está, pois, mal feita a pergunta pelas elites: a pergunta correcta é a que demanda pelo povo. Que é feito do povo? Em que estado o trazem e mantêm?
Dostoievski dizia que quem quisesse destruir um povo começava por destruir-lhe a juventude. Vale a pena (embora agrida o estômago) dar uma olhadela à juventude portuguesa que por aí fora se avista. Que representa a juventude?  - A capacidade regenerativa de um povo. Algo que não se regenera, envelhece e morre. Ora, o que mais se lobriga são jovens caquécticos e jarretas a armarem ao adolescente. Uns a agredirem a sua própria inteligência e verticalidade, desde pequeninos; outros a regredirem ao estado larvar da sua mocidade revista e requentada. A balbúrdia fétida e desarmoniosa na própria sociedade alastra ao aparelho psicológico dos porta-egos: cada desalmado está em perpétuo conflito consigo próprio, dilacerado entre um bandulho desmesurado que tudo deseja e ambiciona (e a quem tudo é prometido, devido e acicatado), e um pensamento enfezado, anoréctico e frouxo que nada satisfaz. Em bom rigor, um dispensamento (dispensam toda e qualquer ética, coerência, dever ou verdade que dure mais de quinze dias, se tanto). À falta de juventude genuína, temos, assim, uma pseudo-adolescência que vai dos 8 aos 80. A infância e a maturidade foram banidas e andam a monte. Tanto quanto a masculinidade. Por toda a parte, viceja o mosquedo ruidoso, cobarde e mesquinho. Sempre pronto para a rixa doméstica, intestina, para a cata-bichice do vizinho, para o trampolim sobrexcitado da purga interna, mas jamais disponível para a união e defesa de valores mais elevados, concretos e intemporais do que o simples horizonte de sopeiras militantes que parece congregar em absoluto a desalmação de todos estes fetichistas da economia.
A própria economia está, no seu objecto, função e essência, emporcalhada e pervertida: oikos, (donde o nosso prefixo eco) na etimologia, significa casa. Casa pressupõe humanidade, pessoas, gente. A economia é uma ciência da administração da casa. Perante este curral em que cada vez mais descambamos, a economia não é, de todo, a ciência aplicável: é, outrossim, qualquer outra engenharia da ordem da antropecuária. Sitiam-nos não apenas os aleives e voragens do estrangeiro roncante da hora a ferver, mas, em delegação interna e esbirra, todo um arraial de bestas zombificadas e zumbidoras. A palha em que refocilam e com que cevam a pança é a mesma com que agasalham a idiotia mijona e engordam o espantalho mental a fingir de espírito.
Suspeito bem que o tratamento de determinadas aberrações pertence quase por completo ao domínio da potestade Divina ou das catástrofes da Natureza. Não há terapia humana para determinados desarranjos. A ideia de que tudo podemos foi a exacta ideia que nos trouxe aqui.


quarta-feira, novembro 25, 2015

Tratado do Nada (r)

Em Junho de 2011, era inaugurado em Portugal o Observatório da Corrupção.
Ora, sendo certo, sabido e certificado que há tanta corrupção em Portugal como poços de petróleo, minas de diamantes e manadas de mamutes, que raio se propõem eles observar - o nada?
De resto, os nossos preclaros deputados, com toda aquela acutilância moral que os caracteriza, esgalga e derreia , já haviam constatado e patenteado o mais que óbvio e evidente aos olhos do mundo inteiro e arredores: sendo o país, por beneplácito divino, imune à corrupção, impermeável ao suborno e absolutamente inexpugnável ao ilícito patrimonial, dispensa toda e qualquer legislação contra o enriquecimenmto ilícito. Entre nós, por isso mesmo, não só  todo o tipo de enriquecimento é lícito (já que, como o Serafim Calvino revelou, toda a riqueza é justa, pulcra e aspergida lá dos éteres por Deus Nosso Senhor em Cupido), como também, e sobretudo,  essa opção  é-lhe, por natureza e geografia, rigorosamente inacessível. Não havendo ilícito entre nós, qualquer enriquecedor peregrino, mesmo que voluntária (e quiçá suicidariamente) o demandasse, não o encontraria disponível nem acessível em lado nenhum. E tanto assim é que assistimos, nestes últimos anos, a várias ilustrações vivas e gritantes disso mesmo: Dias Loureiro vê-se na contingência de ter que emigrar para Cabo verde. Duarte Lima corre ao Brasil, onde o ílicito é barato e abundante; Pina Moura esfalfa-se entre Cabora Bassa e Madrid; Isaltino Morais, e tantos outros, vêem-se obrigado a viajar até à Suiça, sempre que a vertigem lhes ocorre; Paulo Portas, suspeita-se, atravessa Pirinéus e Alpes, duma assentada, até à Alemanha; e José Sócrates, só quando desembarcou em Paris, é que pôde, finalmente,  encontrar coisa que se visse... Está mais que provado que a esterilidade desértica dos nossos solos para o cultivo do ilícito, tanto quanto da corrupção, mai-lo respectivo suborno simbiótico, força os nossos produtores de riqueza mais expeditos (ou meramente excêntricos) à emigração agenciante, primeiro enquanto pesquisadores, depois enquanto nidificadores (o ilícito, de todo, não consegue sobreviver entre nós; nem em estufas, nem em incubadoras artificiais; pelo que a sua criação, procriação e desenvolvimento, requer sempre cuidados específicos e ambiente propício).
Concomitantemente, dada a ausência mais completa de ilícito entre nós, tanto quanto o enriqueccimento, também o empobrecimento ilícito se torna impossível. Da mesma forma que vale tudo para alguém enriquecer, vale também praticamente tudo para empobrecer, de preferência os outros ( primeiro na figura e orçamento do Estado, mas depois, esgotado este, nas pessoas particulares e avulsas que estiverem mais à mão). E a relação é de tal modo íntima entre estas modalidades, que está comprovado que quanto mais alguém enriquece nestas peculiares condições, tanto mais empobrece em seu redor.
Por outro lado, convém recordar que não apenas a corrupção inexiste adentro das fronteiras portuguesas: também a pedofilia, excepto naturalmente entre o clero católico, mas isso pela razão singular desses elementos serem funcionários dum Estado estrangeiro, que é, como devem saber, o Vaticano. A prova mais acabada de que o processo Casa Pia não passou duma mistificação anti-democrática, anti-republicana e, sobretudo, anti-maçónica (da imprensa reaccionária monárquica, quem mais...) foi a descrição dum dos antros de prevaricação como situado em Elvas. Ora, toda a gente sabe que, a ser verdade o ignóbil ilícito, ele teria que localizar-se necessariamente do outro lado da fronteira, em Badajoz - isto, no mínimo (e com algumas reservas, pois, dada a proximidade da nossa fronteira e a influência obsidiante do nosso saudável clima, a inibição ao ilícito seria até considerável).
E quem diz a pedofilia, diz a própria mentira. Então para esta, a incapacidade aguda da generalidade da população, mas sobretudo dos jornalistas, dignitários, pantacandidatos (ou seja, candidatos a tudo e mais alguma coisa), vedetas do jet-frete e homens de letras, além de lendária, chega a ser embaraçosa. Completamente inaptos para a efabulação, a ficção e o enredo, limitam-se à enunciação enfadonha de tratados de lógica, auto-vivissecações, análises da urina, registos de propriedade e actas de confessionário (coroladas, nos piores casos, com reportagens ao ralenti das últimas férias no cu de judas - literalmente).
Quase a acabar, umas  palavrinhas sobre a traição e a prostituição. Aquela, como é bem sabido, foi definhando, paulatinamente, desde a última defenestração pública de relevo, e encontra-se praticamente extinta na nossa pátria.  Mesmo para trair a mulher, os portugueses têm que recorrer ao crédito-viagem e percorrer longas distâncias, até ao Brasil, Caraíbas e Seichelles, arrostando, quantas vezes, maremotos, furacões e caterings low-cost). Já a prostituição, essa, benignizou-se completamente - debalde procurar uma prostituta, em dias de hoje, nas ruas ou em casas da especialidade. Agora são, para todos os efeitos,  "trabalhadoras do sexo".  Não tardam sindicalizadas. Fora as  que trabalham no Parlamento, claro está - essas são empresárias da vida fácil.
Voltemos então ao Observatório da Corrupção... Vai observar, portanto, o Nada. Só não é hercúlea, a tarefa, porque em boa verdade é heideggeriana. Na senda do último grande filósofo ocidental, e da sua "Introdução à Metafísica", Portugal avança e acrescenta: porquê observarmos a corrupção e não apenas o Nada? Ora, não dispondo de corrupção, eis que nos debruçamos, perscrucientes, sobre o Nada- o nada, nicles, népia, coisa nenhuma!
A juntar a uma chusma de observatórios que observam tudo e mais alguma coisa, mas, em bom rigor, não observam nada, eis finalmente um observatório que observa tudo aquilo que os outros não alcançam. O Nada, repito.
O leitor mais céptico e amovediço interrogará: merece o balúrdio que se gasta nela, uma espreitação tão peregrina e inefável? Respondo: senhores, a metafísica não tem preço. E o Nada, uma vez bem esquadrinhado e patenteado ainda gera um fonte de receitas descomunal ao país, providencial sortilégio nesta hora de tão grande necessidade. Basta lembrar-se que metade do "espírito" dos computadores (a net inteira de lés a lés) é nada - zero. Sem o Nada  (na pessoa do seu número 0), que relembro, só chegou à Europa no século XII ou XIII (confiram no google ou na wikicoisa), por intermédio dos árabes, jamais teria havido capitalismo e, consequentemente, salvação da humanidade. Ainda hoje, grande parte dos recursos financeiros mundiais são extraídos do Nada. Aliás, não há nada mais transaccionado nos dias de hoje que o Nada. Tanto que o Nada alastra por todo lado: das instituições bancárias às próprias almas. Os maiores crânios da humanidade actual estão cheios de Nada (e de si, por arrasto). Até já existe um Prémio Nobel para o Nada, carinhosamente eufemizado sob o epíteto de "Paz". Há tanta paz no mundo como corrupção em Portugal. Mas como a iliteracia mundial não compreenderia "um Prémio Nobel do Nada", eles tiveram que improvisar com a "Paz". O mesmo se passa entre nós: ninguém aceitaria um Observatório do Nada; daí eles têm que colorir com "Corrupção".O qual, em todo o caso, é pago com dinheiros essencialmente comunitários. O que quer dizer que não nos sai do bolso do orçamento. Bem, na verdade, até sai - esguicha naquele item onde consta o pagamento dos 3.000 milhões de juros do resgate, à onzeneirice europeia. Ao fim e ao cabo, eles têm que se fazer pagar.... A troco de - pois é, pois é - Nada.

25 de Novembro - Adeus África, olá Europa!

Sobre a data de há 40 anos em que perdi uma noite, já aqui foi dito quase tudo:
http://dragoscopio.blogspot.pt/2012/11/o-25-de-nevoembro.html

http://dragoscopio.blogspot.pt/2015/04/acromiomancia-revisitada-xxii.html

Deixo apenas uma última nota: o defeito gigante e insanável do 25 de Novembro de 1975 foi não ter acontecido um anos antes, em 25 de Novembro de 1974. O resto é folclore.


terça-feira, novembro 24, 2015

O Exacto perfil

«Fugitive Paris jihadist loved gay bars, drugs and PlayStation»


Colocar isto como espécie de esquisitismo para os putativos terroristas não faz sentido. Bem, pelo contrário, isto resume o exacto perfil do tipo de psicopatia que não só vai formatando a "massa jovem" actual, como, seguramente, a esmagadora maioria daqueles que enfileiram nesse circo carniceiro itinerante que responde pelo acrónimo de ISIS/ISIL/DAESH, ou a grande puta que os pariu. Uma puta, aliás, com imensos espreitas toca-pívias por esse mundo fora.
A crueldade sádica está nos antípodas da virilidade guerreira. É apenas uma das sub-caves do torcionarismo, esse criado de quarto das ideologias.

segunda-feira, novembro 23, 2015

A Mulher que viveu duas vezes



Ainda pasmavamos com ela a fazer-se  explodir em Paris, levando consigo "Diesel", o infortunado cão polícia,  quando, afinal, parece que até nem se fez explodir mas terá sido accionada, isso sim, por um outro terrorista avulso,  embora isso agora já pouco interesse, pois acaba de  ressuscitar em Marrocos.


Moral da história: Entre a qualidade do terrorismo e a qualidade da informação que nos sitiam a competição é renhida. Ou será osmose?




domingo, novembro 22, 2015

Casais monoconjugais, e depressa!

E pronto, a esquerda unida mais a alter-esquerda fracturada lá aprovaram essa coisa urgente e mortificadora do povo que dá pelo delicado nome de adopção de crianças (não bastava cães e gatos, ou até periquitos?) por casais monossexuais. Ou seja, também aqui, depois da monogamia, ei-los na monotonia. 
Que comentário me merece uma conquista civilizacional destas?
Fora meia dúzia de palavrões cabeludos, tenho a declarar o seguinte: vou deixar-me de conceitos e morais retrógradas, obscurantistas e botas-de-elástico, que só me acarretam soslaios e vexames. Imbuído do mais recauchutado e arejado dos espírritos (não é gralha o duplo erre), sugiro mesmo, com carácter de urgência, o passo lógico que se adivinha e aconselha: se já existem e proliferam famílias monoparentais, avancem a todo o vapor para os casais monoconjugais - tipos, tipas ou híbrido de ambos que aufiram do direito a contrair matrimónio consigo próprios. Afinal, um tipo constituir familia consigo mesmo ( e até pátria , espécie ou deidade) é já o que para aí mais, factualmente, se avista. É preciso que a lei salvaguarde os direitos de toda esta esquizofratria. Haja sentido das realidades!...

sábado, novembro 21, 2015

Anus Burgers

“During the Kobani war, shipments of weapons arrived to ISIS from Turkey. Until now, the gravely wounded go to Turkey, shave their beards, cut their hair, and go to the hospital. Somebody showed me pictures in Kobani. You see ISIS guys eating McDonald’s french fries and hamburgers. Where did they get it? In Turkey.

No tempo da nossa guerra do Ultramar, havia membros da Nato que subsidiavam e fomentavam os terroristas que demandavam subverter um terceiro membro (Portugal), e havia outros membros que nos apoiavam. A desculpa dos primeiros era que o acordo consignado de lealdade e entreajuda só se aplicava a norte do Equador, mais especificamente na Europa (a retórica de que só servia para protecção anti-comunista não colhe, porque no nosso Ultramar uma parte significativa dos terroristas era composta por quintas colunas comunistas).
O espírito da coisa, portanto, mantém-se. Agora, enquanto alguns membros são agredidos, há outros membros que também fomentam, apoiam e abastecem, pela calada, os agressores. Um deles até parece que é o mesmo que outrora nos torpedeava à surrelfa e má fé. Suponho que o actual limite da entreajuda  se fica pelo meridiano 10 ...Quer dizer, a Nato ajuda a Ucrânia, a Turquia e, entre outros, aqueles cujo nome não se pode proferir. Por outras palavras, a Nato coincide com os estritos interesses norte-americanos O resto é uma anedota obscena mascarada de geo-pulhítica. Quanto ao terrorismo que subverte hoje as colónias americanas, como ontem subverteu as portuguesas, o importante é desembaraçar o território de chifres, ossos e espinhas prejudiciais a uma boa refeição. Anus burgers? Pois, destino fatal de quem abdica de ter boca própria e voz autêntica com que falar através dela.

sexta-feira, novembro 20, 2015

O Nosso e o Deles


«Police believe attackers used forged passports to stigmatize refugees»
Teoria da conspiração boa: passaportes falsos propositadamente plantados. Objectivo: criar hostilidade à recepção dos refugiados na Europa. Finalidade última: interromper ou diminuir consideravelmente o êxodo dos refugiados para a Europa. Corolário: os massacres de Paris foram uma conspiração do ISIS/DAESH contra os refugiados e as celebrações hospitaleiras da Europa em sua homenagem..
Análise: Citando um comentador da própria notícia em epígrafe, não se percebe em que é que o passaporte pode piorar mais a imagem dos refugiados. Depois daqueles massacres, só mesmo outros massacres ainda piores.
Por outro lado,. que interesse pode ter a polícia em circunscrever a acção ao domínio interno? Ordens políticas? O problema não está a vir de fora para dentro, mas já se encontra entreportas? Mas se a Europa exporta mão de obra bruta para o Estado Islamico, porque raio não há-de importá-la depois qualificada - se sairam à vontadinha, com passe turístico, para lá, porque não hão regressar, sem grandes embaraços, para cá? Não é, de resto, isso que se tem verificado? Não facilita até, imensamente, isso toda esta deslocação anárquica e tumultuosa de massas humanas em regime de verdadeiro estampido ganadeiro? Qual é então o verdadeiro problema? Ouvindo as notícias, a cada passo, até já parece que a ameaça maior nem sequer é o terrorismo, mas a subida da "extrema-direita". Impõe-se então o quê, assim à primeira conjectura? Talvez a instalação dum "estado de emergência" com duas finalidades encarriladas: proteger os refugiados e as democracias da "extrema-direita"; proteger o "nosso modo de vida" dos terroristas.
Este socialismo obrigatório do "nosso modo de vida" já sabemos o que significa: sempre que está na hora de arcar com as coisas desagradáveis e efeitos malignos colaterais do "modo de vida deles", em resumo, na hora de pagar a factura, passamos de pronto a comensais crónicos, somos logo chamados ao palco.
Por conseguinte, a título e pretexto de defenderem estrenuamente o "nosso modo de vida", desconfio bem, vão, por todos os meios e fórmulas, tratar de salvaguardar e robustecer o "modo de vida deles".
Deles, quem? Daqueles que, em nome da igualdade para todos, tratam de engordar bem a sua diferença. Algures entre a distopia do Zamiatin e a Animals Farm, do Orwell, que sei eu!... Esperem só pela pancada.

PS: nestas fenomenologias e prognósticos, devo dizer que espero estar sempre enganado. Lamentavelmente, engano-me muito mais vezes naquilo em que esperava estar certo: o Euromilhões, por exemplo.


Metabolismos canoros


Atenção papagaios, mudança de tema no coro: em vez de "défice" palre-se "terrorismo". No lugar de Orçamento, Segurança.
Até reformulação da cassete, neste momento convém evitar a objurgativa "Putin".

quinta-feira, novembro 19, 2015

Psico...império?


 E por aí fora.
O combate dos americanos ao terrorismo lembra as aventuras do pirómano bombeiro. Ou as peripécias  do médico e o monstro.



Feitio de Dragão (reposição de um postal de 2004, bem a propósito)

Eu tenho mau feitio. Quando se mora numa caverna e se cospe fogo pelas narinas, a cada quarto de hora, é difícil não ter mau feitio. As cavernas são escuras e húmidas, inçadas de estalactites filhas da puta que nos contendem com a cornadura e estalagmites irmãs das outras que nos intimidam os tomates. Um gajo tem que andar na própria casa com mil cuidados, como se habitasse um campo de minas.
Não admira que receba cada vez menos visitas. Mas não é só por isso que tenho mau feitio. Mentiria se o dissesse. O resto do problema - se calhar a parte mais irritante-, é que o país, o mundo, a fábula aí fora estão cada vez mais infestados de cabrões, de coninhas, de beija-cus e cheira-rabos. De paneleiros e lambisgóias, então, é melhor nem falar. Louros, todos eles. Até os bumbos. Alastram por toda a parte: políticos, jornalistas e outros artistas é raro o que escape. São ruas, estradas, avenidas, repartições, televisões, jornais, ministérios, vilas, cinemas, discotecas, espeluncas, estádios -é isso tudo, sim senhor!- a abarrotar deles. Uma farturinha, que nem no século passado era assim tão luxuriante. Reproduzem-se, proliferam, enxameiam na forma de marabunta (des)humana. Agora, por sinal, até é chique terem muitos filhos, lógicamente tão cabrões, coninhas, beija-cus e cheira-rabos quanto os pais (ou melhor dizendo, quanto as mães, já que os pais, segundo consta, oscilam quase sempre entre o dúbio e o incerto). O mundo é deles e eu estou-me nas tintas. Se é deles, é porque não é grande merda. Não acho bem nem mal. Nem tenho que achar. Era eu a largar-lhes opiniões e eles a limparem o cu a elas. E faziam bem: é pró que a doxa serve! Não; eu preferia mesmo era corrê-los a pontapé, zurzir-lhes o coiro com estas minhas patorras desempenadas. Isso sim, isso é que me convinha ao espírito e à oxigenação mental. Andar aí pelos passeios, pelos corredores, pelas galerias -por toda a parte, enfim- e assestar-lhes com brutalidade, sem qualquer cerimónia nem clemência, patadas convictas, coices excelentes, abençoados, bem capazes de lhes enegrecer aquelas peidas balofas e fazê-los despegar, ainda que por breves decímetros, da terra que conspurcam. E fazê-los planar, ainda que por parcos instantes, num limbo de justiça. Não julguem que não disponho de músculos adequados - quadríceps treinados, gémeos desenvoltos- e ossatura conveniente. Garanto-vos: Não só estou bem equipado com essas faculdades utilíssimas, como domino, do kung-fu, inumeráveis técnicas, variadíssimos estilos, adestradíssimos modos. Haviam de ser umas biqueiradas de antologia! Haviam de merecer cobertura televisiva permanente, no que eu aproveitaria para desancar também os merdosos dos jornalistas, classe de insectos rastejantes por quem nutro especial gula. Mas dizem-me que é ilegal, crime codificado, ofensa corporal. Ameaçam largar-me mastins e polícias, passe a redundância. Podem ofender-me o espírito, mas não lhes posso eu ofender o coiro... Balelas! Sinceramente, é o que acho que são. Enchem-me a paciência, mas não lhes devo encher o cabaz. Esquisitisse burocrática, é o que é! Como não evacuo destas necessidades, como não desentorpeço estes justíssimos ímpetos, dou comigo de mau humor, esganado de parcimónias, estrangulado em inibições, a remoer antipatias. Deve ser por isso, também, que tenho mau feitio. Péssimo, direi mesmo. Dói-me mais esta inactividade forçada das pernas, que uma nevralgia, com buraco a céu aberto e abcesso, dos dentes.
Não admira que ninguém me visite. Não os critico. E mesmo os amigos, outrora numerosos, desapareceram todos para parte incerta, mas longínqua. Corri-os a pontapé, a bem dizer. E de quem é a culpa? Do cabrão do mundo e das suas parvas regras, nem mais! Como não deixam um gajo correr sob esse fino trato os inimigos, tem o dito cujo que se aliviar de qualquer maneira e, de preferência, em alguém. Ora, como manda a aflição, vai quem está mais a jeito, isto é, vão os amigos. A pontapé, pois claro. É preciso é deitar aquele fel todo cá pra fora. É mais forte que nós. E os amigos, não se cansam eles de dizer, são para as ocasiões. Sejam. Ou melhor: foram. Mas é um falso alívio, que só nos deixa cada vez mais enfurecidos. Ou melhor: foi. O pior é que, com todo este infame desvio do justo alvo, nem o mundo melhora, nem nós.
Humm... Tu aí, ó coninhas!, chega aqui que tenho uma coisa para te dizer!...

domingo, novembro 15, 2015

O Tomba-Pastilhas




O Nostradamasus excelentíssimo experimentou mais uma iluminação. Desta vez de índole social-política. Começo por intrigar-me: Onde raio irá ele desencantar estes rasgos luminosos, a que ciência sublime ou alambique do inefável?  Sim, porque de filosofia, como proclama sempre que se lhe proporciona, nada sabe; de história não quer saber; na crítica literária tem luas: ora sou um mestre, ora sou gongórico e criptofântico e falta-me o quase; e quanto à moral, junto com a ciência do Direito, extrai ambas  do "Correio da Manhã" e refina-as, a granel,  no balcão da loja, ao gosto do freguês... e ao sabor da ventania. Donde lhe manam, então, estes clarões relampejantes de filosofia social e política - das páginas de culinária ou de astrologia de que jornal? Se calhar estou a fazer-me de distraído para criar efeito. Pois estou. Ele proclama sem ambages (termo que utilizo em honra de Franco Nogueira): à banda desenhada. Do tempo da Maria Caxuxa. Não é desprimor nenhum, anotem. Porque também eu tenho saudade desse tempo, mas não exactamente dos jornais -  doutras coisas mais importantes, concretas  e terrenas. Como a Lisboa da minha infância e o Portugal da minha juventude.
Mas despondera-se o palhadino na minha direcção. Ou como dizem os brasideiros, Deus os abençoe: parte para a ingnorância. Viagem utópica, reconheça-se, em nave de loucos, já que viaja sem sair do mesmo sítio. Registe-se (e louve-se), todavia, o progresso: largou as fraldas da lamúria frouxa (aquele menino insultou-me) e os vapores da sindicância patarata -, e fez-se homenzinho (tanto quanto a actual metamorfose lho permite, isto é, senão em realidade, pelo menos em esforço): atirou-se à besta escamosa como deve ser: em quase português ( fora aquele início horripilante; alguém lhe deveria explicar que as rimas em prosa horripilam) e não naquele porteirês de fazer escalvar um santo. Sempre tem a sua utilidade o Dragoscópio. E maior prémio que esse não conheço. Isto, quanto à imperial. Vamos agora aos tremoços.
Qual o pretexto para tão promissora investida? Encho-me de esperanças. Lenha não falta por aí. Palha também não. Tralha a clamar fogo é a que se queira (livros, então...). Os dragões são, por excelência, seres desarrumados, solipsistas e babélicos  que transportam qualquer ala feminina (conjugal ou doméstica) à exasperação. Digo mesmo para com as minhas escamas: ah, mítico réptil, prepara-te que vais ler das boas!...
Porém, ó anticlimax!,  que selecciona o belicoso Nostradamasus para pasto da sua pirotecnia? Não o dragão em besta, em toda a sua exuberante e radical brutalidade retrógada, medieval e obscurantista, mas um momento de amabilidade hipotética, de condescendência urbana e tolerância democrática. Ou seja, uma nuvenzinha minha, simpática e transitória - uma monarquia com parlamento, partidos, sufrágio universal, separação efectiva entre o poder executivo e legislativo, com autoridade mas sem absolutismos, representação genuína do voto, despartidarização e, por conseguinte, independência administrativa do aparelho de Estado, inibição ao desgoverno pelo caciquismo partidesco - é a isto que o sapo eminente se lança, de risota em riste e chocarro na ponta? Ora bolas. Ora malvas! Ora urtigas! Eu aqui, muito bem posto,  à espera que o sapo Valente  desembestasse na minha direcção, largando a devastação ao meu antro, a pilhagem ao meu tesouro e o resgate glorioso da prima Vera das minhas garras, e afinal o ilustre fana-se e queda-se a deitar fogo à própria habitação, a pilhar chalaças de jacobinismo elástico e a resgatar-me gargalhadas aos recessos da cavernosa entranha. Temos tomba-bastilhas de alguidar! Em modo chiclet, buble-gum: masca e bufa o próprio balão da fantasia, que depois rebenta à espadeirada. É um bufão, este sapo Valente. O Tomba-bastilhas, diabos o levem, é um tomba-pastilhas!...
Larga os cachorros à monarquia decorativa, com a rasquice dum marteleiro e sem a contundência dum tradicionalista. Podia buscar aqui no blogue que encontrava artilharia a sério e não bisnaga de carnaval. Mas a amnésia não deixa. Olha que bem pilhado! Que esperteza saloia!...
Monárquico utópico, apoda-me, com severidade, este Voltaire de Liliput. Perfilemo-nos: A Obsessão atira-se à Utopia; a Patologia investe contra a Poesia; o realismo fantástico estremece perante o realismo amnésico ML (marktinguista-leninista) ao assalto. Mas nada de pânicos: Perscutemos ao microscópio...a pastilha elástica do pequenote.
Afinal, onde está a Utopia? Vamos lá a catar essa pulga malfazeja. É a monarquia que é utópica? Portugal foi uma utopia durante 800 anos, até que se curou e desceu á terra (enfim, à lama) no dia 5 de Outubro de 1910? Ou é só a monarquia constitucional que é utópica?: Então Espanha, Holanda, Suécia e Reino Unido são utopias - locais miseráveis, infestados de comunistas, onde se pratica a troca directa, anda tudo de coche, em ceroulas com atilhos, e os pajens infestam os ministérios? Ou é só a monarquia  tradicional, a utópica, porque vivia num palácio, sem direito nem esquerdo, nem deputados palrapiantes?
Ampliemos a lente...
Infecta e rabia onde a utopia? Serão os "homens bons" (que não aparecem no texto depenicado, mas o tomba-pastilhas  foi pilhar num outro ainda a contender-lhe com a meritíssima veneta)?... Mas sejam esses bons homens. Em Portugal haver homens bons é uma utopia, uma impossibilidade fantástica? Na realidade amnésica do erudito Nostradamasus, a bondade desapareceu para parte incerta, emigrou? Entre nós, doravante, e sem remissão nem esperança, é tudo feio, porco e mau (mas feio, porco e mau em relação a quê - a uma beleza, higiene e bondade utópica ou meramente estrangeira?), ou feio, porco e menos-mau. Não acreditar piamente nisto, é isso que é a utopia? Trata-se então dum maniqueísmo de estrebaria - já não decorre uma perpétua pugna entre a luz e as trevas, ou, actualizando, entre o asseio e a porcaria: é entre a porcaria e a imundície. Filosofia política de Bidonville? Talvez.  Exemplo prático: O actual porco de serviço à salvação da confraria contra a imundície ameaçadora é um tal Passos Coelho, que a todos os badalhocos de boa vontade e sentido realista cumpre exaltar, lambuzar e promover. Tivemos o Estado Novo, a seguir o Estado de Direito e agora vamos entrar no Estado de Chiqueiro a valer. Será esta a contra-utopia? A panaceia milagrosa, entre banha da cobre e língua de sapo, cozinhado sob bafo de bruxa, que o Nostradamasus excelentíssimo tem para oferecer ao hipocondríaco e incauto transeunte? Quem não é porco é imundo? É essa a questinha, a causa para tanta comichão, ou coceira, como dizem os nossos primos transatlânticos, Deus no-los guarde a abençoe? (Isto sou eu a dar graxa ao auditório do outro lado do oceano, porque deste já vi que não me safo)...
Mas não nos extraviemos.  De volta à lente...
Fermenta pois  onde, esse fungo nefasto da Utopia?
Será o rei ser um homem, de carne e osso e não uma ideia ou conceito luminoso e tremeluzente, em neon-lights, como "povo"? Ou "estado"? Ou "lei"?... Se fosse de loiça das Caldas é que era gebo e contra-utópico? Se fosse  de paleio e ficção, estilo soberano do Bordalo a expedir manguito, já não era? Se fosse por soberania eólica e verbo de encher (ou pastilha elástica) também não?...
Ou será o caso inaudito do Rei nomear o Primeiro-Ministro? É isso que é utópico? Se for um cacique partidário, um gungunhana de Massamá, um Pinóquio das beiras ou um soba das berças, aí, já é realismo amnésico da mais fina, racional e demarcada extracção? Isso não choca o sapo nem o sapo choca a virtude? É o haver critério que é utópico? As pessoas não se esmeram nem destacam nos seus misteres, não progridem por mérito próprio nas suas profissões? Não  há bons alfaiates, bons médicos, bons advogados, bons músicos, gestores, comerciantes, padres, actores, artesãos, operários, agricultores, etc? Ou o país está confinado ao alguidar da DisFunção Pública, donde, pelos vistos, coacham sapos (e grafo com ch, porque onde acha o sapo, acha a rã, pelo que co-acham ambos, em perpétua e quimérica amálgama) e chatos, em roncafónica  sinfonia? Haver uma sociedade desinfestada fora dos partidos, é isso que é utópico? Haver, repito, gente honesta, proba e decente, é essa a utopia que excita a risota ao sapo? Ou apenas colide com o mundo pantanoso com pretensões a civitas Dei dos feios, porcos e menos maus?
Não, talvez utópico mesmo seja o "interesse nacional"? Interesse nacional é uma coisa que só mesmo um Campanella ou um Fourier poderiam congeminar. Pelo contrário, e como antídoto, no realismo amnésico reina sobretudo, e em pleno, o desinteresse nacional, de patinha dada com o amor urânico e ensofregado ao interesse internacional ou extranacional. Coisa de azeiteiros ideológicos, enfim. O patriotismo destes cavalheiros é do mais desinterssado que há, daí a sua superlativa e concelebrada virtude: desinteressam-se do seu povo (que dizem representar e ordenham em conformidade), desinteressam-se do passado, desinteressam-se do futuro, desinteressam-se da sua alma, consciência, honra, palavra, ou o que lhe queiram chamar; desinteressam-se do Estado; desinteressam-se da verdade; desinteressam-se da realidade; desinteressam-se da sensatez, desinteressam-se, em suma, de tudo o que não corrobore, alimente e premeie a tara compulsiva ao serviço do seu ego exorbitante. Não espanta pois que, impregnado neste caldo ambiental, o Sapo Valente habite conforme a estação, ora no pântano, ora no alguidar. Trabalha no alguidar e vai de férias ao pântano. Noção de nação não lhe assiste. Não lhe interessa a nação, tão pouco a noção: apenas o obsidia o umbigo donde espreita, sindica e denuncia.
Porfiemas na ampliação...
Haver uma elite (vade retro aristocracia!) no novo regime, coacha, com mofa, sua senhoria. E confunde logo a seguir, como é useiro e vezeiro: uma elite de pajens. Raio de elite, ó desmajestade! Se são pajens não são elite: ou mandam as serviçais na casa do Nostradamasus? Pelos vistos, mandam e leccionam. Junto com o conselho superior ambulatório de táxistas e comadres do bairro. Mas seria  utopia uma elite de pajens? Ou é inveja simples dos pajens da actual elite de sapos pajens da porcaria? Os deputados pajens, os ministros pajens, os directores pajens, os generais pajens, até os blogues pagens e toda a actual e real elite pajem do cacique a bombar, da hora que passa  no país a arder, é isso o realismo amnésico, a contra-utopia faceira? A mesma que convoca o Nostradamasus excelentíssimo ao soleníssimo regalo, ao compenetrado siso e à refastelada beatitude, devidamente morigeradas com a leitura plácida dos matutinos, vespertinos e revistas, em delíquio apantufado de neo-lorde da mansão às avessas?
Ou será o parlamento de circunstância, segundo o anfíbio, a Utopia? Um parlamento pouco diverso do actual, fora a representação integral e não mascarada do sufrágio mais a independência real e concreta do executivo (que não seria coisa pouca, convenhamos), é de circunstância? Então o actual nem de circunstância é: é de pacotilha. Não vamos mais longe: quando, como no momento actual, não há uma sabujice compenetrada da maioria parlamentar ao gungunhana eleito (eleito ponto e vírgula, nomeado pelo bonzo presidencial), é o fim do mundo, da democracia e do estado de direito em cuecas, sem atilhos. Temos o quê, um despotismo nada esclarecido - na verdade, completamente toino - em vigor! Uma trafulhice aciganada onde o desplante cavalga a patranhice. Quem define  actualmente o "interesse nacional"? Na prática, ninguém. Na bruma de Avalon, o Cavaco Silva, essa acrópole, e o moço de frete de serviço, aquele tipo que padece humilhações e abusos crónicos e continuados na rua e desforra-se em casa na mulher e nos filhos, ambos os cromos, reconheça-se, em gravata de escrúpulo sem atilhos. Isso é que é o realismo amnésico? Quer que lhe descreva os anteriores presidentes do rancho folclórico, o vidente? Julgo que não é preciso.
E porque raio ou carga de água suja (coca-cola, se preferir), estaria o interesse nacional em oposição absoluta aos americanos? A Monarquia utópica é o hospício donde o sapo Valente medita, reina, despacha e expede? Está a perorar então do reino da fantasia dele ou da minha? Pergunta estúpida; pois se é o domicílio dele que está a arder...
Ser independente não é nenhum bicho de sete cabeças, ou amuleto azarado que convoca desgraças e catástrofes sobre o portador, e muito menos é ser hostil. O facto de eu usar porta da rua e janelas com fecho de segurança, não significa que eu sou hostil aos meus vizinhos. Sejam eles grandes ou pequenos, ricos ou pobres. Significa apenas que entra quem e quando eu convido. Significa apenas que disponho duma soberania própria. Os tipos nas penitenciárias, manicómios, campos de trabalho forçado, etc, também dispõem de portas e janelas. Só que não são eles que as controlam, nem a soberania é deles. Além disso, ser aliado não é necessariamente sinónimo de ser vassalo ou sabujo. Mas no realismo amnésico, ser pajem dos Estados Unidos, ou da Alemanha, ou de Angola, ou a Patagónia da Baixo, desde que pague as contas dos batráquios instalados, é que é chique, mimoso e contra-utopia a valer: Eita diplomacia!...  Porque abominar a dependência frenética e compulsiva ao crédito ou a cedência borrada à mão armada, isso é utópico. Olha que formosura epistémica!
Assim, que o Nostradamasus excelentíssimo arme em okupa da nefelipolis alheia e dela se ponha a emitir baboseiras isso em nada obriga ou responsabiliza a outra parte. Apenas lhe outorga, a essa, direito a indemnização, Com juros de mora.
Por outro lado, que o sapo Valente cultue uma pátria-alhúrica afectiva em nada nos convoca á conterraneidade, nem, tão pouco, ao estado de guerra. Apenas me intriga um fenómeno: porque não emigra com o corpo para o éden onde retouça e ceva o espírito. Ou seja, porque não se converte a algo mais que um fruste e desterrado arremedo de putativos inquilinos do condomínio para-celestial?...
Depois, uma utopia alimentada a broa de milho e copo de vinho não se afigura lá muito credível entre as utopias. Mesmo que regredisse, por artes necromantes, à boa bacalhauzada do Bidonville, as outras quimeras de regressão adamica (pré pecado original) snobar-nos-iam de pedestal - "olha-me para estes tugas, os pindéricos do costume, a armar ao pingarelho!..." E, por causa do pivete, ninguém duvide, lá nos devolveriam, a toque de caixa, ao realismo amnésico, onde nunca falta hamburguer, pizza e coca-cola nas manjedouras da grei. Petiscos gourmet, esses,  só para os porcos menos maus ou apenas mais iguais que os outros. Em todo o caso, em que ficamos: é uma utopia ou uma pousada para ascetas?
Quanto a iphones, facebooks, googles e outras gingajogas que tais, a razão porque, eventualmente não poderiam ser usados na minha utopia (admitindo que a sua era minha) é porque já estavam completamente requisitadas  e ocupadas na construção da utopia de outros. Vivo satisfeito sem grande parte disso: devo ser um alucinado. Os pombos-correios também ficariam muito onerosos dado que tinham sido privatizados. Navegaríamos seguramente no mar, que o temos em abundância, e não em alguidares de batráquios falidos, que não têm dinheiro para mandar cantar um cego, mas, não obstante, torram fortunas em bugigangas de utilidade e necessidade mais que duvidosa e a crédito mais que descerebrado. E com astrolábio, bússula e pelas estrelas se não houvesse dinheiro para gps. Com astrolábio deram os portugueses do antanho a volta ao mundo e chegaram a todo o lado (utópicos duma figa!); com iphones, Ipads, gps, mais um bar de ferraduras a fazer de botas, vão estes portugueses do cuspo actuais a lado nenhum, senão pelo ralo da história abaixo. Mas nada de aflições: Claro que os anfíbios oligarcas (respectivos pajens, escudeiros, assistentes e auxiliares) do realismo amnésico, em compensação, andam em veículos topo de gama de fabrico germânico. O que, concedo, na monarquia utópica, se fosse a minha, embora possível, não seria objecto de veneração.
Com respeito à "giena", esse lugar exótico e místico, haja decoro e paciência, pois pertence na íntegra, por direito de patente e estábulo, ao digníssimo sapo-criador. Que se  aconchegue e refastele nela, por muitos e bons anos, é tudo o que lhe desejo. Há lá melhor Seichelle do que essa para a justo e merecido turismo ou romântica lua de mel!...
Em relação a um hipotético regresso ao escudo, posso deduzir aí a tal utopia tão procurada? Os Britânicos vivem na utopia? Os Polacos na utopia vivem? Foi por serem utópicos que os Polacos escaparam à crise e os Islandeses dela saíram a sete pés?  O ilustríssimo Nostradamasus, Sapo Valente, reputado palhadino da mudança irrequieta, afinal,  estima de refocilar na estagnação? (mais uma questão estúpida, eu sei, os sapos adoram pântanos)... O situacionismo mimoso é de tal ordem compulsivo que qualquer esboço de alteração ou demanda, por tímido e débil que seja, leva logo labéu, carimbo e estigma? Teremos, nesse caso, que concluir: realismo amnésico é um Estado não dispor duma das ferramentas principais da soberania - a faculdade de emissão de moeda própria. Utopia é o estado dispor dessa possibilidade. Muito bem. Os Estados Unidos (mesmo não sendo exactamente o Estado, mas algo delegado dele) são então o quê - uma utopia, uma semi-utopia, uma topia mista, um croquete de utopia, o quê?  Diz-nos a realidade que são a maior potência mundial. Mas só devemos imitá-los no come e caga, nas bugiganguices; nas coisas sérias não, ai de nós!  -  somos obrigados a extrapolar da lógica anfíbia. Afinal, parece que não é a monarquia utópica (admitindo-me a morar nela) que se contrapõe e diverge da nação americana: são os realistas amnésicos. Se eles, os States, são fortes devemos, na medida do possível, imitá-los a eles e não àqueles que se prostram perante eles. Será assim tão difícil de perceber? É. Na mente altamente racional dos realistas amnésicos seguir os bons exemplos é praticar o seu oposto. Segue-se o exemplo do lobo de que modo? Fazendo de ovelha. Vamos discutir o quê com malucos?
O que vem reforçado logo a seguir, com a eclosão rotineira de contra-senso militante em que o Nostradamasus excelentíssimo desova e reproduz. Depois de tanto paleio fantástico, o regime da tal "utopia", afinal, pasme-se, é igual aos outros. Outra vez: em que ficamos? É utópico ou banal? Turbilhona na quimera ou patina no tédio?  Aspira a bovino ou apenas a gruim, o sapo ventoso?
E a "harmonia social", que despautério é esse? Acoitar-se-á aí, a utopia, esse ciclóstomo? Devia almejar o quê, no realismo amnésico - a luta de classes, a corrida de ratos, o insectódromo da ganância, a idolatria de Mamon, o concurso de chibos e quadrilhas, vulgo peregrinação dos caga-media, enfim, que finalidade crocante e catita?

Mas eis que arribamos, após longa e esfalfante jornada, aos pajens embasbacados diante do palácio das leis.  Devem ser leis inefáveis e misteriosas, as do realismo amnésico; escritas em tábuas sublimes, indecifráveis aos não-iniciados e apenas ao alcance, na plenoscopia, de certos alcatruzes da ciência, devidamente ataviados de avental esotérico (de pedreiro, magarefe ou ajudante de estrebaria), barrete simbólico e antolhos herméticos. Parece-me, todavia, exagerado o cepticismo quanto às capacidades hermenêuticas dos pajens. Confio até que rapidamente aprenderiam. Como? Ora,  liam no "Correio da Manhã" e já estava: eis decifrada a cabeluda doutrina. Os bons exemplos vêm de cima. Numa penada, ei-los aptos a colocar a ridículo qualquer desembargador ou juiz de meia tigela, mai-los professores catedráticos todos do reino. Se  o sapo emérito quer dar-se ares de esposo dilecto da ciência, convinha que não se deixasse trair, tão reiteradamente, pelas práticas de táxista. Portanto, sem espinhas: os pajens da fantasia do sapo faziam como o sapo e nem de pós de perlimpimpim precisavam. E as leis, depois de carregarem pela boca, naturalmente,  grafavam, digitadas e filtradas na fibra óptica, pelo cu.  Olé! E olaré.

E podia o rei Zinho ser bastardo? , inquere, com elevação, o Nostradamasus douto. Na monarquia utópica, se bem a vou entendendo desta visita guiada, como em todas as monarquias, essa questão candente só se coloca em tempos de crise hereditária. Lá está, o rei é de carne e osso, coisa nunca vista na história do mundo. Já na república do realismo amnésico, o pseudo-rei Zão, mais os tutores e representantes todos são, por natureza, conveniência, costume ou força de lei, filhos da puta. Registe-se a diferença assinalável: o príncipe na monarquia utópica pode até ser de mãe plebeia; enquanto na república amnésica será sempre, quase de certeza, de pai incógnito.  Ou seja, uns descendem do Pai, os outros da matéria.

Dito isto, eis que concluímos a demanda. Passámos o depoimento ilustre a pente fino e lente grossa e verificamos, com pasmo, que não se avista em lado nenhum, a famigerada Utopia. Que significa então o ápodo?
Significa que o Nostradamasus excelentíssimo padece, mais que de monomania, de monotonia. Coacha uma ideia (Morte aos gambosinos!), exibe uma tara obsessiva (regurgitar jornais velhos e papaguear novos) e apaixonou-se por uma falácia (ad hominem). O resto é repisar isto, não apenas ab omolete, mas ad nauseam. Acoimar de utopista é tentar, com a subtileza dum grunho para uma plateia de mongos, tentar reduzir o adversário a uma espécie repugnante (que me irmanaria, por exemplo, aos comunas, o fetiche sancho do pobre coitado). Devem calcular, caros leitores, os abalos que me causam estas cócegas. Convenhamos, arremessar com "utopista" a uma besta escamosa que come "anti-semita" ao pequeno almoço, "fascista " ao almoço e "nazi" ao jantar, é, no mínimo, pueril. O Tomba-pastilhas, do alto do balão de chiclet, quer massacrar-me com quê - com  bolinhas de sabão?
Vá lavar a boca e assoar o ranho.


E agora volto para dentro,  regresso  ao recato da ante-cabine, onde tenho hospedeiras para comer; e deixo novamente o blogue entregue ao piloto automático. Ele que navegue, que maltrate e aterrorize nuvens e passageiros. Eu, sinceramente, tenho coisas mais interessantes para fazer.







sábado, novembro 14, 2015

Tróia

Mero parecer técnico:

Tecnicamente, não há nada de complicado em vestir um colete de explosivos e fazer-se explodir algures. Até um chimpanzé, bem condicionado, faz isso. Não é viável porque  um chimpanzé, ainda mais alfaiatado, dá nas vistas. Agora, a mentalização e o treino psicológico que é necessário para criar um homem-bomba, ou suicida congénere, não se fazem numa cave de Paris. Isto, mais o treino de mecanização e articulação faz-se em campos apropriados para o efeito. Há uma tradição que remonta a Alamut e ao Velho da Montanha. Não estamos a lidar com uma cultura meramente fast. O problema dos Frankensteins é que fogem do laboratório.

Dizia aqui eu em 27 de Setembro:


Cavalos de Tróia, intitulava-se o postal.


Da Vida e da Morte

A ideia de que todos os homens são iguais acarreta consequências muito perigosas. E perversas. Sobretudo porque todos os homens são diferentes ou muito diferentes. E nem são iguais perante a lei, nem iguais perante o mercado ou a publicidade, nem iguais perante a natureza, ou sequer iguais perante Deus. O único local onde essa igualdade pode estipular-se e observar-se é na teoria. Mas jamais na prática, e está aí a história de séculos para atestá-lo e as várias experimentações igualitárias. Há, todavia, uma excepção prática onde essa igualdade se verifica: perante a morte.
Há, quer se queira quer não, uma indústria da morte neste planeta. Que é talvez a indústria mais sofisticada, desenvolvida e em acelaração nos últimos cem anos. Ontem, perante as balas e explosivos dos carniceiros de serviço, os homens foram todos iguais.

sexta-feira, novembro 13, 2015

Adivinha

Em três caves distintas, em três cidades diferentes, ciganos, judeus e portugueses falsificam coisas. Estão todos encapuçados, vestidos de igual e silenciosos. Apenas sabemos qual é o produto específico das suas contrafacções. Como é que se identificam os autores destas sem margem para dúvida?

Simples:
- Os ciganos são os que falsificam camisas; os judeus são os que falsificam ideologias; e os portugueses são os que falsificam as certidões de nascimento.

quinta-feira, novembro 12, 2015

No Limbo Ideológico

Entretanto, à esquerda, parece que os actuais excursionistas da PaF já não são apenas a direita: são fascistas (o mecanismo afigura ser  mais ou menos este: os socialistas austeritários taxam os socialistas fofinhos de comunistas; e os fofinhos, em resposta, apodam os austeritários de fascistas). 
Com tão extremada deslocação, sou forçado a presumir que a Direita do Index democrático  - vituperada por todos, esquerdas e alter-esquerdas (agora estive bem) - submete-se à nova contingência: sem lugar neste mundo nem descanso possível no Outro, já nem debaixo das pontes pode pernoitar. Vai de paradoxo para o paratopos, ou seja, despejada de Sem Abrigo, sai escorraçada  para o Limbo. Uma espécie de campo de concentração democrático. Que nos transporta a uma séria suspeita: as ideologias também estão sujeitas ao penatório do desemprego.

Vai um ultramontano por um qualquer arrabalde escombroso e depara-se com um fascista cabisbaixo e maltrapilho...
- Então, pá, o que te aconteceu? - Indaga, perplexo, o primeiro.
- "Então, ia para pegar ao emprego e só encontrei a entrada barrada e uma nota lacónica de despedimento sumário. Tinham contratado um democrata. Um desses migrantes ideológicos, vindo lá das berças,  do país do diabo mais velho. - Responde o segundo.
- "Eh pá, coitado. Isso já vai assim? Que mundo este!..." - 
- "Vai de mal a pior. Atrás de mim já vem um nazi, um stalinista e vários nacionalistas avulsos. Tudo no olho da rua. Sem justificação nem indemnização!... Todos no desemprego!..."
- Não é possível...  - Banza-se o ultramontano.
- "É, é. - Conclui o outro. - Todos substituídos por democratas. Estes não dão hipótese: alugam-se por um prato de lentilhas e dois ou três pinchavelhos. Fazem tudo e não refilam. Saem mais baratos que um chimpanzé e oferecem menos risco que um gavetão da morgue.
-"Estou a ver. Isto vai ficar superlotado."

terça-feira, novembro 10, 2015

Resistem, logo existem


«Why some Christians in northern Iraq are choosing to stand and fight»

Antes da resposta adiantada à questão, uma nota altamente sugestiva:
Estes Cristãos tiveram que comprar as próprias armas com que se defendem. As forças democráticas ocidentais não devem achá-los dignos de confiança nem ajuda.

Quanto à resposta, parece-me óbvia e até estou daqui a vislumbrar o chefe dos ditos cristãos a fornecê-la, ao vivo e a cores:
-"Dicidimos ficar porque, em breve, haverá aqui menos muçulmanos do que na Europa. A longo prazo, é , por conseguinte, menos arriscado. E  sempre podemos ir dando uns tiros para nos defendermos!..."

- Mas ainda vos cortam a cabeça!... (Alvitra o entrevistador)

- E na Europa, segundo ouvi dizer, ainda é pior: enchem-no-la de merda, connosco vivos, a assistir!...

A Linhagem Palustre - II. A Fundação




Para o que nos importa, a primeira eclosão de um Nostradamasus na nossa história remonta às vésperas da batalha de S.Mamede.
Estão reunidos, para ultimação de preparativos e tácticas, Afonso Henriques e os seus principais apoiantes - Soeiro Mendes de Sousa, "o Grosso"; Conçalo Mendes da Maia, o Lidador; Egas Moniz; e Gonçalo Mendes de Sousa, entre outros.
Nisto, o Lidador, naquele seu timbre enérgico e audaz, rompe num brado entusiasta:
- "Amanhã, vindimaremos esses galegos de má catadura! E vós, meu jovem  senhor, ainda fareis deste condado um reino!...»

É aqui que, segundo um sobrinho-neto de Herculano, após porfiada pesquisa em documentos fidedignos e autenticados da época, o truão Nostradamasus, serviçal no castelo de Gonçalo Mendes da Maia,  conquista o seu lugar nos anais históricos, coaxando, por entre cabriolas e chocalhar de guizos:
«Ih-ih-ih, que  catastrófico
ih.ih.ih,que fantástica romaria!
monta o serôdio no utópico
proibe, o vento, a monarquia!.».


Diz D.Afonso ao Lidador:
-"cabeça dum tal valor
já pensasteis em na cortar?
(Responde aquele sem pavor)
-Todos os dias, senhor,
assim que lha encontrar!

segunda-feira, novembro 09, 2015

A Linhagem Palustre - I. A Pré-História




A linhagem dos Nostradamasus vem de longe. Para alguns autores, o proto-nostradamasus já é reconhecível no dealbar pré-histórico da humanidade, mas desconfio que tal hipótese radica mais na mitologia do que na ciência antropológica  credível. Todavia, um primo afastado de James Fraser, adiante secundado pelo neto bastardo de Darwin, cita mesmo como verosímil um diálogo primordial, que transcrevo apenas por curiosidade:
Australopithecus quadrupedicus fantasticus - Grunf-Ronc-Uga! (Tradução: Vou erguer-me nas patas de trás e andar apenas em duas patas!..."
Australopithecus quadrupedicus Nostradamasus - Grunf-Necr-Roinc. brrr!! (Tradução: Utópico! Mítico!...)



Liberdade de expressão Charlie


sábado, novembro 07, 2015

A Contra-Esquerda Fetiche

A nossa contra-.esquerda betinha e toininha passa a vida a mirar e a remirar a esquerda, de todos os planos. postigos e ângulos, e a excitar-se (ou indignar-se,  assustar-se,  arrepiar-se, ou felicitar-se) muito com tudo o que a esquerda diz, faz e sonha. Poderíamos perguntar que ideias têm estes basbaques ideológicos para o país ou para o que quer que seja.  Isso é irrelevante, teremos que depreender. Estão muito ocupados - mais: totalmente absorto e hipnotizados - a espreitar a esquerda, a semi-esquerda, a extrema-esquerda e até, ultimamente, a extinta esquerda e a retro-esquervadora. A esquerda é, para eles, um ininterrupto Big Brother, uma Casa dos Segredos, uma fonte de espectáculo e regalo...  Estão, permanentemente, de plantão, de sentinela, à coca (e até à caca) da esquerda - na intimidade, na casa de banho, na piscina; as tricas e laricas da esquerda, a esquerda querida e a que merece ser expulsa, a esquerda mascarada e a esquerda nua, enfim, as mil peripécias e facécias da esquerda.. A esquerda é uma espécie de revista pornográfica a céu aberto, uma sessão contínua de obscenidades irresistíveis, capazes de transportar estes perpétuos adolescentes políticos a êxtases de volúpia por descarga de inconfessáveis onanismos. Talvez em paga por tanta e tão apaixonada devoção mirone, a esquerda afaga-lhes a fantasia, outorgando-lhes o uniforme, os adereços, a máscara e a maquilhagem . É por designação e concessão dominadora da esquerda, que eles ascendem então a "direita". São a direita que a esquerda nomeia e permite. A partenaire nos jogos psico-eróticos de cabaret parlamentar. E com que solenidade se embrulham no papel: direita passiva, cuca, castrada, mais que puramente, duplamente reacionária: reagem ao espectáculo da esquerda e reagem a qulquer menção, manifestação ou contradição, de algo que escape ao circuito  fechado e exclusivo da esquerda e contra-esquerda. Ao contrário da esquerda, isso, esse extra-pagode não os excita. Bem pelo contrário, aborrece-os, atormenta-os, regra geral, convoca-os à denúncia às autoridades. "Os crimes do nazismo, do fascismo", bolçam eles; mas apenas como tripé para espreitarem, devassarem e babarem perante os do comunismo... esses é que os excitam! Os transportam a acessos onde  às tantas, se tornam inextrincáveis o orgasmo e a epilepsia..
Não espanta pois que abominem Salazar por estanhado ressentimento. Durante décadas o severo estadista não autorizou o devaneio, arrecadou a esquerda e baniu o espectáculo. Não permitia as exposições e os strip-teases da esquerda para deleite extasiado e psicopunheta compulsiva desta rapaziada. Se queriam cevar-se nessas indecências, os mancebos lascivos tinham que recorrer ao mercado negro e ao tugúrio clandestino, caves e botecos manhosos, minados de pulgas e bufos, onde corriam riscos de trunfa e carreira por um relance lúbrico na esquerda desfraldada. Ia-se ver a esquerda como se visitava certos apartamentos urbanos, depois de ilegalizados os bordéis. Campeões da libertina romaria, ontem os seminaristas como hoje os beatos evangélicos da mercantilena geba.
Ao contrário, a esquerda sempre se excitou muito com Salazar. Ainda hoje, quando quer chatear o fustigar (por qualquer capricho ou conveniência comjuntoral) a sua parceira passiva, a esquerda sussurra-lhe ao ouvido: salazarista! Aborrece-se muito a contra-esquerda com tal mimo, mas, por momentos, experimenta a outra um pequeno gozo - parca mas inestimável compensação para os fulgores de outrora. É que Salazar efeminou a esquerda como agora a esquerda efemina a contra-esquerda. Daí, por contraponto, a voz dominante daquela e a invariável histeria desta. O que decorre também, em boa medida, da predominância do tédio decaído nuns e da  excitação platinada  noutros.

Quando a extrema-esquerda coquete ganhou as eleições na Grécia, com maioria absoluta, esta malta, claramente, reviveu e reincorporou as multidões estrídulas de meninas adolescentes na peugada dos Beatles. Coerentemente,  as vitórias da Direita na Húngria ou na Polónia não lhes causam qualquer interesse (a não ser para comentarem qualquer coisa acerca da esquerda - sentimentos, sobressaltos, transes). Bocejam, como diante dum edital do município. E, por exemplo, disto aqui - Iceland’s prime minister breathes a sigh of relief that his country never joined the European Union.-“I am pretty sure our recovery couldn’t have happened if we had been part of the EU,” Sigmundur Davíð Gunnlaugsson said in an interview last week.» - nem querem saber. Se não acabarem mesmo a esguichar qualquer coisa como "utopista", ao desgraçado do Sigmundur. 
Não há como o escravo para dissertar acerca das liberdades; nem há como o impotente para ver no amor uma utopia. Seja ele o amor às mulheres, à pátria ou até à liberdade. Como nas Termópilas.

Recordando aos amnésicos

Desde o século XVIII, duas perspectivas do Estado têm vindo a digladiar-se encarniçadamente: a utopia liberal e a utopia socialista. No essencial, não diferem: na instrumentalização desenfreada do Estado. Os liberais entendem que o Estado deve ser mero instrumento dos príncipes mercantis; os socialistas sustentam que o estado deve converter-se em absoluta ferramenta dos príncipes burocráticos (vulgo partidos ou nomenklaturas). Dito em função da propriedade, esse conceito mágico que nos dois casos omnipreside: os liberais procuram no estado o mero garante para  a preservação e cristalização da propriedade dalguns indivíduos (quanto mais predadores económicos, melhor); os socialistas servem-se do estado como meio providencial e oportuno de aquisição e acumulação de propriedade. Donde não espanta que o destino sempre fatal dos socialistas, mai-la respectiva utopia. é devirem, após estágio potestativo, liberais. Outra curiosa singularidade que os gemina é a perversão intrínseca que os habita, camufla e dirige. Principia nos próprios títulos que arvoram: liberal traduz-se na realidade e na acção por liberticida; socialista comprova-se nos efeitos e obras como socioclasta. Quer dizer, tal qual o desempenho das políticas ditas liberais conduz invariavelmente à sujeição larvar a uma  pura tirania financeira e publicitária, a prática dos preceitos e receitas ditas socialistas transporta fatalmente a  uma desagregação social, movida a polícia e propaganda,  que apenas prepara e antecipa uma "solução liberal".  No fundo, liberais e socialistas, por aparente diversidade de meios, servem o mesmo fim. Obedecem à mesma lógica... e a quem a destila. Assim, ao longo dos dois últimos séculos, estes instrumentistas do estado têm por sua vez vez servido de instrumento a algo que os utiliza, alternadamente, na paulatina, sinuosa e consecutiva dissolvência de toda e qualquer genuína liberdade e sociedade, passe a redundância. Sabemos hoje, plena e sobejamente, o real significado de "Liberdade, Igualdade e Fraternidade": "Submissão, Desigualdade e Fratricídio". Houve traição aos princípios?  Na revolução francesa, como na russa, como em todas as revoluções modernas, não pode haver traição a algo que não existe. Há e houve, isso sim, a cegueira mental, entre venal e obtusa, entre profissional e induzida, de fantasiar princípios em algo que, ausente de todos eles, apenas esbanja meios e serve fins. E quando digo fins, nem sequer subentendo concretas finezas ou reais finalidades, mas, tão sòmente, finanças.
Porque "finança", etimologicamente, revela bem da sua raiz: fin. O verbo da "finança" é o verbo "finar" - neste caso, finar-se. O finar-se e refinar-se da nossa civilização. O toque de Midas, o toque a finanças é, não duvidem, o toque a finados. De todos nós.

sexta-feira, novembro 06, 2015

Os Pós-Estagiários


«EU executive sees 3 million migrants by 2017, likely to boost economy»

Um estímulo para a economia, vitaminas para a Democracia e fertilizante para o Estado de Direitorto. Um verdadeiro três em um: shampô, amaciador de cerebelo e xarope antitússico. Só mais valias.
Na Antiguidade, sobremaneira no Império Romano, faziam-se guerras para angariar escravos, que eram trazidos sob grilheta e chicote.
Na Pós-Pós-Modernidade, implantam-se as guerras... e os escravos, para alguns visionários, vêm por sua livre e espontãnea vontade, em modo automático. Toda uma devoção geral à Economania. Vamos ver.

quinta-feira, novembro 05, 2015

Bater em aleijadinhos mentais, ou O Nostradamasus na grelha




Teima o vácuo anfíbio no turpilóquio.
Quer investir sem jeito nem contornos.
Com cascos de bosta e cuspo  por cornos
Queres marrar? Vai marrar ao Pinóquio!

Arroja-se o batráquio aos lumes
e para zénite do assado (qual faena!...)
entrega-se aos cuidados da Giena
(e semi rebenta a rã Zazie de ciúmes!)

Ingurgita coca-cola, pra dar gás, vapor.
Quer gabar-se a todo um viscoso séquito
que, em matéria de ventosidade com estrépido,
é um Tífão, um King-kong, um Adamastor!

Ah valente! Ficará na histórria do vento tal hara-kiri!
- Clama-lhe a rã devota, em êxtase zulu.
Juro-te, môr, hei-de gostar sempre de tu
Mesmo  em cuisse de grenuille com piri-piri!

Mas já  ribomba, feroz, o meteórico sapo
em apocalipses de pasmar o pântano.
Porém, oh suplício cruel de Tântalo
Quanto mais insufla, mais lhe rouba o flato.

Emprenha-se, por deleite, em apasquinado ópio.
E quanto a trompas, por esperanças do batráquio,
padece o mundo pelas do eustáquio
para que o montículo evacue pelas do falópio.

Cúmulo de tão grandiloquente parto?
prémio para tão glorioso afã?
Um nado-morto entre o piolho e o chato.

Para enlevo da montanha mamã:
Uma ridícula caganita de rato
amortalhada... no "Correio da Manhã".





quarta-feira, novembro 04, 2015

O Império das Máquinas Desejantes (r)

Existem não sei quantos jornais diários gratuitos, que, sempre que posso e consigo deitar a unha, leio com a maior das atenções e enlevos. São dois progressos significativos nos transportes públicos: ar condicionado e pasquim à borla. Posso até citar aqui os nomes dos três que julgo principais: "Metro", "Destak" e "Global". Pois bem, há uma segunda coisa que me fascina nestas folhas de couve: apesar de, aparentemente, serem diversas, trazem sempre as mesmas notícias. Que, de resto, não diferem muito (de facto, não diferem nada) do cerne daquelas que aparecem nos outros jornais mais pingarelhofónicos, porque pagos pelo otário que os lê. Deve ser a isto que se chama "liberdade de expressão". A mesma que custou tanto a conquistar e que urge defender a todo o custo contra toda uma vasta conspiração de gambosinos particularmente activos, ubícuos e ferozes. Quer dizer, depois de ler o "Metro", ao debulhar o "Destak", descubro que, tirando o título do caderno e a arrumação e decoração das notícias, é a mesmíssima coisa. Idem aspas para o "Global" (O "Público", o "DN", o "JN", e por aí fora, telejornais e radiojornais incluídos). E isto todos os dias. Como é que eles conseguem? Eu até sei como eles conficcionam a coisa, mas convém armar ao cândido.
Porém, eles não só conseguem, como a malta chupa aquilo todos os dias e acha, creio bem, perfeitamente normal. Pelo menos, não escuto por aí queixas de relevo. Donde que o prodígio é duplo: não só eles conseguem escrever e publicar todos a mesma coisa, como aqueles que os lêem conseguem ler e escutar por todo o lado essa mesma coisa e nem pestenejar (quanto mais reclamar). Dão mais valor ao que lhes passa pelo intestino grosso do que ao que lhes passa pela fina inteligência. Finíssima, aliás. Praticamente transparente.
Dito isto, vamos aos tremoços. Era uma daquelas notícias do dia, que tive a oportunidade vibrante de ler primeiro no "Global", logo a seguir no "Destak" e, finalmente, no "Metro". Foi uma manhã em cheio, portanto. Daquelas de Bingo. E rezava assim: "Crise financeira provoca corrida aos abortos". Bem, as palavras talvez não fossem exactamente estas, talvez não dissessem "corrida", certamente que diziam "interrupção voluntária da gravidez", mas a ideia era esta. Sem tirar nem pôr. Em nada falto à fidedignidade.
Ao ler aquilo confesso que me ocorreu, instantâneo, um comentário que, a custo, lá consegui conter no cerro dos dentes e evitar que desembestasse em praga sonora e audível a toda a composição de zombis onde, por sórdido decreto e suprema ironia da mesma entidade inefável (esse filho da puta do Destino), vagava, a uma hora completamente imprópria, saliente-se. Passo agora, sucintamente, a nomear o comentário propriamente dito: "Crise financeira, o caralho!" E não, a palavra não foi "pénis", nem "órgão sexual masculino", ou "falo": foi mesmo "caralho", sem tirar nem pôr, e com exclamação (que só não foi tripla porque, repito, a cerca da dentuça funcionou).
caralho faz todo o sentido. Porque se há um principal responsável pelo fenómeno ele é, certamente, o caralho. A crise financeira é que não. Em África, a crise financeira (e se é astronómica aquela crise) provoca nascimentos em catadupa; no Terceiro Mundo, duma forma geral, a mesma coisa; no Portugal da Antigamente, sequestrado por todos aqueles fassistas que o mantinham esquálido e famélico, à míngua de progresso, democracia e economíscaros, idêntico quadro. Portanto, a crise financeira não pode ser responsável por uma coisa e o seu contrário. Ou bem que causa excesso de filhos ou bem que provoca excesso de não-filhos, vulgo abortos.
É claro que a coisa pode ser colocada em termos económicos. É um vício corrente e recorrente nestes dias. Deve ser até a isso que chamam "liberdade de pensamento" (pensar sempre tudo sob a mesma perspectiva redutora ou liliputona ) e funciona, estou certo, em perfeito e glorioso tandem com a célebre "liberdade de expressão". Resultaria, assim, em qualquer coisa como: entre a plástica às mamas, a lipoaspiração das bordas do cu, as férias nas Caraíbas e a criancinha, a cabra emancipada, exposta às angústias do orçamento, teria que optar. Fúnebre encenação, convenhamos, onde dificilmente o feto alcançará sequer o pódio das prioridades. Nesta altura do ano, não é mesmo difícil vislumbrar o ilustre casal no pleno e cabal exercício da proverbial divisão de tarefas: ele, o lava-loiças, a correr à auto-estrada mais próxima a descartar-se do cãozinho; e ela, a estica-peles, a desarvorar para a maternidade mais próxima para desembaraçar-se do embrião inoportuno. Isto é mais frequente do que se pensa. Nestes moldes e noutros ainda mais rastejantes. Porém, continua a não ser, nem nunca foi, uma questão de crise financeira. Também não é uma crise moral, como alguns proxenetas da virtude gostam de proclamar. Vem de mais fundo que simples maquilhagens e coifaduras, tenham elas o aparato e o alarido de sumptuosas bagatelas como "governo", "política", "economia" ou até "civilização". Vem de mais de dentro. E o pior é que não germina dum tumulto, dum caos passageiro ou duma contradição ocasional: brota dum vazio, íntimo, dum nada entranhado, dum deserto, duma esterilidade absoluta de sentimentos autênticos. Não é consequência de crise financeira nenhuma: as crises financeiras não afectam verdadeiramente as pessoas, só afectam os negócios. Querem o verdadeiro nome da coisa? Crise - mais que crise, catástrofe! - afectiva.